Assassin's Creed; Sombras escrita por P B Souza


Capítulo 6
O “Desgraça Holandesa”.


Notas iniciais do capítulo

Ethan enfrenta seu primeiro grande desafio após fugir de casa.

>> Alguns termos náuticos podem parecer estranhos, no final do capitulo tem um glossário para ajudar quem não entender os nomes mais técnicos sobre partes do navio. Obrigado



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– Onde está o garoto? – Joly deu um pulo girando sua banha gorda quando a voz do capitão Walltimore veio de trás dele. Com cutelo na mão e uma pata de algum animal esfolado na outra ele encarou o Capitão.

– Dormindo, creio. – Disse colocando a pata do animal no lugar, visivelmente pego de surpresa como se ele estivesse fazendo algo de errado. – Deixou tudo limpo e preparado para o serviço ontem à noite.

Ainda era manhã e o sol não aparecia, coberto por nuvens negras.

– Limpou a frente do convés também, a madeira está limpa como nunca. Organizou as espadas da mais leve para mais pesada na sala de armas, carregou todos as pistolas, poliu o timão e limpou o baleeiro de forma que parece que troquei de rede.

Joly abriu um sorriso olhando para o chão.

– O que foi Joly?

– Nada capitão. – Ele disse voltando a cortar o osso da pata com o cutelo em golpes que faziam “CLACK” separando uma parte da outra. – É só que o garoto tem trabalhado muito.

Walltimore não respondeu, os lábios tentaram sorrir mas ele comprimiu a pequena risada se virando e voltando para o convés.

– Vamos bando de Lesmas, pro mar aberto pescar algumas libras com escamas. – Walltimore berrou saindo no convés subindo pela escada lateral rumo ao timão onde seu imediato o aguardava. – Desça as velas, pegue o vente!

O navio inteiro se encheu de vida com os berros do capitão, o imediato deu lugar para ele no timão, Walltimore puxou-o girando por duas voltas completas, o navio que estava extremamente lento guinou virando lentamente enquanto os panos presos lá em cima desciam soltos e leves até ficarem esticados, o vento os encheu fazendo-os ficar moldados como grandes colheres sem cabos.

O Desgraça começou a avançar com o vento a favorecer sua direção, o mar estava calmo e parecia um dia não muito bom para aventuras.

– Capitão, o céu avisa que tem chuva. – O imediato interpelou gentilmente. Enquanto os marujos puxavam cordas e arrumavam redes, alguns arpões e iscas.

– Estamos há pouco mais que quinze horas de Plymouth, pensei em pescar um pouco, todos queremos libras a mais nos bolsos.

O navio continuou avançando por mais alguns minutos, Ethan saia do alojamento junto de Dominik que havia ido acordar o garoto.

– Joly disse que o capitão perguntou por você. – Dominik disse apontando para o capitão apoiado no timão lá na popa.

Ethan agradeceu colocando a mão no ombro de Dominik enquanto passava por ele e então a passos rápidos foi até a popa, subiu a escada que servia de divisão entre popa e meia-nau deixando o convés indo para o tolda.

– Capitão, estava me procurando, quer que eu faça alguma coisa?

– Ethan. – Walltimore disse sem olhar para ele enquanto manejava o Desgraça cada vez mais longe da terra. – Dormiu bem?

Ethan corou quando o timoneiro sorriu abrindo um sorriso amarelo soltando uma gargalhada um tanto cruel.

– Não torture o rapaz. – Um terceiro homem foi até Ethan, ele sempre via Walltimore junto desse homem e do timoneiro, aquele homem pegou-o pelo braço e jogou para frente. – Sou Vince Knill, o imediato.

O capitão soltou o timão batendo no ombro de um homem do outro lado.

– Gregor! – Disse, e o homem assumiu o timão.

– E Gregor ali é o timoneiro. – Vince disse enquanto Walltimore pegava Ethan e o levava para o fundo da popa, onde de cada lado havia uma lanterna com paredes de vidro e o fogo interno apagado.

– Desculpa não ter acordado mais cedo, não estava conseguindo dormir e acabei ficando acordado até tarde...

– Limpando o chão. – Walltimore disse. – Esfregando o timão? Aliás, Gregor gostou muito do serviço.

Ethan não sabia o que fazer, apenas os dois estavam ali, ninguém os observava, Ethan percebeu que na verdade ninguém se importava muito.

– Mas tenho uma boa notícia para tu.

Ethan sorriu levantando a cabeça esperançoso olhando para o Capitão.

– Não vou te mandar para seu tio. – Ele disse. – Mas isso não significa que vai ficar no navio. Isso vai depender de Plymouth.

– Senhor, não entendi.

– Mas você vai entender. – Walltimore disse deixando Ethan ali e saiu andando. – Desçam os barcos a remo e as redes de pesca, vamos fazer um extra antes de Plymouth.

Ethan ouviu o capitão rugindo enquanto alguns homens cantarolavam, a água estava calma, o céu estava escuro e a luz do sol pouco clareava.

– O que acha, deveriam ir pescar? – Vince veio perguntando para Ethan que olhava o capitão descendo para um barco preso por cordas ao navio com remos arpões e redes.

– Com certeza é uma boa renda. – Ethan disse então apontou para cima. – Mas o tempo não parece agradar.

– Disse isso também para ele, mas não adianta. John é teimoso feito mula.

– Conhece ele há muito tempo?

– Uma vida. – Vince disse olhando em volta. – Ou idiota, gume para cima, vai estragar a madeira do convés. – Berrou com um dos marujos que tinha um arpão virado com o gume no chão deixando um risco na madeira por onde passava. – Crescemos juntos, me mudei com os dezoito anos, nos reencontramos a pouco no Desgraça. Ouvi sua história, Dominik pareceu bastante impressionado.

– Eu não pensei que, ele fosse se lembrar.

– E porque pensou isso?

– Porque ele estava bêbado, e cansado.

– Ethan, para viver entre marinheiro terá que aprender, não adianta viver sóbrio. E a ressaca é assim como no mar, passageira e rápida.

Disse Vince se retirando em seguida, Ethan continuou debruçado olhando os marujos Dominik e Walltimore pescando no mesmo barco junto de mais um marujo que ele não sabia o nome.

Ficaram quase três horas lá, a maioria do tempo em silêncio esperando peixes, Ethan não ficou para ver o resultado, se juntou a Joly na dispensa.

– O que está fazendo?

– Contando. – Joly respondeu enquanto sua pança coberta pelo avental roçava conta as madeiras das prateleiras e seus curtos braços puxavam as coisas do fundo da prateleira. Ethan porem não respondeu, então Joly olhou para ele com um olho maior que o outro. – Eu sei contar. Até 100.

– Eu não, não duvidei, é só que, pra que?

– Ainda hoje, no máximo amanhã de manhã vamos aportar. – Joly disse quebrando um pedaço de salame e enfiando na boca, então enquanto mastigava ele falava e fragmentos do salame voavam da sua boca. – Vamos ficar aqui um tempo parados lá em Plymouth e por isso estou contando nossa comida, quero saber quanto temos e quanto John vai precisar comprar.

Ethan olhou para ele se perguntando o que fazia agora, sua curiosidade estava o matando.

– Joly, posso fazer uma pergunta?

Joly parou de contar as coisas e olhou para Ethan se distanciando um pouco.

– Por isso odeio garotos, essa coisa de puberdade, eu nunca fiz essas perguntas. Não quero...

– Que? Não, para é, – Ethan olhou em redor, ninguém estava ouvindo, ainda bem, ele corou, não era aquilo que ele queria perguntar. – Eu ia pergunta o que a gente vai fazer em Plymouth. Quer dizer, qual o plano do capitão.

Joly olhou para Ethan parecendo aliviado, soltou um longe suspiro preso no pulmão. Então voltou a contar os mantimentos quando ouviu batidas no casco.

– John está subindo. – Joly empurrou tudo para o fundo da prateleira e começou a guardar coisas que estava em cima de uma mesa. – Vai lá e pergunta.

Ethan balançou a cabeça em negação se virando, bufou. Odiava quando tratavam ele como um problema jogando dos braços de um para outro, sem nunca realmente resolver a situação. Então atravessou a dispensa rumo a cozinha e o corredor, a frente o alojamento com os beliches na esquerda a parede do navio, o casco, a direita a escada para o convés de meia-nau.

Quando empurrou o alçapão que fechava a entrada do convés para os níveis inferiores ele pensou ter ficado horas e horas lá em baixo.

O céu estava negro, não havia quase iluminação natural e uma nevoa tão densa se estendia por, pelo que parecia, todo o oceano. O cheiro era de peixe e a única coisa que Ethan conseguia ver era ao redor do Desgraça, não mais que quinze ou vinte metros em volta.

– O que houve? – Ethan perguntou passando por Dominik.

– Tempo ruim. Mas a pesca foi boa. – Ele disse apontando para um amontoado de peixes em várias redes, eles se debatiam fora da água agonizando os últimos momentos. – O Capitão disse ser uns 70 quilos pelo menos.

Ethan olhou em volta, aquilo estava lhe causando arrepios, e pior, era visível que ele estava desconfortável.

– Ei, Vince. – Ethan foi até a escada pequena que ligava meia-nau a popa, olhou para o imediato o chamando com acenos.

– Fala garoto. – O Imediato respondeu vindo até ele.

– Pra que lado fica Plymouth? – Parecia besta e sem um motivo, mas a pergunta realmente lhe interessava, Ethan pensava estar perdido no meio do infinito.

– Lá! – Vince apontou para uma direção que Ethan não soube qual era, sem ver o sol “lá” podia ser norte ou sul, ele nunca saberia. Mas o Imediato tinha uma certeza que transmitia confiança. – Não tem com o que se preocupar, com o tempo ruim vamos demorar mais para chegar, só isso.

– Briga... Obrigado. – Ethan se virou sorrindo e se distanciou um pouco olhando para o mastro de meia nau, pensou na altura que aquilo ali teria, se perdia na nevoa, mas ele sabia que no topo a visão era bem melhor do que ali em baixo. Então olhou ao seu redor, todos estavam olhando os peixes e trabalhando com aquilo, incluindo o capitão Walltimore que parecia não precisar de sua ajuda.

Ethan tomou distância e saiu correndo, encheu os pulmões de ar e pulou, as mãos agarraram o tronco do mastro principal e as pernas colidiram contra a madeira, os anéis de metal ao redor do grosso tronco foram de grande ajuda e ele começou a subir escalando aquilo com facilidade, se lembrou dos treinos em que ele era forçado a escalar as montanhas de Suffolk se quisesse jantar, suas mãos não doíam ali e ele subia cada vez mais, os pés se apoiavam onde antes as mãos tinham se apoiado e ele se impulsionava para cima, quando chegou na metade do caminho o tronco era substituído por uma rede trançada inclinada para o suporte superior onde um vigia ficava de guarda. E ele não pode subir mais, o vigia se virava olhando para baixo como se soubesse que ele estava subindo, mas na verdade não era Ethan quem o vigia tinha em mente, era todos ali, todos do Desgraça Holandesa.

O homem de rosto liso e pele suja se deitou contra o chão de madeira daquele pequeno patamar onde ele ficava dia e noite, colocou dois dedos na boca e assobiou, tão alto mais tão alto que Ethan quase se soltou com o apito agudo que atravessou seus ouvidos.

– O que foi isso? – Ethan berrou ouvindo um ZUMMM nas orelhas.

– Desce moleque, avisa o Capitão, dois navios estão chegando, um pela popa e outro pela proa. Cinco minutos e eles vão nos abaloar com tudo. Flamulas francesas. Vai logo.

Ethan gelou ao ouvir aquilo, sabia que a situação entre França e Grã-Bretanha estava complicada mas porque atacariam um navio em tempo de paz? Eles ainda estavam em tempos de paz?

Então Ethan percebeu a urgência da situação, soltou-se e caiu livre por um segundo, se segurou e se soltou de novo, repetiu o processo até atingir o chão, levou quase trinta segundos e quando chegou no chão ele berrou.

– CAPITÃO.

Walltimore olhou para ele e todos fizeram o mesmo.

– Franceses, proa e popa, quatro minutos. – Ethan apontou para cima enquanto se aproximava de Walltimore. – Estava lá em cima...

– PREPARAR HOMENS! – Walltimore berrou também, todos os marujos pareceram se alegrar ao invés de temerem por suas vidas, Ethan estava completamente aterrorizado. Sua testa suava em bicas. – Desce pro alojamento e não sai de lá criança.

Walltimore voltou para Ethan apenas para dar essa mensagem e então voltou a andar, homens começavam a aparecer com espadas e pistolas em mão, todo tipo de arma, uma diferente da outra, Ethan então viu longe ainda pela proa luzes se aproximando.

– PREPARAR PARA ATIRAR, FRONTAIS! – Walltimore berrou. Ethan olhou para trás e sentiu sua respiração congelando em sua garganta, Walltimore olhou para Ethan que começou a andar rumo ao alçapão para o alojamento. – PEPARAR BORESTE.

Ethan correu para dentro do alojamento tropeçando nos próprios pés, ouviu a madeira do navio gemer quando o leme foi girado ao máximo para esquerda, ele cambaleou se segurando nas camas enquanto andava até a sua, lá ele se abaixou e puxou o caixote onde ficava seus pertences, uma troca de roupa e suas laminas ocultas. Ele as colocou no pulso quando foi fechar a fivela os canhões rugiram alto. Ethan arregalou os olhos se segurando contra os cabos dos beliches, então alguma coisa bateu contra o casco e Ethan foi jogado no ar, seu corpo flutuou por um segundo e então caiu em cima de uma das camas e ele viu a madeira do Desgraça Holandesa vibrar.

– Eu não vou ficar aqui e morrer no fundo do mar! – Ethan disse se levantando da cama incerto do que estava prestes a fazer, colocou os anéis das laminas ocultas nos dedos e começou a andar, parou na escada para o convés e esticou os pulsos das duas mãos, as laminas retrateis saíram da bainha e voltaram para o lugar, ele respirou fundo mais vezes do que pretendia, era aventura que ele queria quando saiu de Suffolk, era emoção e liberdade, ele estava tendo o que havia pedido. Não podia reclamar.

Então correu empurrando o alçapão o bastante para sair dali, em uma cambalhota ele se viu no convés onde um navio bem menor estava colado ao lado do Desgraça, homens entravam no Desgraça Holandesa, homens que não era dali, usavam fardas azuis e branca e espadas iguais, eram soldados.

Ethan se lembrou do treino. Correu por um pedaço do convés evitando o combate mas uma lamina veio contra ele, Ethan se viu no pátio da sucursal em Suffolk, quando a lamina desceu ele esquivou deslizando no chão liso, ficou feliz por ter encerado o convés. Dominik do outro lado batia lamina contra lamina com um soldado francês que não parecia fraco. Ethan assim que deslizou esticou a perna e girando no chão derrubou o homem que tentou lhe atacar, por alguma razão no o matou, se sentiu impelido a deixa-lo viver, aquela não era sua prioridade, deu a volta por ele e correu até Dominik que segurava-se contra uma empreitada do atacante, Ethan vinha por trás do soldado francês que atacava Dominik, o garoto flexionou os dois pulsos e as laminas ocultas saltaram para fora junto dos seus pés que o fizeram pular, as laminas entraram pelo tecido e pele e carne do soldado que caio no chão do lado de Dominik.

– O que você tá fazendo aqui?

– Ajudando. – Ethan respondeu pegando a espada do soldado e quando outro se aproximou ele não soube o que fazer, não lutava com espada, então a largou e se defendeu dos golpes com a lamina oculta, o que era um perigo devido ao tamanho das laminas ocultas e o tamanho da espada.

Dominik deu um passo à frente e deslizou a espada pelos ligamentos do joelho do soldado que caiu sobre as próprias pernas e Ethan atravessou a lamina em seu pescoço retirando em seguida, limpou o sangue no ombro do guarda e olhou para Dominik.

– Já volto.

Ethan berrou e então pulou na mureta do Desgraça, olhou para o navio preso junto ao Desgraça por cordas-gancho, pulou então para o navio inimigo, quando o fez ouviu outra salva de tiros, e ele no meio do salto se desesperou sem saber de onde eram os disparos, caiu sobre um braço e sentiu a dor lancinante como se tivesse quebrado um osso, mas ainda podia mexer então estava tudo bem. Se levantou e olhou ao seu redor, o Capitão daquela embarcação estava ali.

– O que faz uma criança...

Ethan não levou em paciência ter sido chamado de criança e pulou contra o capitão, a espada saiu da bainha do homem e voou contra Ethan que levantou um dos braços, a lamina da espada bateu contra a lâmina oculta e faíscas surgiram, o braço de Ethan foi jogado longe com a força do Capitão e ele pensou que ia morrer naquele instante.

Ethan só correu, viu as cordas ganchos penduradas no Desgraça e amarradas contra a embarcação inimiga, cortou uma, duas delas na corrida, a terceira não teve tempo, o Capitão chegou muito perto e ele teve que se esquivar de mais um golpe, um soldado surgia dos níveis inferiores na hora em que o capitão desferiu um golpe contra Ethan, a espada do Capitão atravessou seu próprio soldado e Ethan sorriu correndo para a terceira amarra das gordas-gancho.

– Capitão Fleur Di Bonvier não vai perder para uma criança como tu!

O Capitão disse com seu sotaque forte, Ethan olhou para o chão, estava coberto com um pó negro e na popa havia seis barris vermelhos com um sinal de perigo em preto desenhado.

– Acho que vai! – Ele respondeu vendo sua última chance ali. O soldado caído tinha uma pistola presa a cintura ao lado de sua espada, ali a bombordo tinha a corda que prendia as velas daquela embarcação e Ethan podia sentir para que direção o vento soprava.

O capitão Fleur Di Bonvier avançou contra Ethan e levantou a espada no ar quando Ethan viu a lamina descendo sobre sua cabeça, os dois braços se levantaram fazendo um X com as lâminas ocultas e a espada bateu sobre a defesa, Ethan deslizou até o chão rugindo de dor sobre o braço contundido na queda, era agora, ou nunca.

Do outro lado Walltimore rendia o capitão do Cutter Francês enquanto seus homens prendiam os outros, e Dominik correu para falar com Walltimore.

– Ethan pulou para o Cutter de Bombordo senhor.

Walltimore olhou para o Cutter do outro lado, o Desgraça havia sido emboscado pelos dois lados, eles haviam dominado boreste.

– Criança estupida. – Walltimore começou a andar largando seu revolver descarregado e pegando outro de um de seus marujos.

– Ele já morreu. – O capitão do Cutter de Boreste disse sorrindo um sorriso vermelho. Walltimore tinha atravessado metade da extensão do Desgraça quando as velas do Cutter de Bombordo se soltaram tomando vento.

– Não! – John Walltimore apressou sua corrida até o limite do Desgraça Holandesa e olhou para baixo, o Cutter era apenas fogo e fumaça com um brilho que significava apenas uma coisa. Pólvora.

– Eu disse que ele...

Walltimore virou e levantou a arma puxando o gatilho com uma careta parecendo um demônio dos sete mares, o Capitão rendido do Cutter tremeu uma só vez despencando no chão com um buraco na testa, o Cutter de bombordo que tomava distancia impulsionado pelo vento teve um súbito brilho.

– ABAIXEM-SE. – Berrou quando o Cutter a oito, não mais que nove metros de distância virou uma bola de fogo no meio mar.

Dominik se agachou olhando a fumaça negra subindo no céu junto dos destroços voando e o som de madeira se partindo junto do sol de pólvora explodindo e no meio daquilo tudo ele podia ouvir seu próprio coração batendo, forte, rápido, amedrontado mas valente.

Walltimore se levantou quando a explosão terminou e seus homens fizeram o mesmo.

– Vince. – O Capitão John Walltimore falou com uma voz mais calma e pacifica. – Prenda todos os franceses na proa com as barras de mão e pé, vamos leva-los para justiça de vosso rei.

– Sim senhor. – Vince Knill concordou pegando alguns marujos para levar os prisioneiros do ataque.

– Dominik jogue os corpos no Cutter francês e desça a ancora deles. – Walltimore começou a andar rumo a cabine do capitão. – Uma patrulha virá buscar eles depois. Gregor, para Plymouth.

O timoneiro anuiu enquanto os marujos já começavam a arrumar tudo.

Então do casco de bombordo do Desgraça uma mão surgiu, em seguida uma cabeça e um corpo inteiro caiu para dentro do navio. Ethan girou até ficar de barriga para cima, cuspiu um pouco de água e se sentou apoiando a cabeça na madeira em forma de balaústre do Desgraça Holandesa.

Walltimore se virou e um sorriso espontâneo surgiu. Ethan fechou os olhos e abriu novamente, pareciam pesar toneladas.

– Tá tudo mundo bem? – Ele perguntou tremendo, olhou para o braço, doía muito, mas ele já nem sentia a dor, de repente ele não sentia mais nada.

***

Um clarão branco tomou conta do escuro do desmaio e ele abriu os olhos tirando os óculos de projeção do Animus do seu rosto com a mão livre, as agulhas foram automaticamente retiradas do outro braço e Edgar sentia a cabeça latejando como se fosse explodir.

– Que diabos acabou de acontecer aqui? – Tentou se levantar mas estava tonto e tudo girava.

Melissa Whigs estava sentada ali olhando para ele com orgulho no olhar.

– Você acabou de completar sua primeira sequência de DNA de um ancestral. Eu preciso sair, tenho uma reunião com o responsável pelas... Err, cobaias do Animus, mas eu já volto, sinta-se livre para sair dessa sala e andar pela instalação, você precisa comer alguma coisa para repor energias, mesmo deitado seu corpo gasta muito para reviver essas memorais, então vai andar respirar um pouco e se alimentar, daqui, vamos por ai, duas horas eu volto e a gente continua? – Melissa se levantou e sorriu para Edgar indo para a porta. – Se quiser voltar para o Animus pode voltar, não vai mais precisar das agulhas o que é bom, mas se tiver com dor de cabeça eu recomendo um descanso ou podemos ter problemas sérios de saúde depois.

– Problemas? Minha cabeça tá doendo. – Ele pareceu preocupado.

– Não é nada demais, é como bebida, tem que ser com moderação. – Melissa disse dando passinhos rumo a saída. – Olha, eu já volto de verdade, preciso ir, tchau.


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Notas finais do capítulo

Um pequeno Glossário.
Bombordo > lado esquerdo de um navio
Boreste ou Estibordo > Lado direito de um navio.
Proa > Frente
Popa > Parte de trás
Meia-nau > Todo o espaço entre proa e popa, ou seja, o meio.
Convés > É o piso do navio.
Tolda > Também o piso do navio, porem essa parte chamada de tolda fica na popa (que é mais alto que o convés que fica no meia-nau e proa)



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