Assassin's Creed; Sombras escrita por P B Souza


Capítulo 19
2° ATO - O atlântico.


Notas iniciais do capítulo

Olá! Desapareci por alguns dias, eu sei! E peço desculpas pela demora. Estava terminando a outra fic, e para escrever um final caprichado eu precisava me concentrar em apenas uma história. Agora que acabou, AC; Sombras tem minha irrestrita atenção!
Sem mais delongas; Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/562479/chapter/19

O som dos gravetos sendo trincados era a única coisa que escutava enquanto sentia o corpo flutuar no vazio. Era como estar morto, exceto que ele sabia que a morte não seria tão ruim quanto o que sentia.

Edgar ouvia o vento lá fora o chamando em selvageria, chacoalhando aqueles gravetos, os finos gravetos dos grossos troncos. O vento o chamava, mas ele não podia ir, estava se sentindo destruído e desconjuntado, como um quebra cabeça após cair da mesa, desmontado espalhado em mil peças sem que ninguém se desse ao trabalho de remonta—lo. Os olhos estavam fechados, não porque queria, mas porque as forças para empurrar as pálpebras para cima lhe faltavam, assim como não conseguia mover os dedos ou então as pernas, quão menos os lábios para sequer gemer de dor.

Era como se estivesse morto, exceto que sabia não estar, e isso o alarmava, o som lá fora aumentava, o vento aumentava fustigando as arvores daquela floresta, era uma floresta? Se perguntou enfim consciente de que não fazia a menor ideia de onde estava.

Sua cabeça até então era a única coisa que não doía, até se perguntar onde estava, então suas memorias foram jogadas contra ele e seu mundo pareceu ser reconstruído de uma só vez, mas algo estava errado, ainda estava errado. Começou a se lembrar de pequenos fragmentos do que tinha feito, viu um homem no meio de borrões enegrecidos cobrindo—lhe a visão, esse homem jogava Melissa contra a parede, a esbofeteava enquanto berrava com ela, Edgar quis agir, ser valente e interferir, mas eram apenas lembranças, então percebeu que na verdade não estava ali, tinha fugido, não estava nos prédios da Abstergo, não mais. Onde estou? Se perguntou com a cabeça latejando conforme pensava, se lembrou do túnel e de ter conversado com homens... qual eram os nomes deles?

Decidiu que não se importava com os nomes deles. — Mal se lembrava do próprio nome. — Então forçou o corpo, juntou todas as energias, em um esforço brutal como se aquilo fosse o teste de força derradeiro de sua vida Edgar abriu os olhos.

Finalmente viu, a luz o cegando momentaneamente, mas agradeceu por não estar cego como começava a temer. Demorou quase um minuto para seus olhos se adaptarem totalmente ao ambiente, e no período Edgar nem mesmo mexeu a cabeça, sabia que se o fizesse desmaiaria de novo.

De novo? Não se lembrava de ter desmaiado antes, talvez tivesse, mas não lhe ocorria essa memória.

Então percebeu que raios de sol invadiam a janela entreaberta, batendo e voltando alguns centímetros, então batendo novamente e voltando alguns centímetros para trás, voltando a bater... E nessa operação infinita ela prosseguia conforme o vento lá fora rugia. Sentiu calor, muito calor, o sol era forte. Não parecia existir sombras das árvores peneirando a luz solar existia um telhado e do telhado pontos mais claros surgiam entre os gravetos trançados com palha para criar uma cobertura contra a chuva.

No instante que viu aquilo Edgar girou os olhos sentindo—os doer como se tivessem coçando, então viu as paredes, eram de barro cozido e estavam rachadas divididos em vários pontos com toras de madeira seca servindo como colunas de sustentação para o leve telhado de palha.

Edgar quis falar algo, mas a língua não se mexia. Ele estava deitado sobre uma cama de casal, percebeu pelo espaço que tinha entre os braços e pernas abertos, finalmente começava a sentir seus braços e pernas. Então se deu conta de algo que teria o feito sorrir, caso ele tivesse forças para isso; estava vivo.

***

Uma caminhonete desceu o aclive de terra seca e ressecada, os pneus próprios para isso levantavam pouquíssima poeira devido a sequidão do solo. Quando terminou o aclive de terra não muito escura a caminhonete estabilizou balançando com os amortecedores enormes fazendo seu trabalho, subiu em um patamar de cinco centímetros feito no concreto, era uma grande área, mas apenas uma construção relevante.

A caminhonete guinou dando um meio cavalo—de—pau e parou abrindo a porta, de dentro Ezequiel desceu puxando o pano de trás da cabeça, algo como um lenço bege estava enrolada até a altura dos olhos, ao puxar o tecido foi se desvencilhando dele até pender sobre sua mão. Agora a luz do sol era possível ver que Ezequiel trazia uma curta cicatriz no queixo até o começo do pescoço onde os pelos da barba não cresciam.

O local era uma instalação simples, não existiam estradas diretas que ligavam aquele lugar a qualquer outro, o piso de concreto se estendia por uma área pouco menor que um hectare cobrindo totalmente a terra ao seu redor elevando o concreto do nível do solo. Existia em uma das pontas, na qual Ezequiel se encontrava, uma construção grande de dois andares, quase trinta metros de largura por dez de comprimento, feita em concreto, paredes sem pintura apenas no reboque e janelas e portas de um metal escuro de aparência pesada, mas pelo resto do piso de concreto se encontrava cabanas de barro e tijolinhos com tetos em palha ou telhas de barro, no meio tinha uma área sem construções, mas com paredes de escalada bonecos de treino, alvos, e bastante armas apoiadas em estantes de exibição, desde facas até metralhadoras.

— Então? — Um dos Assassino perguntou indo ao lado de Ezequiel.

— Não vão voltar. — Ele afirmou firme. — Sabem que esse terreno é nosso, queriam confirmar se estávamos enfraquecidos, mas já viram que não.

— Enviei e—mail avisando as outras sucursais sobre o perigo, todos estão preparados.

— Muito bem, é melhor assim. — Ezequiel apontou para o prédio de concreto que estava com a porta fechada. — Preciso ir para a reunião, cuide da segurança, que rondas de trinta em trinta minutos por todo o perímetro. Agora que estamos com Edgar eles vão fazer de tudo para recupera-lo, isso inclui um ataque, mesmo que a polícia acabe sendo alertada.

— Acha que chegaria a esse ponto?

Ezequiel olhou para o homem temendo profundamente o que conhecia, mas por razões de segurança não compartilhava. Se fosse verdade, se fosse o que ele pensava ser e se realmente existisse e pudesse ser encontrado... Ele não queria nem mesmo pensar nisto.

— Passaremos desse ponto. — Ele afirmou com uma frieza que, naquele calor, fez o sangue gelar em suas veias. — Preciso ir.

Disse se virando e indo para o prédio, empurrou a porta de entrada que gemeu nas dobradiças, então ele passou para dentro da instalação onde o ar seco e gelado do ar—condicionado impregnava o ar. As luzes acesas mostravam um Hall de entrada no mínimo simples, um lustre redondo e sem enfeites pendia do teto iluminando o teto de vidro que refletia a luz para baixo aumentando o efeito das lâmpadas, as paredes lisas eram cor de creme, e duas escadas existiam, uma na direita e outra na esquerda, embora ambas se encontrassem no segundo andar fazendo uma sacada onde água caia como uma pequena cascata para o primeiro andar, entre as escadas ficava o símbolo dos Assassinos, talhado em madeira—ferro, constantemente molhada pela água que escorria até a pequena lamina d’água no piso onde a água era drenada para cima novamente. A Cascata era o único luxo do hall, três portas na sacada interna do segundo andar, uma na frente assim como a da entrada, outra a esquerda e outra à direita, no primeiro andar mais duas portas, uma a esquerda e outra à direita, e mais nada havia além daquilo.

Ezequiel subiu a escada rumo ao segundo andar, ouviu a água descendo pela cascata íngreme, um som raro naquele lugar, pouca água existia no Nordeste. Então entrou pela porta do meio, um corredor levava até outras portas e outras partes do casarão, eram quartos, salas, escritórios, muitas coisas, a maioria possuía plaquinhas com nomes nas portas.

Ele foi até o fim do corredor onde a parede já tinha as janelas para o outro lado da construção, ali uma grande sala com televisão sofá, mesa e guloseimas existia, cinco homens jogavam baralho na mesa comendo castanhas. Um outro assistia televisão, todos eles acenaram e deram oi para Ezequiel que retribuiu o olá, mas não parou, seguiu para outra porta, abriu—a passou pelo batente e a fechou em seguida. Olhou para os homens ali.

— Vamos começar. — Disse sério.

Na sala Tarcísio Lion e o Jornalista se encontravam.

— Qual seu nome mesmo? — Ezequiel perguntou olhando para o jornalista pensando em como aquilo poderia dar certo, talvez tivesse sido mais fácil deixa-lo para trás... Mas agora era tarde para esse tipo de pensamento.

— Sena, Sena Dipoli.

— E então, Sena, o que fazia naquele prédio?

— Era vítima de um sequestro? — Sena não parecia disposto a argumentar. — Quero que me soltem agora...

— Não percebeu ainda que não vai a lugar nenhum? — Tarcísio olhou para Ezequiel quando as palavras saíram de sua boca de forma fria e a—sentimental. — Agora me diga, quem você estava sendo quando não você mesmo?

— Está falando quando eles me forçavam a usar aquela máquina estupida? — Sena cuspiu as palavras, gotículas de saliva voavam de sua boca. — Vocês são da polícia ou do governo por um acaso? Quero meu advogado, já estou preso aqui por meio mês, em uma sela suja e sem explicações e agora você vem com essas perguntas!

— Não precisa evidenciar o que eu já sei. Fui eu quem o coloquei na cela. — Ezequiel respondeu. — Vou ser bem claro com você, então deixarei que saia e veja onde está, tire suas próprias conclusões.

Ezequiel se manteve em silêncio esperando que Sena o interrompe—se fizesse suas perguntas, mas nada disso ocorreu, então ele falou.

— Quando foi preso por aquelas pessoas sua vida mudou, para sempre! Você nunca mais vai fazer parte dos outros humanos que vivem burros e ignorantes, do dia em que te levarão contra sua vontade e te sentarão naquele Animus você presenciou algo que jamais deveria ter conhecimento, e eu tenho certeza que sabe do que estou falando. Não me interessa qual ancestral é você, não quero saber agora, mas de hoje em diante você está aqui. Conosco. Ou fica ou morre. Não lhe darei outra opção.

— Claro, pode tentar fugir, mas isso também é morte. — Acrescentou Tarcísio com um sorriso fraco. — Solte o homem antes que ele se molhe todo.

— Vá, Sena! — Ezequiel apontou para a porta. — E lembre—se, você viu o que jamais deveria, e agora querendo ou não faz parte disso. É bom se acostumar.

Sena se levantou e de cabeça baixa foi para a porta, saindo aos poucos, abriu a porta saiu e a fechou.

Ezequiel olhou para Lion e Tarcísio, outro problema a ser resolvido.

— Parece que está tudo bem, a Abstergo está contida e enfraquecida, mas eu ainda tenho meus problemas. — Lion disse sorrindo. — Então vou pegar meu passaporte e voltar para Los Angeles...

— Não. — Ezequiel respondeu de imediato, já prevendo que aquilo fosse acontecer. — Você viu o estado de Edgar, você é o único rosto familiar e nesse momento ele precisa de alguém que conheça, que tenha afinidade, eu preciso.

— Para?

— Ele não vai querer responder tudo o que eu perguntar, mas vai falar para você.

— Me quer como um X9. — Lion respondeu com seu sotaque mais puxado que o pretendido, aquela gíria já lhe era comum, mas sempre falava com sotaque.

— Quero como uma ponte que ajude Edgar a se recuperar do que sofreu o mais rápido possível. E para você ele era apenas o alvo a ser protegido, mas para ele você era um amigo.

— Está bem. — Lion respondeu meio zangado, meio conformado. — Eu fico.

— Ótimo, já consegui a autorização do seu Mestre, não precisa se preocupar com mais nada.

— Parece que não tinha muitas escolhas.

— Ninguém tem! — Ezequiel respondeu apontando para a porta. — Espere lá na sala, quero falar com Tarcísio.

Lion se levantou e foi saindo.

Ezequiel também se levantou, mas foi para o fundo da sala onde esperou a porta se fechar, então empurrou uma estante de livros que parecia pesada, atrás dela a parede se mostrava a mesma, porem um cofre existia enfiado ali.

— O que é isso? — Tarcísio olhou para o cofre, ele mesmo não sabia da existência daquilo.

— É um cofre. — Ezy respondeu sorrindo de lado. — Alias, estou muito orgulhoso do sucesso na Abstergo, conseguimos muitas informações, e sem seu vírus...

— Eu sei, só prepara meu cheque. — Tarcísio riu, ele era bom no que fazia, e não falhava, nunca. — Agora me fala o que tem aí?

— Isso. — Ezequiel puxou a porta do cofre após inserir a senha, uma porta de trinta centímetros por quarenta, seis centímetros de espessura. Pegou uma pasta e voltou para o sofá, Tars estava sentado em uma cadeira ao lado da mesa de centro, Ezequiel jogou a pasta na mesa e abriu puxando a primeira folha de muitas. — Reconhece qualquer um desses símbolos?

— O que é isso? — Ele perguntou pegando a folha e olhando as varinhas linhas em que símbolos, desenhos, letras, rabiscos, não sabia o que eram, se estendiam até o final. — Runas?

— Não é nórdico, não é inglês ou japonês, não veio da África ou da Índia. O Canadá e sua mitologia não tem ligação com isso, não é inca, maia ou asteca, o Egito não possui nenhum símbolo se quer parecido, toda a Europa e sua rica cultura nada atribuem a estes símbolos.

— Está dizendo que são coisas de outro mundo? — Tars riu sabendo que não era aquilo, mas não conseguia pensar em algo mais, que tipo de raça poderia ter criado esses símbolos? E porque era relevante para a Ordem.

— Isso é o que acontece quando nos esquecemos da própria cultura. — Ezy pegou a folha da mão de Tars e colocou na mesa, apontou para um único símbolo. — Não me pergunte o que isso é, mas é do Brasil. Muito, muito antigo. Está talhado em uma pedra no Cofre.

— Então, acha que os índios...

— Ou talvez algo antes deles, não faço a menor ideia, isso que está me tirando o sono. E isso é o que tem me chamado a atenção, olha aqui. — Ele apontou para um dos símbolos, aquele em questão era algo ainda mais deformado e rustico que os outros. — Esse símbolo é o único conhecido. Está presente em muitas tribos indígenas colonizadas pelos portugueses desde 1500, surgiu em 1500 para dar significado a uma palavra que os índios não usavam, mas com o cristianismo sendo disseminado entre eles a palavra começou a ser usada, em geral todas elas descrevem como a mesma coisa, são quase vinte tribos, no entanto, todas são litorâneas.

— Está, e o que significa? Deus?

— Ainda não acabei. — Ezy tomou ar, então voltou a falar. — A placa estava soterrada em um templo onde árvores muito velhas já cresciam em cima da terra, a escavação ocorreu na Amazônia, perto do Acre, a placa devia estar enterrada a no mínimo trezentos anos, ainda não fizemos testes precisos, mas talvez seja mais de 700 anos enterrada.

— Então se a placa estivesse enterrada a tanto tempo assim os portugueses não teriam chego aqui, e o este símbolo não teria sido “inventado” para designar a palavra referente ao cristianismo, mas então como a este símbolo já existia antes mesmo dos índios saberem da existência de um único Deus... É isso que está ponderando?

— Basicamente sim. — Ezequiel tirou o dedo da folha de papel, então se reclinou no sofá. — Mas existem muitas outras questões para abordar, a placa é realmente antecessora a chegada dos portugueses? Quem moldou ela? Se apenas tribos litorâneas usavam esse símbolo como ele foi parar no Acre? Quem construiu um templo para essa placa? Como o templo foi soterrado em um lugar sem montanhas? E por fim, a palavra em si.

— Deus...

— Não. — Ezequiel disse corrigindo Tarcísio. — Não estamos falando de Deus, não achei o esqueleto de Jesus. A palavra é algo muito mais simples e abstrata, algo que não existe, não mais.

Tarcísio perdia a paciência.

— Então fale de uma vez por todas! — Disse arqueando as sobrancelhas.

— Éden. — Disse sorrindo, a simples menção daquela palavra, cada uma de suas letras, fez Tarcísio se retesar.

— Peça do Éden?

— Não, nada de peça, só Éden. Na verdade, é um conceito abstrato ainda, a palavra em algumas tribos significava paraíso, em outra era Éden, ou Céu. No geral ligada ao conceito de um lugar milagroso e magicamente perfeito, como um lugar Divino.

— Então pode ser apenas uma semelhança ou algo assim, talvez seja Éden, o paraíso. Não Peças do Éden.

— Talvez sim, mas você nunca ouviu o que significa Peças do Éden? — Ezequiel parecia um velho querendo respostas, apenas para falar que estavam erradas e corrigi-las em seguida.

— Ouvi Ezy, Armas forjadas com uma tecnologia antiga da raça percursora, em geral podiam fazer tudo, desde salvar vidas até aniquila-las.

— Não é disso que estrou falando. — Ezequiel se levantou como se tivesse chego finalmente ao ápice. — Essa informação é privada a Mestres, então já sabe que foi promovido certo? Bem, prepare os ouvidos... — Ele abaixou o tom de voz, ninguém do lado de fora podia ouvir. — Peças do Éden se chamam assim não porque eram de tecnologia indistinguível ou coisa parecida, são chamadas assim porque eram feitas em um lugar, um lugar especifico, como uma cidade, mas pense em uma cidade inteira voltada para isso, um grande forte militar ou algo assim onde apenas os mais geniais da raça percursora podiam entrar e soltar a criatividade desenvolvendo o que quisessem com os recursos que quisessem. Esse lugar era o Éden. Não é um paraíso e sim um inferno, uma oficina onde homens trabalhavam criando tudo, desde as armas de destruição até as de salvação, como o orbe que o pobre Desmond tocou e morreu para salvar a todos poucos anos atrás, como a espada que Arno possuiu e que tudo cortava, o cajado papal usado pelo Borgia, e as mais comuns e fracas invenções, as maças... acho que é isso que essa placa quer nos mostrar.

Tarcísio nada disse, mas começava a pensa que seu amigo enlouquecia, embora suas palavras fizessem sentido.

— O caminho para o Éden?

— Não... Santo Deus, você não acerta uma! — Ezequiel se sentou novamente. — Não o Éden, mas pelo menos explicar como as coisas acontecerão, o Éden foi destruído no colapso que eliminou a raça percursora, talvez existam vestígios, mas não espere encontrar uma cidade inteira soterrada e intacta. Mas agora eu entendo onde essa história no leva, existe uma peça do Éden por aqui, em algum lugar e vamos encontrá-la.

— E onde Ethan entra nessa história? Porque Edgar não vai concordar em voltar para o Animus, ele é revoltado como uma criança.

— Essa é a outra informação curiosa e mal esclarecida, quando roubamos a placa do caminhão templário não sabíamos bem o que esperar, mais quando resgatamos Ethan eu salvei os arquivos da Abstergo naqueles HD’s, estava vendo tudo que parecia importante, parece que os arquivos oficiais estão em um arquivo físico, coisa que não achamos, mas consegui copias, xerox das folhas do diário de bordo de Ethan Cavendish recuperado de um museu. E em uma delas as letras estão apagadas demais para serem lidas, mas um desenho, um único desenho, o mesmo que o da maldita placa... eu tenho certeza que Ethan é a chave para essa peça do Éden!

***

Edgar já conseguia virar a cabeça para esquerda e para a direita e embora sentisse que podia sim levantar, preferiu não arriscar, o medo de cair e a vergonha que sentiria ao ser carregado... preferiu não arriscar, preferiu permanecer deitado. As visões voltavam, ele não sabia o que eram, mas fazia meia hora desde que clarões invadiam sua visão, depois tudo enegrecia assim como a visão de Ethan, mas nada ficava dourado, nada era seu objetivo, nada. Então fantasmas apareciam desfilando com espadas e lanças em cavalos brancos translúcidos, ele podia jurar serem mortos, mas logo tudo desaparecia e as coisas voltavam ao normal com a luz do sol invadindo pelas frestas no telhado, e pela janela... há, a janela, ele jurou que iria destruí-la, não parava de ir e vir batendo constantemente de dois em dois segundos. Começou a culpar a janela pela sua dor de cabeça.

Então a visão sofreu outro clarão, ele fez uma careta em reprovação enquanto o clarão sumia e seu mundo era mergulhado nas trevas esvoaçantes, mas um brilho sutil e dourado surgiu na porta, que também estava entreaberta, mas não batia constantemente como a irritante e infernal janela.

— Ei! — As palavras pareceram lhe custar a vida.

Seu peito ardeu doendo fortemente enquanto a respiração pesou, quase impossível de tragar o ar que no pulmão faltava ou expelir o carbono que no pulmão se acumulava. Então aquela estranha visão se desfez em um instante e ele nada pode fazer além de aguardar, enquanto aqueles vultos fantasmagóricos, aquelas sombras desconhecidas vinham e iam, algumas eram damas andando com guarda—chuvas, outros erma cavaleiros de traje a rigor, pareciam respeitáveis, outros eram guerreiros respeitáveis. Enfim ouviu algo, era um diálogo, mas não fazia sentido algum, talvez estivessem longe dele ainda, mas sabia que ouvia algo. O tempo continuou a passar e finalmente os fantasmas sumirão, os clarões e a estranha visão que compartilhava com Ethan. Estou enlouquecendo. Foi seu único pensamento. Mas então a porta se abriu deixando uma enorme quantidade de claridade entrar, o cômodo saiu das trevas mergulhando em luz do dia e Edgar virou a cabeça olhando para a porta.

— Finalmente! Não morre mais esse daí! — Disse alguém que ele não viu quem era, não distinguiu a voz

— Desligue o sedativo. — Outra voz, outro homem. — Preciso dele consciente e não dopado.

— Sim senhor! — Era uma mulher — Dois minutos e o organismo dele vai estar normal, cinco minutos até o efeito passar completamente.

— Aguardemos então.

Edgar ainda observando, sem foco algum, viu os homens sentando em alguma coisa, talvez um sofá, o tempo foi passando e o silêncio lhe fez preferir estar sozinho divagando nos seus pesadelos sobre fantasmas e vultos do que aquilo, finalmente quando não aguentava mais ficar parado e já sentia as forças sendo restauradas ele disse.

— O que... — Mas parou percebeu que não se lembrava de nada em especial, que não sabia quem eram aquelas pessoas, o que estavam fazendo com ele, ou porque estava ali. — Onde...

— Só escute. — Um homem apareceu na sua frente, agora nítido, era o mesmo homem que o tinha salvo, do lado apareceu outro homem, como ele tinha se chamado? Ezequiel... Era isso.

— Edgar Cavendish certo?

— Turner! — Ele corrigiu, pela milésima vez.

— Você sofreu danos por superexposição ao Animus, eu vou te explicar tudo que precisa saber sobre tudo que aconteceu e sobre o que vai acontecer. — Ezequiel olhou para trás para todos os outros que observavam. — Saiam.

Edgar observou—os saírem um a um, até mesmo a mulher que parecia um tipo de enfermeira. Enfim quando estavam apenas os dois ali Ezequiel voltou a falar.

— Vou ser rápido, o resto vai descobrir com o tempo. A Abstergo sequestrou você, em seguida mais pessoas foram sequestradas, Lion perguntou para seus amigos sobre quem lhe sequestrou e seu pai acabou chegando à conclusão que eram do Brasil, então me avisou, fizemos testes de DNA com o DNA do seu pai sua mãe seu irmão, descobrimos seus possíveis ancestrais e chegamos a quatro nomes em quatro épocas diferentes, um deles era Ethan e aqui no Brasil temos um Assassino descendente de alguém que se envolveu com Ethan, Apostando alto eu enviei Tarcísio, descendente de James, o irmão de Joly para ser preso pela Abstergo, ele se infiltrou e plantou um vírus, graças a isso conseguimos invadir recuperar arquivos e salva—lo. Agora vamos falar sobre geografia. Deve estar se sentindo perdido, saiu de uma floresta onde o clima úmido é constante e o sol está sempre escondido por nuvens claras e acordou em um lugar seco sem água sem nuvens... Está no Nordeste do Brasil, Piauí. A maior sucursal Assassina se encontra aqui graças ao seu sangue. — Ezequiel parou de falar e puxou do bolso da camisa um colar velho com um totem de madeira na ponta. — É uma peça sagrada, por direito pertence a sua família, mas é da Sucursal, só quero que veja, depois colocarei ela novamente no cofre.

Edgar pegou o colar e observou, era um homem acorrentado nos pés e com correntes soltas nos punhos, talhado na base estava “Liberdade é possível” no fundo tinha uma assinatura que Edgar reconhecia das lembranças revividas “E.C” Era seu ancestral quem tinha feito aquilo, a mais de um... Dois séculos atrás.

— Ethan...

— Ele libertou centenas de escravos aqui, os escravos criaram a sucursal que estava bagunçada nos primeiros anos, o líder que arrumou tudo foi Lucas Evangelista, filho dos escravos nascido em 1807 criado na sucursal recém fundada e embora alguns digam que sim e outros digam que não, foi um dos primeiros cangaceiros, lutou pela liberdade e ajudou muito mais gente do que diz a história.

— E como sabem disso?

Ezequiel apontou para as saltadas veias verdes no próprio braço.

— A Abstergo não é a única que estuda o passado. — Disse calmo. — Edgar, o importante é que preciso de você aqui, e aqui estará seguro. Os templários não vão ousar um ataque no Nordeste, esse é terreno assassino a séculos, preciso que se recupere e retome sua saúde.

— Por quanto tempo eu dormi?

— Na verdade induzimos seu sono, uma quinzena. Você estava fraco demais e o Animus quase te matou, se continuasse acordado e conversando buscando respostas, pensando, teria morrido. Mas ainda não está bem. Precisa descansar antes de voltar ao Animus.

— Eu quero voltar... — Edgar disse então olhou para a janela batendo. — Para Los Angeles. — Completou.

— Não vai ser possível no momento. Trancamos sua matricula e a faculdade está esperando seu retorno, mas no momento precisamos de você.

— Tirem meu sangue, revivam minhas memórias por si só, mas me deixem ir...

— E correr o risco da Abstergo conseguir o que quer? Não. Antes que pense que eu estou sendo o lobo mau da história, quero que saiba a verdade. Seu pai, eu, o mestre da América, África, Ásia, Oceania, todos concordarão, você vai ficar.

— EU NÃO SOU UM DE VOCÊS! — Edgar berrou levantando da maca sentindo a fraqueza de uma barriga vazia. — Vocês não podem me obrigar a ficar aqui.

— É pedir demais para quem já deu muito sem ter obrigação alguma, eu sei. — Ezequiel parecia compreensível, mais compreensível do que qualquer um poderia ser naquelas circunstâncias. — Mas é para um bem maior, para algo melhor! Não quero te prender aqui a força, mas assim farei se for preciso, e assim que terminarmos estará livre Edgar.

— Sabe de uma coisa? Jorge me disse as mesmas coisas! — Edgar disse se levantando indo até a janela que batia compassadamente. — Então, qual a diferença entre os templários e os Assassinos, se seus discursos são iguais! Suas motivações são as mesmas...

— Não tem curiosidade? Do que Ethan fez? Para onde foi e tudo o que pode aprender com isso? São infinitas possibilidades, você pode aproveitar tudo isso Edgar, pode...

Edgar fechou a janela garantindo que as batidinhas parassem, então olhou para Ezequiel zangado, se sentindo usado.

— NÃO! Eu não quero. Não quero passar a minha vida vivendo a vida que alguém que já morreu, não quero ficar invadindo uma lembrança estupida de alguém fraco como Ethan! No começo eu respeitava o garoto. Com quinze anos fugiu de casa porque odiava os Assassinos e seu credo patético. Porque queria viver, e não ser usado pelos Mestres que só sabem se aproveitar da vida dos outros. Eu respeitava ele até Ethan decidir que precisava agir, que precisava salvar as pessoas e voltar para vida que ele tinha fugido. Ele é um Fraco! Eu não sou. Sai de casa, sai do meu País por causa de vocês! Eu larguei tudo e cruzei o oceano, recomecei do zero sem a ajuda de ninguém. Nunca quis nada disso, nunca quis ter lembranças, viver... reviver o passado, nunca pedi para ser um entre um milhão com DNA especial. Eu Só Queria Viver A Minha Vida! Em paz! — Ele disse enquanto uma lágrima cruzou o rosto, odiava Ethan, odiava—o por ser um garoto patético e fraco que chegava a ser hipócrita em voltar atrás das próprias vontades, das próprias promessas. Ele não faria isso, Edgar tinha certeza do que queria, e os Assassinos nada tinham a ver com seus desejos.

De repente se viu andando, e Ezequiel nada fez para impedir, ele ouviu uma ordem, a qual não entendeu, mas percebeu que ninguém o seguia, então continuou andando, as pernas tremendo enquanto dava passos vacilantes no concreto, olhava as cabanas espalhas, uma casa com paredes rebocadas e janelas e portas de ferro, foi para o outro lado, queria manter distância de tudo que pudesse parecer lhe ligar a aquelas pessoas. Após o que pareceu uma eternidade ele caiu de joelhos e foi se arrastando com as mãos até virar de barriga para cima observando o céu, o sol queimando sua pele, percebeu como aquele lugar era quente.

Queria ir embora, deixar aquilo para trás e voltar ao teatro, voltar a ser feliz e ir trabalhar, estudar, comprar um livro, comprar um jogo, namorar e descansar, viver normalmente! Então subitamente um rosto surgiu em seu campo de visão e Edgar se assustou encolhendo o corpo, era Tarcísio, com sua pele com acne parecendo rugas. Olhou para Edgar e sorriu apontando para uma direção que Edgar não saberia dizer qual era até levantar a visão, estava a não mais que quinhentos metros de distância de onde tinha partido ao que pensava ser horas.

— Eu não vou voltar...

— Terminou seu show? — Tarcísio disse agarrando os braços de Edgar que se debateu enquanto era posto de pé. — Se você não vier andando vai ir arrastado. Não pense que vou ser bonzinho como o Ezequiel eu te derrubo aqui e agora.

— Tente! — Edgar disse empurrando Tarcísio para trás com valentia, mas quando o fez os braços arderão como se os músculos tivessem explodido dentro da carne, antes mesmo que ele levantasse os punhos em guarda Tarcísio tinha voado contra seu pescoço com a palma da mão aberta e uma pancada na sua traqueia o fez perder o ar, outra pancada, essa no seu peito, Edgar arfou violentamente observando Tarcísio que se abaixou apoiando o ombro no peito dele e então o jogou por cima dos ombros segurando Edgar pelas pernas.

Edgar percebeu quão patético foi a ideia de lutar nos segundos que sucederão, pois quando foi tirado do chão e jogado feito saco de batatas sobre os ombros daquele homem que mal conhecia se sentiu envergonhado humilhado e impotente. Tal como se sentia todos os dias antes de fugir de casa, tal como Ethan se sentia antes de fugir de casa. Tal como Edgar imaginava que todos os Assassinos se sentiam todos os dias, oprimidos ali lutando pela liberdade que eles mesmos não possuíam!

Quatro dias depois

Lion estava sentado no sofá comendo um lanche gorduroso enquanto assistia um espetáculo de comédia dando risadas hora e outrora. Edgar entrou na sala e se sentou na cadeira ao lado observando o espetáculo por menos de um minuto antes de abrir a boca.

— Porque você veio? — Perguntou após a inconveniente e desconfortável troca de olhares. — Quer dizer, porque nunca me disse nada lá?

— Você teria aceito? — Lion retrucou com a voz seca, bem diferente do que Edgar estava acostumado a ouvir do amigo que não calava a boca.

— Você nem precisa fazer teatro. É uma farsa por completo. — Ele disse olhando para o amigo, incrédulo de não ter percebido antes.

— Sou formado em artes cênicas em Londres! — Ele disse, agora sem nem mesmo olhar para Edgar. — Vamos facilitar isso, eu estou aqui porque me mandaram vir aqui, porque você era minha missão e eu falhei. Por isso eventos enormes foram desencadeados e tudo isso é culpa minha por não ter ido beber com vocês aquele dia.

— Você estava passando mal...

— Eu? — Lion sorriu, um sorriso sarcástico, nada parecido com os outras vezes que eles riram juntos em conversas casuais. — Não, não estava.

Edgar olhou para o lado disfarçando a raiva, sentia que sua vida era uma mentira, de repente era como se todos que tivesse conhecido desde quando saiu de casa pudessem ter sido enviados para espiona-lo, fosse por seu pai ou pelos templários.

— Alguma coisa sobre você é verdade?

— Meu nome é Lionel, eu te falei que vim de Oxford mais me mudei pra Londres, onde disse estar na casa de um tio, estava, mas estava estudando artes cênicas a pedido dos Assassinos. Me mudei para Exeter onde treinei por um bom tempo, até você fugir.

— Nunca vi você.

— Nunca viu nada. — Lion disse meio zangado, mas ainda em um tom indiferente de quem pouco se importa.

— Porque ficar?

— Porque Ezequiel acha que eu sou o único amigo que você tem, um rosto familiar no meio dos estranhos para te manter calmo, mas ele não percebeu ainda que você não é idiota e já se tocou que tudo foi uma farsa e não somos amigos... Não de verdade.

Edgar olhou em volta, ninguém parecia prestar atenção nele, então se levantou dando a volta na poltrona, se apoiou nas costas dela e disse.

— Se quiser ir, vai! — Sentiu que estava corando, alguma coisa revirava em seu estômago, quase como se Lion lhe causasse nojo agora. — Não faz mais diferença.

Dia seguinte.

Edgar estava no pátio olhando para os iniciados treinando até a exaustação, até os músculos gritarem por um descanso. O treino físico porem era só o começo. Via os que chegavam de corridas longas de cinco ou seis quilômetros, estavam exaustos e quentes, quando chegavam baldes de água eram virados sobre suas cabeças, o choque térmico que o corpo sofria era insuportável, quase letal, mas servia para melhorar a resistência, depois, cansados e molhados eles iam lutar, um contra o outro por mais e mais tempo, depois desviar de tiros de uma besta, reais tiros, do tipo que atravessariam a carne se acertassem o alvo. Não existia a opção de falhar. Então escalavam e pulavam de lá de cima, pulavam de novo, outra vez, pulavam em uma cambalhota, em um manequim cheio de feno, pulavam para cair em pé, muitos pulos, alguns silenciosos, outros barulhentos. Enfim quando tinham passado por todas as etapas daquela pista de treino era a hora da parte difícil, exaustos e com as forças físicas exauridas eles se sentavam, contra outros homens que não tinham saído dali, pegavam jogos como xadrez e começavam a jogar, jogadas rápidas, quatro segundos para planejar um movimento e faze-o ou então perdia um peão, depois um cavalo, depois as torres... Era cruel. Terminando aquilo grandes lousas com labirintos desenhados, tinham que achar a saída rapidamente, o perdedor ficava sem jantar.

Edgar percebeu que essas estupidas e inúteis competições seguiam dia a dia, com iniciados diferentes, os mais avançados no treino quem ficavam lá parados o tempo todo jogando xadrez e fazendo exercícios de lógica, criando táticas e coisas assim. Tinha perguntado para Tarcísio sobre a hierarquia, e embora ele fosse grosso e quase sempre mal—educado, nunca negava—lhe respostas, e lhe explicou que os Assassino ali eram divididos em cinco classes, os Aprendizes, que Edgar chamava de iniciados, então os Furtivos, que não mudava muito dos aprendizes além de possuírem uma lamina oculta, depois passavam a ser Assassinos formais, o que trazia muita responsabilidade e respeito para o mesmo, explicou que Edgar podia diferenciá-los pelo uso de duas laminas ocultadas ao invés de apenas uma, o quarto degrau daquela escada era destinado aos mentores, que Tarcísio avisou, ali existia apenas um... Ele! E no final estava o Mestre Assassino, que tinha deixado de ser chamado por Grão-Mestre para evitar confusões com a nomenclatura templária que muito se assemelhava à assassina.

Enfim quando o sol minguava se escondendo entre as dunas de terra seca e rachada com os esqueletos de árvores que, difícil de acreditar, um dia foram floridas Edgar se levantou do banco sob a sombra de uma tenda. Foi para a grande casa que ainda não tinha decidido como chamar apropriadamente, já que nem mesmo os próprios membros da sucursal não tinham um nome único para o local.

Na porta um homem montava guarda, abriu espaço para que Edgar passasse, ele entrou ouvindo a água da cascata e foi para a porta da direita, entrou na sala de jantar, onde alguns homens e uma ou outra mulher estavam, eles o encararão, mas nada que durasse muito.

Aquela sala era grande e possuía duas longas mesas de quatro metros de comprimento com bancos por todos os lados, a sala tinha portas para o Hall de entrada, para a cozinha e para o corredor. Edgar foi para o corredor e continuou andando, passou pelos banheiros, biblioteca e arquivos, e então achou uma sala com a placa “ANIMUS”. Ele abriu e porta e olhou seu interior, escuro, as luzes apagadas, sem janelas.

— Está querendo se matar? — Edgar pulou feito gato em um susto que lhe puxar a porta para trás, mas não percebeu que a outra mão ainda estava no batente, então espremeu os dedos soltando um xingamento involuntário seguido pelo “AI”. Então se virou encarando Tarcísio. — Porque se for, eu posso te emprestar um revolver... é bem mais eficaz e indolor.

— Eu, só estava vendo.

— A, sendo assim, veja. — Tarcísio sorriu, um bonito grande e falso sorriso. — Eu espero.

Edgar olhou para a porta ainda aberta, o vão levando sua visão para as trevas da sala do Animus e então Tarcísio do outro lado, parado feito um poste com os braços esticados para trás, com os dedos entrelaçados nas costas, observando, como quem nada queria.

— O que foi?

— Nada! — Ele respondeu, então soltou as mãos, os braços balançaram e ele voltou a andar passando por Edgar e empurrando a porta de madeira, em seguida bateu a mão na parede a procura do interruptor, com um click as luzes se acenderão. — Você parece impaciente, está bem?

— Tão bem quanto poderia, levando as circunstâncias.

— Circunstancias atenuantes! — Tarcísio riu, dessa vez mais amigável. — Como está a cabeça?

— Ainda inteira.

— Fantasmas?

— Nunca mais, três dias desde o último.

— A visão de águia?

— Está falando daquela coisa horrível que aparece do nada?

— Porque não sabe controlar, e como ninguém aqui tem esse truque, só você, vai ter que se virar para aprender como controlar. — Tarcísio apontou para a sala, era pequena, e tinha três Animus, um do lado do outro, eles eram pequenas poltronas com estofamento mal colocado contornado por metal prateado fosco onde fios passavam de um lado para o outro indo para trás encaixando em grandes caixas metálicas de um metro e oitenta de altura. — Mesmo assim, não respondeu.

— Vai e vem. — Edgar disse, então olhou para ele querendo fazer uma pergunta sobre algo que vinha percebendo ocorrer sempre. — O que é que você e o Ezequiel tanto fazem no escritório dele?

— Isso não é do interesse de um Aprendiz.

— Eu quero saber.

Tarcísio abriu um sorriso, esse era sarcástico e cheio de malicia.

— E tem duas formas de saber! — Tarcísio se virou e sumiu entrando no meio daquelas caixas de metal cheias de fissuras por onde os fios entravam, então um ruído metálico surgiu e vento, eram grandes computadores para suportar o trabalho do Animus, só podia ser isso, Tars voltou e se sentou em uma das poltronas. — A primeira e mais complicada é amanhã acordar às cinco da manhã ou antes, as cinco e meia estar no meio do pátio e treinar e com sorte em um ano passará a ser um furtivo, com mais sorte ainda em dois anos será um Assassino, aí talvez eu te conte.

Edgar já sabia como Tarcísio era, um sujeito simples e muitas vezes irritante.

— E a segunda?

— É você se sentar aqui e descobrir por si mesmo! — Ele disse entregando os óculos Animus, bem diferente do que usava na Abstergo. — Ezy acha que você já está melhor, eu também, e como ambos concordamos que está na hora de voltar à ativa... Bem, cabe a você o trabalho fácil, ache o que procuramos, e nós vamos lá buscar, seja onde “lá” for. Depois você já vai saber o que é para que serve e tudo mais, mesmo assim, eu vou te falar!

— Parece tentadora essa proposta, mas não vejo vantagem nenhuma para mim.

Edgar continuou parado no meio da sala.

— Então pense assim, encontre seja o que for que estamos caçando e quanto antes o fizer, mais rápido poderá voltar para sua vida sem graça de estudante e trabalhador.

Edgar se sentou na poltrona ao lado, pegou os óculos olhando—os com desconfiança. Então os colocou e sua visão foi selada, ele nada podia ver e percebia que aqueles óculos não possuíam o visor em LED que os da Abstergo possuíam, era bem mais simples. Então com um suspiro longo falou.

— Liberdade é só uma mentira contada pelos Assassinos! — Edgar não pode ver, mas Tarcísio fez uma careta, a ideia de ele ter tais pensamentos era uma aproximação com os templários além da que Ezequiel talvez viesse a aceitar.

***

Ethan acordou de seu sono jogado de um lado ao outro com o balanço do navio. Virou na cama quase caindo pela borda se puxando pelo lençol.

— Santo pai. Quando vou me acostumar com isso? — Se perguntava, esfregando os olhos e saltando da cama se agarrando a barra da madeira polida e desenhada com várias ondulações do pé da cama.

Olhou ao redor nas janelas de vidro da parte da popa do navio, o sol invadia difuso pelo vidro granulado e grosso, então ele afundou no piso alguns centímetros, toda a paisagem ao seu redor tremeu sumindo com riscos horizontais e voltou a se refazer.

“Tarcísio? ” — Edgar chamou sentindo—se ele novamente, alguma coisa tinha acontecido.

“Fique parado Edgar, ” — Era a voz de Tarcísio, dentro de sua cabeça, como um sino. — “Vou arrumar isso em um instante”.

“O que é isso? ”

“Parece que os dados entre o Animus da Abstergo e o nosso estão conflitando, você vai precisar rever algumas memorias”

“Então volta um pouco... ”

“E gastar o dia de hoje em uma estupida viagem... Não, eu vou fazer uma recapitulação para o seu cérebro pensar que viu tudo e voltar a funcionar direitinho”. — Então a voz de Tarcísio sumiu.

Edgar olhou em volta sentindo seu corpo deixar de existir conforme ele voltava a ser o Ethan, em pé, vendo o navio sair de Lisboa.

Flash azulados surgiam de repente trocando o cenário, trocando o dia, trocando tudo. Ethan em um momento estava em pé ordenando que puxassem as velas e se protegessem enquanto uma tempestade infernal separava toda a frota real da frota inglesa, as naus indo uma para cada canto, dispersas...

Um clarão como um flash e Ethan estava mais uma vez ao lado do timão do Desgraça, observando o mar calmo enquanto falava alguma coisa sobre ir para a ilha da madeira...

Outro flash e ele estava no meia—nau olhando os outros navios da frota surgirem por aqui e por ali, era dia 11 de dezembro de 1807. De lá no entardecer a frota estava reunida uma vez mais, todos os navios graças a Deus estavam inteiros, e a frota retomou viajem para o Brasil seguindo a rota mercante mais rápida com ajuda de bons ventos e boa maré.

Outo Flash e Ethan estava subindo no mastro principal do seu navio, o Desgraça Holandesa perigosamente perto do navio onde o Príncipe Regente se encontrava com sua mãe e seu filho e esposa.

“Acho que já está estável. Vou soltar a simulação”. — Tarcísio disse deixando de existir naquele mundo enquanto Edgar ia deixando de existir também.

Ethan se segurou na madeira da base do mastro e subiu nela se levantando encarando o oceano sem fim se espalhando em esplendor ao seu redor, os navios espalhados, todos um no alcance do outro avançando em conjunto. Ele agarrou uma corda presa com um laço simples em uma e com vários nós no decorrer da corda. Ele agarrou em um desses nós de forma que a mão não escorregasse e chutou o laço que se desfez, a corda era amarrada na ponta da verga de joanete a alguns metros de distância, Ethan deu um pulo da base do Mastro.

A corda es esticou conforme ele descia pelo ar chacoalhando, olhou para baixo vendo o convés do Desgraça Holandesa desaparecendo enquanto o azul escuro das águas do atlântico surgia, e um segundo após sua vista era tomada pelas claras madeiras do convés da Nau Príncipe Real. Ethan olhou o chão voltar a se afastar quando ele, assim como um pendulo, voltava a subir. Então abriu as mãos e a corda balançou livre do peso.

O corpo caiu do ar de uma altura de dois ou dois metros e meio, ele bateu os pés contra o convés com violência se ajoelhando para absorver o impacto, então se levantou jogando a toca de sua vestimenta para trás em um gesto que indicava paz.

Alguns dos soldados de D. João agarrarão os cabos de suas espadas.

— Ei amigos! — Ethan disse olhando em volta, era a terceira vez que fazia aquilo desde quando começaram a viajem.

— Ethan! — Era uma voz delicada e feminina tão solene e pacifica que dava sono.

Ethan procurou a fonte daquela voz que acalmava até os mais bravos soldados, viu uma mulher vestida de forma simples, mas sem perder o luxo, ela o olhava com delicadeza, uma delicadeza que Ethan jamais conseguiria entender. Era como se ele fosse se quebrar ao mínimo toque.

— Vossa Majestade. — Ethan disse indo até ela incapaz de ignorar a própria Rainha. Ela porem não fez nenhum sinal em retribuição como mandava a boa educação, invés disse olhou—o de cima abaixo, então encarou o chão. — Está parecendo feliz no dia de hoje.

— Tão feliz quanto uma mulher ficaria dento de uma jaula sem grades pela qual a fuga se mostra... — Ela olhou para Ethan procurando as palavras enquanto estendia o braço deslizando por sobre a vista do oceano. — Inviável.

— Sim, é verdade. — Ethan concordou, tinha aprendido que descordar da Rainha nunca resultava em algo bom. Para ninguém! — Mas está jaula que trará a liberdade.

— Só se for a sua. — Ela disse e saiu andando.

Ethan olhou para trás procurando alguém que a vigiasse, sempre tinha alguém. E ali estava, o doutor a olhando, mantendo a distância apropriada da mulher, para que ela não se sentisse acanhada ou oprimida.

Ethan tinha ouvido falar, repetidas vezes que a mãe de D. João, a Rainha de Portugal havia sucumbido a uma incurável doença mental, da qual vinha piorando com os tempos.

— Doutor, onde está Sua Alteza Real? Por gentileza.

Ethan disse segurando o médico especializado em doenças mentais pelo braço.

— A última vez que o vi estava a caminho da cabine do capitão Mascarenhas.

— Obrigado. — Ethan deixou o homem seguir sua paciente, provavelmente a mais importante que ele teria em toda a vida.

Andou calmamente até a porta da cabine que não ficava no meio do navio como na maioria, mas sim um pouco para o lado, excluindo uma das escadas para a popa, tornando a Nau Príncipe Real diferente e peculiar, aquela mudança porem abria espaço para mais dois canhões do lado esquerdo.

Ethan aguardou seis minutos quando a porta se abriu e de dentro saiu D. João VI junto do Capitão de Mar e Guerra Mascarenhas.

— Não disse que era ele Capitão? — D. João abriu um sorriso como se tivesse ganhado uma aposta, então olhou para Ethan e fez a pergunta óbvia. — Aconteceu algo?

— Como sempre, não. — Ele respondeu. — Só estou tentando arejar um pouco.

— O vento não lhe é o suficiente? — Mascarenhas perguntou sarcástico como era seu costume, Ethan o encarou, os cabelos brancos sobre os negros, os olhos virados para baixo com a pele enrugada. Era um velho soldado que tinha trilhado o caminho até o topo, tinha o direito de ser sarcástico o quanto quisesse.

— Se fosse não estaria aqui não é mesmo, Capitão? — Ethan respondeu em pé de igualdade, podia ser novo, muito mais novo que Mascarenhas, mas era igualmente importante e seus títulos não se equiparavam por muito pouco.

— Chega de farpas. — D. João disse olhando para a proa. — Sabe Ethan, estamos a algumas poucas horas do fim dessa viagem. Cruzamos meio mundo. E é no dia 18 de janeiro de 1808 que a Rainha e sua corte chegaram em sua colônia do Ocidente. Nunca gostei do dia dezoito.

— Então espere até o dia dezenove. — Ethan disse como se fosse simples assim, então em um súbito ataque de consciência se lembrou que falava com o Príncipe Regente. — Vossa Alteza.

João riu dando alguns passos à frente.

— Já consegue ver? — Ethan estreitou os olhos, mas nada via. — Espero que ao chegarmos lá, eles tenham o mesmo respeito que vocês!

Ethan viu D. João se virar e deixa-lo ali. A meio caminho rumo a sua cabine privada D. João se virou para ele uma vez mais e disse.

— Volte para teu navio e preparai para ancorar em breve.

Ethan subiu pelo mastro principal tal como tinha feito em seu navio, ao chegar lá em cima um marujo com luneta cantarolava qualquer coisa.

— Me empreste o olho de vidro. — Ele disse pegando a luneta das mãos do marujo e levando ao olho direito, enxergava melhor com este.

A vista era diferente do que estava acostumado a ver, a luneta obstruía boa parte e ele tinha que ficar girando a cabeça para lá e para cá, formando a imagem na própria mente, diferente de Lisboa ou Plymouth, ou Londres, ali não existia tantas entradas e tantas perturbações na terra, era uma longa e interminável linha de areia que se transformava em verde logo em seguida. Sem nuvens negras cobrindo o céu, sem poluição, sem cidades grandes e polos industriais.

— É encantador, não é? — O marujo perguntou sorrindo sem olhar para a direção que Ethan olhava, ele provavelmente já tinha passado horas se deleitando com a vista.

Ethan porem estava pasmo, sem palavras. Só conseguiu pronunciar um pequeno chiado com a voz falhando.

— Brasil!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E então? Ansiosos pelo Brasil?
Até o próximo capítulo...
:)



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Assassin's Creed; Sombras" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.