Assassin's Creed; Sombras escrita por P B Souza


Capítulo 17
A grande viagem.


Notas iniciais do capítulo

Simplesmente um capítulo enorme. Muitos novos personagens e uma narrativa diferente!
A grande viagem é só o começo de uma nova fase para a fic!



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– Dizem que a guerra vai romper esse ano. – O capitão da galé mercante disse para Ethan, ambos conversavam muito, ele tentando se fingir de esperto e Ethan se fingindo de ignorante. – Que napoleão está juntando todos os homens que pode, que vai invadir a Grã-Bretanha e matar o rei.

Ethan concordou em discutir tamanho absurdo. Napoleão era um inimigo poderosíssimo e astuto, mas jamais saberia como invadir a Bretanha, jamais teria como, por isso iria fazer com que ela secasse cortando o comercio com os aliados. Eventualmente a Grã-Bretanha poderia cair, mas não com uma invasão, Rei Jorge III tinha poder naval que Napoleão não conseguia contar sem se perder nos números.

– É como eu estava dizendo. Napoleão vai conquistas o mundo.

– Cuidado capitão. Não vá deixar nosso Rei ouvir-lhe dizer isso em voz alta, se não vão começar a pensar que ganha em Francos não em Libras. – Ethan disse se ajeitando na cadeira sob o sol fraco.

Eles estavam no meio do canal inglês descendo rumo a águas que o, baixinho invocado, como Ethan chamava Napoleão, alegava ser dono. O capitão da galé pareceu desconfortável.

– Só estou dizendo que ele pega o que quer, toma para si o país que deseja e melhora-o, tem construído universidades e melhorado a vida de muitos pobres e miseráveis, tirado dos ricos de dado aos pobres. Não é isso que aquele herói Inglês de arco e flecha faz?

– Essa conversa de Revolução Francesa, igualdade liberdade e o que mais mesmo? – Ethan sorriu encarando as nuvens. – Acha que tal coisa existe e que Napoleão luta por ela? Ele tira dos ricos e dá aos pobres? Acha que desapropriar nobres e destruir seus títulos, acabar com a história de uma família e seu orgulho, fazer com que todos os empregados que essa família pagava fossem despedidos por eles não serem mais nobres, e depois destruir a cultura de um país inteiro impondo que o mundo seja francês e depois ir para seu palácio dormir no seu luxo é, qual é a palavra que estou procurando? – Ethan se sentou encarando o Capitão apoiando os cotovelos nas coxas e a cabeça na mão, o timoneiro olhou para trás com um sorriso pequenino. – Heroico? Robin Hood nunca teve luxo capitão.

O Capitão não tinha uma resposta para aquilo, sua tripulação parecia feliz por ver que ele estava sem palavras. Ethan porem não tinha acabado.

– Já ouviu falar nos Turcos, império Otomano? – Ethan se levantou indo até a escada para meia-nau. – Capitão, eram eles um magnifico conglomerado de poder absoluto. Conquistaram mais do que muitos homens juntos, conquistarão mais que Napoleão e por uma única razão. Eles trabalhão com dinheiro, cobram seus impostos mas não cobram sua cultura. Os turcos acreditam que o mundo é como um tapete, e quanto mais cores tiver no tapete mais bonito ele fica. Napoleão é um sujeito monocromático. Só gosta de sua cor e quer apagar as outras. Sabe o que acontece quando tentasse apagar as cores de um leão?

Ethan se virou e deixou o Capitão da galé ali, precisava respirar um pouco, aquele sal do mar estava fazendo seu nariz arder, mas sabia, não iria passar enquanto Lisboa não estivesse a um passo de distância.

Os dias continuarão passando dentro daquela galé, e Ethan nada podia fazer além de esperar, e essa espera estava lhe matando, era como deixar o mundo viver enquanto ele passeava despreocupado, como se nada no mundo realmente importasse o bastante para valer seu esforço. Como se ele estivesse aposentado de tudo. Mas seu coração queria mais.

Ethan estava em sua cabine privada quando abriu um caderno novo, próprio para aquela viagem, onde ele anotaria as coisas quando estivesse entediado, como agora.

“Mais um dia no animado Lebre-Azul. O cheiro de peixe estragando está cada vez pior, do outro lado do navio as pimentas amassadas fedem mais ainda, em pensar que alguém vai comprar isso achando aceitável em menos de uma semana. Descobri hoje que entre nossa tripulação existe um sujeito muito agradável que veio das colônias e diz ter lutado ao lado de George Washington e o lendário Assassino Connor, cujo nome indígena não me lembro, nas batalhas por independência das colônias, eu o avisei que sua luta era bela e justa, mas para que mantivesse o bico calado acerca disto, muitos ingleses ainda achavam um disparate a ideia das colônias se rebelarem contra a nação que as criou. Por fim, abrimos uma garrafa de cerveja, a mais encorpada que já experimentei. A viagem tem sido calma, e os últimos seis dias foram de sol e bom vento, que os próximo quatro sejam de igual sorte! ”.

Ethan fechou o caderno e se deitou. No outro dia fez as mesmas coisas, e novamente, e outra vez!

Enfim chegavam em Lisboa, Ethan estava dependurado nos cordames entrelaçados. Podia ver a torre de Belém iluminada pelo sol da tarde enquanto entre os outros navios a pequena galé comparada com os gigantes gelões e fragatas, singrava as calmas águas do Tejo.

Ele desceu e foi para o outro lado do navio observando a baia do Tejo, uma grande área coberta de água que servia de estacionamento apenas.

– E ainda pedem ajuda! – Ethan disse observando o tanto de navios ancorados ali, pensou que se todos disparassem seus canhões rumo a Lisboa, um terremoto não seria tão catastrófico quanto.

– Senhor Ethan, estou vendo que nunca viu poderio naval. – O Capitão disse ao lado de Ethan, que não podia dizer ter visto. – Embora para falar tenha uma língua rápida, quando ver o que ter poder realmente é, vai entender que nossas conversas não estavam exatamente justas.

Ethan pensou que em cada navio, cada fragata 60 homens eram necessários, quase 100 para um galeão, isso se não fosse um navio civil, então os números eram maiores. Um galeão podia levar até mesmo 200 pessoas. E esses navios afundavam tão facilmente, que 200 vidas pareciam pífias. Jurou para si mesmo pensar duas vezes antes de atirar com um canhão, sabia que aquelas promessas nunca duravam, mas mesmo assim a fez.

– Estamos descendo os barcos. – O capitão disse. – Vamos falar com os oficiais. Quer ir junto?

– Ancorará aqui?

– Estamos seguros de tiros inimigos, a baia é calma, o leito não é fundo, outros navios amigos estão ao redor, existe portos a esquerda e direita. – O capitão disse sem entender a pergunta. – Porque ancoraria em outro lugar?

– Estamos longe...

– Fique tranquilo Senhor Ethan. Não precisará remar.

Ethan fez uma careta enquanto subiam em um dos barcos a remo que era descido por cordas.

– Eu remaria de bom grado caso necessitasse.

– Se pedir tenho certeza que os marujos não negarão. – O capitão riu, os dois marujos riram, Ethan fez bico.

Mais tarde naquele dia.

Ethan olhou ao seu redor enquanto a carruagem passava sem cerimônia alguma.

– O rei está lá? – Perguntou com seu melhor português para o homem ao seu lado.

Mas não obteve resposta, sabia que seu português estava correto, então o homem que era um grosso. Estavam passando pela fachada do palácio da Bemposta, uma construção tanto quanto humilde em relação a outros palácios espalhados por Portugal e até mesmo por Lisboa. Uma escolha peculiar entre muitas outras de João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de Bragança, ou simplesmente como era chamado, Dom João de Bragança, o Príncipe Regente.

A carruagem seguiu sem caminho deixando a fachada do palácio para trás fazendo a curva, atrás do palácio e dos jardins do mesmo existia um longo acampamento militar. E era ali que Ethan estaria hospedado nos próximos dias.

Lembrou-se da discussão acalorada com os intendentes e o capitão da galé que queria desembarcar de imediato em terra, mas teria que voltar para seu navio e aguardar. A indignação do capitão quando Ethan foi, facilmente, autorizado a descer em terra, simplesmente por ter em mãos comprovantes que estava ali a mando da coroa britânica, apenas não estava com o navio o qual pertencia, no final o capitão quis saber o que Ethan fazia ali como enviado do Rei Jorge, mas Ethan não tinha autorização para dizer e mesmo se tivesse, não compartilharia aquela informação com um homem que gostava tanto de Napoleão.

Enfim a carruagem parou entre duas tendas, os soldados que ali estavam desceram sem falar nada para Ethan, nem mesmo o olharam. Ele puxou os panos da carruagem e enfiou a cabeça olhando para o cocheiro à frente.

– Pode descer Senhor? – O cocheiro perguntou lentamente como se falasse com um estrangeiro ignorante. Ele era um homem baixinho e sardento de barba rala e mal feita, Ethan fez que sim com a cabeça sem pronunciar palavra alguma, se virou voltando os panos para seus devidos lugares e desceu da carruagem com um salto.

Os pés baterão contra a lama e afundaram um centímetro, ele os puxou ouvindo a lama estalando com os passos de todos ali, tinha chovido, concluiu.

– Soldados, me sigam. – Um homem com farda e muitas medalhas presas ao peito estava à frente dos soldados que haviam descido daquela carruagem, Ethan viu-os desaparecer entrando no meio de outras tendas e correndo pelos corredores formados pelas tendas e pequenas construções não muito seguras.

Ele diria estar sozinho, mas um homem vinha de longe balançando a mão com o braço erguido ao máximo. Ethan olhou para trás, ninguém, na sua frente ninguém, só poderia ser para ele que aquele homem acenava.

– Lá vamos nós. – A carruagem que tinha descido já ia embora com suas malas, o cocheiro disse que as malas seriam levadas para o separador e Ethan poderia pega-la lá depois disto ser averiguado.

Ele começou a andar na direção do homem que ao chegar mais perto se tornava nítido, era algum nobre, casaco marrom com detalhes em fios de ouro e botas de couro próprias para aquele barro. Um óculos redondo de lentes finas, talvez apenas para enfeitar, Ethan não saberia dizer, uma das mãos acenava, outra trazia um rolo de papel.

– Meu Senhor, a notícia de sua chegada é um tanto inesperada...

– Desculpe? Sabia que eu chegava? – Ethan perguntou tentando digerir as palavras, tentando não se perder com as letras.

– Sim, o Príncipe aguarda os reforços ingleses mas só para alguns dias. No entanto o senhor chegou mais cedo e sem nenhuma embarcação.

– O Príncipe?

– Ô, onde estão meus modos. – O homem disse olhando para trás envergonhado, então fez uma leve reverência. – Sou apenas um mensageiro e auxiliador do Príncipe, pode chamar-me de Luís ou Lorgoff, são nome e sobrenome deste cavaleiro.

– Sobrenome. – Ethan respondeu com dificuldade, mas o homem pareceu não se incomodar.

– O Príncipe pediu que lhe entregasse isto. – Luís disse passando o papel enrolado com uma corda.

Ethan retirou a corda e desenrolou o papel, a tinta era fresca pois tinha borrado o papel ao ser enrolado, foi feito às pressas. Ele bateu os olhos nas letras, forçou-se a ler e compreender.

– O Rei quer me encontrar? – Ethan perguntou levantando a cabeça.

– Príncipe. – Luís corrigiu como se por impulso. – E sim, ele insiste em vê-lo.

Ethan sentiu um pequeno desconforto com aquilo, não estava vestido para uma ocasião como essa, quão menos preparado para isso, o que o Príncipe poderia querer com ele? Apenas mais um enviado inglês.

– Eu só preciso... Trocar de roupas...

– Não perdemos tempo com isso. – Luís disse olhando ao redor. – Isso não é uma audiência formal. – Disse empurrando Ethan para frente pelo braço.

Ethan começou a andar um tanto desconfortável, usava uma camisa de linho bege com calças largas marrom claro espada presa ao cinto com a bainha e um revolver, as laminas ocultas presas aos braços e os anéis escondidos, um colar com um crucifixo pendia para dentro da camisa, seus braços estavam expostos e ele apressou em desdobrar a manga da camisa até os punhos.

– O Príncipe sabe que acabou de chegar de uma viagem e não espera encontrar com um homem vestido como um galante cavaleiro. – Fez alusão a si mesmo, que estava impecavelmente vestido. – Entremos por aqui mesmo, é mais rápido.

Ele apontou para uma entrada do palácio de Bemposta, Ethan seguiu-o.

Quando chegaram na entrada nada havia além da porta, eles atravessaram e Ethan continuou seguindo Luís Lorgoff que mantinha passos rápidos e curtos.

Entraram em uma área mais simples e com poucos atrativos visuais, não tinha quadros nas paredes, afrescos no teto, apenas lustres simples, então passaram para outra parte do palácio, Luís nada dizia, apenas gesticulava com os braços para onde estavam indo, Ethan apenas seguida suas instruções, desconfortável demais para perguntar alguma coisa.

Subiam escadas em caracol, então saíram em um corredor com teto alto, cheio de desenhos sobre batalhas anjos e santos, bastante luxo enchia a vista de Ethan.

– Que belo. – Disse seguindo Luís que já tão acostumado com aquela visão deslumbrante nem mesmo notava algo de espetacular.

As vidraças eram largas porem estavam cobertas com pesadas cortinas carmesim os lustres de cristais brilhavam iluminando tudo causando várias sombras para cada pessoa.

Enfim Luís chegou em uma porta onde dois guardas de armadura estavam como sentinelas. Ele bateu na porta e assim que ouviu o consentimento vindo do outro lado à abriu.

– Você não. – Um dos guardas disse estendendo a mão no peito de Ethan, um guarda olhou para o outro, Ethan olhou para Luís que já tinha entrado. – Armas.

– Claro. – Ethan respondeu soltando o botão que prendia a bainha da espada ao cinto, entregou para o guarda, então soltou o coldre do revolver e entregou ao guarda também. Puxou a calça para cima e da meia puxou uma faca curta para cortar peixe, entregou para o guarda que o olhou como se houvesse algo mais. Ethan entregou também a bolsa de munição. – Posso?

O outro guarda puxou o braço de Ethan olhando para o bracelete da lamina oculta.

– O que é isso? – Ethan olhou par Luís que parecia tão curioso quanto os guardas, mas atrás de Luís um homem de aparentes 35 anos surgiu, sua barba se estendia pelas bochechas até sumir no meio delas, sem bigode ou cavanhaque. Usava roupas simples, porém elegantes e únicas, o que fazia Ethan parecer um miserável sem casa.

– Deixe-o passar. – O homem lá dentro disse observando Ethan. – Devolva o armamento do homem.

Ethan estendeu os braços pegando suas coisas e então entrou, passou por Luís que fez um sinal com os olhos, enquanto isso Luís fechava a porta.

Ethan olhou ao redor dando uma volta, estava em um escritório, estantes com livros, bastante papel em branco, duas mesas e um sofá, uma lareira com fogo crepitando e um homem de aparência nobre.

– Vossa alteza real, o homem que pediu que buscasse.

Ethan olhou para o homem e então para Luís.

– Apresente-se. – Luís respondeu enquanto Ethan esperava algo acontecer, o homem se sentava na cadeira que mais se parecia com um trono, e as mãos ágeis guardavam papeladas e mapas.

– Sou Ethan Cavendish, Vossa alteza. – Ethan disse, provavelmente o homem não lhe reconheceria, então decidiu acrescentar um pouco de informação. – Filho do Visconde Edmundo Cavendish de Suffolk e sobrinho de Willian Cavendish, quinto Duque de Devon.

– Sim, conheço a família Cavendish, e devo dizer que está distante de casa tanto em distância física quanto em distância hierárquica. – O homem disse estendendo a mão. – Sou Dom João de Bragança. Herdeiro e Príncipe Regente do reino unido de Portugal, Brasil e Algarves. Suponho que algo sério ocorra no reino de minha mãe para que um Assassino inglês apareça aqui uma semana antes do previsto e sozinho.

Luís olhou para Ethan, começou a tremer quando ouviu a palavra Assassino, simplesmente entrou em pânico.

– Acalme-se Luís, esse homem não vai matar ninguém hoje. – D. João disse olhando sério para Ethan. – Pelo menos espero que não.

– Não senhor. – Ethan disse. – Vossa alteza. – Corrigiu-se. – Na verdade foi apenas um contratempo que se mostrou uma vantagem no tempo.

– Explique-se, no momento estou com tempo para uma história. – D. João se ajeitou no pequeno trono.

– Eu, a tripulação a qual faço parte pertence a um navio chamado Desgraça Holandesa, foi um dos navios que recebeu ordem real para vir até Lisboa. Pois bem, eu estaria neste navio, mas contratempos em Plymouth me fizeram perder a partida do Desgraça Holandesa e eu aluguei uma cabine em uma galé mercante. – Ethan explicou resumindo ao máximo. – A galé, muito mais rápida que um Fluyt, chegou primeiro, mas na verdade estava pensando que chegaria atrasado.

– Teve seus planos frustrados de forma positiva. – D. João se levantou indo para a lareira. – Isso raramente acontece. Ouvi dizer vagamente do que tem feito em Plymouth, vocês Assassinos não costumam ser tão barulhentos, Baskin está morto suponho?

– Não entendo...

– Certos assuntos correm mais rápido que o vento pode empurrar uma galé. Fofocas apenas, comparado com os problemas que estamos enfrentando. – D. João encarava o fogo, balançando como se tivesse vida, querendo consumir tudo que tocasse, e naquela fome insaciável, se consumindo. – Mas fico feliz em saber que os homens que Jorge enviou para cá estão compostos por corajosos Assassinos.

– Eu acredito que, seja, o único. – Ethan disse travando aos poucos, gaguejando.

– Ainda não possui fluência em português não é mesmo? – O príncipe olhou para Luís com outros olhos, como se olhasse para um irmão. – Busque as coisas de Ethan, e leve para um quarto vazio.

– Meu Príncipe...

– Agora. – D. João cortou o discurso antes que começasse.

Luís se retirou em seguida. Ethan ficou parado esperando por mais alguma coisa, queria fazer perguntas, mas se sentia fora do direito.

– Parece-me desconfortável? Pareceu-te errado minha decisão?

– Não, de forma alguma. Muito agradeço. – Ethan disse corando, não pensou que estaria dormindo no palácio na sua primeira noite em Lisboa. – Eu só, estou desconcertado com tudo isso.

– Sabe o que os ingleses estão fazendo?

– Defendendo um reino aliado. – Ethan respondeu certo.

– Não. – O príncipe sorriu pela primeira vez, como se a resposta errada fosse exatamente o que esperava ouvir. – Eles... Vocês estão planejando uma fuga. Acho que posso confiar em você como confio em mim mesmo, não posso? Seu tipo é confiável e dotado de inteligência.

– Sim, não falarei nada. – Ethan disse sabendo que se tivesse contado que fugiu dos Assassinos buscando uma vida livre estaria colocando um ponto final naquela conversa.

– Jorge e eu partilhamos de um inimigo em comum, assim como não somos muito amigos, mas somos ótimos comerciantes e ele depende de mim tanto quanto eu dele. Mas Portugal não está mais segura. Napoleão com a Espanha estão implacáveis. Jorge e eu concordamos que em um ano a situação estará insustentável. Ele não pode mover sua tropa pelo mar sem perder grandes números antes de pisar em terra, eu não tenho tropas para fazer frente a França e Espanha. Mas enviar cinco HMS discretamente não vai chamar atenção, e isso junto dos meus navios é o bastante para uma fuga.

– Então o senhor vai embora?

– Porque ingleses adoram a palavra senhor? – D João disse olhando para cima como se procurasse a resposta no teto. – Nunca entendi.

– Desculpe, Vossa Alteza.

– Sim, sim, sim... Estamos de Partida. Todos os meus homens já sabem disso, mas Jorge insistiu que não contasse para vocês, ele não confia naqueles que o defendem, assim não pode em sã consciência existir defesa! Estou confiando em ti.

– Bem, logo teremos que iniciar uma guerra, para poder seguir os planos de seu Rei. – D. João pegou um dos mapas, era o canal inglês dividido ao meio. – Quando quebrarmos o bloqueio de Napoleão consecutivas vezes a França vai ter que começar a guerra, invadira Portugal e tentará me matar. Mas estaremos no meio do atlântico indo embora. E Napoleão não pode vencer uma guerra se não tiver como me matar.

– Astuto. – Ethan tinha que admitir que ao mesmo tempo era estupido. Deixar o país sob controle de ninguém, parecia loucura. – E o que fará com Portugal?

– Homens ficarão para governar seguindo minhas ordens. O plano é perfeito e irá funcionar. Desde que não aja atrasos. Então desta vez não perca seu navio dos olhos! – D. João apontou para a porta. – Pode ir. Siga este corredor para a direita, no final irá encontrar empregadas, peça a elas para lhe levar a um quarto de hospedes e que outra avise em qual quarto está para Luís. Nos vemos amanhã Ethan. Tenha um boa noite de sono!

– Igualmente Vossa Alteza. – Ethan disse abrindo a porta e se retirando, João de Bragança era um homem incrível e cativante. Ethan finalmente tinha encontrado alguém com astúcia, alguém com quem podia conversar sem se sentir o único que sabia do que estava falando. Na verdade, o príncipe tinha feito com que ele se sentisse quase um ignorante sem conhecimento algum.

Diário de Bordo, 3 de fevereiro de 1806: É começo de fevereiro, estou a quatro dias em Lisboa, e hoje o Desgraça Holandesa ancorou. Ainda não vi nenhum dos membros da tripulação, mas estou ansioso para isso. Tenho conversado por horas com o Príncipe Regente, e tenho aprendido tanto sobre tantas coisas. Como o que tem levado Napoleão a querer isolar a Grã-Bretanha. Após a batalha de Trafalgar e as perdas espanholas e francesas Napoleão tinha perdido sua última esperança de invadir o Reio da Grã-Bretanha, assim seu plano mudou, e ele agora quer enfraquecer o Rei Jorge. D. João tem um pequeno filho, D. Pedro, um garoto de não mais que dez anos, muito valente aproposito. Também fu conhecer a família de D. João, os infantes são como de toda outra família nobre, mas descobrir que sua mãe, a Rainha, está louca, e que os médicos temem que D. João com os anos seja afligido pela mesma loucura.

Diário de Bordo, 1 de março de 1806: Negociações hostis têm ocorrido entre Portugal e Espanha, D. João não parece querer ceder às exigências que para mim parecem exageradas. Nos últimos dias tenho passado mais tempo com a tripulação do Desgraça do que com o Príncipe Regente. Mesmo assim em meu aniversário de 18 anos no meio do mês que passou o Príncipe insistiu em fazer uma pequena festa, da qual o próprio não participou, mas ocupamos o salão de festas menor do palácio da Bemposta até o amanhecer. Lá estava toda a tripulação do Desgraça Holandesa e de alguns outros navios os quais fizemos amizades ao longo dos dias gastos aqui. Tenho perguntado à Luís sobre a tal fuga para o Brasil, mas parece que dependemos das ações de Napoleão. Até lá, esperaremos.

Diário de Bordo, 9 de março de 1806: Hoje venho apenas fazer uma nota rápida sobre um evento em especial. Dominik veio me chamar no palácio e me levou até a estalagem onde a tripulação está hospedada. Ao chegar lá me deparei com Vince à minha espera, Joly e Gregor ao seu lado. Eles disseram que durante os últimos três dias tinham congregado sobre o que fazer com o Desgraça. O próprio Vince disse que não queria comandar aquele navio, não posso culpa-lo, a tripulação não exatamente gosta dele, e como Capitão ele é bem omisso, tendo cumprido as tarefas de um imediato com mais eficiência que as de capitão em si. Minha surpresa foi quando Dominik disse que queriam a mim como Capitão, Joly explicou novamente como Walltimore gostava de minha pessoa e como aquilo seria honroso em sua memória. Discussões acaloradas seguiram por toda a noite e eu dormi por lá mesmo. No outro dia me vi com uma responsabilidade que não sabia como tratar. Agora eu possuía um navio, e deveria cuidar dele, ou todas as minhas críticas a Vince teriam sido inúteis e infundadas. Aliás, o próprio Vince se despediu de todos e disse que voltaria para casa viver uma vida tranquila, Joly depois me disse que Vince vivia para Walltimore, e desde sua morte que ele não era o mesmo, que talvez aquilo fosse o melhor para ambos, para Vince e para o Desgraça. Enfim, hoje dia nove estamos desocupados, então decidi vir escrever.

Diário de Bordo, 22 de abril de 1806: Dia dez de março eu, com autorização do Príncipe Regente, viajei ao redor de Lisboa atrás de um homem que diziam fazer melhorias inacreditáveis em embarcações. Como HMS o Desgraça Holandesa estava limitado a melhorias que Sua Majestade liberasse com dinheiro público. Mas isso não impedia que eu com dinheiro próprio melhorasse meu navio que no final das guerras deixaria de ser um HMS. Fui para a cidade de Porto, ainda em Portugal, lá me encontrei com um Estaleiro francês com ódio pela França, algo pouco convencional. Ele teria viajado por toda as treze colônias e trabalhado junto de Robert Fulton que por sua vez tinha trabalhado com James Watt em viagens para a Grã-Bretanha. Nessa mistura de culturas o conhecimento predominou, e Este estaleiro que citei no começo disse que poderia remontar o motor a vapor aperfeiçoado por Fulton do original de Watt. No que poderia se chamar de no mínimo um absurdo, concordei em pagar nove mil libras esterlinas para ele, dinheiro o qual provinha de Plymouth e da sucursal que progredia. O único motor a vapor instalado terá pás no nível inferior do casco para que ninguém as veja, de mesmo modo, a queima do combustível para criar o vapor causará fumaça. Para evitar uma chaminé, como no Clermont tubos não muito grossos passarão pelo casco e várias bocas existiram ao lado dos canhões, assim quando o Desgraça estiver sendo impulsionado pelo Vapor fumaça sairá de suas laterais como se fosse um navio fantasma. Como Joly diria; Walltimore estaria orgulhoso.

Diário de Bordo, 01 de setembro de 1806: Nada tem acontecido de importante e relevante para mim, continuamos esperando a tal fuga, como isto pode acontecer a qualquer instante não temos autorização para deixar o Rio Tejo com nossos navios, e mesmo que tivéssemos, o Desgraça se encontra dentro de uma enorme doca sob constante e acelerada reforma. Tenho ido na doca dia sim dia não, e vejo o casco aberto na parte inferior como se Moby Dick tivesse decidido abaloa-lo. Ali cabos e peças com canos e grandes fornalhas passavam junto de homens trabalhando sem parar. Parecia que nunca iria terminar. Pois bem, hoje foi nos dada a notícia, Napoleão e sua corja se reunirão dia 21 de novembro para selar o que estão chamando de Bloqueio continental. Um nome menos dramático para o já conhecido bloqueio de Napoleão, e embora o drama tenha diminuído as imposições só iram aumentar.

Diário de Bordo, 28 de novembro de 1806: O Imperador da França finalmente anunciou o bloqueio continental e impôs seus desejos, basicamente, todo país reino império ou grupamento de civilização sob um determinado tipo de governo que estivesse dentro do bloqueio continental não poderia comercializar com a Grã-Bretanha, não poderia viajar para lá, ou receber ingleses em suas terras, e deveria obrigatoriamente a estar em um estado de não guerra, mas de não paz, dando total suporte ao baixinho invocado. É claro que alguns países aceitaram e outros se negaram, entre os negados se encontra Portugal e o Príncipe Regente, D. João VI. Só venho escrever hoje, pois apenas hoje que chegou as respostas do que D. João deveria fazer. Cartas foram mandadas para o Rei Jorge, e o veredito foi. Romper o bloqueio de napoleão, afrontar sua autoridade e força-lo a agir. Sinceramente, já estou cansado de ouvir o mesmo discurso.

Diário de Bordo, 08 de julho de 1807: Estamos a muito tempo ancorados em terra, uma vez mais nossas vidas começam a se ajeitar, e a tripulação começa a se distanciar. Hoje porem chegou o ultimo navio enviado do Rei Jorge. Demorou mais de um ano para meia dúzia de embarcações chegarem aqui, mas é certo que ninguém nos viu. Os ministros estão a cada dia que se passa, mais e mais tentados a dizer sim para o bloqueio continental, pequenas represálias acontecendo quase que semanalmente, e o comercio tem diminuído muito. Embora o Príncipe tenha seu acordo com o Rei Jorge, os ministros parecem não estar ciente disso. Também decidi escrever hoje porque fui visitar o Desgraça a pedido do estaleiro, e quando lá cheguei, fiquei surpreso. Não pude ver a parte inferior do navio pois já tinham aberto as comportas para testar as pás, mas o efeito aterrorizador, fumaça saindo por todo o casco de proa a popa, parecia um demônio saído dos pesadelos de Dave Jones, o próprio Holandês Voador ficaria com medo se nos visse. Espero em breve navegar uma vez mais.

18 de agosto de 1807.

Ethan olhou para D. João VI e Luís Lorgoff, não estava acreditando naquilo.

– Quer que eu mate Antônio? Um ministro?

– Não. – D. João apressou-se em corrigir aquilo. – Antônio é um bom homem, mas não conhece o plano como um todo e está querendo o melhor para Portugal assim como eu.

– Então diga a ele.

– Não posso. – D. João respondeu sem dizer mais nada, embora Ethan agradecesse se lhe fosse dado mais informação.

– O plano é restrito a poucas pessoas, nem toda a corte será evacuada, nem todos poderão ir embora, se todos souberem do plano a fuga será impossível. – Luís disse se certificando que a porta estava fechada. – Mas não podemos permitir que as cartas cheguem ao destino, nenhuma delas, aceitar o bloqueio continental seria uma afronta ao Rei Jorge e tudo que ele tem feito.

– E o que quer fazer? – Ethan perguntou para Luís, mas lembrou que essa decisão não cabia a ele. – Vossa alteza?

– Na reunião Antônio disse que ao primeiro raio de sol os cavalos seriam soltos levando a resposta.

– Mate todos os cavalos. – Luís disse e Ethan o olhou entendo o motivo pelo qual todos faziam piada quanto aos portugueses.

– Pediria isso para minha elite, mas preciso de algo que não faça barulho algum, preciso que suma com os corpos e que ninguém veja, destrua as cartas. Antônio vai perceber que alguém não o quer abrindo o bico e a culpa irá cair sobre Rodrigo que tem apoiado a ideia da fuga para o Brasil, que desde 1803 vem sendo cogitada devido a Espanha. – D. João disse. –Peço que encontre seus amigos Assassinos e cumpra essa tarefa para mim. Pagarei mil cruzados por carta. Que eu saiba, são seis.

Ethan olhou para Luís que agora que tinha conhecimento do que Assassinos eram não se sentia mais amedrontado, olhou para o Príncipe.

– Então irei. – Ethan disse saindo do palácio da Bemposta.

Em meia hora ele chegou na estalagem, desceu de seu cavalo e entrou apressado, eram onze horas da noite, boa parte da estalagem dormia. Ele subiu os degraus velhos até o segundo andar e entrou em um quarto com três beliches.

– Gus Dominik, estábulos e com armas, agora. – Disse e voltou a descer.

Todo o quarto tinha erguido as cabeças, mas apenas Gus e Dominik levantarão.

Ethan desceu para os estábulos onde prepara dois cavalos, cinco minutos depois Gus e Dominik estavam ali.

– O que foi?

– Quebramos várias vezes o bloqueio continental, Napoleão deu um ultimato, ou nos juntávamos ao bloqueio, fechávamos os portos aos ingleses, declarar guerra contra os ingleses, sequestrar os seus bens em Portugal e prender todos os ingleses no reino de Portugal, o Príncipe Regente negou-se, mas os ministros tiveram opiniões diferentes. Antônio Araújo, o Conde de Barca decidiu aceitar o bloqueio continental desde que não prendesse os ingleses daqui ou confiscasse os bens materiais, já que isso iria contra os princípios religiosos do Reino, meia câmara se juntou a ele. Rodrigo Coutinho, Conde de Linhares decidiu iniciar guerra contra França e Espanha a outra metade se juntou a ele.

– Guerra interna. Que ótimo. – Gus disse arrumando o cabelo que ia até os ombros.

– Não foi pelas novidades que nos chamaste. – Dominik olhou para Gus enquanto prendia seu bracelete de lamina oculta. – O que temos que fazer na madrugada?

– D. João acha inapropriado aceitar o bloqueio, mesmo como Príncipe Regente não pode sobrepor-se a vontade do conselho e dos ministros. Então me pediu para que eliminasse os mensageiros e desse um fim nas cartas de aceitação ao Bloqueio. Nesse momento o Conselho se divide ao meio, estão chamando de partido inglês e partido francês. Rodrigo Coutinho está preparando setenta mil homens com 40 milhões de cruzados para custear a guerra, e levantando o plano de fuga caso aja má sorte nas armas.

– O Conde de Linhares sabe do plano do Rei Jorge e D. João?

– Não, a ideia de fugir para o Brasil surgiu em 1803 quando Espanha dois anos antes tentou invadir Portugal e não houve ajuda do Rei Jorge. Agora Coutinho está revivendo esse plano, mas sem saber que é justamente isso que estamos prestes a fazer. – Ethan subiu em um cavalo e pegou as rédeas. – São seis alvos. Confio que cada um pegue dois. Eles vão partir do palácio com os primeiros raios de sol do estabulo dos fundos. Sabem o que fazer, sem ser visto, sem deixar corpo, e me tragam as cartas.

Então os dois, Dominik e Gus foram uma para cada lado e Ethan para o outro.

Aos primeiros raios de Sol

Ethan viu os sete cavalos avançando do estabulo do palácio da Bemposta, correndo contra o vento com soldados de paz em cima deles. Assim que saíram na avenida se dividiram e um foi para cada canto, Ethan esporou sua égua para que ela também corresse, deveria alcança-los, havia um a mais e ele teria que matar três e não dois, ou Dominik ou Gus teriam.

Continuou avançando contra as multidões que surgiam enquanto a luz do dia ficava cada vez mais forte, se tornando impossível se esconder na escuridão.

– Vamos, use um atalho. – Ethan torcia para que sua vítima entrasse em um beco ou uma viela mais isolada, então poderia fazer seu trabalho.

Continuou cavalgando atrás do seu alvo, paciência era algo que os Assassinos deveriam ter, mas naquele instante, ele não possuía. Enquanto sua égua trotava atrás do cavalo ele olhou para as outras ruas que se ligavam aquela, o que tinha ao redor e para onde ele poderia ir. Chegou a uma conclusão e soltou-se da cela pulando para o chão, começou a correr para o lado deixando o homem no cavalo seguir seu caminho.

Ethan bateu contra uma parede e subiu em um longo salto até agarrar barras de ferro de uma janela, ele se jogou para cima e para o lado, continuou girando enquanto escalava, os pés contra a argamassa da parede e as mãos agarrando em tudo que fosse silente e sobressalente às paredes. Finalmente agarrou-se em uma madeira para apoiar telhas e se jogou para cima em um salto caindo sobre a armação do telhado sem telhas daquele prédio em construção.

Ethan olhou para o pulso pensando se deveria mesmo fazer isto, as laminas ocultas já estavam posicionadas em seus pulsos, ele levantou um dos braços e puxou a manga de sua camisa, o que queria não era a lâmina, mas outra função da mesma.

Deslizou o dedo pelos dois gatilhos, um de cada lado do pulso presos ao couro em ferrolhos, um dos gatilhos era letal, o outro apenas sonífero. Ethan levantou a cabeça forçando sua visão até que tudo se enegrece-se ao seu redor e as pessoas perdessem suas cores, apenas um único homem brilhava em dourado, seu braço foi como se automaticamente para a direção do alvo e ele puxou o gatilho, uma pequena elevação arredondada para o dedão, quando puxou ouviu o disparo tão silencioso quanto as assas de um mosquito durante a noite. Uma pequena abertura surgiu com espaço vazio, mas ele estava sem outros dardos, então apenas jogou a manga da camisa por cima e continuou correndo.

O dardo acertou seu alvo, Ethan sabia que tinha acertado, ele estava olhando em volta procurando o que era aquilo. Então Ethan girou pelos telhados ficando de frente para seu alvo, apenas um andar acima olhando-o do telhado. O homem sob o cavalo pareceu se zangar, então bateu em seu cavalo com força e o animal relinchou avançando com velocidade.

Ethan se virou e foi para o outro lado do telhado, era como uma pequena cobertura e o homem sairia do outro lado em segundos. Ele puxou seu capuz que lhe cobria quase até o nariz, então saltou do telhado sem nada lá embaixo, quando foi se aproximando do chão um cavalo com seu cavaleiro surgiu em uma pressa descontrolada, Ethan caiu atrás do cavalo se agarrando a sela para não despencar e ficar para trás. O guarda da paz que levava a carta olhou para trás quando o cavalo relinchou se remexendo saindo do rumo que andava.

As pessoas, poucas, olhavam assustadas. Ethan empurrou o homem com uma das mãos e com a outra puxou as rédeas do cavalo se jogando para a sela.

O cavaleiro virou ficando pendurado pelo pé no estribo enquanto se debatia, Ethan deixou que o cavalo seguisse em frente, então se virou e olhou para o homem, que parecia doente demais, sua testa toda pontilhada de suor e os olhos se revirando, como se já nem se importasse com o que estava acontecendo. Finalmente puxou a carta do bolso do colete do homem, então chutou o estribo e o pé do homem se soltou, o corpo rolou pelo chão de rochas assentadas e pessoas se juntavam em volta.

Ethan virou se ajeitando na sela enfiando os pés nos estribos e esporando o cavalo para que ele avançasse, guardou a carta em seu próprio bolso.

– Mais um. – Disse certo de que aquele homem morreria em segundos.

O cavalo avançou rápido, tão rápido que o capuz cobrindo o rosto de Ethan foi jogado para trás balançando com o vento.

Foi uma corrida impossível, ele já não sabia onde estaria o segundo alvo, e só então percebeu como seu plano era falho. Mesmo assim precisava cumprir sua promessa, terminar o contrato. Então pensou no que fazer, o cavalo não parou nenhum instante, Ethan percebia que ele estava cansado, mas não podiam parar. Não agora.

Ele avançou para a saída de Lisboa, uma das mais seguras, provavelmente a rota que o homem utilizaria.

Cortando caminho pelos campos enquanto o sol banhava suas costas iluminando o chão esticando sombras sobre tudo ele avançou.

Quando chegou na via que levava para um acampamento militar ele olhou para trás, para frente, os lados... Nada. Esperou, não poderia sair, muito menos ficar ali, mas não tinha o que fazer. Já passava das sete e meia da manhã, ele estava certo disso, e foi quando dois cavalos surgiram pela via.

– Desgraçados.

Ethan esporou o cavalo roubado de um daqueles cavaleiros e avançou levantando a mão para que parassem, e funcionou, os dois pararão, mas não pareciam dispostos a ficar assim por muito tempo.

– Temos um trabalho...

– Desculpe senhores. – Ethan disse. – Só quero uma informação. – Ele disse se aproximando de um deles, sem saber como agir, o que fazer, viu que um deles levava espada, o outro lavava uma adaga de não mais que dez centímetros.

– Então pergunte logo.

Ethan levantou a cabeça então, encarando o homem em cima do cavalo, tudo pareceu ficar claro, ele puxou a adaga da bainha presa a cintura do homem, quando o fez um grito de “foge” surgiu, mas Ethan era rápido e enquanto com uma mão puxava o homem do cavalo com a outra ele atirava a adaga no peito do segundo cavaleiro.

A adaga girou no ar, letal, passou pelo vão entre um cavaleiro e o outro e acertou seu alvo. Um grito agudo de dor quando o cavalo foi forçado a partir aos gritos e relinchos. Ethan olhou para o seu alvo no chão e fincou a lamina oculta em seu peito puxando a carta com a mesma mão, em um movimento ágil ele já pulou para cima do cavalo deixando o anterior e exausto ali, o esporou sem ter os pés no estribo, tinha pressa. O cavalo começou a trotar então a galopar, e logo estava indo tão rápido quanto podia.

O cavaleiro que tinha levado a facada aparentemente estava vivo. Ethan revisou sua memória, lembrando do que tinha acontecido e pode ver claramente nos pensamentos a faca tinha acertado o peito, mas mais para cima do que o devido, fragilizando o braço esquerdo e não matando o seu alvo.

Para o azar de Ethan o homem ainda estava armado, e torceu a coluna olhando para trás, Ethan se aproximava rapidamente, aquele cavalo era mais rápido que o do cavaleiro ferido, estava a menos de quinze metros quando o homem atirou, um disparo inútil, que acertou nada além da terra.

– Me deixe! – Berrou o homem avançando enquanto Ethan se aproximava.

Ele tentava carregar sua arma com o braço ferido, pouca mobilidade e com o balanço do cavalo, lançou um olhar para trás vinte segundos depois, mas Ethan já se distanciava, parado.

– Maldito. – Ele praguejou observando que a duzentos ou trezentos metros surgia uma caravana de pelo menos trinta guardas portugueses. Ele não teria chance assim como não teria como esconder as provas. Teve que parar. Desistir.

Diário de Bordo, 01 de setembro de 1807; Minha falha foi de tremenda repercussão, mesmo que ninguém soube-se que de fato era eu. Toda Lisboa dizia algo sobre o partido inglês estar dizimando o partido Frances, como já disse, o conselho está dividido. O Príncipe Regente ficou nervoso por uns quatro dias pelo resultado daquela ação, mas passou e tivemos outra reunião do conselho onde o resultado, creio eu, foi o que fez D. João VI se esquecer da minha falha. Agora a ideia é enviar o pequeno D. Pedro para o Brasil escoltado por quatro naus, o resto da esquadra ficaria no porto de Lisboa, o que claro, não agradou o Príncipe Regente. A situação tem se tornado cada vez mais insustentável, tendo Portugal se juntado ao bloqueio continental Rei Jorge também ficou bastante infeliz, mas parece ter entendido o erro, ainda mais quando meu nome foi na carta de explicação do ocorrido, e Jorge morre de medo dos Assassinos. Também conheci parte dos homens que vão se juntar a nós na fuga para o Brasil, embora nada esteja confirmado o circo todo está armado.

Diário de Bordo, 28 de outubro de 1807; Coisas terríveis tem acontecido. Narrarei os fatos de forma simples, sem me aprofundar demais, mas agora mais que nunca a fuga é necessária. O General Jean, representante do império francês em Lisboa me parece estar fazendo muito mais do que representar. Suas ações e influencia derrubaram Coutinho, o Conde de Linhares e também o único que sem saber dos planos defendia a fuga da família real para o Brasil e guerra contra a França. Também foi derrubado outros nomes importante e demissões acontecem constantemente. O então chamado partido Inglês está fraco se não acabado, sem influencia nenhuma no Conselho. O partido Francês faz o que bem entende e a chamada Política de Neutralidade está em alta. O Príncipe Regente está nervoso. Outra reunião aconteceu recentemente, e nela Luís me disse, Napoleão envia 30 mil homens para a Espanha, não sabemos se as tropas vêm para Lisboa ou não, de toda forma os poucos que ainda pensão estão apreensivos. O Príncipe Regente escreveu uma carta, fechou os portos para os navios ingleses de guerra e mercantes, sem escolhas pressionado por todos os lados, também escreveu uma carta para Espanha e França. E isso não termina, também foi montado a fuga para o Príncipe da Beira, ou seja, D. Pedro, D. João disse a mim pessoalmente, que se necessário toda corte iria junto de D. Pedro.

Diário de Bordo, 10 de novembro de 1807; O Príncipe Herdeiro da Espanha Fernando VII está preso. Napoleão desce para Lisboa com suas tropas e a política de neutralidade do Conde da Barca se mostrou uma verdadeira... D. João está apavorado, posso ver isto, mesmo assim continuamos todos aqui, incluindo o Desgraça Holandesa que está violando as leis do Bloqueio Continental. Mas fiquei recentemente sabendo que existe um acordo secreto retificado a dois dias atrás aqui em Lisboa com o Rei Jorge. São tantas intrigas, tantas mudanças e no final o plano original continua o mesmo, só agora percebo, minhas incontáveis tentativas de mudar o que acontecia se mostram inúteis e insignificantes, pois o plano do Rei Jorge com o Príncipe Regente D. João VI é simplesmente perfeito.

Diário de Bordo, 23 de novembro de 1807; Aconteceu. O conde da Barca finalmente se mostra um traidor mesmo que ninguém acredite, ele insiste que as poucas tropas portuguesas se movam para os portos para se defender da imaginaria invasão inglesa, enquanto isso é claro como água que Napoleão vai destruir Lisboa como destruiu muitos outros. Apenas hoje chegou a notícia para o Príncipe Regente, Lisboa está sendo invadida, e o Conde da Barca moveu a tropa para longe dos invasores, estamos indefesos, entregados a Napoleão e seus generais em uma bandeja de prata.

28 de novembro de 1807.

Ethan olhou para as comportas do estaleiro de abrindo enquanto com violência os últimos dois metros de parede se enchiam com água da baia do Rio Tejo. O som da água dançando violenta até tomar conta de todo o Fluyt foi alto. Ethan sorriu orgulhoso olhando para a rampa estendida do navio para o concreto fazendo uma inclinação não muito grande.

– Lembre-se, ele nunca mais poderá ficar em docas secas, caso o faça as pás serão quebradas pelo peso do navio sobre elas.

– Sim, eu sei. – Ethan agradeceu ao estaleiro e o engenheiro francês que se mostrou mais que um amigo ao fazer um desconto de 25% com Ethan dando a ele uma carona até o Brasil, de onde iria para as treze colônias, que Ethan não conseguia se familiarizar e chamar de Estado Unidos, aquele nome jamais iria pegar.

Enfim subiu para seu navio onde Gregor esperava segurando o Timão.

– Quantas mudanças teremos agora Capitão! – Gregor disse a última palavra com uma entonação que fez Ethan se arrepiar quase como no dia em que foi pego roubando comida da cozinha de Joly anos atrás.

– Muitas! – Ethan respondeu pegando o tricórnio da mão de Gus, Dominik estava no meia-nau prendendo as cordas das velas. Ethan lançou um olhar para a tripulação quase trinta homens, todos capazes de fazer maravilhas. – MEIA VELA.

Os panos se soltaram descendo dos dois mastros, grandes velas vermelhas com desenhos fracos da Casa Cavendish. No mastro principal e o mais alto estava a bandeira do Reino Unido, no outro mastro uma bandeira vermelha com o símbolo dos Assassinos cobrindo o símbolo dos Cavendish como se a galhada sem o resto do animal dos Cavendish flutuasse por dentro do símbolo dos Assassinos.

O desgraça Holandesa começou a avançar, lentamente sobre a doca saindo para a luz do sol na turbulenta baia do Rio Tejo tomada por dezenas de navios, fragatas, galeões, naus mercantes, galés, até mesmo os impiedosos Man o’War.

Ethan deixou que Gregor tomasse o timão naquela situação, o espaço para manobras era curto e ele não queria abaloar nenhum navio aliado por acidente.

– Eu logo volto. – Anunciou Ethan se retirando do convés rumo a coberta.

Puxou a porta do alçapão olhando como tudo havia sido reformulado, recriado para dar lugar ao motor e os canos de resfriamento.

– Pelos céus, onde o homem vai parar? – Ethan se perguntou olhando ao seu redor enquanto descia as escadas passando os dedos pelos tubos de ferro enrijecido pintado em uma cor de cobre, outros canos eram mais claros e achatados, aqueles eram para resfriamento.

Agora o Fluyt possuía três e não duas cobertas, Ethan atravessou a primeira coberta, ainda podia ouvir os marujos no convés conversando e andando, o teto sob sua cabeça ficava não muito alto, e chegou a um ponto onde não tinha como avançar, onde começava o armazém com uma coberta que ocupava da quilha até o convés e a entrada ficava em outro alçapão perto da proa.

Ele desceu outra escada, essa menos deixando a primeira coberta onde ficava a cozinha de Joly e o alojamento com os beliches para 60 pessoas. Na segunda coberta ele já não ouvia mais as vozes de ninguém lá em cima, só ouvia o navio gemendo conforme navegava lentamente no Rio Tejo, ali ficava armas, canhões, munição e coisas assim, e no centro preso por uma complexa estrutura cheia de cabos canos partes metálicas e engrenagens como um grande relógio estava o coração do Desgraça Holandesa, o motor das pás. Ele olhou os vários comandos possíveis através de uma única alavanca que podia ser girada para cima, para baixo e para a direita, direita era movimento zero, desligada, para baixo era movimento reverso e para cima movimento normal, rumo a proa. Ele passou por aquela coberta abrindo uma pesada comporta que selava a coberta inferior, descendo mais uma escada até a última coberta onde o casco do navio já tomava forma e ele tinha que andar agachado para não bater a cabeça no teto, ali tinha muitos canos, muita coisa, e aberturas no casco sendo vedadas com borracha para que a água não entrasse, caso um acidente ocorresse aquele nível seria inundado mas a água não subiria, pois a comporta estaria fechada. O estaleiro também avisou, não desça neste nível quando os motores estiverem ligados. O calor queimaria qualquer um vivo.

No outro alçapão, o do armazém existia no nível inferior uma sala chamada Fornalha, onde 15% do peso de carga do navio era usado com carvão para alimentar o motor por quatro horas em força total.

Ethan deixou tudo aquilo e voltou para cima, odiava não poder usar seu novo brinquedo e ver do que ele era capaz.

Quando chegou no convés outra vez o navio já estava descendo ancora em um lugar perto da esquadra de D. João VI.

– Parece um maldito demônio lá em baixo. – Dominik quem disse, passava do lado de Ethan com um balde vazio.

– Não posso descordar. – Ethan disse olhando para o amigo, o navio estava de dar medo, e ficaria pior quando tudo aquilo estivesse funcionando.

– E o que vamos fazer?

– Esperar. – Ethan respondeu sabendo que em questão de dias, menos de uma semana Napoleão estaria batendo a porta oferecendo croissant. – Era para irmos hoje mas os ventos estão desfavoráveis e O Vice-Almirante Manuel de Cunha acha melhor aguardamos mais um dia.

– Para sermos engolidos por canhões inimigos.

– Teremos ajuda. – Ethan disse confiante de que estava certo. – Tudo vai dar certo.

Disse as palavras apenas por dizer, porque talvez fosse o certo a fazer naquele momento, mas não sentia que tudo fosse dar certo.

Dia 29 de novembro de 1807.

Ethan dormia depois de mais um cansativo dia, não de lutas e fugas, mas de debates políticos intermináveis e discussões que se prolongavam por horas. Decidiu nos últimos dias que não seria um burocrata nunca em vida, aquilo era um inferno na forma mais humana possível, os homens iam uns contra os outros, discussões tornavam amigos em inimigos por simples pontos de vistas não serem os mesmos e no final guerra surgia, fosse interna ou externa. Mas aquele dia o sono havia lhe pego como nunca antes e ele dormiu.

Alguém batia a porta do seu quarto no Palácio da Bemposta, mas ele não se levantou, pensou ser só um sonho, mas as batidas continuarão, sem sinal de que fossem parar.

– Capitão Cavendish. – Agora, fosse quem fosse, também gritava. – Capitão!

Ethan se virou na cama sentindo os delicados tecidos que apenas a nobreza possuía.

– Capitão, precisa se levantar! – A voz era de um homem, Ethan já conseguia distinguir isso, parecia zangado com a demora. – Vossa Alteza exige sua presença como um dos capitães.

– Saia da frente! – Outra voz, Ethan não reconheceu, mas a porta foi aberta com uma pancada ao som de madeira rachando e metal entortando.

– FECHADURAS... – Ethan berrou se virando na cama. – Servem para uma única coisa.

Disse cobrindo o corpo seminu com as cobertas.

– E se não fossem para ser respeitadas eu não a teria trancado.

– Saia dessa cama. – Bradou Dominik nervoso. – Já podemos ouvir tiros de canhão ao longe e você ai dormindo. Seu Rei mandou Graham Moore para comandar as quatro embarcações que aqui se encontram mais as duas não oficiais.

– Graham? – O nome não lhe era desconhecido.

– Sim, Graham.

– Vossa Alteza, D. João está de partida e sua presença deve ser confirmada. A corta já embarca...

Ethan deixou que Luís continuasse falando, só então despertou e percebeu que a situação era mais séria do que aparentava. Apenas de roupas de baixo se levantou deixando que caísse os cobertores no chão.

Luís percebeu que ninguém prestava atenção nele, então foi analisar a porta e o dano causado nela com o pontapé de Dominik para abri-la.

– Uma estupidez desnecessária, típica de brutamontes beberrões.

– Quase não bebo. – Retrucou Dominik puxando o casaco vermelho vinho de Capitão de Ethan e entregando para ele.

– Obrigado. – Ethan pendurou o casaco pelo cabide em um cabideiro enquanto vestia calças negras e o corset de couro com armação em ferro para moldar a cintura e o peitoral deixando-o com uma postura ereta quase que em período integral acentuando músculos. – Puxe!

Entregou os cordões para Dominik que se sutileza alguma enrolou os cordões no punho e deu um puxão, Luís viu Ethan balançar uma única vez quando o corset vibrou. Aquilo deveria ter doido, mas tudo que Ethan fez foi uma careta.

Então arrumou as mangas para que em seguida pôr o casaco, quando vestiu o casaco sentiu o peso da responsabilidade que teria em poucos minutos.

– Estou me sentindo velho. – Ele disse olhando o reflexo no espelho do guarda-roupa. – Capitão com 19 anos? Quantos podem dizer isso?

– Poucos. – Dominik não queria conversar, jogou botas e tricórnio na cama. – Desgraça Holandesa. Dez minutos!

Então se virou e saiu, mas Luís continuou ali, Ethan se sentou na cama colocando as botas, pesadas e com bicos de ferro. Olhou para a escrivaninha onde seu cinto o aguardava, após pôr as botas ele pegou o cinto e passou em volta da cintura, então prendeu ao cinto o coldre duplo para as duas pistolas, do outro lado prendeu a espada, uma longa lamina chamada de Espada Bastarda, por não ser nem de uma nem de duas mãos, pesada demais para uma única mão e leve demais para duas mãos.

– Pode ir indo Luís. – Ethan disse e o ajudante e amigo do Príncipe Regente o olhou com cuidado, Ethan já parecia um Capitão, botas calças cinto espada revolveres casaco corset de proteção, o tricórnio ainda na cama, as luvas ainda na escrivaninha.

– Não se atrase mais do que já está atrasado. – Disse por fim saindo.

Ethan puxou a manga do casco para cima sem se incomodar com a manga do corset que havia deixado até o cotovelo. Prendeu sua lamina oculta nos braços e desceu as mangas em seguida, colocou as luvas de couro marrom escuro e se olhando no espelho ajeitou o cabelo de modo que o tricórnio ficasse bem posto sem o deixar parecendo vestido às pressas.

– Pronto. – Sussurrou quando olhou para escrivaninha uma vez mais e lá viu o a bolsa de bombas de fumaça e balas abrasivas de dor, também outros dardos para recarregar a lamina oculta. Enfim após prender essa pequena bolsa do lado das pistolas ele estava pronto. Era só fugir de Lisboa.

O porto estava um caos. Praticamente toda a nobreza se conglomerava ali tentando embarcar em seus próprios navios, ou alugar cabines em outros, mas o Tejo havia sido fechado e isolado, apenas a Esquadra de D. João VI podia aportar, as ancoras já levantadas e os navios prontos para saírem dali. Seria uma correria, não maior do que a que já se instalava em toda Lisboa, não maior do que ocorria em Santarém com as tropas napoleônicas atacando a cidade e pernoitando por lá para depois atacar Lisboa.

Ethan não viu D. João nem D. Pedro, ou a Rainha, não viu quase ninguém importante, apenas um homem ainda não tinha embarcado.

– Finalmente chegou, Dominik pediu-me que lhe dissesse, sua tripulação inteira está no navio.

– Obrigado Capitão. – Ethan agradeceu o Capitão Manuel de Cunha, ele que coordenaria toda a fuga, e estava ali, o esperando. Ethan também pode ver Graham Moore a uns duzentos metros de distância, em um barco rumo ao seu navio para escoltar a família real portuguesa.

Vinte minutos depois um risco vermelho subiu no céu da manhã e explodiu, tinha vindo de uma das naus, Ethan olhou em volta esperando, ele era o sétimo a fazer aquilo. Outro risco vermelho subiu no céu, outro seguido por mais um, cada um dos navios que escoltaria a família real tinha que dizer se estava ou não pronto para partir. Todos tinham recebido aqueles fogos de artificio para disparar, quando todos tivessem disparado a esquadra partiria. O sexto navio disparou, o risco vermelho subiu no céu com uma explosão de apenas fumaça vermelha e clarão. Em seguida ele acendeu o pavio e levantou o braço para cima, a fumaça cobriu-o quando a pólvora queimou e no céu mais um clarão vermelho com fumaça surgiu.

Cinco minutos e tudo estava certo, todos os navios estavam preparados.

Ethan olhou para o porto com uma apreensão que lhe corroía de dentro para fora.

– O que foi? – Dominik perguntou ao seu lado, Ethan não tirou os olhos do porto.

– Fico pensando, se todas essas pessoas vão morrer amanhã.

– O Príncipe não disse que o exército vai se render...

– Napoleão é cruel. – Ethan se virou olhando para frente enfim tentando apagar a vista do porto, centenas de mulheres, homens, crianças, idosos, todos se debatendo em um furor de que talvez pudessem ir junto deles. – Não espero menos que um massacre.

– Vai dar tudo certo! – Dominik respondeu deixando Ethan ali enquanto ele descia para meia-nau.

Ethan sentiu o que Dominik devia ter sentido quando ele falou aquilo, que nada iria dar certo.

– ENCHAM AS VELAS. – Dominik berrou lá em baixo, com a saída de Vince e a vaga de imediato livre Dominik tomou o lugar como primeira escolha de Ethan. – Soltem todos os panos. AGORA!

E o navio começou a avançar mais rápido, acompanhado por todos os outros, quase vinte e cinco ao total, se espremendo para sair do Tejo no mar, um aperto que dava para a imensidão azul do céu batendo contra o mar, e o mar virando um oceano.

Finalmente sairão da baia do Tejo e estavam no mar quando um vento forte começava a surgir, Ethan estava o tempo todo junto de Gregor, observando o era feito, e de olho nos outros navios com a luneta, a única forma de conversarem era essa, mexiam um espelho e com a luz do sol brilhando os outros navios saberiam que algo estava acontecendo, então olhariam com a luneta e sinais decorados seriam feitos, perigo, fogo, inimigos, sem água, sem comida, ferido, perdido... E muitos outros.

Já estavam na água a quase duas horas e se distanciavam cada vez mais da costa rumo a ilha madeira, ponto onde entrariam na rota para o Brasil, onde estariam em segurança.

Ethan ficou pensando em como o Príncipe Regente estava, naquele tempo tinha se tornado um amigo dele como poucos podia dizer ser, e o tinha ajudado tanto e recebido tanta ajuda que era difícil acreditar que haviam chegado aquele ponto, já era planejado, mas abandonar o seu reino parecia algo cruel, até mesmo para Ethan. Mas os portugueses tinham para si uma frase muito forte, que dizia muito em poucas palavras “E agora? Enterram-se os mortos e cuidam-se os vivos”, Ethan percebia que era um povo forte, iriam sobreviver!

– Gus. – Ethan chamou o amigo que tinha quase a mesma idade que ele, Gus parecia nervoso, confuso e sem saber o que fazer, o que falar. – Está bem?

– Sim Capitão. – Ele respondeu sério.

– Ora, não precisamos disso um com o outro! – Ethan disse olhando para ele, sentindo vontade de dizer que no fundo de seu peito os mesmos medos o assolavam, mas aquilo não podia fazer, ele tinha que ser forte por sua tripulação. - Quão magnifico e grandioso é isso, um novo continente inexplorado cheio de riquezas e história própria. Gente nova e curiosidades, eu sei bem como você está se sentindo. – Ethan colocou a mão no ombro dele enquanto olhava para o horizonte tomado por navios, aquilo o assustava. – Eu também sinto a mesma coisa. Mas...

Ele olhou para trás vendo Lisboa, sabia que Plymouth estava logo ali, a poucos dias, talvez quatro dias ou três com as melhorias do Desgraça Holandesa, Plymouth podia servir de casa para ele. Ou então Suffolk, podia voltar para sua casa, será que ele não possuía uma casa? Estava perdido no mundo? Só então percebeu uma verdade simples, estava em casa!

–... Tudo... vai dar certo! – Disse por fim sentindo que ao assumir aquilo para si mesmo boa parte do medo tinha ido embora.


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Notas finais do capítulo

Gente, queria saber o que acharam da narrativa no Diário de Bordo, se faço mais, ou não. Desde já, aviso, isso não é o rumo que a fic vai tomar, uma vez que era necessário passar longos períodos de tempo e explicar fatos históricos que levaram a fuga para o Brasil.
De toda forma, me digam se gostaram ou não!
Esse é o penúltimo capítulo do 1° ATO e o fechamento da história no lado europeu do mundo!



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