Assassin's Creed; Sombras escrita por P B Souza


Capítulo 15
A partida.


Notas iniciais do capítulo

Bem esse capítulo agora é simplesmente enorme e cheio e informações, então não dá pra fazer uma pequena sinopse do que tem nele, além do desfecho do arco de Plymouth! Boa leitura!



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A sala de interrogatório estava escura e o corpo preso ao chão com correntes enferrujadas esticando pernas e braços em quatro direções opostas faziam a vítima sentir câimbras quase que a todo momento. Nos pulsos grilhões prendiam a corrente que ia até a outra ponta da sala, nas pernas grilhões prendiam as correntes que iam até a outra ponta da sala. O homem não aguentava mais.

– Já chega. – Ethan disse por fim puxando uma machadinha de cabo em ébano polido, metal afiado até que um fio de cabelo ao cair pelo gume fosse partido ao meio pelo próprio peso sob a lamina. – Cansei de brincar.

O homem começou a se debater a carne no pulso e tornozelo estava ralada e sangrando de tanto que ele se puxava, fazia apenas pouco mais que quinze horas que estava preso mas Ethan fez parecer uma eternidade, não parou de falar desde que o prendeu, jogou tanta informação que o homem podia ter ficado louco, mas sabia que não ficaria. No fundo aquilo era um truque, truque para ludibriar a mente da vítima e a fazer falar a verdade, mesmo sem saber o que estava falando, o cérebro estava digerindo tanta informação que não conseguia pensar em segredos e dor e separar uma coisa da outra, e assim, informação surgia.

– Não, por favor, para, espera, não, NÃO, NÃO! – O homem berrou quando a machadinha desceu em um corte certeiro para a garganta dele e parou encostando na carne, um fio de sangue quente escorreu na pele fria do templário amarrado, o silêncio foi tão profundo que ambos ouviram a gota de sangue pingar do pescoço ao chão.

– Onde? – A voz de Ethan foi não mais que um sussurro que penetrou na alma do templário.

– No baile de máscaras de Plymouth, ele saiu da cidade, mas vai voltar para o baile, é o que eu sei.

– Porque o baile?

– Eu não sei, eu juro...

O homem disse engasgando sentindo o frio metal contra seu pescoço, estático no ar como se não existisse gravidade ali.

– Eu acredito! – Ethan disse fechando os olhos, então o gume do machado desceu em um corte diagonal e sangue escorreu das veias e artérias descendo pelo ralo ao lado, ele soltou a machadinha, o cabo bateu contra o chão, então Ethan passou os dedos pelas pálpebras do templário as fechando. – Ab alio expectes, quod alteri feceris. Requiescant in pace.

Ethan se levantou e foi até a porta, deu dois socos no metal pesado e o som ecoou na sala vazia. A porta se abriu e a luz do sol vermelho da tarde entrou ali, Gus viu o corpo ensanguentado enquanto Ethan saia da sala com a machadinha pingando.

– Conseguiu?

– Baile de máscaras no salão da prefeitura. – Ethan disse largando a machadinha na mesa feita com tronco de uma árvore. – Pegamos ele.

Durante a noite – Prefeitura de Plymouth.

Os Assassinos esgueiravam em cima dos telhados como gatos a procura de um rato, oito deles espalhados ao redor do salão fechado para o tal baile.

Ethan chegava pela rua com sua carruagem imponente em madeira azul marinho com metal prateado dando detalhes, os cavalos, dois fortes puro-sangue de pelos escuros e brilhantes. O cocheiro desceu e abriu a porta da carruagem para ele, Ethan foi o primeiro a descer com seu traje de gala bem feito e desenhado para envelhece-lo aos olhos alheios.

Assim que desceu se virou para a carruagem e esticou o braço esquerdo com a palma da mão virada para cima, de dentro da carruagem uma delicada mão pequenina segurou-se na calejada mão de Ethan, uma perna coberta por seda branca pisou no degrau de descida da carruagem, em seguida três camadas de tecidos caíram sobre aquela perna e um bufante vestido surgiu, em seguida uma linda mulher mascarada saiu de dentro da carruagem, cruzou os braços com Ethan, e ambos avançaram pelo tapete verde-esmeralda de entrada.

O vestido dela era apertado na cintura deixando os seios aparentemente maiores e bem definidos com o uso do divórcio, com uma armação de fibras na saia o vestido se tornava redondo e avantajado nos glúteos, era de um lilás delicado com decote moderado, luvas subiam até os cotovelos, e detalhes em renda se espalhavam por toda a extensão daquele monte de pano.

– Não entendo como podem pensar que isso é bom. – A elegante mulher disse sorrindo enquanto andava seguindo os passos de Ethan. – Nunca me senti mais apertada e desconfortável do que hoje.

– Olhe ali, o Juiz! – Ethan apontou para um dos ilustres homens de Plymouth presente na festa.

Os dois foram até a entrada do salão onde Ethan apertou a mão do juiz e conversou momentaneamente sobre a cidade e a importância de Plymouth no cenário político caótico dos últimos anos.

– Sim, mas com sorte embateremos Napoleão até o fim da década! E com isso tudo melhorará. Guarde minhas palavras! – O juiz dizia enquanto Ethan se distanciava.

– Já conseguiu avistar o Duque? – A companhia de Ethan perguntou.

– Ainda não. – Ethan olhou em volta pensando se deveria forçar sua vista como estava a cada dia que passava aprendendo a fazer. Forçar-se a achar o alvo, mesmo que ele não estivesse no alcance dos olhos normais. – Mas nosso anfitrião eu achei!

Ethan virou sua companheira delicadamente, ambos usavam máscaras, ele usava uma máscara em forma de lobo, desenhada com esmero por um artesão, o mesmo que fez o busto do Conde Estover no ano anterior, cobria até o meio das bochechas e até o começo dos cabelos que se misturavam a máscara parecendo ser uma coisa só. A de sua companheira porem era delicada e simplista, feita de alabastro não possuía imperfeições e deixava as maças da face aparentemente maiores.

– Senhoras e Senhores... Um minuto de sua atenção por favor! – No salão as pessoas pararão de falar, todas olharam para o patamar superior da escada onde protegido pelos balaústres Mukonry Leigham batia em uma taça fazendo o som tilintar. – Um minuto.

Alguns entraram, outros tiraram as máscaras, mas quase todos prestavam atenção. Isso incluía Ethan.

– Meu nome é Mukonry Leigham. – Ele disse, pois embora alguns soubessem, ali ele ainda era desconhecido. – Talvez já tenham ouvido falar de mim, bem ou mal! – Risos acanhados por todo salão. – A verdade senhores, é que sou um homem de negócios. E meu mais bem sucedido negócio é com pessoas! Por isso vim para Plymouth, a cidade está caindo em uma onda de crimes, assassinatos de nobres, a plebe sendo presa em números enormes. Isso não está certo! E é por esta razão que hoje eu, de comum acordo com a força local começo a patrulhar a cidade com meus homens, prestar serviços sociais e acima de tudo, garantir um futuro onde nossos filhos não tenham que passar por isso! - Mukonry Leigham levantou sua taça e todos fizeram o mesmo. – Um novo amanhã nasce hoje senhores! Brindemos a isto!

– Ethan. – Uma mão encostou no ombro dele o virando, era Dominik.

– O que faz aqui?

– Vim lhe avisar, uma carruagem com alguém chegou pelos fundos, podia jurar ser esse tal Robert.

Ethan olhou para cima, naquele exato instante Mukonry se virava e ia para dentro do prédio, se encontrar com alguém, provavelmente.

– Parece que nosso anfitrião não está exatamente fazendo ações humanitárias. – Ethan disse deixando a sua companhia ali. – Volto logo.

Ethan se esgueirou pelas portas e corredores até conseguir passar pelos seguranças de Mukonry, olhou ao seu redor sem saber onde estava, mais um corredor que levava para mais salas, aquela instalação era enorme, um luxo desnecessário, a maioria dos cômodos estavam vazios ou com moveis cobertos por panos. Ele precisava achar seus alvos, ou seria achado. Forçou os olhos como pode e sua vista se escureceu sendo coberta por sombras e vultos dançantes, as paredes se tornavam semitransparentes e duas salas a frente ele via um rastro dourado no chão, dentro podia ver Mukonry brilhando. Piscou e tudo voltou ao normal, ele entrou na primeira sala e olhou para o topo da parede.

– Ventilação. – Uma fina grade era tudo que ele precisava, puxou o pano branco de cima dos móveis, havia uma mesa e cadeiras, pegou uma delas e silenciosamente a levou até a parede, subiu e olhou para a outra sala enquanto soltava a grade daquele lado.

– O que isso significa?

– Nosso acordo continua o mesmo Sr. Leigham.

– Não fiz acordo com você! - Mukonry Leigham parecia nervoso, apontava para o rosto de Robert que estava de costas para Ethan. – Não vou lhe pagar nada! O delegado vai ficar com as duas partes depois mande seu pessoal se acertar com ele.

– Lembre-se do seu papel Sr. Leigham, não é nada além de uma marionete...

– Se eu não estivesse aqui estariam perdidos! Aqueles malditos Assassinos estão incriminando vocês cada dia mais e se não fosse eu para fazer o delegado esquecer-se disso...

– Esquecer? – Robert apontou para a porta. – Suborno não é esquecimento.

Os dois começaram a andar, Ethan desceu da cadeira indo par a porta também, queria ver o que iriam fazer.

– Já disse Sr. Leigham, faça sua parte e receberá seus lucros. Se conseguirmos o que queremos você receberá o que quer.

Ethan espiava agora pela brecha da porta.

– E isso significa o que? Matarão aquele velho?

– Cumprimos nossos acordos. – Robert ia para a escada, estavam indo para o salão. – Se isso significa matar o Conde Estover, então sim. Ele irá morrer.

Ethan sentiu o corpo esquentar, precisava agir, mas pensou nos dias de treino em Suffolk e dos treinos na mansão Estover, de tudo que tinha aprendido com seu pai, com Elliott e com Walltimore, agir agora seria inútil, precipitado e errado, ele deveria esperar o momento oportuno. Aquilo tinha aprendido com o próprio erro.

Quando pode saiu dali e voltou para a festa, mas quando chegou no salão o Deque Robert estava conversando com a Assassina que estava o acompanhando.

– Ele sabe. – Ethan disse avançando enquanto discretamente colocava o anel da lamina oculta no dedo. – Rebeka. – Chamou se aproximando.

– Ora, ora, se não é o Cavendish fujão.

– Me dê um bom motivo para não acabar com isso agora? – Ethan disse olhando para baixo, o Duque fez o mesmo, a lamina oculta estava visível, e Ethan pronto para matar.

– Sério? – Ele riu. – Aqui, no meio de 100 pessoas? Robert ficaria desapontado.

Então o homem mascarado levantou a máscara apenas o bastante para Ethan ver, ver que não era Robert. Era um sósia.

– O Duque tem uma mensagem para você! – Ele entregou um pedaço de papel para Ethan e então saiu andando.

– Quer que acabemos...

– Deixe ele ir. – Ethan respondeu enquanto desdobrava o papel não maior que um guardanapo. – Provavelmente ele sabe que eu espionei a reunião, e eu quero que Robert saiba também.

– E o que aconteceu?

– O esperado. – Uma música suave começou ao fundo, algumas mulheres e seus cavalheiros foram para o meio do salão dançar. - Mukonry está trabalhando para Robert. O delegado está aceitando suborno de Leigham para abafar os casos, enquanto isso os templários continuam lucrando.

– E o que Mukonry ganha com isso?

Ethan pegou Rebeka pelo braço e a levou par ao meio do salão onde começou a dançar com uma mão em sua cintura.

– Ele e o Conde tem alguma rixa, Elliott já me disse uma vez, os Leigham vieram aqui com um exército particular, família rica com dinheiro templário, eles vêm, fazem uma limpeza na cidade para tirar a culpa dos ombros de seus superiores e jogar em cima dos Estover, então vão embora. Voltam anos depois. Estão repetindo apenas! E Mukonry quer como pagamento um lugar permanente aqui.

– A mansão. – Rebeka disse abismada. – Precisamos alertar...

– Nada acontecerá hoje! Não precisamos de pressa. – Ethan disse enquanto giravam e dançavam no salão. – Aproveitemos a noite. Temos muito o que fazer.

Ele continuou dançando, e dançando, mas aquilo não lhe importava, na sua mente as poucas letras do bilhete de Robert o fazia pensar, se um dia conseguiria emboscar sua presa. “Está atrasado Assassino, tenho olhos que podem lhe ver antes que chegue, por isso, sempre chega tarde”.

Dois dias depois - Quinta-feira.

O machado desceu com força em um golpe certeiro, Gus viu o brilho do sol refletindo no gume, então colidindo contra o tronco que rachou no meio, o machado ficou fincado ali pela metade, sem separar a madeira ao meio. Gus rompeu em risadas sentado no tronco central da árvore que tinham derrubado mais cedo.

– Que mocinha! – Disse pegando seu próprio machado, bem maior e mais pesado. – Sai do meio.

Gus empurrou Ethan para o lado e fincou o seu machado na abertura do tronco, a pancada foi tão forte que jogou os dois pedaços de madeira para os lados, e o machado ainda ficou preso na base de tronco que estavam usando como apoio.

– É assim que se faz!

– Desculpe-me fazendeiro!

– Passei até os vinte numa fazenda! – Gus respondeu. Estava com apenas vinte e cinco anos, mesmo assim, cinco anos de mar era como vinte anos em terra.

– Eu também fiquei muito tempo em uma fazenda...

– Até os quinze né? – Gus riu de novo. – Essa é a idade em que você deveria começar a aprender como derrubar uma árvore.

– Olhem. – Dominik apontou para baixo do campo, um cavalo marrom com crina branca surgia com um homem gordo montado com um chapéu para quebrar o sol. – É Vince?

Ethan pegou o machado do chão e ajeitou-o na mão.

– É sim... – Disse olhando para além de Vince, onde outro cavalo surgia. Aquele lhe era familiar, aquele cavalo que surgia era o Sombra, e quem montava nele era um dos Assassinos. – E Paul logo atrás!

– O que ele foi fazer? – Dominik perguntou, não sabia de nenhuma missão em andamento, e para Paul, um dos melhores furtivos estar com Sombra, o cavalo mais rápido e silencioso da sucursal, alguma coisa importante estava acontecendo e Ethan não tinha lhe contado, como de costume.

– Está caçando informações sobre o Duque, espionando o Mukonry, vendo o que está acontecendo. Robert tem olhos por todas as partes, nós não. – Ethan respondeu apontando para a mansão, na lateral em que eles estavam a porta se abriria e Joly descia os degraus para a terra batida com pedregulhos.

Os chamou, estava com uma colher na mão, provavelmente era hora de comer, eles tinham acordado cedo para juntar lenha, era inverno e basicamente tudo que faziam naqueles dias era ir para a cidade, comprar mantimentos e materiais, melhorar a sucursal como podia desde arrumar telhados com goteiras até levantar novas construções do zero, treinavam os cavalos, treinavam novos membros da irmandade, juntavam lenha, secavam lenha com o calor da fornalha, as vezes até iam pescar no rio. As tarefas eram diversas e nunca acabavam, o único alivio de acordo com Elliott era que desta vez, a neve não tinha vindo. Ethan bem sabia como era dias com neve, em Suffolk nevava muito, Plymouth era bem mais ao sul do país, mais quente, menos neve.

– O que vamos comer?

Ethan perguntou puxando uma cadeira enquanto Joly vinha junto de seus dois ajudantes leais de cozinha. Traziam pratos e jarras.

– Frango no azeite português, salada com tâmaras egípcias.

– Ainda temos contatos no Egito? – Elliott olhou surpreso, tinha deixado de cuidar de muitas coisas devido a sucursal. Agora vivia uma vida muito mais tranquila.

– A revolução francesa está deixando? – Gus perguntou quando a porta se abriu.

– A revolução acabou a anos. – Ethan disse baixinho enquanto um dos iniciados na ordem entrava.

– Isso é o que dizem. – Gus retrucou.

– Senhores, desculpem interromper. – O iniciado disse, era Paolo. – Um homem, Capitão Vince Knill do Desgraça Holandesa, está pedindo uma audiência com o mestre...

– Mande-o entrar, falará com nós todos. – Elliott respondeu olhando para Ethan, que embora fosse chamado comumente de “mestre Assassino” não tinha a mesma autoridade que Elliott, afinal, ele ainda era convidado na mansão.

Vince entrou e olhou para Elliott Gus Dominik e Ethan sentados na mesa, Elliott fez um gesto e Vince se sentou ao lado de Dominik, Ethan estava do outro lado.

– Pode se servir, caso queira! – Elliott disse apontando para os pratos.

– Eu só vim aqui agradece-los, a doação das Libras fez com que o Desgraça fosse concertado mais rápido. Estamos prontos para partir.

Ethan largou o garfo e olhou para Dominik, então para Vince.

– O intendente a serviço do rei diz para partimos no sábado ao entardecer, assim perdemos bom sol, e só estaremos em águas inimigas durante a manhã do outro dia. Com bom campo de visão.

– Astuto. – Elliott se levantou educadamente, seu prato pela metade, mas o velho já não comia muito. – Deixarei que conversem.

– Obrigado. – Ethan disse com a voz mansa.

– Vocês vão vir? – Vince perguntou, Ethan olhou para a porta que começou a se mexer.

– Paul, entre! – O Assassino pareceu desconfortável, mas entrou, olhou em volta, o único estranho era Vince. – O vi chegando a pouco, o que conseguiu?

– Senhor. – Paul, o jovem assassino parecia sem muito folego. – O que dizem é que Duque Robert está voltando.

– Quando?

– Na noite de sábado para domingo desta semana. Ele não quer chamar atenção.

– Uma pena porque já conseguiu a minha.

– Ethan! – Dominik chamou vendo que Ethan já se levantava, Vince estava estarrecido com a forma que Ethan simplesmente se esqueceu da conversa anterior.

– Sim, claro. – Ethan olhou para Dominik e Vince, olhou para sua esquerda e Gus estava ali, na direita estava Paul. – Sintam-se à-vontade para regressar ao Desgraça, este é o trabalho de vocês, lugar de você, não aqui.

Dominik abaixou a cabeça sem saber o que falar, Gus olhou para Vince, mas Vince olhava para trás de Ethan.

– E você? Qual o seu lugar Sr. Cavendish? – Ethan se virou e encarou Joly, que parecia nervoso, porem com uma indiferença quase que indecifrável no rosto.

– Quer saber, isso não importa. – Vince se virou e foi até a porta por onde tinha entrado, olhou para eles. – Eu e o Gregor vamos zarpar, cinco da tarde do sábado, quem estiver lá, ótimo. O Desgraça já esperou por mais de ano! Agora o tempo acabou. Grato pela ajuda.

Se virou e saiu. Ethan foi até a ponta da mesa e olhou para Gus Joly e Dominik, Paul parecia ir se retirando aos poucos, dando passos curtos para longe deles.

– Eu... Dominik você viu o que está acontecendo aqui! Eu preciso terminar... Eu quero ir. Mas...

– Mas você achou a vida perfeita pra você! A mesma que fugiu anos atrás. – Joly respondeu se retirando para a cozinha.

– Joly, não é isso... Eu, preciso de um pouco mais de tempo, o duque...

– Ethan, já tivemos tantas chances de pegar o Duque, falhamos em todas. O que te faz pensar que essa vai ser diferente?

– Se você poder me ajudar...

– Como. – Dominik perguntou cruzando os braços.

– Tempo, se conseguir atrasar por algumas horas o Desgraça, é o bastante, e eu vou.

– Eu posso tentar Ethan. Mas eu quero que você saiba que eu vou. Eu adoro o que temos feito aqui, e é triste deixar tudo para trás, mas meu lugar é lá. Eu sei que quando chegar a hora eu vou estar lá! Mas quero que se pergunte. É isso que você quer? Seu lugar é lá?

– Eu...

– Não respondi. É pra você essa pergunta! – Dominik disse passando por ele. – E algo que você vai descobrir, e se entrar naquele navio, é porque achou uma resposta, se não entrar, é porque achou uma resposta do mesmo jeito. Agora vou falar com Joly, ele parecia meu zangado.

– Gus...

– Eu te entendo chefe! – Gus respondeu indo até Ethan. – E eu até ficaria para terminar, mas antes de ter esse acordo com vocês, eu tinha um acordo com o Desgraça. E um homem nada mais...

– É do que as promessas que cumpre e as que deixa de cumprir. – Ethan completou a frase. – Eu sei!

Noite de sábado para domingo.

Dominik montava no cavalo com as duas mochilas presas ao lado, Gus fazia o mesmo, mas com uma mochila apenas. Mais quatro irmãos Assassinos, quatro irmãos de maré, iam junto. Era fim de tarde, quatro horas e o sol ia descendo no horizonte com seu laranja apagado pelas nuvens.

– Acha que eu deveria ter ido?

Elliott olhou para Ethan e sorriu.

– Já conversamos tanto, sobre tantas coisas que minha fraca memória não se lembra de muitas dessas coisas. – Ele olhou os cavalos se distanciando, saindo das terras Estover. – Mas quando penso em você eu não vejo um Assassino apenas. Você quer cumprir o seu papel como o que foi criado para ser, mas quer sentir o salgado da maresia lhe cortando a pele, quer vomitar de tanto beber e não conseguir dormir durante uma tormenta para desembarcar em uma terra desconhecida onde poderá desbravar um mundo que lhe é desconhecido, eu sei que quer! E você vai.

– Eu tenho que terminar...

– Não disse que abandonaria sua luta aqui, quão menos que iria embarca no Desgraça Holandesa. – Elliott olhou para ele e sorriu. – Deus que nome horrível, deveriam mudar.

– Vince não quer mudar, e Joly... – Ethan se lembrou que dias antes, quando Vince vinha trazer a notícia, na mesma noite Joly tinha saído. – Acha uma ofensa a Walltimore.

– Eles aprenderão, assim como você, que mortos não se ofendem, ou se zangam, ou se alegram, por isso estão mortos! É essa a diferença entre eles e nós.

Elliott se virou e entrou para a mansão. Ethan foi atrás.

– O que mais me deixa preocupado e eu estar aqui, esperando anoitecer para sair atrás do Duque, enquanto eles estão lá, indo...

– Vai! – Elliott olhou para Ethan e o segurou pelos ombros. – Me escute, a diferença entre os mortos e os vivos são essas, eles não sentem, não se preocupam, não se irritam ou se alegram.

– Você já disse.

– E você parece não ter ouvido. – Elliott pareceu nervoso pela súbita interrupção. – Está esperando morrer para enfim deixar de se importar? São seus amigos, não faça a burrice de jamais dizer adeus. Pense se eles afundarem no meio do mar essa noite, a última lembrança que terá é uma briga.

– Foi o que você fez. – Ethan compreendeu subitamente, quando a sucursal caiu e os Leigham tinham assumido o controle. – Quando partiu para Exeter...

– Sim, estava brigado com seu tio, e mesmo assim ele me protegeu. Talvez porque o irmão dele estava aqui, talvez porque seu avô tenha mandado, talvez porque ele quis, não importa. Ele salvou minha vida, e naquele momento percebi que era patético nossas picuinhas. E foi ai que despenquei de Plymouth a Exeter para pedir desculpa, limpar minha honra.

– E nisso os Leigham...

– Se aproveitaram de uma fraqueza, da qual não me arrependo. – Elliott disse sério. – Se não tivesse ido lá talvez tivesse morrido no ataque, talvez não mas talvez sim. E essa dúvida você sempre vai ter. Mas vai! A sucursal não vai cair em algumas horas, vamos aguentar sua ausência até o amanhecer, mas você não vai aguentar a culpa de se algo acontecer não ter tido a chance de falar adeus para aqueles que lhe estenderão a mão quando precisou.

Ethan olhou para Elliott, os olhos mareados, dos dois.

– Eu vou voltar.

– Claro que vai. – Elliott disse em um risinho amarelo, então se virou e foi para dentro de vez deixando Ethan no batente da porta.

Ethan olhou para baixo da colina, quando percebeu estava correndo até o seleiro onde soltou as cordas que prendiam o cavalo pelo arreio, montou e alisou o animal, que começou a andar, trotar e correr contra o vento.

– Vamos Sombra!

O cavalo batia as patas contra o chão e a grama amaçava despedaçando, corria, rápido e silencioso, desceu a colina e passou pela mata de caça Estover, muitas peles vinham dali, continuou descendo, as casas nobres de Estover Lands e as casas simples, então chegava a entrada do centro de Plymouth, ruas com paralelepípedos, bastante pessoas, ele puxava as rédeas do cavalo para um lado e para o outro, se jogava junto do animal que com esmero driblava obstáculos e pessoas.

– Não vai dar para contornar não! – Ethan olhou para o pequeno córrego a frente, uma vala de um metro e meio de profundidade com quase quatros metros de distância. – Vamos lá bebe.

Ethan pressionou o cavalo com as botas em pancadinhas suaves, o trote aumentou, então quando chegou na distância limite para um pulo perfeito o cavalo sozinho pulou, as pessoas olharam para Ethan que saia da cela com o salto, então puxando as rédeas para a direito o cavalo virou as patas baterão no chão e os cascos tilintaram com o galope ágil.

– Bom garoto. – Ethan se levantou nas costas do animal e pulou, as mãos agarraram na placa do estaleiro Bryen onde ele balançou caindo no chão ao lado do cavalo, deu uma cambalhota desajeitada com a espada presa na bainha.

– Ethan?

– Gus! – Ethan sorriu, olhando para ele, sua testa brilhava suor e ele arfava. – Cadê o Joly?

Porem sua voz não era de alguém cansado.

– Lá dentro, - Apontou para o navio. – Já vamos sair você vem?

– Não, só quero me despedir, não quero estar brigado com ninguém, não sei se vou ver vocês de novo...

– Vai logo. – Gus respondeu e Ethan subiu pela rampa para o navio. A tripulação olhou para ele, alguns falaram algumas coisas, mas Ethan dizia que não ia ficar. Desceu até a cozinha onde Joly arrumava as coisas do jeito que ele gostava.

– Cerveja aqui?

– Ethan? – Joly e virou em um susto. – Não, é uma remessa especial, presentes, não é para ninguém bebe-las.

– Bem, isso vai ser difícil.

– Você...

– Não. – Ethan interrompeu. – Eu vim pedir desculpas para você! E pedir que entenda.

– Eu entendo criança. – Joly respondeu olhando para Ethan, sorriu um pouco com seus dentes tortos e amarelos. – Você é meio da terra meio do mar. Só prometa que não vai sumir.

– Vocês vão para Portugal não é? – Ethan perguntou, quase certo daquilo.

– É. Lisboa.

– Quando chegarem me mandem uma carta de onde estão atracados, eu irei em seguida.

– Foi um bom amigo criança! – Joly disse voltando a carregar as coisas da cozinha de cá para lá e de lá para cá.

Ethan saiu e deixou que o navio fosse para onde os ventos o levassem, com Vince mesmo não falou.

Subiu na igreja Stoke Damerel e lá ficou esperando, a igreja era velha e estava quase abandonada, ninguém iria vê-lo ali. Continuou esperando até que a lua brilhasse no céu e o sino das igrejas ao redor soassem. Ninguém tocava o sino dali, porque o sino estava caído.

– Está na hora.

Pelas ruas de Plymouth Rebeka e Paul corriam com quase dez casacos-vermelhos no seu encalço. Cruzavam as vias principais rumo a uma ala pouco movimentada de Plymouth. Quando as vielas se estreitarão os guardas casaco-vermelho se espremeram e seguiam os dois com menos facilidade, mesmo assim, o faziam.

– PAREM ou vamos atirar! – Um deles gritava a cada dez metros de corrida, Rebeka e Paul porem corriam se mexendo tanto que mirar neles era quase impossível.

Finalmente saíram em uma praça onde os casacos vermelhos sem hesitar os seguirão, quando o último deles passou alguma coisa caiu atrás deles.

Os guardas se viraram e quando fizeram viram em todas as saídas daquela praça homens e mulheres com capuzes iguais aos do que perseguiam, atrás deles um piano colidia contra o chão daquele pequeno beco impedindo que saíssem dali por onde tinham entrado, no telhado homens e mulheres encapuzados também os encaravam.

– Atire agora! – Paul sorriu debochando. – O que querem está ali.

Apontou para um portão entreaberto.

– Homens! – O líder da guarda disse e cinco casacos-vermelhos avançaram sobre aquele armazém. – Este prédio está abandonado...

– E quem disse...

– O nosso superior...

– Claro. – Rebeka puxou a espada. – Seu superior é mais sujo do que os esgotos de Londres!

– Olhe como fala mulher! – O líder da guarda puxou a espada a levantando também.

– Não lhe devo respeito, ou a qualquer homem! – Rebeka respondeu sem medo, viva naquela vida a muitos anos para se amedrontar com pouco. As outras mulheres riram em deboche do líder da guarda.

Até dado momento em que os guardas que tinham entrado no armazém regressassem com um prisioneiro todo sujo de sangue e coberto por feridas, apenas com um lençol em volta dos órgãos íntimos.

– O que é isto? – O líder da guarda exigiu saber.

– Esse homem alega trabalhar a mando de Duque Robert falsificando notas, uma lista com nome que ele diz ser os outros agentes que incriminavam inocentes para pegar o dinheiro e carga deles para própria causa.

– Acho que terminamos aqui. – Rebela guardou a espada, sabia que aquilo era o bastante para incriminar Robert e fazer com que os ainda corretos guardas do rei caçassem a corja templária de Plymouth. Aquele templário, apenas um escrivão que ganhou muito e teve o poder subido a cabeça, ele concordou após um dia de tortura em contar toda a verdade em troca de sua vida e quem sabe alguns anos de prisão.

– O que fizeram com esse homem é punível...

– E o que fizeram com os inocentes enforcados por causa deste homem? – Paul olhou cima, todos os Assassinos empoleirados nos telhados sacaram granadas de fumaça e jogaram para o chão.

Os assassinos no chão subiam mascaras com panos e óculos com borrachas para isolamento de navios em volta, as bombas de fumaça explodiram e os guardas casaco-vermelho começaram a tossir tentando sair dali, mas os assassinos todos já tinham sumido antes mesmo que eles pudessem tentar algo.

Ethan em cima de seu cavalo avançava em uma estrada de terra onde casas já não existiam e o campo só aumentava. Subia uma colina perto de Plympton, na estrada de entrada leste de Plymouth. Atrás dele dois cavalos surgiam, eram Paul e Rebeka que vinham a seu encontro.

– Finalmente. – Ethan disse quando eles emparelharam em seus cavalos, Sombra, Sortudo e Belinda.

Paul fez Belinda ir um pouco mais devagar, Sortudo, cavalo de Rebeka não era tão rápido como Sombra e Belinda.

– Os outros estão contornando a mais tempo, já devem estar em posição. – Paul dizia com solavancos conforme sua égua cavalgava.

– Já posso velo. – Ethan disse vendo um pequeno ponto dourado longe dele ainda. – Vamos logo, amarrem os cavalos aqui, peguem as minas.

Os três deixaram seus cavalos e nas bolsas amarradas a sela tiraram grandes bombas achatadas.

– Vamos. – Ethan começou a andar levando duas das minas assim como os outros.

Caminharam por pelos menos duzentos metros onde os seus cavalos já não se viam, e a armadilha estava a uma distância boa.

– Armem em ziguezague, um metros e meio de distância cada uma.

Eles cavaram buracos rasos e colocaram as minas, suas superfícies eram grandes pavios com pólvora que ao serem apertados por mais de três quilos eram automaticamente disparados explodindo a pólvora concentrada embaixo do pavio sensível a peso.

Quando terminaram de montar as minas uma área de cinco metros da estrada estava coberta por explosivos que destruiriam o que passasse por ali.

– Rebeka, quero que fique aqui e impeça que qualquer um inocente tente atravessar sob as minas.

– Sim mestre. – Ela disse conformada, sabia que alguém teria que ficar.

Paul e Ethan voltaram a andar, mas não muito pois a comitiva do Duque já se aproximava.

– Trouxe o corno?

– Não iria esquecer! – Paul disse puxando o pequeno aparelho de osso lixado e oco. – Agora?

– Trinta segundos. – Ethan disse arrumando suas armas, lamina oculta, espada, adaga, aljava de virotes e a besta.

Ele pegou a besta e colocou um dos virotes nela, puxou até ficar tencionado e pronto para ser disparado.

– Agora. – Disse quando Paul levou o corno até a boca, assoprou com força e um com forte se espalhou por todos os campos e planícies ao redor.

Cavalos surgiram daqui e de lá, todos convergindo em rumo a um inimigo em comum, as três carruagens do Duque de coisa alguma, Robert Baskin.

Ethan levantou a besta até onde a vista alcançava.

– Vai deixar esse passar?

– Quero a do meio. – Ethan respondeu quando a apertou o gatilho, o virote da besta foi cuspido com o típico som de uma arma mais antiga, sem pólvora, sem sujeira.

O virote acertou o homem sentado ao lado do cocheiro que voou para trás capotando no banco sendo atropelado pelas rodas da carruagem.

Uma saraivada de flechas dos Assassinos, de todos os lados.

– Saiamos da estrada sim! – Ethan disse dando passos para o lado, Paul fez o mesmo para o outro lado.

– A corda?

– Por favor. – Ethan esticou os braços quando Paul jogou uma corda com um nó na ponta.

– Vai ser extremamente dolorido.

– Vai ser legal! – Ethan disse segurando a corda pelo nó, de forma que ela não escapasse a sua mão.

Então eles a abaixaram, a primeira carruagem passou por cima da corda, Ethan se levantou em seguida, a terceira carruagem já tinha sido parada pelos Assassinos, a do meio onde está ao Duque seria parada agora.

Quando a corda foi levantada a não mais que quarenta centímetros os dois cavalos que puxavam a carruagem tiveram suas patas impedidas, caíram de fuço no chão de terra, Ethan e Paul foram puxados com o impacto dos cavalos na corda e foram jogados contra o chão.

Eles girarão no chão, e Paul se levantou de pressa, mas Ethan estava de barriga para cima rindo.

– Vamos...

– Quebramos as amarras. – Ethan se virou aos poucos, os cavalos se levantavam e corriam livres, a pancada tinha sido tão forte que o eixo que prendia os cavalos a carruagem tinha se partido e agora a carruagem estava imóvel.

– Mais que diabos... – O cocheiro que tinha voado metros à frente se levantava, mas Paolo, o Assassino iniciado o rendia, não matava, talvez fosse apenas um empregado trabalhando, afinal, porque os templários iniciariam um cocheiro em sua ordem.

No mesmo instante uma grande explosão aconteceu a uns 100 metros de distância, a primeira carruagem tinha acabado de cruzar as minas na estada.

A carruagem do Duque estava desnivelada com uma das rodas tortas estava parada quando Ethan se levantou e foi até lá, puxou seu revolver e engatilhou indo rumo a porta lateral direita.

– Não deixe a esquerda ser aberta. – Disse para Paul.

Paul foi para o outro lado da estrada enquanto estralava o pescoço e os braços.

– Vai ser legal. – Paul reclamava do que Ethan tinha acabado de fazer, o tranco parecia ter deslocado seu ombro. – Precisamos rever sua definição de legal.

Ethan chegou na carruagem e com o revolver em mão ele apontou diagonalmente para cima encostando a ponta no meio da porta de madeira da carruagem, a outra mão segurando a maçaneta.

Puxou o gatilho e puxou a maçaneta ao mesmo tempo, o estrondo do disparo e a pólvora dispersada pelo ar duraram pouco. Ethan enfiou a mão para dentro da carruagem soltando o revolver no caminho.

A arma bateu contra o degrau de metal da carruagem e caiu no chão de terra batida.

O punho de Ethan se fechou no colarinho de um guarda com a camisa e casaco ensanguentados, ele o puxou jogando seu corpo para fora da carruagem ao mesmo tempo que subia a bordo, com a outra mão puxou a adaga da bainha ao lado da espada.

– Duque! – Ethan disse levantando a adaga com velocidade quando uma faca para pão vinha contra seu peito, as lâminas colidirão com um tilintar característico. – Cadê a sua educação?

– Desgraçado...

Ele forçou a lamina, mas percebeu que não iria funcionar, então puxou-a e atacou por baixo na altura da barriga, Ethan se girou e a faca atravessou o estofado, Baskin puxou-a pelo cabo e tentou outro corte, mas Ethan rapidamente moveu-se para trás, quando a mão de Baskin passou Ethan subiu a sua adaga em um pequeno movimento de quem quer furar algo.

A ponta da adaga atravessou a carne do Duque templário, a mão de Robert se abriu quando os nervos que a controlavam foram destruídos, a faca de pão caiu e no meio do ar Ethan a segurou com a outra mão, girou o cabo nos dedos e colocou a faca contra o pescoço de Baskin, a lamina atravessada no pulso Ethan empurrou contra a porta da esquerda que Paul cuidava. Bateu a ponta da lamina lá, impedindo que o Duque livrasse uma das mãos pelo menos.

– Rendido. – Robert Baskin disse olhando para Ethan sem medo algum. – E agora Assassino? Porque ainda não fez o que foi criado para fazer?

– Me fala porquê. Porque fez tudo o que fez em Plymouth...

– Pra conseguirmos ordem...

– Prendendo inocentes que foram enforcados? Destruindo famílias?

– O caminho do progresso tem seus custos...

– Mas os únicos que ganham são vocês!

– A curto prazo sim, é nisso que diferimos. Vocês prezam tanto por seus vazios valores, se todos fossem iguais e todos tivessem os mesmos direitos teríamos uma paz curta e fraca, que logo se transformaria em guerra. Podemos até causar dano a vida desses miseráveis, podemos até sacrificar algumas vidas inúteis, mas isso é o custo de no futuro desfrutarmos de uma paz duradoura. Nós estamos dispostos a fazer sacrifícios pela ordem e pelo que acreditamos e buscamos...

– Eu também estou disposto a fazer sacrifícios, – Ethan disse soltando a faca de pão que caiu pelo peito coberto com um casaco de lã penteada de Robert até suas pernas. A mão livre do templário agarrou a faca, mas no mesmo instante a mão de Ethan se abriu e uma lamina atravessou a garganta de Robert. Sangue escorreu pelo pescoço e pela boca. – pelo que eu acredito. E se essa paz for tão curta como alega, então que seja! Pois amanhã quando ela não existir alguém lutará por ela, assim como hoje eu estou lutando!

– Você... Não... Entende!

– E nem quero! – Ethan disse puxando a lamina oculta e a limpando nos ombros de Robert. – Vai morrer em dois minutos se não se engasgar com o próprio sangue! Precisa saber de algumas coisas! Desmascarei seu esquema, entreguei provas das notas para guardas, não corruptos. Você, o juiz, os Leigham, e seus agentes, todos serão detidos no devido tempo, se não pela lei. Por nós! Plymouth não pertence mais aos templários.

Ethan então ouviu passos na porta da direita, se virou com o braço esticado e a lamina oculta bem visível, brilhando com o luar.

– O que foi! – Disse baixando o braço, Robert ensanguentado arfava tentando respirar.

– Senhor, - Era um dos seus assassinos. – Dois cavalos estão perseguindo alguém que estava nos observando a distância.

Ethan fez que sim e o homem se virou, em seguida ele olhou para Robert que sorriu, um sorriso vermelho e já sem forças.

– Não achou que... Eu não sabia da emboscada? Novamente Assassino... – Robert fechou os olhos tomando ar, este que teria levado sangue aos pulmões, teria trazido seu fim – Está atrasado!

Então silenciou, com o silêncio da morte.

Ethan pulou para fora da carruagem, toda a ação estava acabada.

– Levem os sobreviventes para a sucursal. Vendados. – Disse indo até seu cavalo ao lado de Paul. – Um desgraçado estava espionando tudo, preciso voltar a sucursal e ver se Elliott está bem.

– Eu vou junto...

– Fique e lidere o retorno para a mansão. – Ethan disse montando em Sombra. – É mais seguro que eu vá sozinho, mais rápido e menos arriscado, caso retaliem para libertar os prisioneiros.

Paul fez que sim então Ethan partiu como um raio silencioso para a mansão.

Ethan quase duas horas depois entrou na mansão Estover. Tudo estava quieto e pouco se ouvia da casa além do assoalho rangendo, e das janelas velhas batendo frouxas. Ele subiu e foi até o quarto de Elliott, o velho Conde estava deitado em sua cama, isso não significava que estava vivo.

Ethan entrou no quarto e foi até ele, observou sua respiração, estava tudo bem. Se virou e voltou a andar rumo a saída.

– O que aconteceu?

– Eu... Desculpe, precisava...

– Algo saiu errado para vir ver se o velho ainda respira! – Elliott sorriu baixinho não de felicidade, mas por sorrir, um ato qualquer.

– Não totalmente. Alguém viu e correu para a cidade, queria me assegurar que estava seguro, mas o falso Duque está morto.

– Sim, sim, agora Plymouth pode descansar. Assim como eu. – Elliott apontou para a porta. – Vá, velhos ossos doem se não tiverem descanso noturno.

Ethan obedeceu os pedidos de Elliott e saiu do quarto. Em seguida foi para seu quarto, pegou pena e tinta, ainda desacostumado com aquela tal “caneta”, pensou se deveria escrever aqueles seus sentimentos, se deveria fazer aquilo, mas percebeu que já tinha feito a escolha, só faltava a coragem para aceita-la.

“Achei melhor assim, talvez pareça fraqueza, mas quero que saibam que nunca estive mais forte e decidido. Estou indo embora me reunir com a companhia do Desgraça Holandesa, Mas não aceitarei ouvir que essa sucursal acabou. Plymouth precisa de cada um de vocês! Para evitar demais explicações e desculpas estou saindo agora, cansado de uma missão que resumi minha chegada a esse lugar, mas revigorado por saber que fiz o certo. Não direi adeus, pois espero rever cada um de vocês em breve. Mas direi até logo! Em minha ausência e minha presença em um futuro incerto, Paul deve ocupar meu lugar, obedecendo e ouvindo os conselhos de Elliott. Ao Conde, tenho apenas agradecimentos e a incalculável dívida de dinheiro gratidão e ensinamentos, que com sorte poderei no futuro quitar passando tudo que aprendi para aquele que tomará meu lugar! A todos que lerem essa pequena despedida, quero me perdoem por ir, me entendam por ir, e continuem o que eu estou deixando incompleto, Plymouth está apenas no começo. Conto com vocês irmãos”.

Ethan deixou a mansão com apenas seu cavalo e uma mochila com quase as mesmas coisas que tinha levado consigo quando fugiu de Suffolk anos atrás. Sentia a mesma coisa. A mesma dor no coração, parou nas docas onde um outro capitão bêbado esperava perto de seu navio, como se alguém fosse tentar rouba-lo, e isso não era raro de acontecer! As vezes galeões desapareciam, alguns culpavam os fantasmas, outros culpavam os ladrões.

Ethan abriu sua mochila e de dentro pegou uma carta, amassada e já velha, abriu-a e finalmente tomou coragem para ler.

“Querido John, as notícias são tristes, papai morreu a poucos dias. Mamãe está louca, diz ver ele no jantar, na cama, até mesmo no banho. Nossos irmãos o enterraram no jazigo da família ao lado do pai dele, nosso avô, talvez queira voltar, agora pode e tenho certeza que vai adorar conhecer suas sobrinhas e seu sobrinho. Mesmo assim, entre tantas lagrimas, hoje é dito como oficial querido irmão. Mais um Walltimore virá para a família, estou gravida do Daniel, o fazendeiro que lhe disse, amigo de Curt. Espero que venha agora, beijos, sua irmã”.

Ethan rasgou o papel em dezenas de pedaços os jogando no mar, pensando em quantos segredos aquelas águas não guardavam, quantas cartas não dormiam no leito do oceano, e se todas elas fossem montadas, que histórias seriam contadas.

– Senhorzinho? – Um velho homem apareceu quando o sol começava a nascer. – O que faz aqui nesse frio?

– Eu... É, estou procurando uma galé para alugar um camarote, preciso de uma carona!

– Conheço um mercador ou outro com lugares vazios em suas embarcações. Mas me diga. Para onde vai! – O velho homem perguntou enquanto Ethan se levantava daquele banco, o clima frio já não lhe incomodava.

– Portugal. Lisboa!


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Notas finais do capítulo

Obrigado quem acompanhou até aqui, acho que ficou bem separado o arco inicial do resto da fic! O Brasil está cada vez mais próximo da história, Ethan já está crescidinho e é um assassino "formado".
O fim do 1° ATO está perto.



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