Assassin's Creed; Sombras escrita por P B Souza


Capítulo 12
Uma casa nova.


Notas iniciais do capítulo

O Desgraça Holandesa está uma vez mais em Plymouth, agora sem Walltimore.
Vince acha um estaleiro para consertar o Desgraça, mas os preços são altos e ninguém possui tantas libras. Com a tripulação se desfazendo e o navio em ruína com a possibilidade de nunca mais voltar ao mar Joly compra uma casa e deixa que Ethan fique com ele, para viverem em paz. Até que Duque Robert surja outra vez.



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O navio entrava mais uma vez nas em Plymouth, passando pelo rio Tamar, a uma hora atrás tinham passado pelo Plymouth Sound, a entrada formal para as embarcações em Plymouth, o rio Tamar cruzava o lado oeste de Plymouth e subia mais e mais no mapa, mas o Desgraça não subiria tanto. Naquele exato momento o barco estava parado no meio do rio com ancora solta ao leito e dois barcos faltando.

O barco a remo se aproximava lentamente da terra, uma parede de pedras sustentadas por uma rede de ferro trançado em losangos e toras de madeiras faziam o suporte final. O barco bateu contra o tronco de madeira enquanto Dominik entregava o remo para Gus, um outro marujo.

Ethan se levantou no barco segurando firme em um dos troncos da parede que tinha dois metros de altura em relação a água que balançava levemente com a maré empurrando o rio rumo ao mar.

– Vamos, suba. – Vince Knill, o imediato, atual Capitão disse para Ethan que respirava um pouco.

Sem enrolar mais Ethan agarrou-se nas grades de ferro que rangeram, os dedos mal encaixados nas aberturas entre as pedras e ele subiu até a borda, logo ao lado havia uma escada de cordas que ele jogou para baixo, em seguida Dominik e Vince estavam ali. Vince olhou para baixo onde Gus se ajeitava com os remos.

– Fique esperando nosso retorno, tome conta desse barco. – Vince disse sério sumindo da visão de Gus, Ethan olhou uma vez mais para o Marujo que sorriu como se quisesse dizer algo como “pode ir, tá tudo bem”. Mesmo na verdade não estando, ficar ali sentado em um barco olhando o tempo passar era no mínimo tedioso.

Plymouth não havia mudado um único tijolo naqueles meses que Ethan passou fora, foram até uma cabana onde cavalos estavam presos pelos arreios.

– Três cavalos. – Vinci disse se aproximando, puxou de dentro do bolso um par de notas de libras esterlinas.

– Comprar?

– Não. – Vince contou as notas, então de uma bolsa que carregava presa ao cinto ao lado da bainha da espada ele pegou algumas moedas. – doze libras deve bastar.

Então apontou para os cavalos, Ethan e Dominik avançaram pegando os cavalos que acharam melhor e mais bonitos, Vince não fez diferente, porem com uma velocidade superior, montou em seu cavalo e com os estribos cutucou a pança do animal que começou a galopar. Ethan fez o mesmo, mas Dominik acariciou o bicho pela crina e mandou alguns beijinhos apenas balançando as pernas. Os três cavalos galopavam enquanto a paisagem era alterada.

Ethan viu o rio com a selva do outro lado se transformar em grandes casas com telhados retos pouco inclinados de três a quatro andares, eram na maioria estalagens e pubs. Um ou dois quarteirões depois as construções se tornavam menos imponentes e se tornavam casas mais simples, as pessoas passavam de ser na maioria meretrizes e homens bêbados para mulheres donas de casa e crianças brincando na rua.

Minutos depois de atravessarem parte do centro de Plymouth eles chegaram a outra extremidade do rio Tamar nas docas mais distantes.

Desceram dos cavalos, e continuaram a pé para dentro de uma cobertura onde homens trabalhavam arduamente.

– Capitão do porto? – Vince berrou e um homem surgiu por de baixo de uma tora de madeira que deveria pesar uns 300 quilos.

– Sim?

– Meu nome é Vince Knill, Capitão do Desgraça Holandesa. Minha embarcação sofreu grandes avarias, três furos no casco dois na proa e um na meia-nau, dois mastros quebrados, apenas o mastro da proa inteiro, velas destruídas e canhões danificados. O navio está no Tamar, tem alguma doca disponível e um estaleiro?

O capitão do porto sorriu como se aquilo não fosse nada.

– Bem vindo a Doca Bryen. – Disse apontando para as várias aberturas na terra com concreto dos lados e canos para drenagem da água interna, portas de ferro para o lado do mar. – Tenho sua vaga. Mas com todos esses danos, vai sair caro.

– Pelas minhas contas, uns milhares de libras.

– Milhares? – Ethan olhou para Dominik que não disse nada, o Capitão do porto porem concordou, então Vince regressou para eles.

– Dominik, retorne para Gus e mande o Desgraça ancorar na doca... – Vince olhou para o Capitão Bryen.

– Doca dois. – Disse o Capitão do porto, Alexander Bryen. – Se for de seu agrado.

– Ouviu o homem.

Dominik se virou e voltou para seu cavalo.

– Ethan, venha comigo, vamos ver onde vão ficar.

Três semanas depois.

Ethan voltou para dentro do quarto batendo a porta com violência. Os olhos escorrendo lagrimas como uma cachoeira escorre água.

– Eu matei o Daryl e vi ele morrer aos poucos e não fiz nada...

Do outro lado da porta batidas vinham abafadas.

– Vai embora Dominik. – Ethan disse chorando limpando os olhos deprimido e solitário, sentiu um vazio que nunca se curaria no peito, sentindo todo o mau que havia espalhado pelo mundo em tão pouco tempo. – Antes que eu te mate também. Sou ótimo nisso.

Disse com pesar as últimas palavras balançando as mãos como o copo de fada verde ainda estivesse em suas mãos. Então parou de falar por um instante sentindo algo no estomago, a mão foi até a barriga e ele sentiu um nó se formar em suas tripas, caiu de joelho abrindo a boca e vomitou, respingos voaram contra sua mão e Ethan se levantou indo para a cama, se sentou e ficou olhando para a porta pensando se Dominik ainda estaria ali, esperando por ele abrir a porta.

– É bom que tenha outra fada com você! A que eu tomei fugiu. – Ethan disse olhando para o chão. – Está me ouvindo?

Mas não houve resposta, apenas escuridão, escuridão que em seguida o tragou para dentro, e quando o devolveu a luz não era como imaginava que seria.

Sua cabeça latejava conforme seus olhos foram se abrindo, a luz entrava filtrada pela cortina tecida a mão em finas linhas de algodão, o sol batia contra seu rosto e fazia as partículas de poeira serem visíveis, quase estáticas no ar.

– Merda! – Ethan se virou na cama descendo os pés e quando o fez a sola do pé bateu contra algo liso molhado e escorregadio, ele deslizou e o corpo caiu de lado em cima do próprio vomito com um CLACK sonoro. – Hunff.

Ethan se virou olhando para a camisa de linho melada com vomito de ontem, o cheiro embrulhando o estomago que já não estava bem, cambaleando foi até a porta e a abriu puxando o trinco para trás, na sala da pequena casa estava Joly em pé limpando tudo, como se na noite anterior uma tormenta horrível tivesse passado por ali.

– Pelo bom Jesus na cruz, o que é isso? – Joly se virou fazendo uma careta com sua banha enrugada nas bochechas. – Morreu e não enterraram?

Ethan gemeu sem ânimo para responder indo para o banheiro, parou na porta do banheiro e olhou para trás, o quarto estava trancado e aquele era o único quarto com duas camas, o outro quarto tinha apenas uma cama e Joly quem dormia nela.

– Cadê o Dominik?

– Dormindo. – Joly respondeu. – Revessamos a cama.

– Desculpa. – Ethan olhou para a sala, no meio desta ainda tinha sob a mesa algumas garrafas vazias de muitas bebidas, uma delas era o absinto, a tão incrível fada verde que lhe fez tão mal noite passada.

– Tudo bem. Vá se lavar.

Ethan obedeceu entrando no banheiro, arrancou a camisa de linho e o cheiro forte se tornou menor quando ele amassou a peça de roupa, foi até a banheira e abriu a torneira esperando que a água subisse um pouco, quando a banheira estava pela metade Ethan arrancou as calças e entrou na banheira fechando a torneira, minutos depois saiu do banho de água fria, a dor de cabeça insuportável tinha diminuído significantemente.

Enrolou-se em toalha e voltou para o quarto onde o cheiro de vomito era perturbador, se vestiu e apressou-se em limpar a sujeira que tinha feito.

Quando levava o pano de chão que usou para limpar o chão do quarto Joly voltava da rua com uma cesta.

– O que tem ai?

– Pão! – Joly respondeu, quando passou por Ethan o cheiro de pão fresco fez seu estomago tão maltratado na noite anterior se agitar.

Ethan foi até a mesa, pegou um pedaço de pão e encheu com presunto.

– Vou para o quarto. – Disse para Joly enquanto Dominik saia do quarto de Joly. – Bom dia!

Dominik acenou com a cabeça para Ethan, não parecia melhor que ele, o único que não estava de ressaca era Joly, o cozinheiro.

Ethan se sentou na escrivaninha e pegou o diário de bordo do Desgraça, abriu e olhou a última página, fazia dias que não escrevia. “Ancoramos novamente em Plymouth, o Desgraça sofreu danos terríveis e os custos do reparo são altíssimos, Vince Knill garante que passaremos pelo menos um ano em terra”. Era apenas isso que tinha anotado, não havia mais nada a ser dito, porem agora ele tinha, pegou tinta e começou a escrever “Abril de 1804; Vince Knill possui família perto de Plymouth, ele foi visitar seus familiares de onde pretende conseguir algumas libras para ajudar no concerto do Desgraça, avisamos o Rei Jorge e a situação com a França nunca esteve tão delicada, uma guerra está para ser declarada. Presos em Plymouth Joly não queria ficar gastando libras semanalmente em estalagens e comprou uma cabana caindo aos pedaços com dois quartos e uma sala grande o bastante para caber uma cozinha também, Dominik e eu estamos aqui também, porém não de graça, trabalhamos arduamente para renovar a construção, buracos no teto, assoalho podre, janelas sem vidro, pia entupida, encanamento cheio de furos, cavar o poço novamente, apertar os parafusos das portas, dar um trato na mobília velha, muitas tarefas, mas no fim este lugar está parecendo algo que pode-se chamar de lar, é longe da maioria das coisas da cidade, e o que mais tem aqui é fazenda, quatro na verdade, ao lado temos o pântano do crocodilo, acho que o nome fala por si só o tipo de animal que se encontra por lá, e ao lado do pântano existe a mansão Estover, foi o Conde Estover quem nos vendeu esse pedaço de terra. Com Vince afastado o Desgraça em reparos e a tripulação espalhada não me resta muita escolha a não ser esperar, temos que juntar dinheiro para pagar pelos reparos, então vamos trabalhar”.

Ethan fechou o diário respirando um pouco, se sentia preso ali, como se seu lugar fosse no mar, não fazia muito tempo que tinha testado o vento salgado e a água cruel que poderia te tragar para as profundezas do planeta, mas para ele a terra já não tinha o mesmo encanto.

Outubro de 1804.

– Quando os templários surgiram eles não eram o que acabaram se tornando, deveriam ser uma força bondosa que guiasse o mundo em paz e garantissem o bem estar das pessoas, mas isso não aconteceu. Assim como os Assassinos, que quando surgiram deveriam ser apenas assassinos de aluguel e matar aquele que o contrato indicasse, mas nossas ordens sofreram modificações, e os templários começaram a seguir um conhecimento desconhecido, um poder estranho, até ai não existe problema algum. – Ethan dizia para Gus Dominik e Joly, ambos em volta de uma mesa com cartas e bebida. – Mas esse conhecimento mostrou para eles que o mundo precisava ser domado, tal como um cavalo selvagem, desde então os templários vem tentando controlar o mundo através do deturbado conhecimento, ocultam e revelam apenas o que lhe é favorável e através do conhecimento, contido ou não eles vão controlando Lordes, Duques, Príncipes, até mesmo Reis, subjugando países inteiros a ele e enriquecendo no processo.

– Mas então eles fazem paz. – Joly disse percebendo que aqueles tais homens de cruz no peito não eram tão ruins.

– Sim, mas com mentiras e ilusões, nunca te contaram tudo, o povo nunca saberá a verdade embora ela esteja ali, bem na frente deles. Isso que os templários são, isso que eles buscam, controle.

– E os Assassinos?

– Depois de uma reforma durante as cruzadas a ordem sofreu mudanças que causou uma guerra interna, nossos melhores irmãos foram atrás destes templários, pois recebemos este contrato, descobrimos também esse conhecimento antigo, essa arma mágica. Quando os melhores Assassinos voltaram eles possuíam um esclarecimento e uma erudição que ninguém ali possuía, nosso Credo foi reescrito para uma nova Era, onde os Assassinos ainda matariam por dinheiro, mas não matariam inocentes, onde defenderíamos princípios como igualdade, onde lutássemos por paz. Lógico, tivemos muitas vitorias e derrotas, um dos mais notáveis mestre Assassino foi Ezio Auditore, ele viveu na Itália e derrotou Borgia, o papa cruel. Borgia era um mestre templário que conseguiu pôr as mãos no cetro papal, uma poderosa peça do éden, diz a lenda que uma civilização antiga, os primeiros a pisar nessa terra teriam criado armas de imensurável poder, e teriam criado coisas de imensurável beleza, uma das criações foi um homem chamado Adão e uma mulher de nome Eva, os primeiros seres humanos.

– Está história não pertence a bíblia? – Gus perguntou tomando um gole daquela cerveja quente.

– Na verdade não. Essa civilização nos criou, humanos, uma raça inferior a eles, fomos criados para servir, mais nossos números superaram os deles, e tinha mais humanos do que aqueles que vieram antes, começamos uma rebelião, mas isso não acabou bem, desastres naturais dizimaram o planeta, aqueles que vieram antes foram extintos. Altair, outro mestre Assassino teve contato com uma dessas armas daqueles que vieram antes, arma chamada de Maça do Éden, Ezio teve contato com o cetro Papal e com outra maça, mais tarde foi atrás da biblioteca de Altair e achou a primeira maça, essas armas tinham poderes de criar ilusões, matar inimigos sem que fosse necessário ataca-los, fazer um lutar contra o outro, e muito mais. Isso porem não é tudo, outros Assassinos se mostraram tão importantes quanto Ezio, Edward, um pirata achou um mecanismo capaz de olhar pelos olhos de outra pessoa através de uma caveira de cristal em um salão chamado de “observatório”, Connor também foi um dos assassinos grandiosos, ele reergueu a irmandade de Achilles Davenport que foi destruída por um Assassino traidor que virou templário chamado Shay, não sei se é verdade, mas dizem na ordem que Shay causou o terremoto em Lisboa por mexer com as peças do éden que Achilles disse para não mexer, mas mistérios apenas surgem toda vez que mexemos com as coisas dessa civilização antiga. Por isso os Assassinos fizeram um outro voto, uma promessa, nunca deixar os templários pegar outra peça do Éden, são raras e difíceis de serem encontradas. Fazemos o possível para garantir a paz, e daí veio outro pilar na ordem, a Liberdade, os templários buscam Ordem mas o povo deve ser livre! É isso que nós somos, que fazemos. Lutamos não contra os templários, lutamos contra todos que tentarem impedir o povo de ser livre, que tentar algemar inocentes, privar uns de conhecimento enquanto outros leem livros, isso é injusto, é cruel, e enquanto existir um Assassino vivo vai existir luta por liberdade, igualdade, paz.

– Pensei que não fosse mais um assassino.

Ethan ouviu as palavras de Dominik, gelavam seu coração, ele também tinha pensado aquilo no começo, mas logo percebeu, sempre foi um Assassino, sempre será um Assassino.

– Eu também pensei!

Dois dias depois.

Ethan puxou a corda da pá do cata-vento, entregou para Dominik atrás dele, Dominik amarrou a corda junto das engrenagens, e logo que terminou levou os dedos na boca assoviando, lá em baixo Gus puxou sua espada da bainha e desferiu um golpe contra a corda que prendia a pá do cata-vento ao chão, quando soltou as pás se encheram de vento e começaram a girar lentamente movendo o moinho abaixo deles.

– E meio ano atrás estávamos na merda. – Dominik sorriu se levando no telhado do moinho, olhou em volta, o terreno era amplo, uma vasta área verde que seguia até casarões e então casas normais, mais à frente à vista se distorcia e o centro de Plymouth surgia.

– Ainda estamos. – Ethan disse suado de tanto trabalhar, conforme as pás giratórias passavam ele via a cabana ampliada que Joly havia comprado, uma construção agradável em madeira e tijolos. – Mas descobrimos que dá para usar merda como esterco.

Ethan olhou para baixo o monte de feno, seus olhos ardiam, fazia meses que isso não acontecia, pensou sobre tudo que tinha visto na vida, tudo que seu pai tinha lhe dito sobre assassinos e templários e sobre o que eram, sobre a raça percursora, aqueles que vieram antes, deveria existir uma explicação para aquilo. De repente sua vista estava escura como se visse um mundo espectral, o céu claro do meio-dia não era claro, era escuro e sem nuvens, o chão era visível porem, e ele podia ver pontos vermelhos na mata, os olhos ardiam como se formigas minúsculas corressem pela córnea, então sua visão se aproximou mais e mais dos pontos vermelhos e ele sentiu como se fosse abraçar aquele cervo que tentava farejar algo, então ele virou a cabeça poucos centímetros e um rastro vermelho surgia passando por arvores e troncos baixos no chão, finalmente pode ver o corpo do felino carnívoro avançando contra o cervo que disparou em corrida, mas quando se virou tropeçou em uma raiz e caiu, quando caiu morreu mesmo estando vivo, não escaparia do ataque do felino.

Então Ethan olhou para baixo, não muito, apenas rumo a cabana de Joly e podia ver por dentro dos tijolos e madeiras um peculiar ponto azul brilhando aos poucos, era Joly que brilhava.

– Ethan NÃO! – Dominik berrou estendendo um braço quando os pés de Ethan deram um passo no vazio, foi como abraçar o silêncio e fazer uma serenata.

Ethan se virou no ar esticando os braços, o monte de feno em baixo dele estava brilhando dourado quando deixou de brilhar e o sol voltou a brilhar no céu.

Dominik se debruçou no telhado olhando para baixo quando o corpo de Ethan bateu contra o feno afundando, os cavalos ali foram para trás quando de dentro do feno amarelo seco um garoto irresponsável saiu sorrindo como se tivesse renascido.

– Incrível. – Disse sentindo o suor gelado nas costas, não sabia o que tinha acabado de fazer, mas tinha feito, e sobrevivido.

– Senhor Cavendish... – Uma voz familiar veio de longe. – Senhor, por favor, senhor...

O guarda da propriedade arfou um pouco pegando uma carta de dentro dos bolsos.

– Está tudo bem?

– Sim senhor, o senhor que não deve estar bem. – O homem olhou para cima vendo Dominik descendo pela escada feita de barras de ferro chumbadas a parede do moinho. – Caiu feio senhor.

– Estou bem, o que é isso?

– Um homem estranho passou a pouco a cavalo, disse que era de seu interesse.

Ethan rompeu o lacre da carta e abriu, dentro uma frase única e singela, simples e impactante “Duque Robert retorna a Plymouth hoje ao anoitecer”. E apenas isso seguido por uma assinatura que Ethan não reconhecia feita em uma letra caprichosa “EE”.

Mais tarde ao anoitecer; entrada de Plymouth.

Ethan olhou bem ao seu redor tudo o que podia lhe oferecer riscos, tudo que podia lhe dar vantagens, estava tudo como ele queria, poucos oficiais trabalhando, poucos olhos atentos, e Robert ainda não havia chego.

A estrada principal de Plymouth parecia ser o lugar ideal para a carruagem de um Duque passar, talvez ele estivesse errado.

Quase uma hora depois quando o relógio da igreja badalava as onze horas da noite uma carruagem vermelha dourada e negra chegou, pouquíssimas pessoas estavam nas ruas e Ethan achou melhor não ser uma delas.

A Carruagem puxada por dois cavalos ia lentamente com outra atrás, está logo se via estar cheia de guardas. Ethan dobrou na esquina de um prédio e se pendurou em sua janela escalando pela parede aproveitando de vãos entre tijolos e parapeito para flores, chegou ao telhado e se abaixou evitando fazer barulho, olhou para os outros telhados procurando guardas, não havia nenhum, a carruagem passou para outra rua e Ethan se viu obrigado a segui-la, pulou de um telhado para o outro, os pés rápido e mais experientes que antes fizeram menos barulho, ele correu avançou contra chaminés saltando sobre os telhados de forma a deixar papai-noel com inveja. Finalmente a carruagem parou, era um hotel de classe.

– O Browd? – Ethan se perguntou observando a carruagem parada, mas ninguém descia. Então ele deu a volta no quarteirão indo para um ponto de vista que pudesse ver a entrada do hotel Browd.

Na porta um homem de peruca branca e trajes vermelhos típicos de diplomatas e burocratas da coroa conversava com um outro homem, que usava roupas desconhecidas, apenas mais um, talvez trabalhasse no Browd.

Então esse homem de peruca branca com cachos começou a andar e entrou na carruagem de Robert, a janela se abriu e uma cabeça se pôs para fora, Ethan se jogou contra as telhas do telhado torcendo para não ser visto, embora pudesse ver claramente o rosto de Robert procurando por alguém, talvez procurando por ele.

A carruagem então voltou a andar, as ruas de Plymouth estavam vazias àquela hora, mesmo assim eles não estavam à vontade para parar e conversar, talvez conversassem dentro da própria carruagem, Ethan temeu por isso.

Depois de curvas e mais curvas os cavalos foram guiados para um lugar onde mal os cabia, quão menos a carruagem. Ethan olhou para onde estavam se enfiando, um beco que dividia duas construções, beco o qual não tinha função alguma além de armazenar lixo. Porem ali estava a carruagem, ele se pendurou pela parede descendo rapidamente pelas sombras se esgueirando feito cobra pelos sacos de lixo fechados com cordas finas. Ali na sombra podia ouvir sussurros e resmungos. Até que a porta da carruagem se abriu com um estalo e dois pés desceram nos paralelepípedos do beco.

– Vai ser aqui?

– É um bom local. – Ethan não saberia dizer de quem era a voz, nunca tinha ouvido nenhum dos dois falar nada, mas supôs que o primeiro a falar fosse o homem de peruca.

– Três quarteirões da prefeitura. É muito perto. – Agora tinha certeza, aquela voz era do homem de peruca, e ele estava nervoso.

– Não se preocupe com isso. Faça sua parte, e farei a minha. – O Duque desceu um pé da carruagem, Ethan viu sua bota com esporas douradas e pequenas, brilhando forte na noite. – Lembre-se de ficar em silêncio, não trabalho com homens que não sabem guardar segredos.

– Não falarei nada.

– Acho bom. – O Duque parecia tramar algo, algo grande. – Ou sabe o que acontecerá com Ella.

Ethan apurou os ouvidos, aquele “Ella” não era se referindo a uma pessoa, e sim o nome de uma pessoa, tinha certeza.

– Minha esposa não tem nada...

– Isso não me interessa Sr. Pinhart. Estou esperando pelo papel e pela tinta. Uma semana, não mais que isso, ou usarei pele como papel e sangue como tinta. Está avisado.

Ethan sentiu uma agonia subir pela espinha quando o tal Pinhart foi empurrado para trás, os cavalos relincharam e a carruagem saiu às pressas do beco batendo suas laterais contra as paredes, a outra carruagem dos guarda fez o mesmo logo atrás.

Ethan colocou o anel prateado da lamina oculta no dedo, pronto para atacar esse Pinhart, mas parou, por um segundo pensou se fosse ele no lugar daquele homem, o que faria?

Então retirou o anel se lembrando da mulher deste Pinhart, Ella Pinhart. Talvez estivesse sendo mantida refém dos templários, em especial do Duque. Talvez esse homem não fosse nem mesmo um templário, talvez fosse uma vítima, e foi esse pensamento que segurou a mão de Ethan neste momento.

Esperou que o Sr. Pinhart saísse do beco para que ele saísse em seguida, Ethan perambulou pelas ruas até achar um mendigo, enfiou a mão no bolso e tirou duas moedas de baixo valor.

– Que deus lhe retorne a bondade meu filho. – O mendigo disse enrolado em seus panos velhos na noite fria quando as moedas caíram dentro de seus panos.

Ethan se agachou olhando para os olhos escondidos na sujeita acumulada no rosto do mendigo.

– Na verdade, o senhor pode me ajudar com uma coisa. – Ethan olhou para o chão, para o céu. Não acreditava que estava seguindo o caminho do qual se revoltou contra em Suffolk, estava de volta onde nunca tinha saído, Ethan mais uma vez era um Assassino. – Conhece uma família local chama Pinhart? Ella Pinhart e seu marido?

Casa de Joly em Estover Lands.

O sol começava a nascer quando Ethan chegou na casa, abriu a porta Joly estava lá para recebe-lo tal como um pai preocupado, porém muito menos preocupado.

– Ficou acordado me esperando?

– Não perderei meu sono com isso. – Joly disse arrumando uma mochila com ferramentas. – Mas já que tocou no assunto, o que esteve fazendo de tão bom que nem mesmo veio dormir?

Ethan olhou para Joly sorrindo.

– Durante a noite o Duque Robert voltou para cá, alguém mandou uma carta avisando, assinado EE, não sei quem é. Eu fui atrás e interceptei Robert até um beco onde ele e um burocrata chamado Eugenio Pinhart conversaram sobre um plano, não sei o que é ainda, mas vou descobrir.

– E como pretende fazer isso? Sozinho. – Joly disse só completando a frase já saindo da casa como se nem mesmo esperasse uma resposta.

– Já pensei nisso Joly. – Ethan respondeu indo atrás dele. – Mandei uma carta para Willian Cavendish, 5° duque de Devonshire, senhor dessas terras, Assassino de alto nível e também meu tio.

Joly parou e olhou para trás encarando Ethan que estava na porta da casa.

– Você o que?

– Eu vou abrir uma sucursal aqui Joly. – Ethan disse com medo e coragem, ansiedade querendo uma resposta, se sentindo covarde e precipitado. – Tudo bem?

Joly olhou para Ethan por alguns segundos, então levantou o dedo para ele.

– Você acha que porque viu algumas coisas interessantes vai pegar minha casa, tudo que demoramos para construir e encher de gente que eu não conheço, depois vai sair por ai brincando de caçar seus inimigos? – Joly batia o queixo de fúria. – Deixe de ser estupido criança burra. Você não vai abrir nada. Não vai ir atrás de duque ou de burocrata ou de demônio algum. Quando aquele maldito navio ficar pronto vamos embora. Pense nisso, ou se esqueceu que faz parte de uma tripulação...

– Tripulação? – Ethan retrucou berrando para Joly. – O dito Capitão fugiu para os braços da mamãe, Gregor passa mais tempo bêbado do que qualquer outro homem já passou, metade dos marujos desapareceram por ai. O Desgraça Holandesa acabou Joly. Sinto muito te dizer isso, mas você precisa acordar!

Joly se virou e foi correndo com seus curtos passos na direção de Ethan, e sem aviso algum levantou o braço com punho fechado, o soco jogou Ethan no chão com o maxilar doendo.

– Nunca mais fale assim criança insolente. – Joly disse olhando Ethan recuar no chão. – Walltimore lhe acolheu e é assim que retribui?

Ethan se assustou com a reação de Joly, não esperava aquele comportamento do gorducho. Mas foi o que teve, e de repente pensou ter visto uma lagrima.

– Eu não queria...

– Cala a boca. – Joly disse se virando e voltando a andar. – Quando eu voltar é melhor que você não esteja aqui.

Mapa de Estover Lands


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Notas finais do capítulo

Leitores, os desse plano e os fantasmas! (kkkkkk), no final tem um link pra "Mapa de Estover Lands" ao clicar vocês vão ver um mapa com zoom na área azul do mapa que está no capitulo.
O mapa do capitulo é o mapa de Plymouth que eu montei, o segundo mapa que está no link eu também montei, mas atenção, aquela Estover Manor (mansão Estover) Existiu de verdade e em 1853 passou a ser chamada de Leigham Manor, porque a familia Estover foi "extinta" por falta de palavra melhor. no canto superior direito do mapa Estover Lands tem até o documento oficial de desapropriação da familia Leigham que teria ocupado a terra de forma "ilegal".
Como em toda história Assassins Creed estou tentando usar um monte de referências e personagens reais.
—_
Outra coisa que comecei a usar, espero que fique bom, é o recurso de passar o tempo aqueles "No fim do dia" ou então "Meses depois em Plymouth". É um recurso que estou usando igual nos jogos, afinal, o tempo vai passando e logo logo Ethan vai para o Brasil. Em mar vou usar menos esse recurso, mas em terra será bem comum passar meses de uma linha para outra.
Notas finais ficaram um pouco compridas, ainda sim, obrigado por ler!



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