Assassin's Creed; Sombras escrita por P B Souza


Capítulo 11
A última batalha.


Notas iniciais do capítulo

O Desgraça holandesa é tragado por uma tempestade para dentro das águas francesas, Walltimore se vê em uma situação que pode começar uma guerra entre Inglaterra e França, tudo por causa de uma tempestade. E as consequências serão irreversíveis, ganhando ou perdendo.



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O vento rugia do lado de fora, o navio balançava violentamente jogando seus marujos de um lado para o outro, apenas os mais habilidosos ficaram no convés para cuidar da integridade do navio, os outros estavam lá em baixo, no alojamento, na dispensa, em qualquer outro lugar.

– Vamos naufragar. – Ethan disse quando uma onda bateu contra o casco, a madeira gemeu. – E ir cantar com Dave Jones no seu maldito armário.

– Jones não iria nos deixar cantar com ele, iria usar suas veias como cordas e suas costelas como armação de um alaúde.

Ethan olhou para Dominik fazendo uma careta.

– Credo. – Disse se segurando quando escorregou pela cama em mais uma onda que fez o navio virar tanto que parecia estar se deitando no mar. Ethan voltou para a cama olhando todos os travesseiros e alguns coxões e algumas cobertas todas jogadas no chão. – Acho que deveríamos recolher as coisas do chão.

– Pra que idiota? – Um outro marujo disse. – Pra quando outra onda bater tudo cair de novo?

Então alguma onda acertou o casco, essa provavelmente era uma grande onda, pois água entrou pela abertura do convés e os degraus da escada foram lavados com água salgada que continuou pingando e pingando.

– Precisamos ir ajudar o Capitão.

– Estamos ajudando sem atrapalhar. – Foi a resposta de Dominik se segurando no beliche.

Ethan se calou então, a tempestade tinha começado a pouco mais de uma hora e o navio parecia estar sendo tragado para o inferno, balançando feito bambu ao vento, lá fora os raios caiam com mais e mais frequência, estrondosos causando estardalhaço.

Então o navio foi puxado uma vez mais para o lado quase tombando, o grande e grosso tronco do mastro principal que passava no meio dos alojamentos vibrou tentando se manter inteiro, mas alguma coisa lá fora tinha acontecido e com um grande CLANCK o navio voltou a sua posição normal.

Depois disso Ethan fechou os olhos pensando que estavam afundando e por algum milagre aquele cômodo estava livre da água, mas que isso não duraria, então quando finalmente a tempestade passou e o navio se acalmou ele tinha dormido, e nem mesmo foi ver o que diabos estava acontecendo.

Quando acordou sentiu calor, ele estava deitado sem coberta ou travesseiro e seu pescoço doía, se levantou e olhou em volta, apenas dois marujos ainda dormiam e um deles estava com a perna enrolada em panos brancos encardidos com pontinhos vermelhos de sangue.

Foi até a escada e saiu pelo alçapão rumo ao convés, quando emergiu o sol cobriu seu rosto, estava mais quente do que em todos os outros dias e a costa inglesa tinha desaparecido de visão, fosse onde fosse, estavam longe de casa, mais longe do que Ethan tinha pensado em um dia chegar.

– O que diabos aconteceu? – Ethan olhou para cima procurando o mastro principal que ficava no meio do navio e este estava quebrado a dois metros de altura, não existia velas, ou cordas, assim como não existia o mastro da proa que estava quebrado a quatro metros de altura.

– A fúria de Deus. – Walltimore também olhava para o lugar onde antes existia mastros.

– Capitão... – Ethan olhou para Walltimore que parecia ter chorado a pouco tempo, e não era para menos, aquilo era um desastre. – Lembra que a três dias Gregor disse que uma tempestade se aproximava, dois dias o céu ficou cinza, um dia e manhã era tão escuro quanto noite, e ontem a chuva finalmente chegou.

– Dominik disse que existem tempestades piores.

– A sim existem. – Walltimore disse olhando em volta. – Devemos nos considerar sortudos. As piores teriam nos levado a pique.

– CAPITÃO! – Um berro veio do outro lado do navio, Walltimore e Ethan olharam e Ethan só via água.

– O que foi?

Walltimore saiu andando, Ethan foi atrás, quando chegou perto da outra borda do navio o marujo que gritou entregou a luneta para o capitão que pegou e levou ao olho, Ethan apenas observou, tentando ver no limite do oceano, tentando ver o que o horizonte escondia.

– Dois minutos que estou vendo, não sei o que é, mas os panos são azuis.

– Azuis? – Ethan olhou para o marujo enquanto o capitão guardava a luneta. – Essa cor não é uma...

– Fragata Francesa, duas horas pro combate. – Walltimore berrou fechando o rosto em tristeza e raiva. – Preparar canhões, preparar homens, rápido.

Subiu até o timão onde Gregor e Vince estavam, Ethan ainda os podia ouvir.

– Ainda estamos em água francesas?

– Sim Capitão. – Gregor disse. – Nossa velocidade está fraca, e só com duas velas, não vai ter como fugir.

– Quão menos como lutar. – Walltimore disse olhando para a tripulação então para Ethan. – É bom que saiba usar uma espada tão bem quanto vem mostrando.

Ethan ficou ali, olhando a fragata se aproximando conforme as bandeiras francesas presas nos mastros se tornavam visíveis, os canhões, a imponência, e provavelmente seu medo também se tornava visível.

– Vai colocar uma roupa. – Dominik disse indo ao lado de Ethan, ele estava apenas de camisa e calça. – Pegue uma espada e se arrume.

Ethan fez que sim com a cabeça, tremia. Correu para o alojamento e lá em seu baú ele pegou suas laminas ocultas, vestiu seu colete de couro e dentes de ferro trançados para se proteger de ataques de espadas.

Quando voltou a superfície percebeu que tudo era diferente do que ele pensava, não era simplesmente atirar.

– O que estão fazendo? – Ethan perguntou para ninguém, e para todos. A fragata francesa começava a girar até ficar de lado com o Desgraça.

– FOGO! – Ethan ouviu o grito de Walltimore lá do timão, os canhões do Desgraça Holandesa romperam em chamas, o navio inteiro vibrou, os canhões de cima deslizaram pelas rodinhas recuando com o disparo, as bolas de ferro emboladas em chamas voaram contra a fragata francesa que estava se virando.

Quando as bolas de canhão atingiram a fragata a madeira estourou e pedaços do casco voaram, como papel no ar.

– Afundamos eles? – Ethan perguntou, novamente para ninguém e para todo mundo.

– Tá brincando é criança? – Um dos marujos, um dos mais velhos disse. – Primeira batalha naval?

Ethan olhou para ele e fez que sim incapaz de falar.

– Então se prepara, talvez essa seja a última! – Ethan olhou para o marujo se distanciando, de repente entre todos conversando alto ao mesmo tempo e o som do mar, da fragata e dos canhões sendo recarregados Ethan ouviu um grito de Walltimore, queria saber o que era, mas não entendeu.

– Abaixem-se, para o chão! – Walltimore berrou mais uma vez.

Então Ethan percebeu todos os marujos se jogando, lançou um olhar para a fragata, que agora estava virada lateralmente para o Fluyt de Walltimore, eles iriam disparar.

Então se jogou no chão quando viu bolas de fogo saindo de todos os canhões da fragata, não viu os disparos, mas em segundos as bolas de ferro acertaram o casco do Fluyt, o navio parecia uma enorme baleia morrendo, balançou com o impacto e madeira voou para todos os lados de todos os cantos.

– Pronto para disparar!

– Canhões carregados!

– Pronto!

Ethan olhou em volta enquanto as velas da fragata se viravam e o navio avançava lentamente rumo ao Fluyt incapacitado sem mastro, sem velas, sem remos.

– FOGO! – Walltimore berrou novamente.

Ethan se levantou dessa vez, quando o fez os canhões do Desgraça explodiram uma vez mais, a fragata rugiu tal como o Fluyt, mas sofreu bem menos dano. Ethan saiu correndo pela meia-nau até a popa, subiu para o timão.

– Eu tenho um plano.

– Agora não criança! – Gregor disse mas Walltimore segurou-o pelo braço assim que se virou para sair.

– Fala.

– Eu vou pra água, sou bom nadador, eles não vão me ver, limpo a fragata.

Ethan disse sabendo que parecia improvável, impossível, mas fez isso no Cutter, porque não podia fazer o mesmo na fragata?

– Loucura. – Walltimore disse. – Só vai se matar.

Ethan abriu a boca para dialogar, mas Walltimore já se voltava para a frente dando ordens.

Então olhou em volta, foi até o cordame onde a pouco tempo atrás servia para prender velas, agora era apenas corda, quando olhou para cima pronto para pular viu cordas voando de dentro da fragata, cordas com ganchos. Em seguida os ganchos caíram dentro do Desgraça e as cordas foram tencionadas, estavam puxando o Fluyt para uma ancoragem forçada, Ethan puxou a espada da bainha e avançou sobre uma das cordas presas ao gancho. Então foi cortar a corda, quando encostou o gume na corda ouviu um tilintar metálico, deslizou os dedos pela corda presa ao gancho e a corda era de algum tipo de ferro, alguns fios de ferro enrolados nos fios comuns, ele não poderia corta-la, quão menos tira-la, estava tão tencionada que a única opção era atirar na corda. Então pegou uma pistola e foi até a corda, atirou, quando o fez a corda se rompeu, mas outras cordas voavam ali, enquanto mais cordas eram rompidas, e o processo se repetia infinitas vezes.

– ABAIXAR! – Walltimore berrou.

Estavam a cinco metros da fragata, não teve tempo de se abaixar quando os disparos de canhão da fragata explodirão. O Fluyt realmente estava morto, de dentro do navio um marujo surgiu.

– Água está minando senhor. – Ele disse indo até Walltimore.

– PRETOJAM ESSE NAVIO! – Walltimore berrou puxando sua espada da bainha, uma lamina grande com um risco dourado no meio. – Lutem pelas suas vidas miseráveis. VAMOS!

Todos se preparam quando os cascos dos dois navios se chocaram sutilmente. Ethan não esperou nem um segundo, subiu no casco do Fluyt e com um salto caiu na fragata em uma cambalhota. Assim que caiu puxou a espada da bainha novamente, quando se virou um francês veio para cima dele. Ethan se lembrou dos ensinamentos do seu pai, ver quantos inimigos tinha em frente, atacar todos de uma só vez, depois executar.

A espada deslizou pelo peito do primeiro francês, os pés do garoto rodaram no chão e ele deslizou indo para trás, com a mão livre enfiou a lamina oculta na canela do guarda, sangue espirrou, Ethan puxou a mão guardando a lamina oculta e se jogou para o lado, nisso uma espada francesa caiu onde ele estava, onde ele teria morrido se não tivesse esquivado. Deu uma rasteira no homem atrás dele enquanto o primeiro caia com a perna perfurada e o peito sangrando, assim que o segundo francês caiu Ethan girou se ajoelhando e a espada em sua mão desceu contra o coração do francês que ele deu a rasteira, largou a lamina que ficou pendurada balançando, mais dois franceses vinham de cada lado, ele girou de um lado cortando a garganta do terceiro, o quarto avançou mas Ethan com a lamina oculta se defendeu da espada e com a outra mão atravessou a cabeça do guarda, puxou e ambos estavam caídos, ele se virou e puxou a espada do peito do francês no chão.

– RECUAR!

Ouviu um grito vindo da proa da fragata, ele estava na popa. Olhou para o outro lado, estavam lá um grupo de franceses, apenas um homem.

– NÃO! – Ethan berrou quando viu Walltimore caindo no chão derrubado por um dos quatro franceses, do lado Vince Knill duelava espada e espada com o capitão da fragata.

Ethan pulou da fragata para o Fluyt, quando o fez viu Walltimore prestes a ser executado, em outro salto agarrou a cabeça de dois dos quatro franceses e os levou ao chão em uma execução dupla, os outros dois se viraram olhando para aquela sombra que havia surgido do nada, Ethan se levantou e pisou no pé de um dos franceses com força, o outro tentou fura-lo com a espada, Ethan deu um passo para trás e puxou o francês que tinha pisado no pé, empurrou um contra o outro e a espada atravessou as tripas de um deles, Ethan olhou ambos caírem enquanto se virou pegando a mão de Walltimore.

– Senhor? – Ethan levantou o capitão, sua armadura prateada brilhava sangue, sangue escorria pelos lados vermelho, pulsante, ainda quente.

– Mate eles!

Ethan fez que sim, se virou e chutou o pescoço do outro francês caído no chão e continuou andando, no caminho com a lamina oculta derrubou mais dois franceses e então Vince Knill conseguiu derrubar o capitão francês que quando tentou se levantar foi atravessado pelo metal. Os franceses olharam para a tripulação do Fluyt, pareceram tremer até os ossos, no mesmo instante perceberão que o número deles era inferior aos dos ingleses, e se ajoelharam.

– Ganhamos... – Ethan sorriu de orelha a orelha, seu rosto estava pintado com pontinhas vermelhas de sangue francês, até na morte eles espalhavam suas cores. – nós ganhamos.

Ethan viu alguns sendo presos, outros executados, sete homens de Walltimore também haviam morrido naquela disputa banal que poderia ter significado morte, mas talvez pudesse ter significado algo pior, talvez significasse guerra quando percebessem um navio francês ou britânico faltando.

– Capitão? – Dominik passou correndo por Ethan, então ele se virou e Walltimore estava apoiado no balaústre da escada de subida para o timão.

Joly surgiu então de dentro do alçapão para a cozinha, ele estava molhado da barriga para baixo.

– John! – Disse em um tom alarmado, nisso Walltimore arfou com um fio de sangue escorrendo pela boca, então caiu da escada no chão com os olhos piscando, virou ficando de barriga para cima.

Os únicos que não estavam em volta de Walltimore estavam cuidando dos prisioneiros franceses.

– Não fiquem em cima de mim. Tens trabalho para fazer. – Walltimore disse tentando se levantar com ajuda de Joly. – Pilhem a fragata, munição, consumíveis, mas não sobrecarreguem o Desgraça, ou afundaremos antes de entrar em águas amigas. Vão.

Vince olhou para Walltimore, alguns já começavam a ir embora fazer o que lhes fora mandado.

– Vou te deixar com Joly, ele vai saber o que fazer. – Então saiu andando, Ethan se virou mais Joly disse não.

– Me ajude com ele criança. – Joly disse indo para o alçapão com Walltimore pendurado em seus ombros. – Abra.

Apontou para o alçapão, os dois entraram, Ethan primeira para pegar Walltimore no final da escada.

– Tire as coisas da mesa.

Ethan apoiou Walltimore em Joly e empurrou tudo da mesa para o chão, Joly deitou Walltimore na mesa.

– Como você fez isso? – Joly disse soltando as travas da armadura na lateral e puxou a proteção do peito, o colete estava ensanguentado, Joly simplesmente o rasgou enquanto Walltimore resmungava.

– Estava com três deles, o quarto surgiu nas minhas costas, nem o vi.

– O furo é na frente. – Ethan disse olhando o sangue que não parava de escorrer.

– Ele me virou e estava com uma maldita adaga. – Walltimore disse com uma careta de dor. – A perna.

Joly olhou para a canela de Walltimore que também estava sangrando.

– O osso. – Walltimore tentou se sentar, mas não conseguiu. – Quebrei a maldita perna.

Ethan olhou para Joly enquanto o cozinheiro desempenhava papel de médico, tal como a maioria dos cozinheiros em navios. Não muito tempo depois ele começou a lavar os ferimentos de Walltimore enquanto Walltimore xingava.

– Pega linha. – Ethan se virou e procurou em uma das gavetas, então outra, pegou linha e junto agulhas. – Segura os braços dele, consegue?

– Ele está fraco. – Ethan respondeu, então Walltimore olhou para ele. – Com todo respeito.

– Tente não gritar. – Joly disse passando a linha pela agulha. – Essa linha não é pra isso, vou precisar... Dar mais voltas. – Walltimore olhou para cima encarando o rosto de Ethan que segurava os braços dele.

Joly observou o rasgo na barriga de Walltimore que subia até o começo do peito, pensou por qual ponta começar, seus dedos roliços seguraram a agulha desajeitadamente, mas ele não tremia, Ethan observou atentamente quando Joly com uma mão juntou a pele apertando o corte pelas laterais, Walltimore rangeu os dentes, o peito inchou de ar e sua coluna envergou de dor. Então a agulha passou pela pele e pela carne, atravessou até o outro lado e puxou, Walltimore respirava fundo tentando manter-se calmo, mas parecia impossível.

– Já tinha me esquecido como isso é bom. – Walltimore disse irônico enquanto o sangue voltava a escorrer.

– Pegue o pano molhado e tire o sangue, sem puxar, só encosta. – Ethan soltou os braços de Walltimore e foi para a pia, dentro da pia estava o pano, ele pegou o pano e foi até a barriga de Walltimore, encostou o pano limpando o sangue uma vez mais, enquanto isso Joly puxava a agulha, girava e passava a agulha pela carne mais uma vez, puxava de novo.

– O que vai fazer com a perna? – Ethan perguntou.

Não demorou mais de vinte minutos para que a costura terminasse, então Joly cortou a perna da calça de Walltimore na altura do joelho, o osso tinha quebrado de forma feia e a ponta dele estava para fora.

– Isso, bem, isso vai doer bastante. – Joly disse indo para um dos armários.

– O que você vai fazer?

– Colocar ele para dormir. – Joly disse pegando uma garrafa de três litros com um Z moldado no vidro. – Clorofórmio.

Molhou um dos seus panos de prato que estava limpo no clorofórmio, Ethan esticou o pescoço sentindo um cheiro característico.

– Mantenha o nariz longe. Ou vai dormir. – Joly empurrou Ethan para trás, voltou para Walltimore e olhou para o amigo. – Vou colocar seu osso no lugar, é melhor...

– Faça logo. – Walltimore disse pegando o pano da mão de Joly e colocando no próprio nariz.

Joly esperou um minuto até que Walltimore estivesse apagado, então foi até a perna, ficou cutucando o osso como se fizesse massagem na perna de Walltimore.

– O que está fazendo?

– Se empurrar o osso de volta para o lugar posso cortar alguma veia, ou um musculo, tenho que achar um caminho. – Joly parou de mexer e deslizou os dedos afundando-os na pele em volta da perna, então segurou a canela de Walltimore com força. – E quando achar o lugar certo...

Empurrou uma mão para esquerda e a outra para a direita, Ethan viu a perna torta de Walltimore ficar reta com um estralo suprimido pela carne, o corpo tremeu por completo, mesmo estando sedado.

– Agulha e linha.

Ethan passou a agulha e a linha e Joly costurou o pequeno furo na carne.

– O resto o corpo concerta, isso é o que eu posso fazer com o que tenho.

***

Ethan estava a três horas sentado no chão ao lado de um dos canhões apenas olhando o tempo passar enquanto o navio ia tão lento que parecia não ir a lugar nenhum.

A noite tinha sido difícil, dormido no convés, as camas estavam molhadas e a água cobria os beliches, apenas as camas de cima estavam secas, o navio estava mais pesado pela infiltração de água, não tinha as velas de antes e dependia quase que exclusivamente da mare, quando a mare ia para um lugar que eles não queriam ir o Desgraça baixava a ancora e esperava. Um trabalho que dava trabalho.

Então Joly surgiu da cabine do capitão, estava lá com Walltimore que dormia desde a operação.

– Ele quer falar com você.

Ethan se levantou e olhou para os marujos, então foi para a cabine do capitão, entrou e Walltimore estava sentado no sofá ao lado da estante de livros.

– Feche a porta.

Ethan obedeceu e foi até o sofá, ficou em pé apenas olhando para Walltimore.

– Sem perguntas? – Walltimore apontou para uma cadeira. – Sente-se. Isso. Quando você apareceu ontem, eu deveria ter, agradecido.

Ethan olhou para baixo envergonhado, constrangido, não queria que Walltimore pensasse dever algo a ele, nem mesmo um obrigado.

– Eu não fiz nada que qualquer um não fez também.

– Eu sei, mas eu deveria ter dito obrigado, ou talvez você não devesse ter salvo a minha vida. De repente era para ter terminado lá. – Walltimore apontou para a porta. – Vai, preciso descansar. – Tossiu um pouco e levou a mão para o pulmão, ao lado do corte costurado. – E Ethan... Valeu a pena não ter te enviado para o seu tio. Você é mais que um garoto.

– Obrigado senhor. – Ethan disse saindo da cabine.

Assim que saiu Joly o chamou, estavam ele e Vinci no timão, Gregor estava interrogando os franceses.

– Pode falar. – Ethan disse para Joly.

– Você percebeu que ele não está bem.

– Ele vai melhorar. – Ethan disse como se tivesse certeza tal como um médico teria.

– Infecionou. – Joly disse olhando para Vince. – precisamos chegar em terra em no máximo dez dias ou a infecção vai passar pros órgãos, não vai ter como tratar. A perna está ficando ruim também, em dez dias vou saber com toda certeza do mundo, mas tenho quase certeza, vai ter que amputar.

– O que você quer dizer, dez dias?

– Ele quer dizer, garoto... – Vince olhou para o mar procurando uma palavra diferente para dizer o obvio. – Que Walltimore vai morrer, porque vamos passar um mês ou dois até chegarmos na costa.

– Algum navio pode aparecer e puxar...

– Todos navios que chegarem perto vão se distanciar para manter a linha primária de defesa, ninguém vai aparecer, no máximo galés mercantis.

– O que vai ser quando... – Ethan parou de falar, percebeu que ninguém queria responder.

***

Havia se passado mais nove dias quando Ethan estava pregando madeiras para tapar mais um buraco do casco, ele pregava madeiras, lavava pratos, entre outras tarefas, a menos tediosa era içar as velas.

Era começo de tarde, não passava de duas horas quando o a porta da cabine do capitão se abriu, Ethan olhou para a porta esperando que Joly ou Vince ou Gregor saíssem da lá, mas quem saiu foi o próprio Walltimore, vestido como capitão, mancando, ele deu a volta lentamente pela meia-nau e subiu as escadas até o timão, mandou que todos fossem pra meia-nau, em alguns poucos minutos todos estavam ali. Ethan foi até a frente ao lado de Dominik, os dois em silêncio assim como todo o resto, então Walltimore tossiu chamando a atenção.

– Tenho algumas coisas para falar. – Disse o Capitão. – Vince será o Capitão do Desgraça Holandesa, de hoje até sempre. Eu guiei esse navio dos mares do norte até a ponta da África. Vimos neve e sol, enfrentamos piratas e tantos outros inimigos que nem posso contar. E eu não imaginaria essas aventuras com uma tripulação mais valente e corajosa do que essa. Mas meu tempo como Capitão chegou ao fim. – Sua voz era de moribundo, seus olhos estavam cansados, e sua pele pálida. – Não vou ficar mentindo ou iludindo-me, eu agradeço tudo o que fizeram até agora, mas o Desgraça precisa que façam mais. Se eu não chegar até terra firme meu navio deve. Lembrem-se disso, ou volto para assombrar todos.

Disse sorrindo de forma tristonha, algumas risadas igualmente tristes saíram de poucas bocas naquela plateia de marujos.

– Agora voltem a seus afazeres, um jovem velho precisa descansar. – Walltimore passou pela escada e parou no meio do caminho. – Dominik, me ajude aqui.

Ethan passou por Dominik abrindo espaço para ele enquanto Walltimore apoiado em Dominik ia rumo a cabine novamente, quando Walltimore passou por Ethan ele sentiu o cheiro da infecção, da perna necrosando, o cheiro da morte chegando.

Minutos depois Dominik voltou, Ethan e ele se sentaram perto da proa enquanto Ethan limpava uma rede cheia de escamas.

– Ele vai morrer não é?

– Provavelmente. – Dominik respondeu. – Viveu mais que muitos.

– Eu não devia ter ido pra fragata, se tivesse fiado e protegido a popa agora estaria tudo bem.

Dominik olhou para Ethan reconhecendo que aquilo era apenas o reflexo da culpa que o garoto estava se auto infligindo.

– Matou tantos quanto pode, e os franceses fizeram o mesmo. – Dominik disse tentando consolar o garoto, a diferença de idade entre eles dava para Dominik um esclarecimento que Ethan não tinha. – Você ouviu o capitão, o Desgraça vai continuar, nós sempre estaremos aqui.

– Faz pouco tempo. Mas me sinto tão próximo dele, me sinto tão... Impotente.

– É porque ele lhe deu abrigo quando podia ter dito não. E porque você não pode fazer exatamente o mesmo.

Ethan olhou para Dominik, aquilo não era exatamente reconfortante, abaixou a cabeça e começou a esfregar os nós da rede novamente.

***

O Desgraça Holandesa estava parado com as duas únicas velas recolhidas e a ancora de proa e de popa soltas, todos os marujos estavam na meia-nau, menos Vince, Gregor e Joly.

Os três estavam na cabine do capitão desde o amanhecer arrumando as últimas coisas de Walltimore. Já tinha passado um mês e quatro dias.

Enfim a porta da cabine do capitão se abriu, Joly saiu na frente, cabeça baixa, roupas escuras, foi até o lugar onde ficava os botes para pescas, pequenos barcos feitos para serem resistentes. Pegou um arpão e bateu na parte inferior do casco, bateu, bateu, bateu, bateu... Enfim o casco furou. Foi para o outro lado do casco daquele barco e voltou a bater até abrir mais um buraco.

Então de dentro da cabine saíram Vince e Gregor, eles estavam carregando um corpo com um lençol branco por cima, foram até o bote que Joly havia furado e colocaram o corpo ali, puxaram o lençol e o rosto de Walltimore foi revelado, pálido como se fosse mármore branco, os olhos fechados e a pele limpa, uma armadura que tinha sido concertada onde antes um buraco existia graças a uma lamina francesa. Joly ajeitou o corpo de Walltimore com cuidado enquanto Vince e Gregor voltavam à cabine, e de lá traziam caixas cheias de arras de ouro e prata, conteúdo do cofre particular de John Walltimore.

Colocaram o metal pesado em volta do corpo enquanto Joly amarrava uma corda em volta do barco garantindo que o corpo não saísse de dentro da embarcação quando esta afundasse.

Todo o ritual levou uma hora, hora a qual todos ficaram em silêncio apenas olhando. Então finalmente Joly olhou para os marujos e fez que sim com a cabeça, se virou e saiu andando rumo a popa onde ficava as manivelas que desciam barcos de pesca. Gregor se abaixou perto do corpo de Walltimore e cochichou algo, então se retirou também para a popa, Vince fez o mesmo, olhou para a tripulação.

– Podem dizer adeus! – Disse em tom fúnebre indo para a popa.

Ethan observou marujo por marujo indo e voltando, enfim achou espaço para ir, foi até o barco e olhou para Walltimore, se o rosto estivesse um pouco mais corado poderia dizer que ele estava apenas dormindo, mas sua pele era fria e já estava dura.

Ele colocou a mão sobre a armadura de Walltimore e abriu um tímido sorriso.

– Obrigado por tudo que me proporcionou. Eu nunca vou me perdoar por não ter estado lá, mas para sempre estarei aqui... Toda vitória contra os franceses será em seu nome. Eu juro.

Então se distanciou assim como os outros, mais alguns poucos marujos foram lá, incluindo Dominik, quando todos tinham se despedido Joly e Vince desceram o barco de pesca, quando o casco furado bateu na água, a água salgada começou a brotar dentro do barco, o metal pesado empurrava o barco para baixo, o corpo tentava flutuar mais a corda amarrada em volta do barco não permitia o corpo flutuar, e em quinze minutos o barco já tinha desaparecido, afundado nas profundezas do Canal Inglês, ou do canal da Mancha.

Ethan olhou em volta indo para a cabine do capitão, ele ainda possuía uma tarefa para cumprir. Pegou na estante de livros o diário de bordo, foi para a mesa de escrita, então Joly entrou.

– Ei criança. – Joly se sentou no sofá próximo a mesa, Ethan olhou para ele. – Isso pode esperar.

– Acho que não tem muito o que esperar. – Nisso o navio deu um tranco, as velas tinham sido soltas, e ancoras recolhidas, estavam de volta rumo a terra.

– No meio dessas desgraças nem mesmo tivemos tempo, de, de lhe desejar um feliz aniversário.

– E não é necessário. – Ethan disse pegando tinta. – Vá para cozinha Joly, a tripulação precisa comer.

Joly olhou par Ethan vendo um lado do garoto que nunca tinha visto.

– O capitão antes de morrer me pediu que o deixasse ficar, que você merecia ficar, e ele estava certo.

– Ele sempre esteve não é mesmo! – Ethan disse quando Joly saiu fechando a porta.

“Hoje é o decimo primeiro dia de março de 1804, estamos a quinze dias de Plymouth, ou estaríamos a três dias se tivéssemos nossas velas. Mês passado completei dezesseis anos, e John Walltimore morreu ontem, provavelmente uma guerra vai ter início em breve, tudo por causa de uma tempestade, a mesma que já registrei aqui. O navio vai ficar pelo menos um ano ancorado sob reparos, vai sair caro e jogamos muito ouro fora. Não sei o que vai acontecer agora com esse navio ou sua tripulação, Vince Knill está no comando como Capitão, Gregor continua como timoneiro, precisam encontrar outro imediato. Hoje não é dia de festas ou risadas, hoje o Desgraça Holandesa finalmente provou de seu próprio nome. Um terrível desastre, o qual vamos superar, ou com o Desgraça se fortalecendo, ou com o Desgraça se desmantelando, não existe nenhuma outra opção”.


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Notas finais do capítulo

Espero que o mapa esteja "bom". usei imagens do google maps, então só considerem Plymouth no mapa, muitas cidades não existiam ou mudaram de nome com os anos. A bússola é para ajudar a entender quando eu cito que o barco virou para 200° graus com base norte, ou 80° graus com base norte.



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