Beatrice “Tris” Prior
Enquanto todos saiam da sala como se estivem tentando ganhar uma corrida, eu guardava meu material calmamente na mochila ignorando todos em minha volta.
–Ei, Tris. –Ouço a voz de Uriah vindo da porta da sala. –Está tudo ok?
–Claro, por que a pergunta? –Falo tentando parecer o mais relaxada possível.
–Você parece... distante.
–Ah, sim está tudo ok. –Digo forçando um sorriso.
–Tem certeza?
Faço que sim com a cabeça, mas na verdade relaxada seria a ultima coisa que eu estaria e tudo isso por causa daquele cara estúpido! Não sei por que ele me incomoda tanto, realmente não sei.
–Tris! –Ouço a voz de Uriah me chamar novamente me tirando de meus devaneios.
–Oi?
–Estou falando com você a meia-hora e você nem me deu atenção, tem certeza que não tem nada te incomodando? –Pergunta preocupado.
–São só umas coisinhas bobas, nada com que você tenha que se preocupar.–Minto, mas ele não se convence.
Ele para pra pensar um pouco e depois me olha com entusiasmo.
–Passa lá na minha casa hoje lá pras 16h00m, ok? –Diz com um sorriso estampado no rosto.
–Ok, mas por quê?
–Acabei de ter uma idéia que pode te animar e te fazer esquecer o quer que esteja te incomodando. –Diz e vai embora correndo.
Sorrio. Mesmo com esse cara me enchendo a paciência, ainda posso contar com meus amigos para me animarem.
***
O caminho para a casa do Uriah não é muito longo então não fazia mal ir a pé. Ele ainda não tinha me dito o que ele estava planejando para me animar e admito a curiosidade estava quase me consumindo.
Quando cheguei à casa do Uriah vi a última pessoa que eu gostaria de ver naquele momento: o idiota da minha escola, como se já não bastasse ter que ver ele lá ele ainda reparou minha presença enquanto colocava algumas caixas em uma caminhonete junto com o irmão do Uriah. Ele me olhou por alguns segundos e depois desviou o olhar como se eu fosse algum produto defeituoso que se ele olhasse por muito tempo se tornaria defeituoso também.
Depois que eles foram embora na mesma caminhonete que colocaram as caixas, me dirigi para entrada da casa, mas antes que eu tocasse a campainha reparei em uma caixa sobre o tapete em frente a porta. Abaixei-me e abri a caixa dando de cara com uma arma de paintball e um bilhete:
“Cara Pequena
Lembra que eu falei que ia te animar? Pois é promessa é divida! Então, nesse exato momento eu estou escondido em algum canto da minha casa com uma arma igualzinha a essa dentro da caixa. Ganha quem acertar o outro mais vezes e o perdedor vai ter que pagar a pizza!
Que a sorte esteja sempre a seu favor (Sim, eu sei que eu estou roubando isso daquele livro que você e a Chris gostam).
Te vejo daqui a alguns minutos.
Basilisco”
Seguro o riso. Sabia que ele ia inventar alguma coisa.
Coloco o bilhete do lado de uma mesinha que ficava do lado da porta junto com meu casaco e pego a arma entrando cuidadosamente na casa. Olho para todos os cantos procurando algum sinal dele, mas não vejo nada. Tento pensar como ele para que com sorte eu descubra, mas é impossível tentar descobrir o que se passa na cabeça de um louco como Uriah.
Eu estava quase subindo as escadas quando uma bola de tinta passa zunindo por mim atingindo a parede formando uma grande mancha rosa. Me jogo para trás do sofá e me levanto por um breve segundo para atirar nele, mas foi em vão já que ele se escondeu atrás de um armário.
–Espero que já tenha separado o dinheiro para pagar a pizza! –Ele gritou e eu pude notar o divertimento na sua voz.
–Nos seus sonhos, ladrão de frases de livros!
Ouço a risada dele e me levanto atirando mais uma vez contra ele, mas dessa vez acerto seu ombro. Infelizmente, Uriah deu a volta e atirou contra mim acertando meu braço. Nós ficamos atirando um no outro sem nem se preocupar em se esconder, mas sim, em acertar. Atiramos até que puxar o gatilho não fazia mais nada acontecer e depois olhamos para o estrago que fizemos: tudo ali incluindo nós dois estava coberto de tinta verde e rosa. Nós nos olhamos por dois segundos e sem nenhum motivo aparente começamos a rir feito doidos.
–Ok, acho que isso é um empate! –Ele diz parando de rir, mas sem tirar o sorriso do rosto.
–Concordo.
***
Depois do entregador de pizza ter chegado e ficado assustado com o fato de estarmos cobertos de tinta, nos sentamos no chão para não sujar o sofá – mais do que já estava- e começamos a falar sobre a escola, sobre o lance entre Will e Christina entre várias outras coisas.
–Basilisco, sua mãe não vai ficar brava com essa bagunça?
–Minha mãe está fora por uns dias, por isso meu irmão estava aqui mais cedo. Amanhã eu convenço ele a me ajudar a limpar isso tudo.
–Ah, ok então.
Enquanto Uriah saboreava outro pedaço da pizza eu me lembrei de quando eu cheguei ali e vi aquele ser desprezível indo embora e pensei: Que mal faria perguntar?
–Uriah, quem era aquele cara com seu irmão mais cedo?
–O Quatro?
–O nome dele é Quatro? –Pergunto espantada.
–Bom, não é o nome dele é só um apelido. Mas... Por que você quer saber?
–Curiosidade. –Respondo dando de ombros.
Ele me olhou com a sobrancelha arqueada.
–Jura? Só isso? –Disse com um tom de escárnio.
–Sim, só isso.
–Você minha cara é uma péssima mentirosa.
Suspiro e coloco meu pedaço de pizza em um prato que ele tinha trazido.
–Ok, lembra quando você me perguntou se tinha alguma coisa me incomodando?
Ele afirma com a cabeça.
–Pois é, você tinha razão eu estava mentindo.
–Eu sabia! –Disse levantando os braços pro alto em sinal de comemoração me fazendo rir. –Foi mal, continua.
–Hoje de manhã quando eu cheguei à escola eu esbarrei com esse cara e isso acabou resultando em um desentendimento entre mim que ele que está durando até agora.
–É por isso que vocês estavam se olhando daquele jeito?
Quando Uriah termina de falar em menos de um segundo sinto meu rosto corar.
–Sim, eu vi vocês dois se olhando no intervalo. –Disse com um sorriso novamente.
–Ah... É.
–Meu irmão me disse que o Quatro estava incomodado com uma garota que tinha discutido com ele, não fazia idéia de que era você.
–Ele ficou incomodado comigo? Sério isso? –Falo rudemente.
–O Quatro não gosta muito que desafiem ele.
–É, eu reparei. Mas sério que diabos de apelido é esse?
–Meu irmão me disse que ele conseguiu esse apelido atirando facas quando era mais novo.
–Atirando facas? É brincadeira né?
–Nope. Ele participou de um pequeno concurso quando tinha acho que 13 ou 14 anos. Ele era o mais novo ali, todos os outros caras tinham de 30 pra cima, mas mesmo assim ele conseguiu o quarto lugar numa competição que tinha mais de 20 caras então começaram a chamar ele de Quatro. –Diz dando de ombros. –Meu irmão também me disse que a mira dele melhorou dês daquela época.
–Melhorou? –Pergunto incrédula. –Quer dizer o que? Que ele não erra?
–Aham, nunca. –Diz dando de ombros, mas começando a rir logo em seguida enquanto eu ainda estou incrédula. –Calma, Tris! Ele não vai sair atirando em você!
–Vou tentar acreditar em você.
Ele começa a gargalhar pendendo a cabeça para trás.
Fechei meus olhos por um minuto ainda ouvindo a risada do Uriah e me concentrei nos momentos em que o Quatro olhou para mim, em todos pude ver a raiva no olhar dele, mas também vi dor. Quando olho para ele tenho certeza que já o vi em algum lugar, mas não me lembro de nenhum momento da minha vida que eu tenha conhecido ele. Ele me olha como se eu tivesse feito algo terrível para ele e duvido que tenha algo a ver com o fato que eu o desafiei, mas como eu posso ter feito algo pra ele sendo que nunca o conheci?