Espinhos, Veneno e Hogwarts escrita por Yukii


Capítulo 1
Prólogo




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O expresso de Hogwarts apitou uma última vez, antes que as portas bambeassem e fechassem em todos os vagões. O volume de fumaça expelida se intensificou, e os alunos se debruçavam aos montes nas janelas para acenar aos familiares. O trem começou a andar em um ritmo pesado e lento, e a massa de alunos se intensificou contra os vidros abertos.

 

Rose espiava por detrás de todas aquelas cabeças, imaginando se haveria um modo de se despedir mais uma vez de seus pais e segurar seu malão pesado, ao mesmo tempo, sem ser tragada por aquela multidão. Uma mão confortante pousou em seu ombro, e ela deu de cara com Albus, sorrindo inseguro.

 

- Que acha de tentarmos juntos? - disse ele, apontando as janelas abarrotadas de gente com um aceno de cabeça. Rose sorriu para o primo, e ambos largaram os malões em frente a um vagão qualquer, para em seguida correrem em meio a multidão de gente e tentar acenar para a família.

 

Apesar de ser um garoto, Albus Severus Potter era tão pequeno quanto sua prima, e foram inúteis contra toda aquela gente na janela. Alguém maior, porém, os empurrou com certa gentileza no meio da aglomeração, fazendo com que os dois conquistassem um pequeno espaço da janela.

 

- James! - exclamou Albus para o irmão, vendo-o empurrar. - O que está fazendo?

 

- Você podia tentar mostrar um pouco mais de gratidão, Al - comentou James com um ar leve. - Estou ajudando você e Rose. Ah, olhe lá, Rose está acenando, o que você está esperando?

 

Albus girou nos pés e, debruçando-se na janela cercado pelos braços erguidos que davam tchau, fez o mesmo, observando seus pais e tios retribuírem o aceno no meio da estação. Quando o trem ganhou velocidade, a multidão se dispersou rapidamente, e Albus se viu praticamente sozinho com a prima e o irmão no corredor do vagão.

 

- Onde vamos sentar? - questionou Rose, agarrando-se ao malão abarrotado de livros.

 

- Não faço ideia. Seria um bom começo procurarem um lugar por vocês mesmos - respondeu James.

 

- Mas...! - Alvo quis protestar, mas tinha medo de parecer idiota aos olhos do irmão mais velho.

 

- O quê? Você tem onze anos e tem medo de ficar sozinho num trem? - falou James com sarcasmo.

 

- Não! - protestou o Potter mais novo. - É só que... não sei, pensei que você nos levaria para a mesma cabine que você, ou algo assim.

 

O irmão fez uma careta.

 

- Não posso, Al, eu vou com o pessoal da minha turma. Você e Rose podem andar por aí, tenho certeza que encontrarão um vagão vazio, e, bem, se não encontrarem, será bom também, assim poderão fazer amizade com alguém. - James piscou para o irmão e a prima e saiu pelo corredor estreito.

 

- E agora? - disse Rose em tom preocupado.

 

- Bom, vamos procurar um vagão. - sugeriu Albus.

 

Os dois novatos caminharam na direção oposta que James fora, arrastando os malões com certo esforço. O malão de Rose estava ligeiramente mais pesado que o do primo, pelo fato de ela carregar vários livrões a mais do que os requisitados para os primeiranistas de Hogwarts; a Weasley herdara o amor pelos livros da mãe. A cada janela de cabine, Albus espiava, interessado, em busca de bancos desocupados. Os alunos pareciam se interessar pelos cabelos negros e olhos verdes de Albus, mas nenhum deles deu muita atenção para a garota de cabelos castanhos e lisos, ao que Rose se sentiu grata, já que ela mesma odiava chamar a atenção dos outros por algo que não fosse sua própria inteligência.

 

Depois de olhar várias cabines, e topar com todo tipo de alunos estranhos - incluindo Lorcan Scamander, filho de alguma amiga de seus pais, que se divertia em averiguar o estofado do trem à procura de zonzóbulos junto com Lysander, sua irmã gêmea -, Rose e Albus acabaram chegando em uma última cabine, aparentemente vazia.

 

- Olha, podemos ficar aqui - disse o Potter com alegria, empurrando a porta de correr sem olhar direito para o interior.

 

Esticando o pescoço, Rose viu algo que seu primo não vira. Um garoto da mesma idade que eles estava sentado displiscentemente em um canto de um dos bancos, apoiando o queixo pequeno com as mãos enquanto seus olhos espiavam a paisagem por debaixo dos cabelos louros e bagunçados que caíam no seu rosto. Ao ouvir o barulho da porta abrindo, lançou um olhar rápido para a entrada da cabine, e Rose teve a sensação engraçada de já ter visto aquele rosto.

 

- Ah - disse Albus sem jeito, vendo o desconhecido olhá-los com certa superioridade - Me desculpe, pensávamos que estava vago.

 

Os olhos cinzentos do garoto se demoraram nos dois que se viravam para ir embora, e ele disse, a voz um pouco incerta de si:

 

- Não tem problema. Vocês não vão achar outro vagão. Podem sentar aí.

 

Albus e Rose trocaram um olhar pensativo, mas decidiram aceitar a oferta do estranho. O Potter entrou primeiro, sorrindo em agradecimento e jogando o malão no bagageiro superior. Rose se demorou alguns segundos, lançando um olhar confuso para o garoto loiro, enquanto se perguntava porque a face dele lhe parecia levemente familiar.

 

- Rose, você não vem?

 

Ao chamado do primo, a Weasley atravessou a porta rapidamente, fechando-a atrás de si com certa dificuldade, graças ao malão pesado. Imitando o gesto de Albus, ela quis guardar seu malão no bagageiro superior, e o peso excessivo da mala resultou num estrondo um pouco mais alto que o normal. O garoto loiro olhou com curiosidade para a mala, como se perguntasse a si mesmo o que havia de tão pesado ali.

 

- Então... - começou Albus, sem jeito, enquanto a prima se sentava ao seu lado e escondia a cara atrás de um livro que puxara da mala - Qual é seu nome?

 

O outro garoto demorou alguns segundos, como se ponderasse se valia a pena responder. Ao fim, falou, com certo orgulho:

 

- Scorpius Malfoy. E você...?

 

- Albus Severus Potter.

 

- Potter - repetiu Scorpius baixinho, como se experimentasse a sonoridade do nome. Um pequeno vinco se formou na testa.

 

- O que você disse? - perguntou Albus, confuso.

 

- Severus... esse é o nome de um dos ex-diretores de Hogwarts, certo? - comentou Malfoy, como se não tivesse escutado a pergunta do colega.

 

Rose ergueu os olhos acima do livro para espiar.

 

- Ahn... era? Meu pai me disse algo assim hoje - murmurou Albus, pensativo.

 

- Sim, era, Al - adiantou-se Rose, abaixando o livro alguns centímetros.

 

Scorpius lançou um olhar questionador para a Weasley.

 

- Engraçado você saber disso. Quase ninguém se lembra de Severus Snape como diretor de Hogwarts. Eu sei disso porque ele era conhecido do meu pai. Você sabia disso?

 

Havia uma certa arrogância nas palavras do garoto loiro. Rose se sentiu um pouco ofendida, e escondeu a cara atrás do livro de novo, como se nada tivesse acontecido. Albus, que não reparara em nada, voltou-se para Malfoy:

 

- Você gosta de quadribol?

 

Os dois garotos começaram a discutir sobre o esporte, ambos interessados. Ainda escondida atrás de seu grosso volume de Magia Branca para Principiantes, Rose percebeu que o nome Malfoy não lhe soava estranho, e que tinha certeza de já o ter ouvido algumas vezes, em casa. Os Malfoy provavelmente deviam ser alguma família importante, assim como os Potter eram. A Weasley sentiu uma certa antipatia por Scorpius, talvez pelo jeito arrogante que ele usava para falar, ou talvez por ele saber algo que ela desconhecia e jogar isso na cara dela. Rose tinha um orgulho muito grande por seu intelecto, que fora alimentado desde muito cedo por sua mãe. Algumas vezes, seu pai chegava a fazer brincadeiras sobre isso, dizendo que tivera que impedir a esposa de enfiar livros no berço de Rose. A Weasley não estava acostumada a ter sua inteligência desprezada daquela maneira, e aquilo lhe deixou desconfortável.

 

- Em que Casa você quer ficar?

 

A pergunta de Scorpius despertou Rose de sua leitura, e ela abaixou o livro mais uma vez, olhando para o primo ao seu lado para ver a resposta que ele daria.

 

- Bem, eu não sei - disse Albus com simplicidade, encolhendo os ombros - Meu irmão é da Grifinória, e meus pais também foram de lá. Seria legal ir para lá. - ele fez uma careta, e acrescentou: - Mas eu não quero ir para a Sonserina.

 

Scorpius ergueu as sobrancelhas.

 

- Por quê? Eu quero ir para a Sonserina.

 

Os garotos fizeram um momento de silêncio, sem saber o que falar. Internamente, Rose torcia para que aquilo significasse um desentendimento, e então ela e Albus poderiam sair dali e deixar aquele garoto estranho sozinho; ela tinha a forte impressão de que não estava gostando nem um pouco dele.

 

- Meu irmão falou que a Sonserina era ruim - pronunciou-se Albus, rompendo o silêncio -, e que não era bom ir para lá.

 

- Seu irmão deve ser um bobo. - riu-se Scorpius com aspereza - Minha família inteira foi da Sonserina.

 

Rose abaixou o livro por cima das pernas, olhando diretamente para o Malfoy no outro banco.

 

- James não é um bobo - protestou ela. - Ele é mais velho que nós, sabe o que diz.

 

- O fato de ser mais velho não o faz mais inteligente que eu - disse calmamente Scorpius, em resposta.

 

A Weasley sentiu uma pequena raiva dentro de si.

 

- Eu tenho certeza que James sabe mais do que você. Ele disse que me ensinaria um feitiço Patrono no próximo verão. Você não deve saber fazer um patrono, não é?

 

Scorpius deu um sorriso sarcástico.

 

- Eu não sei, mas eu sei de muitas outras coisas mais poderosas.

 

Com essa nota enigmática, o Malfoy se calou, virando-se para a porta em busca do carrinho de lanches. Rose se admirou com a raiva que sentia, e murmurou em sua cabeça o quanto aquele garoto era idiota, enquanto ainda tentava se lembrar de onde conhecia o rosto dele.

 

Albus lançou um olhar levemente assustado para a prima.

 

- Desde quando você se irrita dessa maneira, Rose?

 

A Weasley olhou-o com preocupação.

 

- Dá para ver isso na minha cara?

 

- Dá.

 

- Foi culpa daquele garoto. Ele ficou me irritando.

 

- Não diga isso, Scorpius é legal.

 

Rose estava prestes a dar uma resposta indignada, quando Scorpius voltou para a cabine, carregando alguns doces nas mãos e enfiando os excedentes nos bolsos. A menina escondeu o rosto detrás do livro novamente, e Malfoy se sentou no mesmo lugar de antes, oferecendo um sapo de chocolate para Albus.

 

- Você não está com fome, Rose? - quis saber o Potter, virando-se para a prima. - Se você quiser, posso ir no corredor comprar um desses para você.

 

- Não, obrigada.

 

Malfoy observou o diálogo em silêncio. Depois, perguntou, no mesmo tom morto de sempre:

 

- Ela é sua irmã?

 

- Não - respondeu Albus, fazendo uma careta para o cartão de Cornelio Fudge. - Minha prima. Rose Weasley.

 

Rose lançou um olhar um pouco indignado para o primo, como se não admitisse ter o nome divulgado para estranhos.

 


- Ah. - foi tudo o que Scorpius disse em resposta.

 

 

O resto da tarde passou de uma forma lenta e comum. Rose voltou a ler seu livro, murmurando baixinho as fórmulas de magia branca, enquanto seus dedos ardiam de vontade de pegar a varinha e testar os feitiços. Ao seu lado, Albus conversava com o novo amigo de cabelos louros, sobre quadribol, cartas de sapos de chocolate e Hogwarts. Em alguns momentos, Scorpius lançava um olhar confuso para Rose, como se estivesse pensando porque ela era tão quieta, e preferia aquele livro sem graça a qualquer outra coisa dentro da cabine.

 

 

O trem parou com suavidade, e o barulho da fumaça sendo eliminada ressoava com força. Rose espiou pela janela de Albus, e surpreendeu-se ao ver que estava escuro.

 

 

- Al, nós chegamos? - questionou ela para o primo, hesitante.

 

 

- Sim, acho que sim - respondeu Albus, sorrindo de prazer ao ver a silhueta de um imenso castelo. - Vamos.

 

 

Rose puxou a mala pesada rapidamente, e atochou o livro ali dentro sem muito cuidado. Quando ela se virou para a entrada da cabine, Scorpius e Albus já estavam prontos e seguravam os malões.

 

 

Os três novatos caminharam aos empurrões pelo corredor apertado do trem, segurando-se nos malões para não serem derrubados pelos mais velhos. Na hora de descer do trem, Albus estendeu a mão para Rose, para que ela não caísse. Ela agarrou a mão do primo e, ao descer, quase tropeçou nas barras do uniforme negro.

 

 

Alguns passos a frente, barcos flutuavam na água. Eram pequenos; segundo o guarda-caça que gritava para os primeiranistas, apenas três alunos poderiam ir por barco.

 

 

Albus entrou primeiro, ansioso e nervoso. Rose sentou-se ao lado do primo, olhando para a imensa sombra do castelo ao longe e sentindo uma animação que nunca sentira na vida. As milhares de janelas emitiam um calor convidativo, piscando na noite. Sua visão foi parcialmente bloqueada quando Scorpius sentou-se no lugar restante à frente dela.

 

 

- Vamos - ela ouviu Albus dizer baixinho ao seu lado. - Vamos para Hogwarts.


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