Colégio Interno – O regresso! escrita por Híbrida


Capítulo 15
|SPIN OFF| Natale a Venecia


Notas iniciais do capítulo

Desejo a cada uma de vocês um ano de 2017 incrível. Vocês me fizeram sentir uma escritora de verdade e acreditar no meu talento pela primeira vez. Sou extremamente grata a isso.
Há um tempo, tenho deixado vocês na mão. Sou péssima com datas e, como qualquer escritora com algum transtorninho, tenho bloqueios.
Quis escrever esse conto fora de hora pra fim de ano com os meus personagens favoritos.
Obrigada a todos!



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Não deu pra voltarmos pra casa no Winter Break, e aquilo havia matado a mamãe e tia Pomme-mãe. Mas, em compensação, mozão e meus melhores amigos estavam muito felizes de podermos comemorar todos juntos o natal e ano novo.

Nunca, em toda minha vida, eu havia passado um natal ou ano novo fora do Brasil. Lá em casa a gente tinha essas tradições bestas de passar ano novo na praia, e geralmente a gente ia pra Trancoso ou Noronha, e o natal era passado religiosamente na casa da vovó. Mas lá estava eu, em Veneza, com Gabriel, Bruna, Bernardo e toda a enorme trupe.

— Mas que frio da gota serena! – gritou Rodrigo, em português mesmo, em frente ao canal de Veneza – Será que a gente pode, pelo amor do Senhor Jesus Cristo, ir pro hotel comemorar o aniversário dele todo mundo enrolado quentinho num cobertor térmico?!

— Será que dá pra parar de reclamar e aproveitar essa vista?! – gritou Nicholas, que sacou uma câmera muito sensacional da bolsinha chumbrega que ele trouxe e começou a fotografar tudo que via pela frente – Caralho, olha esse lugar!

— Quem diria que a pessoa com mais cara de Grinch seria o turistão do fim do ano, né? – riu Thi, me abraçando de lado – Se bem que ele é o próprio Jack, o rei da Abóbora.

Nicholas o imitou, fazendo caras e bocas exageradas, e logo parou de fotografar pra podermos entrar nos táxis – visto que um só não nos acomodou – e podermos finalmente rumar ao hotel.

Não é como se a verba estivesse sobrando depois do que foram as férias de verão em Lefkada – ou Humuhumunukunukuapua’a, como definia Rodrigo – nos hotéis paradisíacos e bancando o Rafael e o Nick, que não tinham tanta grana, mas a gente se ajeitou pra fazer a melhor viagem possível no ano novo, pra não ficar preso ao internato como os pobres coitados que a família não quer em casa nem nesse período. Estávamos hospedados num hotelzinho mais barato que achamos no Trivago mesmo, e é isso aí. Os quartos foram divididos por casais, e dois pros remanescentes. Nick, Thiago, Gustavo, Rafa, Rodrigo, Bernardo e Chris – cuja irmã voltou pra casa, mas ele quis ir passar as férias com a gente – se espremiam em quartos para três pessoas cada, que é o que encontramos naquele hotel.

— Que bom que seu ex cunhado não quis filar nossa boia, né? – disse Rafa, colocando os bracinhos sobre os ombros de Gabes enquanto fazíamos check-in.

— Diz a pessoa que sai com a gente pra comemorar os recessos pela segunda vez consecutiva sem pagar nem mesmo a água que toma – resmungou Bruna.

— Ah, ela tá assim por que virou amiguinha do Renato – retrucou Nick – Não fala assim com ele, não, que sem Rafael, uma galera daqui não tinha nem passado de ano.

— Ai que bonito, o casal se defende.

— Será que uma vez na vida vocês podem NÃO BRIGAR?! – gritou Ivan – O natal é uma época sagrada, meu Deus do céu!

— Não sabia que você era cristão.

— Mas como não crer e simpatizar com alguém que transforma água em vinho?!

Ivan não deixa, jamais, de honrar suas origens russas.

Subimos pros quartos e nos enfiamos todos no mesmo quarto: o maior. Ivan tinha escolhido uma suíte quase presidencial pra ele e Chloe. Ninguém tava dando nada por essa relação, mas de repente o cara se tornou um gentleman. Ela terminou com o Rodrigo depois do que rolou na nossa festinha e eles estavam juntos e se amando, e muito bem, obrigado, desde então. E ele, de repente, era o melhor namorado de todos, o que fazia com que Gabriel, Henrique, Lucas e principalmente Rodrigo, cujo bafafá foi grande quando terminou com Chloe agora o odiassem.

— Quando foi que ele virou o príncipe de Anastácia, hein?! – resmungou Thi, baixinho – Não tô gostando disso. Eu gostava de ser o Eric.

— Você é o Thiago. E isso é o suficiente.

Ele sorriu e me beijou a cabeça. Fomos pro quarto e nos acomodamos todos juntos na cama. Porque não é que tava um pouquinho frio: estava 7 graus. Ao meio dia. No natal, pra quem tá acostumado com um sol maravilhoso e as águas claras de Itanhaém, onde a vovó mora.

— Sinto falta de casa – choraminguei.

— Eu também. Natal sem grau negativo não é natal.

— Cala a boca, abominável russo das neves – grunhiu Rodrigo – Você só destrói relações.

— Vocês estão com inveja – vangloriou-se Chloe.

— SIM! – gritou Gabriel, como se fosse óbvio – Eu era o melhor namorado do mundo até então.

— Tudo bem, pra mim, ele vai ser sempre a outra – afirmou Rodrigo, sorrindo – Nem ligo pro que ele fez com a Chloe enquanto namorávamos.

— Mas você chorou um mês com isso – soltou Chris.

— Calado.

— A Amanda foi lá no quarto ver Um amor pra recordar com você pra você parar de...

— CALADO.

Chris deu os ombros. Rodrigo corou e abaixou a cabeça, envergonhado com a situação toda. Quer dizer, ele gostava mesmo da Chloe e foi super do nada que ela começou essa relação perfeita com Ivan.

Ele, então, tirou a árvore de natal da bolsa e começou a montá-la.

— Isso tava aí o tempo todo? – perguntou Nick.

— Aham. Trouxe de casa.

— Isso é um pinheirinho de verdade?

— Aham. Trouxe de casa – repetiu.

— Você é a coisinha mais graciosa e inacreditável desse planeta.

Abracei a cabeça dele, que riu e virou de cabeça pra baixo uma caixa de sapatos cheirando a naftalina e abarrotada dos mais diversos enfeites de natal. Até uma rena que mais parecia uma vaca malhada, feita com casca de noz.

— Que é isso?

— Eu que fiz – respondeu, orgulhoso, montando seu pinheirinho – Me ajuda com a decoração?

E tinha como dizer não?

Terminamos com muito esforço de enfeitar a arvorezinha que ele trouxe, e colocamos os pisca-piscas. Depois de decorar da maneira mais singela que encontramos, era hora de pensar nas comemorações.

— Que a gente vai fazer? – perguntei, entediada.

— Comer no quarto e dormir cedo.

— Isso não é nada natalino – resmungou Ivan – A gente pode jantar no hotel e depois conhecer a cidade.

— No meio da nevasca?! – grunhiu Lucas – Meu querido, eu nasci num país tropical! Eu não posso simplesmente sair no meio do espetáculo da Elsa!

— Deixa de ser bunda mole! – gritou Bruna – Nós vamos conhecer a cidade no meio da nevasca sim! E se reclamar eu te taco naquele riozinho!

— NÃO CHAMA DE RIOZINHO! – gritou Ivan.

— A gente pode não brigar no aniversário do menino Jesus?

— Ele não era mais um menino quando morreu.

Deram os ombros e voltamos a planejar nosso natal. Jantaríamos no restaurante do hotel à meia noite, depois da nossa maratona de filmes de natal. Nos reunimos num só montinho na cama, após ligarmos o aquecedor barulhento no máximo, e nos enrolamos nas cobertas.

Muitos de nós dormiram por causa da viagem. Não era longe, o caminho de Genebra até Veneza. 36 minutos no ar, pra ser exata. É tipo viajar do Rio pra São Paulo, ou vice-versa. Mas, como qualquer viagem aérea, é sofrida de cansativa. Quando olhei no relógio, já era 21h30. Me levantei, então, pra tomar banho.

— Onde cê vai? – sussurrou Thi, me segurando.

— Vou me arrumar – sussurrei de volta, beijando sua bochecha – Eu demoro a beça.

Ele riu e assentiu. Levantei, fui pro meu quarto com Gabriel e comecei a saga que seria minha arrumação. Tomei o banho mais quente que foi possível tomar, me encapotei com todas as 100 camadas de roupas que trouxe na mala, ficando parecendo o Joey naquele episódio de Friends em que ele veste todas as roupas do Chandler, e, com muito esforço, devido à falta de mobilidade nos braços, me maquiei. Logo, fui pro quarto de volta, acordar todo mundo.

— A gente ainda tem que fazer o amigo secreto! – berrei, subindo na cama de galocha mesmo – Vamos acordando, todos vocês, bundas moles!

— Ninguém comprou presente pra ninguém aqui não – resmungou Rodrigo, se enfiando entre os cobertores.

— Eu comprei.

E então eu percebi que eu continuava sensível a beça e já estava querendo chorar por ninguém ter comprado presentes. Então simplesmente calei a boca e fiquei do lado da árvore, quietinha, jogando meus presentes pra cada um deles ali. Deitei no chão em meio aos meus presentes e Lucas se levantou, sentando-se do meu lado.

— Te comprei um negócio.

— Sério?

— Aham.- e me entregou um saquinho muito bem embrulhado – O pessoal é meio Grinch,né?

Dei os ombros, entregando o presente dele. Quando abri o meu, quase caí pra trás. Era um desses relicários super bonitinhos, com uma foto de todos nós dentro. Aquilo era uma das coisas mais bonitinhas que eu já havia ganho em toda a vida. Soltei um gritinho e o abracei.

— Você é o melhor cunhado do mundo!

— DEUS TÁ VENDO! – gritou Thiago, me jogando um travesseiro – Ingrata.

Dei os ombros. Nem ele havia me dado um presente, e aquilo havia me deixado profundamente magoada. Coloquei no pescoço e entreguei a Lucas o que havia feito pra ele: um livro de recordações.

Na verdade, meio que foi o que eu fiz pra todo mundo. Deu um trabalho desgraçado e saiu uma fortuna. Peguei os melhores momentos do ano, reuni num livro que eu mesma fiz página por página no computador, mandei imprimir e encadernar e voilá: um álbum de fotos maravilhoso, pra cada um deles, com material especial pra cada um. E o que eu ganho da maioria? Isso mesmo. Uma banana.

— 23h20. Será que a gente pode descer pra jantar, pelo menos?

— Vamos, pequena draguinha. Vamos.

Rafael levantou e começou a tirar a roupa ali mesmo. Era terrível, o que a intimidade havia feito conosco. Todos nós já havíamos nos visto nus pelo menos uma vez na vida, e isso havia simplesmente perdido qualquer efeito um sobre o outro, exceto, é claro, sob os casais. Na verdade, desde a primeira semana de convivência, onde vi Lucas completamente nu, eu havia perdido totalmente aquele lance com nudez que qualquer pessoa normal e sã teria.

Todos se trocaram e as meninas começaram a se maquiar. Aí já se foram mais 30 minutos. Eu e Lucas, a única pessoa minimamente natalina naquele ambiente, estávamos jogados ao lado da árvore assistindo Operação Presente.

23h50.

— Eu não acredito que nós vamos comemorar o natal com vocês no quarto terminando de se vestir.

— Não se esqueça do Gustavo. Ele tá cagando tem meia hora – respondeu Rodrigo, na maior naturalidade, enquanto amarrava suas pulseirinhas hippies no braço.

— Vai se foder! – gritou Gustavo, do banheiro. Eu realmente não me lembro quando ele entrou ali.

23h55 todos estavam prontos.

Descemos correndo, visto que esquecemos do pequeno detalhe de reservar uma mesa pra quase 20 adolescentes, na noite de natal, do hotel mais barato que o trivago pôde encontrar.

Quando chegamos ao saguão, eu já comecei a ouvir aquela música.

Hey There, Delilah era minha música favorita desde 2005, quando a ouvi pela primeira vez. Ou seja, há 11 anos ela me fazia uma pessoa mais feliz. Já estranhei aquela misteriosa coincidência enquanto chegávamos ao restaurante do hotel.

— Que tá havendo? – perguntei baixinho ao meu cúmplice natalino.

— Eu sei. Música velha a beça, né?

— Como você pode chamar uma música de 10 anos atrás de velha, Lucas? Velho é Beatles.

Ele riu, dando os ombros. Saí na frente de todo mundo, porque agora estava com raiva de todos igualmente.

Tamanha foi minha surpresa ao me deparar com o restaurante vazio.

Sem nenhuma pessoa que não os garçons devidamente uniformizados com seus ternos e gravatinhas-borboleta e cabelos cheios de gel. De resto, o salão, todo decorado pro natal, cuja pista contava até com um globo que piscava só em vermelho, dourado e verde, estava deserto.

— Que é isso? – sussurrei, chegando ali.

— É o nosso natal – sussurrou Gabriel, me abraçando por trás e colocando, com dificuldade devido à altura, a cabeça no meu ombro – Cê acha que a gente não sabe sua coisa com o natal? Ninguém tinha muito dinheiro pra comprar presente mesmo, e a gente tá até meio sem graça com o que você fez. Mas nosso presente pra você foi um natal inesquecível.

— Veneza é porque é Itália – começou a explicar, orgulhoso, Ivan – Massa. Aproxima as pessoas. Comida boa e quentinha e essas tradições bonitinhas de todo mundo comemorar o natal junto. Típica família italiana tem que ter esse natal caloroso que bem combina com você.

— Mas muito se engana se acha que esse presente é só seu, viu, umbigo do mundo – caçoou Bruna – É um presente de todos nós pra todos nós. Mas, pra louca do natal e a Monica Geller, foi surpresa.

— É que cê é meio chata e ia querer cuidar de tudo – riu Nicholas – Feliz natal, coisinha.

E eu comecei a chorar.

Toda a maquiagem elaborada que eu havia feito estava derretendo sobre minha cara. Coloquei as mãos sobre o rosto na tentativa insana de conter o choro todo, mas aí o Gabriel segurou uma delas e se ajoelhou.

— Que merda cê tá fazendo agora? Quer me matar? – sussurrei, aos soluços.

— Agora é o meu presente.

— Que presente, cabeçudo?

— Gabrielzinho armou esse natal todo pra você e pra gente, mas quis te dar um presentinho extra – cantarolou Desirèe.

Delicadamente, ele tirou uma caixinha do bolso e colocou um anel no meu dedo. Eu tremia que nem vara verde quando aproximei o anel pra olhá-lo melhor, com dificuldade por causa das luzes.

Jalan Atthirari Anni. Aquele homem era inacreditável.

Gabriel havia comprado uma aliança cuja escrita em volta referenciava nossa série favorita, Game of Thrones. Era a homenagem mais linda que alguém já havia me feito.

— Quer ser minha noiva? – sussurrou – Fica tranquila, a gente não vai casar amanhã mesmo, não. Mas é que Veneza, sua época favorita do ano e todo mundo reunido não podia ser uma época melhor pra te pedir em...

— Se quiser, a gente casa agorinha.

Ajoelhei ao seu lado e a gente se beijou.

Ali, com todo mundo assistindo, eu tive certeza: ele era meu sol e estrelas.

 


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