A Inútil Capacidade de Ser Indiferente escrita por Fabrício Fonseca


Capítulo 9
Oito




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–Meu Deus, você é tão dramática! – Thomás diz rindo ao meu lado. – Acho que estou ficando apaixonado.

–Me desculpe se sou sexy demais para você. – Brinco.

–Bom, poderia fazer outro comentário sobre o que você acabou de me dizer, mas acho que não quer falar sobre isso... Então, o que vamos fazer agora?

Thomás está certo, eu não quero conversar sobre isso, eu nem mesmo sei como tive coragem para me abrir com ele. Acho que ele está passando sua loucura para mim.

–Entrar no cinema sem pagar... – Começo a falar, mas Thomás me interrompe.

–E assistir á um filme inteiro. – Ele completa sorrindo.

Sorrio para ele enquanto me levanto e começo a andar em direção ao cinema. Thomás se levanta e me segue.

Não temos um cinema “de verdade” em Montana. Na verdade é um galpão que foi reformado e colocado uma dessas lonas brancas usadas em cinema – na verdade nem acho que seja igual à de um cinema de verdade. O lugar foi aberto e reformado por um senhor chamado Fausto Santos que, como todos sabem, sempre foi apaixonado pelo cinema. E por não ser um cinema de verdade só podemos ver filmes que já foram lançados em DVD; mas eu não me importo muito com isso, até porque prefiro passar o meu tempo escrevendo ou lendo, não gosto muito de ficar sentada por muito tempo assistindo á um filme.

–Tem alguma ideia de como vamos entrar sem ser vistos? – Thomás pergunta ao pararmos na esquina do galpão.

–Achei que você fosse o estrategista e que eu só desse as ideais – digo sorrindo.

Ele revira os olhos e então se abaixa procurando por algo no chão; alguns segundos depois ele anda alguns passos e pega uma pedra do tamanho de um telefone celular grande.

–Você põe em prática o plano – ele diz me entregando a pedra e andando em direção ao galpão.

Na entrada há uma cartolina escrito que horas começa cada sessão e qual os filmes do dia. A primeira sessão começou ás 12h30 com o filme “Um Geek Encantador”; agora já é uma e dez da tarde então já perdemos o inicio do filme – o que parece deixar Thomás um pouco chateado já que ele queria assistir todo o filme.

–O que eu devo fazer exatamente com essa pedra? – Pergunto ainda parada um pouco longe da entrada.

Ele anda “furtivamente” até a entrada do galpão, olha por alguns segundos e então volta.

–É o seguinte: tem um quadro no fundo da sala que é a entrada – ele começa. – Você vai jogar a pedra no quadro e quando o homem que está lá for olhar o quadro nós entramos como se fossemos ninjas.

Penso em dizer algo como chamá-lo de louco, mas me lembro que já disse isso e ele meio que concordou comigo, então só ando ao seu lado indo para a entrada do galpão. No fundo da sala, na parede onde está o quadro – é uma pintura de uma praia em um dia nublado – há um homem alto com a cabeça raspada mexendo no celular.

Levanto o braço me preparando para jogar a pedra.

–Acho que essa ideia da pedra não foi boa... – Thomás diz no mesmo momento que lanço meu braço para frente e jogo a pedra.

–O quê? – Digo olhando para ele e rapidamente voltando a olhar para frente.

A pedra acerta a cabeça do homem e ele deixa o telefone cair no chão. No mesmo momento Thomás segura minha mão e corre para dentro do galpão. Vamos para a entrada da sala do cinema que fica do lado oposto do homem careca que nesse momento está abaixado pegando o celular do chão e esfregando a cabeça freneticamente.

–Será que ele ficou machucado? – Pergunto enquanto andamos pelo curto corredor sem conseguir esconder a preocupação na voz.

–Acho que sim – Thomás para e se vira para mim. Lágrimas saem dos seus olhos e ele está se segurando para não soltar uma risada alta.

–Para de rir e vamos entrar logo! – Seguro em sua mão e o puxo para dentro da sala.

O lugar está quase cheio, mas há alguns lugares vagos no meio, nos apressamos para nos sentar e ficamos assistindo ao filme. No telão um garoto alto de pele branca e cabelos negros entra em sua casa todo molhado e um cachorro enorme corre em sua direção.

Assistimos todo o filme que na verdade não é ruim; é um desses romances clichês sobre dois adolescentes que inicialmente não têm nada em comum, mas logo se dão superbem e iniciam um namoro. O grande problema é que, por ser um romance – eu acho – o filme faz com que eu fique o tempo todo pensando em Diego.

Idiota, me xingo em pensamento.

Quando o filme acaba todos se levantam e vão andando em direção a saída; eu e Thomás esperamos que a pequena multidão esvazie o corredor para depois sairmos.

Tomo um susto ao ver que do lado de fora o homem careca está conversando com o dono do cinema e com dois policiais. Agora é oficial, penso imediatamente, sou uma criminosa.

–Continue andando normalmente – Thomás sussurra sem olhar para mim.

–Você não deveria ter dito isso – sussurro de volta porque inevitavelmente começo a andar diferente, com as costas curvadas e com passos mais rápidos.

Começo a sentir alivio quando estamos quase do lado de fora quando ouço uma voz masculina dizer:

–Ei vocês dois – me viro rapidamente e vejo que foi o homem careca que falou. – Vocês não compraram a entrada comigo, como... Foram vocês que jogaram aquela pedra em mim.

SEBO NAS CANELAS! – Thomás grita enquanto começa a correr e me puxa junto com ele.

Corro o mais rápido que posso e ainda assim não consigo passar de Thomás – acho que ele está mais assustado que eu, o que seria estranho. Olho para trás e vejo os policiais vindo logo atrás de nós.

–Por aqui! – Thomás grita virando a esquina e parando próximo á uma árvore e tirando o casaco cinza que está usando e então me entregando. – Vesti. Rápido!

Pego o casaco e o visto rapidamente, Thomás joga meu corpo contra a árvore e então vem para cima de mim...

E me beija.

Tipo não um selinho, ou um beijo técnico, mas sim um beijo de verdade: com muita língua e saliva.

Com os olhos ainda abertos olho por cima do ombro dele e vejo os policiais virando a esquina e continuando correndo sem nem olhar para nós.

–Eles já foram? – Thomás pergunta ofegante depois que para de me beijar.

–Sim! – Digo rispidamente. – Você realmente precisava me beijar?

–Era isso ou ir para casa sendo escoltada por policiais.

–Mas precisava ser um beijo de língua?

Ele olha para mim sorrindo.

–Não seria eu se não tirasse uma casquinha.

–Tarado! – Digo começando a rir e dando um soco no braço dele.

Pego o celular em meu bolso e vejo que tenho 13 ligações perdidas de Eliza.

–Acho melhor eu ir embora – digo ainda sorrindo. – Nos falamos mais tarde.

–Nos veremos hoje á noite?

–Acho que sim, tenho um plano.

Tiro o casaco e entrego á ele e logo depois vou embora correndo para casa.


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