A Inútil Capacidade de Ser Indiferente escrita por Fabrício Fonseca


Capítulo 10
Nove




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Eliza meio que ficou chateada por eu ter saído de casa logo cedo e ficado até às duas da tarde com Thomás “zanzando na rua” – como ela mesmo disse porque quando me perguntou o que estávamos fazendo eu disse simplesmente que ficamos andando pela cidade, nunca que eu contaria o que nós dois estamos fazendo durante os nossos “encontros”.

Então, ela me fez sentar á mesa da cozinha e almoçar – mesmo dizendo repetidamente que não estava com fome – enquanto me contava sobre o seu dia.

Eliza ama ser dona de casa, talvez você possa pensar que ela vive sobre a pressão do machismo e por isso não procura um emprego, mas meu pai sempre disse que nunca se importaria se ela fosse trabalhar, que pagaria sem problemas uma empregada porque ele recebe bem sendo advogado de um microempresa de contabilidade e que isso seria só mais uma despesa. Mas Eliza diz que seu sonho sempre fora ser dona de casa. Eu não á julgo mesmo que para mim eu imagine um futuro diferente; acho que isso é questão de cada um, de seus desejos próprios, até porque a mãe de Eliza era médica então não se pode dizer que ela tenha aprendido á ser assim dentro de casa. Eu á respeito por viver seu sonho mesmo que nos dias de hoje muitos na sociedade julguem mal esse sonho.

Depois de almoçar fiquei um tempo dentro do meu quarto lendo, peguei “Como Viver Eternamente” na biblioteca da escola e estou amando, foi Diego que me indicou esse livro, ele simplesmente ama ler e disse que eu seria insensível se não derramasse pelo menos uma lágrima durante a leitura desse livro. Bem, estou no meio do livro e ainda não me emocionei o suficiente para chorar apesar de estar gostando.

Decido parar um pouco para “descansar os olhos” – como diz o meu pai depois que passa muito tempo lendo o jornal – e pego meu telefone e vejo que há uma mensagem de Thomás.

Estou suficientemente curioso,

diga á que horas e em que

lugar devemos nos encontrar.

Sorrio ao ler a mensagem e simplesmente repondo:

Ás 19 no lugar de sempre.

Assim que envio a mensagem Eliza bate na porta do meu quarto e entra logo em seguida.

–Você está ocupada? Posso conversar com você? – Ela diz em um tom sério o que me deixa preocupada.

–Claro... Aconteceu alguma coisa? – Digo me sentando na cama com o corpo ereto, ela caminha até a minha cama e se senta ao meu lado.

–Sim, eu conversei com seu pai e ele achou que tudo bem se eu contasse para você...

–Oh, meu Deus... Por favor não diga que vocês estão se separando. – Digo e fico assustada porque sei o quanto meu pai ama Eliza e ele ficaria arrasado se ela quisesse se separar dele.

–Não, não é nada disso – ela diz rindo. – Vou ser rápida, Laura... Eu e seu pai estamos grávidos... Quer dizer eu estou grávida, mas como ele é o pai, ele também está...

–Meu Deus! Eu não acredito – digo indo em sua direção e á abraçando. – Eu vou mesmo ter um irmãozinho? – Começo a rir alto enquanto á abraço porque fico realmente feliz em saber do bebê.

–Está tudo bem para você que eu esteja grávida do seu pai? – Ela diz surpresa.

–Se está tudo bem? Está tudo ótimo, você não imagina o quanto fico feliz por isso.

Paro de abraçá-la e olho para ela e vejo que começou á chorar.

–Eu achei que você não fosse gostar da ideia de não ser mais filha única – ela diz rindo em meio a lagrimas.

–Como eu poderia não gostar? – Começo a rir. – De quantos meses você está? Já sabe o sexo do bebê?

–Dois meses, e ainda não...

–Espero que seja um menino, eu amaria ter um irmãozinho – digo á interrompendo.

Eliza começa a chorar novamente e me abraça.

Ela então me solta e se levanta de repente secando o rosto com os dedos.

–Vou ligar para o seu pai, não posso esperar ele chegar para contar o que você achou. – Ela sai do meu quarto correndo.

Começo a rir sozinha no meu quarto. Um bebê... dá pra acreditar? Eu vou ter um irmãozinho.

Meu pai ainda não chegou em casa quando saio para me encontrar com Thomás; Eliza ficou no telefone conversando com sua família e contando sobre a gravidez, parece que ela e meu pai estavam esperando me contar a noticia para depois dizer para os familiares. Isso faz com que eu me sinta um pouco mais feliz já que não fui a última á ficar sabendo.

Chego á praça e não encontro com Thomás, o que é estranho já que ele parece ser o tipo de pessoa que não se atrasa. Caminho em direção ao banco que nos sentamos de manhã e quando passo perto de uma árvore ele sai de trás dela rapidamente e faz com que eu me assuste.

–Estava ficando cansado de esperar – ele diz naturalmente como se assustar pessoas fosse a coisa mais normal do mundo.

Ofegando, caminho em direção ao banco com a mão sobre o peito.

–Você quase me mata! – Digo ao me sentar, ele começa a rir da minha cara.

–Seu dramatismo me seduz – diz e eu não consigo me segurar e acabo rindo também.

Paramos por um momento enquanto tento acalmar minha respiração.

–Pronto, diz logo o que quer fazer porque estou me corroendo de curiosidade! – Ele se senta sobre a perna e olha diretamente para o meu rosto. – Não me diz que você me trouxe aqui de noite para termos um encontro?

–O dia que eu armar um plano para ter um encontro com alguém sem que essa pessoa saiba, peço que me matem – digo rindo. – O plano é o seguinte: jogar pedrinhas no lago.

–Você não teve infância, não? – Thomás pergunta surpreso.

–Tive, só nunca perdi meu tempo jogando pedras em um lago.

–E claro, vai me fazer perder meu tempo jogando agora.

–Como se você fosse fazer alguma coisa especial agora.

Ele para por um momento como se estivesse pensando e então diz:

–É, você está certa. – Ele se levanta e me puxa. – Não acredito que vamos fazer isso – diz e começamos a rir.

A gente catou algumas pedrinhas no caminho – com o Thomás sempre reclamando (em tom de brincadeira) sobre não ser mais criança para ficar fazendo isso.

–Pronta? – Ele pergunta, eu assinto com a cabeça. – Pra fazer a pedra quicar basta jogar de lado assim... – ele lança a pedra e ela quica três vezes antes de afundar.

Tudo bem, penso segurando a pedra com firmeza, isso é fácil. Jogo a pedra, mas ela simplesmente afunda sem quicar nenhuma vez. Thomás começa a rir da minha expressão, mas eu o ignoro e jogo outra pedra que vai um pouco mais longe e acaba afundando sem quicar nenhuma vez.

–Bora fazer aquele negócio do Titanic – Thomás diz ficando atrás de mim, ele segura minha mão e me mostra como tenho que jogar a pedra. – Como eu disse você tem que jogá-la de lado.

–Tudo bem, agora para antes que isso fique romântico demais – brinco e antes que ele saía de trás de mim jogo a pedra como ele me mostrou. A pedra quica duas vezes antes de afundar.

–Consegui! – Começo a rir alto o que faz com que as pessoas que estão passando na calçada próxima ao lago fiquem nos olhando.

Jogo outra pedra e logo depois mais outra até que me canso e me deito na grama; Thomás se deita ao meu lado e começa a rir.

–Nunca pensei que ensinaria á uma adolescente como fazer uma pedra quicar na água.

–Existe primeira vez para tudo.

A gente começa a rir, mas logo então se cala. Após uns três minutos de silêncio eu falo:

–Você nunca fala sobra você – viro a cabeça e olho para ele. – Então, você não está gostando de ninguém?

–Eu pensava que estava, mas a gente fugiu da escola na quinta e ficou... E bem percebi que não gostava.

–Você percebeu que não gostava da pessoa depois que deu uns amassos nela?

–Não foram só uns “amassos”, a gente meio que transou.

–Muito melhor: você percebeu que não gostava depois que fez sexo. – Começo á rir.

–O que? – Ele diz rindo. – Muita gente confunde desejos carnais com sentimentos reais, é meio que uma marca registrada da humanidade, não me julgue por isso.

–Tudo bem, não vou julgar – digo e não consigo me segurar, acabo começando a rir de novo.

Olho para cima, e só então percebo o quanto o céu está escuro, como se fosse chover, mas não me preocupo é bom ficar aqui só conversando.

–Você parece estar feliz – ele diz se sentando.

–Na verdade eu estou sim, minha madrasta está grávida. – Me sento ao lado dele jogando uma pedra em direção ao lago. – Estou feliz que vou ganhar um irmãozinho.

–Você está achando isso agora, antes dos choros noturnos e das fraldas fedorentas.

–Argh! – Digo dando um tapa no seu braço. – Você é tão chato.

Começamos a rir como idiotas, o que faz as pessoas que estão passando na calçada ficarem nos olhando.


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