A Inútil Capacidade de Ser Indiferente escrita por Fabrício Fonseca


Capítulo 6
Cinco




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–É meio dramático, eu sei – comento assim que termino de ler.

–“Meio” é apelido – ele comenta rindo. – Amo drama; vou querer ler algumas de suas cartas depois.

–Acho que você vai ficar querendo, como disse as cartas são como um diário... Essa foi apenas uma exceção.

–Existem dezenas de exceções para uma única regra, basta procurar com atenção.

–Tudo bem, se achar mais alguma exceção eu te aviso. – Tiro o telefone de perto do rosto e bocejo.

Ainda falta muito para a hora que eu costumo ir dormir normalmente, mas como passei o domingo inteiro andando de um lado para o outro com Diego sem parar uma hora sequer para descansar, e como a Eliza fez o favor de me acordar cedo hoje é claro que estou muito cansada.

–Tudo bem, essa é a minha deixa. – Thomás diz. – Pode ir dormir, amanhã a gente se fala.

–O.K., só não me liga cedo demais porque pretendo dormir até tarde. Até amanhã.

–Até amanhã, Laura.

Assim que desligo coloco o telefone para carregar e guardo o caderno encima da cômoda. Caio na cama e apago no mesmo momento.

Não costumo ter sonhos, mas essa noite eu sonhei com olhos verdes.

*

Acordo com o telefone vibrando debaixo do travesseiro. Durante a noite eu acordei assustada com os sonhos e como o telefone já estava carregado o deixei encima da cama.

Atendo sem olhar quem é.

–Alô? – Digo com os olhos se fechando novamente.

–Você por acaso pretendia dormir até às quatro da tarde? – É Thomás, claro.

–Não seria má ideia.

–Seria sim! Agora levanta e vem pra praça que estou te esperando. – E então desliga sem esperar que eu diga alguma coisa.

Vejo o quanto ele foi exagerado quando olho as horas no telefone e vejo que ainda são nove e meia. E então de repente vem à surpresa quando percebo que é bem mais tarde do que o normal para Eliza me acordar em um dia sem aula. Quer dizer, nem foi ela quem me acordou.

Talvez ela tenha saído e se esqueceu de mim, penso enquanto me levanto e ando até a cozinha.

Eliza está na cozinha cortando um peixe, fico uns dois minutos parada olhando antes que ela perceba minha presença.

–Oi, Laura – diz sorrindo ao me ver. – Vai tomar café agora?

–Vou... Por que me deixou dormir até agora?

–Porque te acordei cedo ontem, e também seu pai disse pra deixar você dormir.

Meu pai: meu salvador.

Tomo café rapidamente, logo depois escovo meus dentes e então corro para o meu quarto para trocar de roupa, quando olho o telefone há uma mensagem de Thomás:

Sinta-se especial, eu ainda

estou te esperando.

Tudo bem parece que ele não tem muita paciência. Avisou para Eliza que estou saindo e logo depois que estou fora de casa começo a correr; graças a Thomás eu acho que vou perder alguns quilos nesse tempo sem aula.

Quando chego á praça vejo Thomás conversando com algumas crianças, ele está abaixado em frente a elas e faz gestos com as mãos enquanto fala.

–Não me diz que seu sonho é abrir uma creche. – Digo parando ao lado dele que levanta a cabeça para me olhar.

–Preciso ir agora, pessoal. – Ele se levanta enquanto fala e fica de frente para mim. – Não, mas poderia já que as crianças me amam. – Ele começa a andar e eu ando ao lado dele. – Então, o que vamos fazer agora?

Antes que eu possa dizer alguma coisa paro ao ver Anna, minha ex-amiga, perto da barraca de flores mexendo no telefone.

–Quem é ela? – Thomás pergunta.

–Anna, ela era minha amiga... – Paro ao perceber o que quero fazer agora. – Eu sempre quis conversar com alguém que me magoou, e ali está à única que não foi embora.

–Vai lá então...

–Eu não sei o que dizer para ela.

–Pergunta como vai ás coisas, diz que perdoa ela.

Acho que isso não dará muito certo já que eu também a magoei, mas não digo isso apenas crio coragem e ando em direção a ela.

–Oi, Anna. – digo quando paro ao seu lado.

–Hã... Oi, Laura. – Ela parece meio assustada em me ver.

–Então, como vão ás coisas?

–Vão muito bem, obrigado por perguntar! E com você?

–Vai indo... – Isso está ficando estranho demais. – Então, como vai o seu primo, João?

–Acho que vai bem, minha mãe esteve na casa dele semana passada e parece que ele está namorando.

É, pelo visto as coisas para o João ficaram bem melhores do que para mim.

–O que você quer realmente, Laura? – Ela finalmente pergunta.

Respiro e começo a falar:

–Eu queria pedir desculpa por tudo o que eu fiz, por ter gritado com você na frente de todos da escola. Sei que faz bastante tempo, mas só agora tive coragem pra te dizer isso.

–Tudo bem, eu deveria ter te contado que também gostava do Otavio, mas não tive coragem.

E então percebo que na época eu não fiquei com raiva por ela ter ficado com o garoto que eu gostava, mas sim por ela ter escondido de mim que queria ficar com ele, que também gostava dele. Comecei a me sentir um pouco melhor em relação a isso, eu nunca quis ser uma dessas garotas que brigam com as amigas por causa de garotos; foi bom perceber isso finalmente.

–Eu preciso ir Laura – ela diz logo depois de sua mãe chamá-la. – Minha mãe está ajudando a Mariza Brant a fazer uma festa para os professores lá em casa e eu estou servindo como secretária dela. Foi bom conversar com você, a gente se fala depois.

–Tudo bem. –Digo e me viro e ando em direção a Thomás.

Ele sorri quando me aproximo, antes de dizer algo ando em direção á um dos banquinhos da praça e me sento.

–Foi tudo bem, não foi? – Pergunta.

–Na verdade foi sim.

–Então você pode me contar o que aconteceu entre vocês duas.

–Resumindo bem ela ficou com o garoto que eu gostava mesmo sabendo que eu gostava dele, então eu fiz um escândalo na escola a chamando de vadia e outra coisas bastante ofensivas.

–Tinha muita gente na escola quando você fez isso? – Ele diz se segurando para não rir.

–Eu escolhi o momento mais adequado para fazer com que ela passasse vergonha, então suportei três horários com ela tagarelando em meu ouvido sobre sua festa de quinze anos e fiz o escândalo no meio do pátio na hora do intervalo.

–Pelo visto você pode ser bastante vingativa – ele começa a rir.

Fico esperando ele parar de rir para finalmente falar.

–Estava pensando em algo que podemos fazer agora, mas acho que isso pode ser considerado crime também.

–Tudo bem, desembucha.


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