A Inútil Capacidade de Ser Indiferente escrita por Fabrício Fonseca


Capítulo 14
Treze




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Era 19:30 quando a mensagem de Thomás chegou:

Minha tia está indo pra festa

agora, então temos que ir

ás oito que será quando ela irá

embora

Mandei uma mensagem de volta dizendo que tudo bem, e a gente decidiu se encontrar na praça assim que a tia dele fosse viajar.

Vou até o guarda roupa e pego uma calça e uma blusa escura, calço meus tênis e pego meu caderno e começo a escrever enquanto espero.

Ás oito e sete Thomás me manda uma mensagem:

Minha tia e meu tio acabaram

de sair, estou indo para a praça

Saio do quarto e encontro Eliza assistindo TV.

–Eliza, vou sair, tudo bem?

–Tudo bem, mas não demora, tenta chegar antes que seu pai vá dormir.

Meu pai anda ficando até tarde trabalhando, há dias em que ele chega e nem mesmo come nada, vai direto pra cama; então cumprir o que o Eliza está pedindo é meio que um desafio, mas não digo nada apenas concordo com a cabeça e saio de casa.

O céu está muito estrelado e é impossível não ficar olhando-o enquanto ando até a praça. Thomás está no "banco de sempre".

–Pode confessar, você ama me deixar esperando - ele diz se levantando.

–Eu amo te deixar esperando, feliz? - digo sorrindo. - Vamos logo!

–Vamos - ele coloca o braço sobre meu ombro e começamos a andar em direção ao centro da cidade. -Você sabe onde é a casa, certo?

–Claro que sei, a dona da casa é mãe da minha ex-melhor amiga.

Ele fica calado por um momento e então diz:

–Quer ir correndo até lá?

–Quero! - Digo sorrindo maliciosamente como ele.

Vou correndo na frente já que sou eu quem sabe o caminho, mas as vezes ele se corre na minha frente fingindo que estamos competindo.

Demoramos uns seis minutos até chegar a festa.

–Como vamos entrar? - Pergunto assim que paramos na calçada em frente a casa da Ana.

–Bom, claramente adolescentes não são bem vindos - ele diz, não para de entrar pessoas na casa e todas são adultas. - Onde é a garagem?

–Alí - aponto para o lado inverso de onde as pessoas estão entrando.

Ele faz um sinal para que eu o siga e andamos até o portão da garagem que estava faltando, quando olho para o lado direito vejo a Mariza Brant recebendo as pessoas na entrada. Ele aperta o botão do interfone.

–Quem é? - Diz uma voz feminina, tenho certeza que a pessoa que atendeu está se perguntando porquê alguém está tocando o interfone da garagem ao invés de simplesmente ir até a entrada.

–Oi, eu vim entregar algumas caixas de cerveja - ele fala. - A senhora na entrada me disse para entrar por aqui.

–Só um minuto - ela diz e então desliga. Alguns segundos depois o portão se abre automaticamente.

Thomás segura minha mão e me puxa para dentro, corremos para o jardim lateral pelo caso da mulher que atendeu vir olhar cadê o entregador.

–Você é louco - sussurro para ele.

–Estou mais para gênio - ele diz ironicamente, pelo menos eu acho que é ironicamente.

Corremos pelo jardim até a entrada e paramos por um momento nos recompondo, e então entramos.

Uma música calma toca ao fundo e a conversa das pessoas se sobressai ao som.

–Não tem nem um minuto que estamos aqui e eu já to achando essa festa completamente chata. - Digo quando paramos no canto da sala, fico surpresa que as pessoas não estejam nos encarando, já que somos os únicos adolescentes aqui.

–Tenho que concordar com você - Thomás diz rindo.

Ficamos calados por um minuto olhando as pessoas enchendo a cara com todo tipo de bebidas alcoólicas.

–Como vocês entraram aqui? - Alguém fala do outro lado de Thomás, dou um passo para frente e vejo que a pessoa é a Anna. Pelo visto não somos os únicos adolescentes aqui.

–Pela garagem - Thomás responde calmamente.

–Mas acho que não deveríamos ter entrado - falo no mesmo tom que ele. - Essa festa está um horror.

–Está mesmo - ela diz escorando na parede ao lado de Thomás.

Thomás se vira para mim sorrindo maliciosamente.

–A gente podia dar uma animada nisso aqui.

–Você cria o plano - digo.

–Tudo bem, podem contar comigo. - Anna diz com tédio.

Thomás começa a falar o plano e eu me seguro para não rir.

Andamos até o outro lado da sala e paramos á alguns passos da mesa do DJ - um homem extremamente musculoso e todo tatuado.

–Faz o que o eu te falei - Thomás diz para Anna pouco antes de ela sair de perto de nós.

Ela anda até o DJ com uma pequena barra de chocolate na mão que pegou na mesa de doces e começa a fazer charme para o homem. Um minuto depois ela conseguiu afastar o DJ da mesa.

–Agora somos nós - Thomás diz e nós corremos até a mesa de som.

Ele entra na biblioteca do computador e vai na parte das músicas, logo depois seleciona a pasta "Eletrônica" para tocar.

Uma música animada começa á tocar e a gente aumenta o volume. Corremos até o meio da sala e começamos a dançar feito loucos, olho para o lado e vejo Anna dançando também; olho pela casa e fico surpresa ao ver que muitos adultos também estão se "sacolejando", e talvez seja até por isso que o DJ não desligou a música.

–Vocês dois aí - diz uma voz masculina logo á frente. - Eu lembro de vocês.

–Thomás, olha quem está aqui - digo cutucando ele. Thomás para ao ver o homem alto e careca á nossa frente, o mesmo homem do cinema que eu joguei a pedra.

–Alguém segura esses dois! - Ele diz andando em nossa direção.

–Corre! - Thomás segura em minha mão e me puxa em direção a saída.

–Obrigado pela dança, Laura! - Anna grita, quando olho para trás vejo ela balançando a mão e sorrindo. Sorriso de volta para ela.

Corremos em direção a saída "normal" e fico com vontade de rir ao ver a cara da Mariza Brant, ela com toda certeza não esperava ver mais dois adolescentes na festa.

–Esse careca nunca vai esquecer da gente? - Thomás pergunta ofegando quando paramos de correr um minuto depois. - Você viu o curativo na cabeça dele?

–Não! - Digo rindo.

Andamos até perto da praça que é quando nos separamos.

–Vamos fazer algo amanhã de manhã. Não quero ficar naquela casa sozinho.

–Você ta com medo de fantasmas?

–Na verdade eu estou com medo da própria casa, minha tia tem tanta bugiganga que me assusta. - Ele diz fazendo umas expressões bem esquisitas; não consigo me segurar e acabo rindo.

–Vejo você amanhã, Thomás - digo ainda sorrindo.

–Até, Laura.


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