A Inútil Capacidade de Ser Indiferente escrita por Fabrício Fonseca
A primeira coisa que penso ao acordar é que alguém jogou um balde de água sobre mim enquanto eu dormia. Me sento na cama e então percebo que na verdade estou toda suada. Como pode ter feito tanto calor durante a noite e eu não acordei me sentindo incomodada?
Olho as horas no telefone: 08:53. Eu devia estar muito cansada pra dormir tanto nesse calor. Me levanto e vou direto para a cozinha, para tomar um copo d'água.
–Estou ensopada - digo para Eliza que está na cozinha sentada á mesa.
–Você vai sair com o Thomás hoje? - Ela pergunta calmamente, eu balanço a cabeça dizendo que sim. - Por quê não leva ele naquele rio que seu pai nos levou no inicio do ano?
–Ótima ideia, Eliza. Vou ligar pra ele agora.
Antes de ir para o quarto vou para o banheiro e escovo os dentes e faço xixi - não nessa ordem.
Ligo para Thomás assim que entro no quarto.
–Sentiu saudade? - Ele diz assim que atende, apenas ignoro.
–Quer ir nadar?
–Ah, eu quero sim, por favor!
–Me encontra em 10 minutos na praça.
–No lugar de sempre - ele diz antes de desligar.
Arrumo minha cama e então vou me trocar; visto a calca que usei ontem a noite, pego uma camisa branca com a imagem do Mickey na frente e calço os tênis. Faço um coque no cobelo e saio logo depois de me despedir de Eliza.
Caminho devagar para não suar e mesmo assim acabo chegando antes de Thomás, me sento no banco de sempre e espero.
Uns três minutos depois ele chega. Sorriso ao perceber que ele está com o mesmo casaco do dia em que me beijou.
–Onde nós vamos? - Pergunta se sentando ao meu lado.
–Á um rio que meu pai me levou uma vez.
–Então vamos logo - ele se levanta e me puxa para ir com ele.
Andamos na direção da saída e viramos em uma estrada de terra pouco antes de sair da cidade, e vamos andando em frente.
Faz uns quinze minutos que estamos andando e até agora a única coisa coisa que nós vemos é a estrada de terra á frente, a fazenda de plantação de banana á direita, e as árvores á esquerda.
–Você realmente sabe onde nós estamos indo? - Thomás diz uns oito minutos depois.
–Claro que sei, é só ir andando direto.
Ele olha para mim como se eu tivesse dito uma mentira e ele soubesse que é mentira.
De repente ele para de andar e se senta no chão, do lado esquerdo da estrada.
–Você devia ter me dito que íamos andar tanto - ele diz subindo as mangas do casaco. - Se soubesse eu não teria usado essa calça, e nem teria vestido esse casaco.
–Você não deveria ter vestido o casaco de forma alguma - digo me sentando ao seu lado. - Não percebeu o calor que está fazendo?
–Claro que percebi, mas esse casaco combina com minha calça. - Acabo rindo.
Solto um suspiro longo e encosto a cabeça no ombro dele.
–Essa é mais uma daquelas coisas que você sempre quis fazer? - Ele pergunta com a boca sobre minha cabeça, como se estivesse me beijando. Eu sorriso por causa da pergunta.
–Na verdade eu sempre quis sair por aí andando sem destino. - Brinco.
–Espero que não estejamos fazendo isso agora - ele diz rindo.
Quando abro a boca para dizer algo paro ao escutar um barulho que vem da direção que viemos. Não demora muito para ver um carroça sendo puxada por um cavalo marrom. Nos levantamos e Thomás começa a fazer o "símbolo universal do pedido de carona".
–Onde vocês estão indo? - Pergunta o homem de cabelo grisalho que segura as rédeas do cavalo.
–A gente tava procurando por rio que tinha por aqui - eu falo.
–Não é muito longe daqui. Sobe aí que eu levo vocês. - O homem diz de forma simpática.
Thomás me ajuda á subir na carroça e eu me sento no banquinho ao lado do homem, em seguida ele sobe e se senta ao meu lado. O homem faz a carroça andar. Olho para trás e vejo alguns galões de leite amarrados na parte de trás.
–Vocês vão ficar muito tempo no rio? - O homem pergunta de repente.
–Não, a gente só vai nadar um pouco - Thomás responde.
–Eu vou levar esse leite e volto em mais ou menos uma hora - ele diz indicando para os galões atrás. - Se ainda estiverem aqui quando voltar eu posso dar uma carona.
–Seria bom - falo sorrindo.
–Seria ótimo. - Thomás fala.
Mais ou menos um minuto depois a carroça para.
–Agora é só vocês andarem um pouco e chegarão ao rio - ele diz indicando para a direita, a plantação de bananas ficou para trás á algum tempo. - Daqui á pouco estou de volta.
Descemos da carroça.
–Obrigado pela carona - digo enquanto ele continua indo em frente.
Thomás vai andando na direção que o homem indicou e eu vou logo atrás, entramos na mata e em poucos minutos achamos o rio.
–Uau! Esse lugar é lindo! - Thomás diz chegando para perto da margem e olhando para as rochas em volta do rio. Ele tira o casaco e logo depois os tênis.
–Acabei de me lembrar que eu não trouxe roupa de banho - digo quando ele joga a camiseta no chão.
–Nem eu - ele tira a calça e fica só com a cueca azul escura. - Espero por você na água. - E então sai correndo e pula na água esverdeada.
Agradeço aos céus por ter vestido roupa de baixo preta e tiro a "roupa de cima". Deixo tudo em uma pilha e corro para a água.
–Bola de canhão! - Digo pulando na água.
Graças a Deus a água está suficientemente gelada, fico alguns segundos debaixo d'água á sentindo e então subo para respirar.
–Eu com toda certeza estava precisando disso. - Digo nadando na direção de Thomás.
–E disso também - ele diz jogando água em mim e então, de repente, a gente começa a fazer uma Guerrinha de água.
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