Eu tinha oito anos de idade.

Eu estudava de tarde e por isso nunca acordava antes das nove da manhã – sim, eu fui uma criança preguiçosa –, mas nesse dia eu estava muito apertada e acabei levantando mais cedo que o normal. Corri para o banheiro e assim que saí eu escutei meu pai e minha mãe discutindo, isso estava acontecendo com muita frequência.

Eu andei devagar até a sala que era onde eles estavam e me escondi atrás do sofá. Quando olhei rapidamente sobre o braço do sofá eu vi algumas malas perto da porta, e minha mãe estava toda arrumada, pronta para sair.

–Eu não aguento mais, Felipe – ela disse colocando uma bolsa nas costas. – Eu não nasci para isso...

–Você vai embora assim? Vai simplesmente deixar sua filha? – Meu pai estava se controlando para não gritar.

–Ela vai ficar melhor sem mim, você sabe disso...

–Eu sei que ela precisa da mãe dela. Você não pode simplesmente ir embora acreditando que as coisas serão melhores.

–As coisas serão bem melhores se eu partir, para todos.

–Como você pode ter tanta certeza? – Aquela pergunta afetou minha mãe, ela ficou alguns segundos calada antes de dizer uma única palavra.

–Eu não tenho, mas preciso arriscar. Eu não estou feliz aqui e nem você está, e se continuarmos assim, logo a Laura também não estará feliz. Eu preciso ir agora, antes que perca a coragem.

Eu voltei para o meu quarto devagar para que eles não soubessem que eu havia escutado a conversa. Eu me deitei e fiquei lá totalmente parada olhando para o teto.

Alguns minutos depois meu pai veio até o meu quarto e se sentou na cama ao meu lado. Eu me levantei e o abracei, ele não precisou dizer nada. Meu pai sempre me conheceu o suficiente para saber que eu sabia o que estava acontecendo.

E então éramos só nós dois e, pra falar a verdade, foi o suficiente por algum tempo.