A Inútil Capacidade de Ser Indiferente escrita por Fabrício Fonseca


Capítulo 11
Dez




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/561807/chapter/11

Forço meus olhos á se abrirem assim que acordo. Fiquei até umas oito da noite perto do lago conversando com Thomás; quando cheguei em casa fiquei conversando com Eliza, quer dizer, eu fiquei escutando enquanto ela falava sobre como queria que fosse o quarto do bebê, sobre os quinze nomes que pensara caso fosse menino e outros vinte e cinco (ou mais, não consegui contar) caso fosse menina.

Logo depois vim para meu quarto e terminei de ler o livro que Diego me indicara, confesso que fiquei feliz por ter ficado emocionado ao ponto de chorar – logo depois me senti culpado por isso e chorei por ser tão idiota, e então logo depois, em um ataque de bipolaridade comecei a rir de mim mesma. Foi bastante engraçado na verdade. Então eu acabei indo dormir tarde demais, mas acabo acordando porque estou apertada demais.

Me levanto e corro em direção ao banheiro; logo depois de fazer xixi escovo os dentes e caminho de volta, quando chego no meu quarto vejo que Eliza está arrumando minha cama.

–Eu já disse varias vezes que eu mesmo posso arrumar minha cama, Eliza – digo indo até o guarda-roupa e caçando algo para vestir.

–Não tem problema – ela diz sorrindo para mim. – Hoje acordei muito agitada, preciso fazer algo para me acalmar.

–Já pensou em assistir TV? – Tiro o pijama e visto um short jeans e uma camiseta. – Você sempre se acalma assistindo a Ana Maria Braga.

–É verdade. – Ela diz como se eu tivesse dito a coisa mais surpreendente do mundo e então sai do meu quarto.

Ela às vezes me deixa assustada, penso e começo á rir.

Pego meu telefone e vejo que não há nenhuma mensagem de Thomás o que é estranho – eu sei que digo muito isso, mas é realmente estranho que ele não tenha mandado nem sequer uma mensagem para me perturbar. Digito rapidamente uma mensagem para ele.

Não me diga que foi embora

de Montana e não se despediu

de mim.

Depois de esperar cinco minutos pela resposta começo á achar que acabei de prever um fato. Fico feliz quando a mensagem dele chega depois de sete minutos.

Você não é tão sortuda á

ponto de se livrar assim tão

fácil de mim.

Um minuto depois o telefone toca, é o número dele.

–Já estava começando á ficar feliz achando que havia me livrado de você – digo brincando assim que atendo.

–Fico tão feliz em saber que não realizei seu desejo – ele responde no mesmo tom de brincadeira. – Estava ajudando minha tia com algumas compras, estou te esperando aqui no lugar de sempre. – E então desliga sem esperar por uma resposta minha.

Calço uma sandália e depois de avisar Eliza eu saio de casa. Prefiro não correr apenas pelo prazer de deixá-lo esperando. Ele é tão impaciente.

O telefone toca de novo, me preparo para o ataque de ansiedade de Thomás... Olho a tela do telefone e vejo o nome de Diego. Paro de andar e me preparo para atender.

–Oi. – Digo com calma.

–Oi! – Ele diz todo animado. Ouvir sua voz me faz sorrir involuntariamente. – Confesso que esperava que quem atendesse fosse... outra pessoa.

–Eu peguei meu telefone de volta naquele dia, desculpa não ter ligado de volta.

–Tudo bem, isso indica que você anda bem ocupada nesses dias sem aula – se ele está tentando esconder o ciúme de sua voz, não está dando muito certo.

–Sim, tenho passado muito tempo com um amigo, ele vai embora no sábado então a gente tem passado os dias conversando e se divertindo.

–Ah, um amigo? Então ele não é daí de Montana?! – Fico feliz ao perceber o tom de alivio em sua voz. – Bem, só liguei para saber como você estava.

–Estou bem, e você?

–Bem também... Estou sentindo saudades de você.

Oh, não! O que devo dizer agora? “Também estou com saudades”? Não! O plano é afastá-lo e não dar esperanças.

–Estou ocupada agora, Diego. Depois a gente se fala, tudo bem?

–Tudo bem... Até depois, Laura!

Desligo antes que ele possa dizer mais alguma coisa. Decido correr para me encontrar com Thomás.

Ele está sentando no mesmo banco que me sentei ontem quando ele me assustou. Me apresso e sento ao seu lado.

–Que cara é essa? – Ele pergunta olhando pra mim e sorrindo.

–Acabei de falar com o Diego pelo telefone.

–Ele disse alguma coisa de mim? Algo que indicasse que está com ciúmes? – Ele pergunta todo animado.

–Sim, e o pior é que eu meio que gostei por ele está com ciúmes de mim – digo colocando minhas mãos em meu rosto.

–Tudo bem, pode parar com o drama (apesar de eu amar).

–Você estava ajudando a sua tia em quê exatamente? – Pergunto para mudar de assunto.

–Ela está indo viajar e vai me deixar sozinho na casa dela, então estava comprando “suprimentos”; ela está superestressada porque foi convidada para a festa dessa mulher que vai ter hoje, Mariza-alguma-coisa e precisa arrumar logo as coisas. Então prefiro passar o dia todo andando pela rua que ficar vendo ela tendo seus ataques de stress.

–A festa da Mariza Brant é hoje? – Pergunto e ele assente com a cabeça. – Então já sei o que faremos de noite.

–Se for o que eu estou pensando, eu já estou superdentro! – Ele diz sorrindo e então se levanta. – O que vamos fazer agora?

De repente me lembro de uma coisa que vi na internet uma vez e me animo ao perceber o que quero fazer agora.

–É uma coisa meio tola – digo sorrindo.

–Aposto que não é mais idiota do que jogar pedrinhas no lago. – Ele diz fingindo estar com raiva. – Pode começar a falar.

*

Dessa vez decidimos ficar aqui na praça mesmo, já que temos um número suficiente de “alvos”.

–Você primeiro – digo sorrindo.

–Por que eu?

–Porque dessa vez o plano é meu – digo me lembrando do que ele disse quando estávamos indo para o “cinema”.

Ele assente fingindo estar com raiva de novo, e anda em direção á um casal que está sentado á alguns metros de nós. Os dois estão de mãos dadas e conversam alegremente sobre algo que não posso ouvir, o primeiro cara é loiro, magro e alto; o segundo é um pouco mais baixinho, mas ele claramente abusa de horas de academia. Torço para que Thomás esteja disposto a correr muito hoje.

–Não acredito! – Thomás grita ao parar na frente dos dois homens. – Você jurou para mim que não estava me traindo e a agora está aqui se agarrando com outro? Eu te odeio! – E então se vira e corre em minha direção.

Me levanto e corro juntamente com ele para longe dos caras.

–Você viu a cara deles? – Ele disse rindo. – Foi tão eletrizante. Agora é você!

–Tudo bem – digo olhando pela praça e procurando um casal. – Achei! – Digo olhando para um casal de idosos que vem andando pela calçada.

Respiro fundo e ando calmamente em direção á eles, quando estou á mais ou menos um metro deles começo á falar.

–Você me enganou, disse que não estava mais com sua esposa – finjo que comecei á chorar. – Eu nunca vou te perdoar. Não liga mais pra mim! – Me viro e corro na direção de Thomás.

–Isso foi ótimo – digo rindo para ele.

A gente fica mais um tempo “brincando” na praça e então decidimos ir para perto do lago para que os casais que “atacamos” não se juntem para nos linchar.

–Espero que com isso não tenhamos terminado nenhum relacionamento – digo rindo enquanto andávamos em direção á um banco debaixo de uma árvore.

Ficamos um tempo calados, apenas rindo da idiotice que acabamos de fazer.

–Onde está a sua mãe, Laura? – Thomás pergunta “quebrando” o silencio. – Digo, o que aconteceu com ela? Tudo bem se não quiser falar sobre isso.

–Não, tudo bem – digo olhando para ele. – Acho que já está na hora de conversar com alguém sobre isso.

Respiro fundo e começo á falar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Inútil Capacidade de Ser Indiferente" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.