Ele estava apaixonado.

Parecia que o destino tinha conspirado a seu favor e tinha ganhado uma temporada sem missões e, ao mesmo tempo, a licença de Sakura tinha acabado e ela precisou voltar ao hospital, o que significava que ele teria mais tempo a sós com Sarada.

Ela era a filha perfeita. Não gostava de Teletubbies, nem de Backyardigans, nem de hi-5, nem de nada do Discovery Kids. Comia tudo o que ele colocava no prato, até quando era uma só uma papinha – Sakura era melhor cozinhando -, e, acima de tudo, tinha orgulho de ser uma Uchiha: engatinhava até o memorial do clã e ficava olhando com os olhos brilhando, assim como sorria que nem boba quando usava alguma roupinha com o símbolo da família.

Sozinho em casa com a filha, Sasuke fazia tudo o que um pai não tinha coragem de fazer na frente dos outros: rodava com ela no colo pela casa, apertava suas bochechas – coisa que ela detestava e tentava morder seu dedo com as gengivas -, ficava velando seu sono e fazendo seus brinquedos tocarem músicas ridículas. Nem mesmo ficava com raiva quando ela bagunçava seu escritório, jogando todos os documentos no chão; ficava apenas encarando sua cria, com orgulho por ela já ser tão impetuosa, inteligente. Uma Uchiha.

Independente de ser uma Uchiha, ela ainda era um bebê. Como todo ser humano, tinha necessidades. Entretanto, sendo um bebê como era, não podia tratar dessas necessidades do jeito certo.

Sasuke tinha esquecido desse detalhe até sentir o cheiro.

Praguejando em silêncio, foi até o quadro com instruções que Sakura tinha deixado, na esperança de se iluminar em relação ao medo de todos os pais:

Fralda suja.

Entrou em desespero quando tudo o que conseguia ler era como trocar uma fralda em termos médicos. Termos. Médicos. Amava sua esposa, mas nem todo mundo precisava entender o que médico diz.

Sarada começava a choramingar e o desespero era crescente. Sasuke não podia andar pra trás agora. Precisava ser homem. Pegou a pequena cagona no colo e a levou pro quarto, deitando-a com cuidado e puxando o adesivo de sua fralda.

Mas como tudo aquilo cabe dentro de uma coisa tão pequena? Sua primogênita, agitada, sacudia as pernas, o que acabava sujando tudo. E ele só via uma solução.

Correu até a sala e grudou a orelha no telefone, discando o único número que sabia de cor.

– Alô – a voz do outro lado da linha atendeu.

– Como troca fralda?

– Sasuke – disse entre dentes – eu to no meio de uma reunião. Tem como você resolver isso sozinho?

– Naruto – começou pausadamente – eu não ligaria se não fosse importante. Se eu ligar pra Sakura. Dá uma pausa aí, eu só quero saber como limpa tudo aquilo. Não é muita coisa pra um bebê não? Será que foi algo que ela comeu?

Do outro lado da linha, pode ouvir Naruto tentando conter uma risada. Depois de uma pausa, começou a falar e percebeu que estava se esforçando para usar termos não muito explícitos.

– Bom, geralmente é Hinata que cuida disso, mas... eu já tive umas experiências com o marrom. É um monstro cheio de técnicas... consistentes.

– Você ta fingindo que o sistema excretor de um bebê é um monstro?

– Sim. Você precisa tirar...

Aquilo não estava dando certo. Desligou na cara do melhor amigo inútil, arregaçou as mangas e decidiu cuidar daquilo sozinho.

Fitou a cria deitada, chorando e sentiu um aperto no coração. Mas precisava ser forte. Principalmente porque estava na hora de Os Padrinhos Mágicos e a pequena se amarrava sem entender nada.

(...)

Quando terminou, ela estava novinha em folha, com as pequenas mãozinhas esticando o elástico da fralda.

Olhou para a pilha de fraldas que tinha desperdiçado tentando colocar errado, mas suspirou aliviado. Limpou o suor da testa com o braço e foi aí que sentiu algo cremoso.

Sua filha estava linda, limpa, com fralda nova e rindo da sua cara.

Porque Sasuke, o chefe do clã Uchiha, um dos mais poderosos ninjas de Konoha, tinha acabado de se sujar com o cocô de sua filha.

– Papá fez totô – ele ouviu uma voz.

A primeira vez que ouvia aquela voz com tantas palavras. As primeiras palavras.

As primeiras palavras de sua filha tinham sido pra tirar uma com a sua cara.

E mesmo com o braço e a testa sujos, sorriu. Tinha acabado de enfrentar um dos piores momentos com um bebê e presenciado um dos mais lindos.

Ele estava apaixonado, mais ainda.