Kate estava cansada da noite mal dormida. Chegou na delegacia tarde, e não demorou muito para aparecer um novo caso. Como de costume, pegou o casado e saiu em direção ao local do crime, procurando o celular a fim de ligar para o seu parceiro, mas quando viu a foto dele na tela, parou.

As coisas estavam muito estranhas na noite passada, e ela não sabia se devia ligar. Nada parecia estar bem e ela não queria deixar a situação pior, então optou por mandar apenas uma mensagem avisando que tinham um novo caso.

Mas, para a preocupação de Kate, o dia passou e ela não teve noticias de Castle. Lanie e os meninos pareceram notar que algo estava diferente, mas foi Lanie quem perguntou.

–O que está acontecendo?

–Eu não sei... Acho que Castle está me evitando mas não consigo descobrir o motivo.

–Já tentou falar com ele?

–Sim, e ele saiu dizendo que tinha um encontro. -Kate suspirou, sentando em uma das mesas do necrotério. -Eu não sei o que fazer. Algo está errado mas não posso descobrir o que.

Lanie ia responder, mas as duas ouviram passos de alguém se aproximando, e logo depois Alexis entrou na sala.

–Dr. Parish, eu tenho alguns resultados do... -A menina parou de falar quando viu Kate ali sentada. -Oh, detetive Beckett, não sabia que estava aqui. Eu estou atrapalhando?

–Não, Alexis, eu já estou de saída.

Kate agradeceu Lanie e acenou para a menina. Mas quando estava quase saindo, lembrou-se de algo.

–Alexis, o seu... -Se virou para ela. -Seu pai está bem? Ele não deu noticias desde ontem a noite quando saiu.

A ruiva a olhou de forma estranha, talvez com um pouco de preocupação no rosto.

–Eu não o vi ontem a noite, achei que estava com você. -Ela murmurou.

–Hm... Deve ter passado no The Old Haunt, obrigada, Alexis.

E com isso ela saiu apressada, deixando Lanie indignada e Alexis confusa.

~~~~

Castle acordou com a cabeça latejando. Sentia um braço fino rodeando sua cintura. As memórias da noite passada logo vieram, e ele virou para ver o rosto da aeromoça com quem tinha dormido.

Suspirando fundo, ele se levantou e começou a se vestir, pensando o quão vergonhoso era ter que dormir com outra mulher para esquecer por apenas alguns minutos sua parceira. O pior era o fato de não ter esquecido.

Droga.

Enquanto saia silenciosamente pela porta, relembrava o que tinha visto na noite anterior. Parou no hall e deixou a conta paga, com direito a um bom café da manhã para a loira.

Caminhando pela rua e procurando por um taxi, ele percebeu que arrancar Kate Beckett da sua mente e do seu coração seria mais difícil do que ele imaginava.

Desistindo de encontrar um taxi, ele começou a andar pelas ruas, sem rumo, pois não queria ir para casa. Lá haviam muitas lembranças de Kate, e ele precisava superar o fato de que ela não estava mais em sua vida.

Kate havia mentido, por quase um ano inteiro, ficou três meses sem dar noticias e nem ao menos se importou em ligar. Por tanto tempo, Castle achou que aquele dia nos balanços ela estava falando sobre ele, que ela esperava ter o tipo de relacionamento que queria, com ele. Mas na verdade, ele não fazia parte dos planos dela. Talvez nunca tivesse feito.

Para Kate, ele era apenas um amigo e parceiro, ou nem isso. Mas o mais importante, ela não o amava e não teve a decência de dizer isso. Deixou ele acreditando e sonhando com um futuro que nunca teria.

Ela o tinha cegado com sua beleza, sua força e sua determinação, deixando-o acreditar que havia mais do que amizade ali. Mas, enquanto ele era um fiel apaixonado, ela estava seguindo em frente, vencendo seus medos e escalando aquele muro que a separava do mundo. Quando conseguiu, ela não esperou por ele, nem mesmo o avisou de que não o queria ao seu lado, apenas seguiu seu caminho.

Castle tinha que fazer o mesmo, seguir sua vida, continuar seus livros, passar tempo com sua filha e talvez, encontrar alguém para amar. E ele iria. Com o tempo.

Ele já tinha conseguido antes, com Kyra, Meredith e Gina. Mesmo que não as amasse tanto quanto amava Kate.

Mas um dia, Kate Beckett seria apenas seu passado.

~~~~~

Alexis chegou em casa cansada. O dia com Lanie no necrotério tinha sido mais exaustivo do que o normal. Foi direto para a cozinha em busca de um copo de suco. Bebeu calmamente, e então foi a procura de seu pai. Ele estava no escritório, de costas para ela, aparentemente tentando escrever algo.

–Pai. Tudo bem com você?

–Alexis! -Ele pulou, assustado com o som da voz dela.

–Onde você esteve ontem a noite e hoje o dia todo?

–Ah... Eu... Sai ontem a noite, e hoje preferi ficar em casa, por quê? -Ele perguntou, se virando para encarar a filha.

–Nada. -Murmurou, estudando o escritor. -Beckett perguntou por você, só isso. E eu achei estranho não ver você zanzando pela delegacia hoje.

–Não se preocupe, filha, eu estou bem. -Disse com um sorriso forçado.

–Certo, eu vou estar no quarto.

Alexis subiu as escadas pensativa. Seu pai estava estranho, e Beckett também. Mas a menina resolveu deixar o assunto de lado e ler um livro para a prova da próxima semana.

Os dois adultos podiam se entender sozinhos, seja lá qual fosse o problema.