Destinados - Tomione escrita por Teddie


Capítulo 2
"Conheça sua irmãzinha, Tom"


Notas iniciais do capítulo

Gente, sim, eu sei que esse capítulo não é a continuação do anterior, e nem era para ser. Destinados serão duas histórias paralelas e que se complementam.
Não me achem uma louca, e curtam o capítulo.



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1933

A Itália estava um caos.

Aparentemente as coisas estavam normais. O rei estava no poder e separava o estado da igreja, e isso foi bem visto por muita gente. O primeiro ministro Mussolini era um comandante rígido, mas também muito bem visto pelos italianos mais antigos.

Era um regime rígido e muitos dos menos favorecidos não se davam bem. Os dias eram rigorosos e as noites incertas, mas ainda assim era apoiado pelos idosos italianos, que diziam que era necessária mão de ferro para um bom governo.

Mas os Granger não eram italianos. E com certeza não concordavam com Mussolini.

O primeiro Granger chegou à Itália quarenta anos antes, depois de séculos como a família Granger sendo uma das mais ricas da Inglaterra. A industrialização não fora bem vista por eles, então a Itália serviu como um novo lar.

Foram gerações de homens, até que John Granger teve uma menininha, Hermione.

Era uma péssima hora para se ter filhos.

Principalmente se você era totalmente contra Mussolini.

A pequena Hermione Granger tinha cinco anos e era um doce de criança, a melhor aluna da turma das crianças, falava italiano e dentro de casa falava inglês. Era prodígio e tinha um brilhante futuro pela frente. Fora criada como uma perfeita menina britânica, por mais que crescesse na Itália fascista.

Naquela noite, a reunião era na casa dos Granger. Era composta por homens idealizadores e mulheres feministas como Jean Granger. Acreditavam em pessoas como Marx e Engels, além de uma sociedade justa e igualitária, onde não teriam que dar tudo que tinham para preguiçosos dominadores como Benito Mussolini.

O mundo estava em crise por pessoas como ele, que queriam mais, dominar o mundo inteiro. Alemanha estava destruída, Itália quebrada, Sérvia acusada de coisas horríveis, e o maldito país na América estava conseguindo sua supremacia. O que era a Inglaterra agora?

A menina ressonava no sofá velho dos Granger, enquanto os pais e os colegas fumavam e discutiam numa mesa redonda. A conversa era acalorada e berros eram dados, cada vez mais empolgados com as ideias que estavam tendo.

Nenhum deles ouviu o tiro ser dado até ele atravessar a janela de vidro, quebrando-a, e se alojando na parede encardida.

E o desespero começou.

Por instinto John Granger agarrou Hermione, que tinha os olhos arregalados e ameaçava chorar. Um tiro passou de raspão em sua orelha e ele se jogou no chão com a menina. Que começou a chorar.

– Hermione, cale-se - ela sentiu a urgência na voz do pai e engoliu o choro.

John estava com medo e irritado. Estavam baleando sua casa inteira, alguém tinha os denunciado. Onde estava Jean?

– JEAN - gritou por ela, recebendo gritos desesperados de todos. Os tiros estavam cada vez mais altos e mais constantes, e ele podia ver de esguelha os vários soldados de Mussolini ali.

Não podia esperar, não podia por Hermione em perigo. Levantou-se com a menina com dificuldade e correu, desviando de balas.

Não encontrou a mulher. Não viva, pelo menos, e não podia dar-se o luxo de pesar a morte da esposa. Corpos o rodeavam, mas ele não podia desistir.

Saiu pela porta dos fundos, recebendo o calor da noite em seu rosto. Não havia policiais ali, e ele acreditava que conseguiria voltar para a Inglaterra com Hermione e seguir sua vida. Apertou a filha em seus braços e correu desesperado por um tempo, até que viu.

O soldado com a arma engatilhada, em sua direção.

A pequena menina não entendia das coisas, mas achou estranho quando o barulho muito alto foi ouvido, e seu pai estremeceu, saindo sangue de sua testa. Por que seu pai estava machucado?

Então o homem tombou para frente, derrubando os dois no chão. Doía, machucava. Por que ele estava em cima dela?

– Papai - suplicou, chorando baixinho - Papai, está machucando. Papai.

O pai não respondeu, e a menina não conseguia respirar.

Então com um baque ela foi suspensa pelos braços, um homem alto, mal encarado e bruto a olhava com raiva. Estava com um uniforme verde musgo e vermelho. Ele ia ajudar seu pai?

Ele também a estava machucando. Ela não conseguia parar de chorar.

– Dê um fim nessa garota, Bartolo - jogou a menina de qualquer jeito no chão, fazendo a pequena Hermione bater com a cabeça. Ela queria dormir, ia acabar com a dor.

– Tenho o lugar perfeito para essa imunda - ouviu a voz de um homem falar, antes de apagar.

(...)

Martha estava inquieta.

Não era todo dia que uma criança machucada, maltrapilha e desmaiada parava na porta do orfanato, sendo jogada por homens aparentemente de algum exército.

– Não temos lugar para mais uma criança - informou para a administradora do orfanato, Senhora Cole - Toda a ala feminina já está ocupada, a guerra acabou com muitas famílias.

Martha suspirou, sabia que não tinham espaço para a pequena garota, mas vira como ela fora tratada pelos homens. Tinha coração mole, não podiam jogá-la na rua.

Olhou para menina que ressonava inquieta no sofá na sala da Senhora Cole. Estava com sangue seco na testa e nas roupas imundas. O quanto ela devia ter sofrido era inimaginável para Martha.

– Podíamos deixá-la com Tom. Ele não tem companheiros de quarto e a criança parece ter a mesma faixa etária. - sugeriu, e Cole fez um gesto displicente com a mão.

– Você sabe por que mantemos Tom sozinho, as crianças não o suportam, tem medo dele. Além do mais, e quando ela crescer? Não podemos deixar meninos e meninas juntos.

Martha ponderou, Cole tinha razão é claro.

– Quando uma menina for adotada, colocaremos essa no lugar e Tom voltará a ficar sozinho, dê um voto de confiança. Olhe para ela, o quanto ela sofreu. Não podemos deixá-la na rua, Miranda.

Miranda Cole assentiu, e como se fosse premonição, a menina se remexeu e arregalou os olhos, já cheios de lágrimas. Gritava coisas desconexas e Cole tentava acalma-la.

Dove è il mio papà? - perguntou, segurando as lágrimas e limpando as que caíram, deixando o rosto mais sujo ainda.

Martha se indagou se a menina era italiana. Deveria, pois soava como italiano a língua que ela falava.

– Dove mi trovo? Chi sei?- continuou, ameaçando chorar de novo. O que diabos a menina estava falando?

– Acalme-se, criança. - Cole falou, a voz calma. - Está em sua nova casa, trouxeram você para morar conosco. Como se chama?

– Hermione - ela falou apenas, baixinho e amedrontada.

– Fala inglês, querida? - Hermione assentiu - Ótimo, você está na Inglaterra, e morará conosco aqui no orfanato. Esta é Martha - apontou para a mulher, que sorriu delicadamente. Hermione assentiu novamente - Ela vai buscar seu novo irmão para você conhecer. Ele vai cuidar de você enquanto estiver aqui, e você vai cuidar dele, entendido?

A menina aquiesceu, fungando e tirando os últimos vestígios de choro do rosto. Precisava urgentemente de um banho.

– Papai me abandonou? Os moços maus o levaram? - perguntou baixinho.

O coração de Martha se encheu de pena, e Miranda ficou compadecida da menina. Era só uma criança inocente em meio a tanta confusão e violência no mundo.

– Eu não sei, querida, mas vamos descobrir - a menina concordou, e Cole se virou para Martha - Vá buscar Tom, por favor.

Martha deixou a mulher sozinha com a criança, fazendo perguntas variadas, para saber de onde ela tinha vindo e o que gostava. Pode ouvir a menina falando “sempre quis um irmão!”. Ficou com pena novamente, Tom era uma criança realmente difícil.

O menino brincava sozinho de cara fechada, na sala de recreação. Balançava um carrinho velho de madeira e parecia solitário. As outras crianças estavam do lado de fora aproveitando o verão, mas Tom sempre estava sozinho.

As crianças tinham medo dele, coisas esquisitas ocorriam em torno do menino. Animais morriam, plantas murchavam. Crianças se machucavam.

– Tom, querido - falou suavemente, e o menino colocou os olhos negros em cima dela. Eram frios - Temos uma surpresa para você.

O menino franziu o cenho, dificilmente tinha surpresas para ele. Ele acompanhou Martha, se decepcionando a cada passo que dava. Ela falava coisas sobre uma menina nova, que dividiria o quarto com ele.

Ele não queria dividir nada! Gostava de dormir sozinho sem as outras crianças chatas gritando em seu ouvido.

– Tom, seja bonzinho com ela, ela está muito traumatizada - ele assentiu, mas sem concordar realmente, Martha abriu a porta da sala de Miranda - Conheça sua irmãzinha, Tom. Essa é Hermione.

Ele botou os olhos na menina e imediatamente sentiu uma dor de cabeça terrível. Queimava. A menina expressava a mesma expressão dolorida em seu rosto.

Ele odiou a menina.

Ela se recuperou mais rápido que ele, e pulou em seus braços, apertando-o em um abraço. Ela fedia, estava suja e machucada.

Por que ela estava o abraçando? Ninguém nunca tinha o abraçado.

– Olá, irmão - ela sorriu docemente, faltava um dente de leite.

Ele odiou ser chamado de irmão. Principalmente por aquela fedida.

– Olá, porquinha - falou, tentando ser maldoso. O sorriso banguela da menina vacilou, mas logo se recompôs.

Odiou o sorriso dela.

– Bem, esperamos que se dêem bem - Miranda falou, se referindo a Tom. Sabia que ele não seria um bom companheiro para Hermione.

– Vamos sim - ele respondeu. O sorriso da menina aumentou mais.

Naquela noite, a menina dormia no beliche baixo, enquanto Tom estava sentado no chão do quarto que agora dividiam. Ele abrira a gaveta onde escondia as coisas que gostava de pegar e tirou uma tesoura velha, que antes era de Martha.

– Odiei o seu cabelo, irmãzinha, vamos dar um jeito nele. - sorriu maldoso. O menino de cinco anos sabia ser mau quando queria.

Cortou cada pedaço do jeito mais torto que conseguiu, deixando totalmente irregular e curto. Antes eram longos e bagunçados. Pelo menos ela não fedia mais.

Ela tinha curativos em machucados por todo o corpo, e por um momento, Tom se sentiu mal por ela. Se ela era sua irmã, não devia se machucar.

Logo tirou o pensamento da cabeça, era um menino sozinho. Vivera toda vida ali no orfanato. Não tinha irmãos. Nem mesmo a porquinha da Hermione.

Foi se deitar, guardando a tesoura. Teria uma boa noite de sono.

Acordou com os gritos de Hermione. Ela se olhava no espelho e chorava. Os cabelos estavam completamente tortos e Tom quis rir. Era bem feito, ela não tinha que ter se apossado de tudo que era dele.

Martha entrou de supetão e viu o estrago, olhando diretamente para Tom.

– O que você fez, menino? - a voz severa indicava o que estava por vir. Seus joelhos logo doeram por pensar no que viria.

Hermione olhou alarmada para Tom, e voltou-se para Martha:

No, Signora, no - falou em italiano, esquecendo-se por um minuto que sabia outra língua. - Fui eu! Eu que cortei. Senti saudades da mamãe, e ela sempre penteava meus cabelos. Ho soggiornato con rabbia, fiquei com raiva. E cortei.

Ela olhou desconfiada, não acreditando muito na história. Focou-se em Tom, que assentia concordando com a menina. Tudo para não ajoelhar no milho novamente. Doía muito.

– Por que não impediu, Tom? - perguntou.

– Estava dormindo, Srta. Martha. Acordei com os gritos. - era verdade, em termos.

Martha suspirou, e saiu do quarto. Voltando com uma tesoura e apetrechos de corte. Era sempre ela que cortava os cabelos das crianças do orfanato.

Ela consertou os cabelos da castanha, deixando-os curtos e menos bagunçados. Estava mais bonitinha, Tom pensou.

Depois que Martha fora embora, mandando os dois se arrumarem para o café, Tom indagou Hermione sobre o acontecido e o porque dela não ter o denunciado.

– Irmãos protegem uns aos outros, Tom.

Ele ainda não sabia, e nem dera importância na época, mas aquilo mudaria sua vida.

(...)

Os anos se passaram, e outra guerra começou. O que eram para ser dias, passaram a ser semanas, meses e depois anos. Hermione Granger foi a única criança que conseguira dividir o quarto com Tom Riddle. Ninguém sabia como, o menino era realmente mau com a garota.

Ele fizera a menina quebrar braços e pernas várias vezes, colocou bichos estranhos em sua cama, e a fazia chorar com frequência, mas toda vez que era questionada, a menina respondia “meu irmão não fez nada”. Muitas vezes Tom escapava de apanhar de Martha, mas outras ele era pego, por mais que Hermione negasse.

Tom apanhou muito nos quase seis anos que passou com Hermione.

Ele não entendia porque ela continuava a defendê-lo, mesmo quando era muito mau com ela. Ele gostava de ser mau, ele gostava de vê-la chorar, mesmo que causasse uma sensação esquisita nele.

– Dio mio, ma che pasticcio - ela entrou no quarto dos dois, reparando na bagunça que o quarto estava. Eles iriam viajar para a praia. Nunca faziam isso e ambos estavam animados.

– Pare de ser exibida, porquinha - não abandonara o apelido - Fale nossa língua.

Hermione torceu o nariz e passou a mão pelos cabelos curtos; depois que Tom cortara, ela nunca mais deixara crescer. O menino não sabia se era por medo que ele cortasse de novo, mas gostava da sensação de causar medo em alguém.

Principalmente na porquinha Granger.

– Só estou dizendo que está tudo bagunçado. Tom, vamos viajar daqui a algumas horas!

Ela era tão mandona e irritante! Não admirava Tom que ela só andasse com ele, nem ele a suportava!

Mas ainda assim, obedeceu Hermione e juntos arrumaram as coisas. E viajaram.

Todas as crianças estavam em uma casa que Miranda conseguira. A praia era muito bonita e Hermione amava caminhar pela areia, embora tivesse medo de ir até o mar. Tinha medo de se afogar.

Tom constantemente a empurrava para perto do mar.

Mas Tom ultrapassara todos os limites nessa viagem.

Dennis Bishop tremia e chorava, mesmo depois da volta.

Ninguém sabia o que acontecera na caverna. Hermione recusara-se a ir com eles, e ficara na praia. Tom fora sozinho com Dennis na caverna. E Dennis não falava o que tinha acontecido.

Tom não ria, mas dava para ver no rosto do menino o quanto ele estava satisfeito em ver o sofrimento de Dennis. Ele gostava da dor alheia.

Pela primeira vez Martha não sentiu compaixão alguma dele enquanto pegava a cinta. Tom estava de joelhos e sem camisa, esperando o que viria a seguir. Estava acostumado.

Mesmo assim, teve que sufocar o grito de dor quando a cinta estalou em suas costas. Ele sentiu o sangue escorrer. Reprimiu as lágrimas, ele não queria que Martha o visse chorando.

A cinta estalou muitas vezes, e cada vez que tocava o corpo de Tom, era um grito engasgado. Doía muito. Ele não merecia, Dennis era o culpado. Dennis que implicava com ele sempre. Com ele e com Hermione.

– Não quero ver você por um bom tempo, está me ouvindo? - falou para o menino, que aquiesceu, saindo da sala.

Passou por todas as crianças mostrando suas marcas. Muitas riram quando ele passou, mas ele não colocaria a camisa, depois quando cicatrizasse doeria muito mais para tirar. Ele sentia o sangue pingando enquanto ele passava e bufou, ainda teria que limpar depois.

Entrou no quarto, batendo a porta, e deu de cara com Hermione sentada na cama. Ela pulou assim que o viu, mas não expressou nada. Pela primeira vez, Tom ficou assustado. A menina tinha o rosto como um livro aberto, sempre expressava tudo que sentia.

– Sente-se - ordenou. A voz fria também era novidade - Agora.

Ele se sentou, e ela tirou do armário uma caixinha. Quando abriu, o menino pode ver que eram primeiros socorros. Ela começou a limpar os ferimentos do menino, que fazia careta a cada vez que o algodão embebido de remédio tocava sua pele.

– Dio mio, questo è orribile. - ele bufou para o italiano da garota. - Não bufe, tem sorte por eu estar te ajudando.

– Não te pedi nada, Granger. - ela pressionou o algodão com mais força e o menino soltou uma exclamação de dor.

– Somos irmãos, Tom. É meu dever ajudar. Mas fora isso, não fale mais comigo, não olhe mais para mim. Você ultrapassou todos os limites. Todos! - a voz da menina estava embargada.

Aquilo desesperou Tom, estava tão acostumado com a Granger que agora que ela não queria mais sua companhia, ele sentira um vazio gigantesco.

Ela cuidava dele, gostava dele, mesmo ele sendo uma pessoa ruim. E agora ele não teria mais nada. Era a família dele naquele lugar horrível, e ele a estava expulsando.

– Não, por favor - falou com dificuldade, enquanto ela terminava os curativos. - Você é minha irmã, Hermione. Não posso ficar sem você.

Era a primeira vez que falava aquelas coisas para ela, e ela o olhou emocionada. Já o desculpara, ela sempre o perdoaria. Fora assim nos últimos anos e seria assim por toda a vida.

– Só não faça mais besteiras.

E o abraçou, o primeiro abraço de muitos. O primeiro abraço da vida de Tom.

O segundo, se contar com o abraço fedido de anos antes.


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Notas finais do capítulo

O que acharam?

— Todas as frases em italiano foram orgulhosamente pegadas do google tradutor, mim processem.

Até o próximo!