Destinados - Tomione escrita por Teddie


Capítulo 1
Prólogo: "Queime, bruxa"


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem!



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1432

O jovem camponês estava cansado.

Não era para menos, afinal. Tom Riddle passara a noite na colheita, capinando, colhendo e arando e preparando o solo para a próxima estação. Era um trabalho cansativo, mas era o que ele podia - e sabia - fazer.

Era um mundo injusto, ele tinha que admitir. Não conseguia aceitar o fato de que ele tinha que passar dias quentes e invernos cruéis carregando mercadorias pesadas e trabalhando naquele feudo apenas para satisfazer as vontades de um velho inútil e gordo.

Ele e a mãe mereciam mais que aquele destino insuportável.

Mérope Riddle era a costureira oficial dos Granger, as mãos da mulher eram calejadas de tanto cortar, tingir e costurar peças, e os olhos eram levemente estrábicos por passar horas focada em linhas e agulhas.

Tom tivera sorte, tinha que admitir, ele era o mensageiro naquelas terras, e apenas quando a colheita estava muito boa que ele tinha que passar horas preparando o terreno. Por mais que fosse uma das terras mais produtivas, havia pouca mão de obra.

O destino poderia ser injusto, mas muitas vezes igualmente bondoso. E era por isso que ele não se importava de trabalhar para o gordo e velho Granger, tinha algo muito positivo nisso.

Hermione.

Tom tinha sofrido muitas humilhações por conta de Hermione, não que a castanha fizesse isso, ela era bondosa e delicada demais para ofender Riddle, mas todos em torno dos dois acusavam o moreno de muitas coisas.

Aproveitador, mal caráter, pilantra e vários outros xingamentos que Tom não sabia o significado.

No entanto ele não se importava, não quando ele tinha Hermione ao seu lado para amá-lo como ele a amava. Aquilo era tão verdadeiro que nem o Senhor Granger, nem as pessoas do feudo poderiam mudar. Um pertencia ao outro.

Era um sentimento tão surreal que só poderia ser mágica.

Tom riu, enquanto se revirava na cama maltrapilha que tinha. Era um dia quente e ele suava por baixo da roupa de linho marrom.

Hermione era especial.

Todo ano, desde o onze, ela frequentava uma escola especial. Para começar, meninos e meninas podiam ir, e só aqueles dotados de magia. Claro que o Senhor Granger falava que ela ia para uma escola de moças e voltava para as férias.

Não eram todas as pessoas que aceitavam bem a magia. Senhor Granger tratava do assunto como uma coisa normal, como um corte de cabelo ou maquiagens. Tom achava que era uma benção. Qualquer coisa que Hermione fizesse com aquela varinha provava que tudo era real, e que o mundo era uma vasta coleção de maravilhas.

Mérope Riddle sabia do que a menina era capaz, mas achava uma aberração. Só que sabia como a castanha era importante para seu filho.

Tom estava ansioso, tanto que não conseguia dormir - mesmo tendo trabalhado a noite toda -, Hermione voltaria hoje e em breve ele poderia abraçá-la e sentir seus lábios novamente.

Quando viu que não iria conseguir mais ficar deitado, levantou-se em um pulo, encontrando a mãe tomando chá na mesa da cozinha da pequena cabana onde moravam.

- Duas bruxas foram queimadas essa manhã - Mérope anunciou e os ombros de Tom caíram.

Ele odiava quando a mãe falava das mulheres queimadas, acusadas de serem bruxas. Ele pensava em Hermione e em como as pessoas nunca poderiam saber que a menina de fato era uma bruxa.

Claro que Mérope falava apenas para deixar Tom mal, ela odiava Hermione. Na verdade, tinha medo.

As pessoas sempre têm medo daquilo que não compreendem, e Mérope definitivamente não entendia a magia.

Não que Tom entendesse como funciona, embora sempre prestasse atenção a tudo que Hermione falava sobre o assunto. Era uma dádiva de Deus para ele.

- Tu sabes que eu não gosto quando fala essas coisas, mamãe.

Mérope retorceu o nariz enquanto tomava outra xícara de chá. Tom se sentou, comendo um pedaço de pão velho.

- Só estou lhe avisando. A menina Granger chega hoje, não é mesmo?

- Sim - resmungou de cara fechada. - Foi seu último ano na escola e agora ela não terá que voltar para lá em setembro, em breve nos casaremos.

- Como se o velho Granger fosse permitir isso, tu andas muito inocente, Tom. Tens que focar no que lhe é importante, seu trabalho. Tens que entregar alguma mensagem hoje?

Tom suspirou. Amava Mérope do fundo do seu coração, mas a intolerância dela com Hermione, assim como a falta de crença no relacionamento dos dois. Tom tinha fé que apesar dos empecilhos, ele e Hermione seriam felizes.

Ele imaginava o filho dos dois indo para a mesma escola de Hermione, tornando-se tão divino quanto a castanha era.

Era um futuro incerto, mas que Tom esperava do fundo do coração eu desse certo. Os últimos dois anos desde que conhecera a castanha foram os melhores da sua vida.

- Tenho, mamãe. Até logo.

Saiu da pequena cabana, tentando se cobrir com a sobra que as árvores faziam. Era um dia anormalmente quente, e além disso, a fumaça ainda estava no ar, junto com o terrível cheiro de queimado.

A caça às bruxas estava cada vez mais comum e popular, e as pessoas pareciam apreciar aquele ato doentio e cruel. Tom era um bom menino e sabia que a maioria das mulheres queimadas na verdade eram apenas mulheres pagãs. Hermione explicara isso a ele.

- Sr. Riddle, sinto muito pelo que vai acontecer - uma senhora falou, após ele entregar uma mensagem para ela. O filho queria convocá-la para um jantar.

- Do que estais falando, Sra. Brandon? - a senhora um pouco corcunda arqueou de surpresa, mas ela não precisou falar nada.

O barulho respondeu por si. A gritaria de pessoas que celebravam e comemoravam mostrou a Tom o que aconteceria.

O grito agudo o desestabilizou. Era de Hermione.

Ele correu pelo meio das pessoas, que estavam em círculo em torno de algo. Ele gritava para as pessoas saírem de sua frente, entretanto a gritaria era maior e ninguém dava atenção ao adolescente.

Então ele viu.

No meio do circulo havia uma jovem. Seus cabelos castanhos estavam soltos do penteado elaborado, e o vestido simples - já que ela sempre evitou as enormes anáguas - branco estava encardido. Seu corpo suava, mas não era isso que chamava a atenção. Eram os machucados.

Hermione estava com hematomas e machucados em carne viva. Os olhos estavam vermelhos e inchados, e ela chorava pedindo por ajuda.

Tom procurou pelo Senhor Granger, mas ele apenas observava a cena quieto, o moreno, no entanto, conseguia ver a aflição por ver Hermione naquele estado.

O que acontecera para ela ficar daquele jeito?

O menino não era burro, sabia o que tinha acontecido. Alguém a vira fazendo magia e a condenara.

Quando a primeira pedra foi jogada em direção de Hermione, Tom avançou furioso, tentando defende-la.

- SAIA DAÍ, SEU PIVETE - alguém gritara no meio da multidão que se formara.

Ele sentia que as pessoas queriam sangue, queriam ver a morte. Tinham algum tipo de prazer absurdo com aquilo, era a única razão para gostarem de ter a morte tão perto dos olhos.

- A BRUXA MERECE QUEIMAR - um segundo gritou. O coro aprovou.

- Eu vou lhe tirar daqui, meu amor - a voz de Tom estava embargada por ver a jovem em um estado tão ruim, mas não a abandonaria.

Ele ficaria com ela.

- Eles... lhe matarão - a voz suave da castanha não passava de um sussurro - Vá... embora.

Tom negou veemente, o grito da multidão ficava cada vez mais impaciente.

- Nunca vou te abandonar, Hermione.

Antes que ela pudesse responder, seus olhos arregalaram-se, e Tom foi erguido pelos braços e tronco por dois homens. Ele se debatia incontrolavelmente, mas os homens eram mais fortes. Tom os conhecia, eram os carregadores oficiais do Sr. Granger.

- Soltem-me - gritava. À medida que seus gritos aumentavam mais pedras eram jogadas, e mais machucada Hermione ficava.

Tom tinha que admitir que a menina era forte, não gritava de dor, apenas chorava baixinho e constantemente.

- Tu foste enfeitiçado pela bruxa, garoto - o homem mais próximo falou. Seu hálito era de tabaco e bebida. Tom quis vomitar.

- Ninguém me enfeitiçou! - se debateu mais - Deixem de ser obtusos, é só a Hermione Granger! Uma menina, não uma bruxa! Já mandei me soltarem!

Mas não soltaram, apenas o apertaram mais e Tom ficou logo em ar e cansado. Ele tinha que lutar, lutar por Hermione.

Um homem forte a pegou pelos braços de qualquer jeito e começou a arrastá-la pela estrada, e Tom gritou em protesto. Sabia para onde estavam indo, a praça principal, onde aquele maldito tronco de concreto ficava.

Os homens que carregavam Tom estavam na frente, para que ele pudesse ver de perto a cena que se seguiria.

Tom odiava aquelas pessoas, todas elas. Aquelas que não entendiam a magia, aquelas que estavam punindo Hermione por ela ser melhor e ter nascido com um dom. Aquelas mesmas pessoas que tantas vezes se aproveitaram da bondade da menina.

Eles que deveriam estar queimando, não sua amada.

O homem jogou Hermione no chão, e a garota caiu com um baque surdo, parecia morta, mas Tom conseguia ver seu peito subindo e descendo com dificuldade.

Três pessoas na multidão se manifestaram, uma com a corda, outra com a bebida nojenta que eles jogavam antes de queimar as mulheres.

A terceira pessoa pegou Hermione pelos braços, e a menina pareceu acordar do destino que a aguardava. Começou a se debater e a gritar constantemente. Os gritos dela quebravam Tom em pedaços por dentro, e ele voltou a se debater, tentando se soltar.

Prenderam Hermione com força na pilastra de concreto que construíram especialmente para a queima das bruxas. Jogaram a bebida nojenta na castanha, que desviava o rosto. Um homem bateu em sua face.

A multidão foi a loucura.

Seus olhos castanhos e machucados encontraram os negros de Tom pela ultima vez, e ele pode a ouvir falando claramente:

- Eu te amo.

Ninguém mais escutou, é claro, ninguém estava preocupado com a garota, só queriam ver morte. Apenas Tom ouviu a voz delicada sussurrar.

- Queime, bruxa - a multidão exclamou junta.

Um homem estendeu a tocha, recebendo a ovação da multidão.

- Eu te amo - ele falou de volta, sabendo que só ela escutaria. Ela sorriu delicadamente.

A tocha foi encostada aos pés da garota, e seu sorriso se transformou em exclamação de horror. Os homens que seguravam Tom o jogaram no chão, na expectativa de que ele fosse até a garota, para que visse o sofrimento de perto, sentisse na carne a dor dela.

Mas ele não conseguia se mover, só conseguia olhar para o fogo se alastrando pela garota, até que ele foi mais forte e engoliu os gritos desesperados dela.

Tom não precisava estar perto para sentir a dor dela. Ele a sentiria mesmo que estivesse do outro lado da Inglaterra. Doía tanto.

Ele tinha falhado com ela, tinha cometido o pior erro de todos. Não conseguira salvá-la.

Eu te amo, a voz ainda estava na cabeça dele, se misturando com todas as outras vezes que os dois compartilharam os sentimentos. Eu te amo.

Eu falhei, sou um monstro.

Dois anos antes...


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Devo continuar?