Klaus POV

A claridade era insuportável, o que sugeria que já passava das oito horas. Olhei no despertador no criado-mudo e percebi que eram 9:26 h. Me levantei rápido, fui ao banheiro e fiz minha higiene matinal, me vesti e fui para a sala tomar café da manhã. Quando cheguei à sala encontrei Rebekah com uma cara nada agradável, o que não era nenhuma novidade. Sentei-me a mesa e falei em tom de deboche:

– Bom dia irmãzinha! Diga-me, qual o motivo de tanta simpatia?

– E desde quando você se importa Nik?

– Ora Bekah, não precisa se esforçar para ser desagradável! E eu me importo desde que você mora na minha casa, e não me agrada acordar e o primeiro rosto que eu veja seja o seu, ainda mais com essa expressão carrancuda!

– Ah, deixe-me ver se entendi, eu tenho que ficar sorrindo por aí igual a uma boba alegre porque não te agrada me ver assim?! E você nem ao menos que saber o porquê da minha “expressão carrancuda”. É por isso que a Caroline não dá a mínima para você, porque VOCÊ não dá a mínima para ninguém!

Dito isso, Rebekah saiu da mesa batendo os pés com força no chão. Eu estava com uma expressão séria, ela tocou na ferida. No mesmo instante uma empregada que passava assistiu a cena boquiaberta.

– Os jovens de hoje em dia estão cada vez mais revoltados – disse sorrindo. Ela se recompôs e saiu em direção à cozinha. E eu fiquei lá, sozinho, como sempre.

***

Depois do café da manhã fui para o meu estúdio, liguei o som e me sentei em um banquinho de madeira de frente a uma tela em branco sem saber ao certo o que fazer. A voz de Rebekah ainda soava severa em minha cabeça, era a segunda vez que eu passava tanto tempo pensando no que ela dizia, ou pior, concordava com o que ela dizia.

Depois de um tempo encarando a tela em branco, uma melodia soou pelo cômodo silencioso, Pictures of You, uma das minhas músicas favoritas, em certos aspectos aquela música se encaixava com minha atual situação, tendo em vista que as únicas coisas que tenho de Caroline junto a mim são os retratos que eu pintei dela. Sem perceber, minhas mãos começaram a fazer traços leves e precisos na tela, guiadas apenas pelas notas musicais que pairavam sobre o ar.

"Eu estive olhando por tanto tempo essas fotos de você
Que eu quase acredito que elas são reais
Eu tenho vivido há tanto tempo com minhas fotos de você
Que eu quase acredito que as fotos
São tudo que posso sentir..."

Ao fim da música, eu estava ofegante e encarando uma tela que agora tinha uma linda moça dona de traços delicados. Ela tinha cabelos dourados e ondulados, olhos azuis-piscina profundos, uma pele branca imaculada, bochechas rosadas, uma boca fina e levemente vermelha. Inconscientemente eu havia desenhado Caroline.

Larguei os pinceis e sai do banco meio atordoado com a situação, olhei em volta e o que eu vi foi algumas paisagens, mais com certeza o que mais havia era um só rosto de diversas formas. Me deitei no chão apenas para me deparar com uma enorme pintura dela no teto. Foi minha primeira pintura de Caroline naquela casa, apenas o rosto e algumas mechas caindo nele, tudo em preto e branco com apenas sua íris pintada de azul intenso. Perdi as contas de quanto tempo passei encarando aquela pintura, como se fosse ela, eu estava tão entretido que não percebi a presença de mais alguém no quarto.