You make me feel wrong escrita por Lyssia


Capítulo 16
Eines Tages


Notas iniciais do capítulo

Oi =D
Eu pretendia ter postado isso um pouco antes, but shit happens.
Anyway, esse capítulo é um EXTRA. O que quer dizer que não é necessariamente importante, então se vocês quiserem pular, acho que tá ok...? Bem, mas eu espero que não pulem, porque, né -q
O capítulo é narrado pelo Leon, então.
E a música do título é do Samy Deluxe.



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Ele saia dois tempos mais cedo na segunda-feira, deixando para trás suas crianças fazendo exercícios na quadra, na aula de educação física, com a professora Rainch, uma mulher que, por sinal, era bastante bonita, com cabelos castanho-mel bem curtos e olhos verdes, que sorria amavelmente para as crianças e com a qual Leon adoraria sair casualmente, caso não fosse… bem, uma colega de trabalho que ele tinha lá seus motivos para acreditar não ser muito fã de toda a coisa de ter encontros sem compromisso.

Talvez devesse começar um namoro. Ele pensava nisso, de vez em quando. Mas Neele era muito fofa e respeitável com todo o seu amor por crianças e bichinhos e, ah, ele não queria fazer merda com alguém como ela. Seria cruel. Se fosse como entrar em um relacionamento, que fosse com alguém como Padma, farinha do mesmo saco, ou alguém que ele sabia que não teria a auto-estima seriamente abalada pela traição que sabia que viria com o tempo.

Bem, mas que fosse. Ele saía mais cedo na segunda-feira, e estaria feliz em voltar pra casa e assistir uma daquelas séries ridículas de modelos ou drag-queens ou qualquer coisa do tipo, onde só tinha um monte de gente desfilando e querendo se matar, enquanto comia alguma coisa pouco saudável. Era o que fazia no início do ano, de fato, até Padma, aquela maníaca por saúde, lhe aporrinhar tanto o juízo que acabou entrando para uma academia.

Porque, no final das contas, como era suposto que ele aguentasse? Eram sermões diários que o deixavam puto. “Você vai acabar com alguma doença nos ossos ou nos músculos, Leon, de tanto sedentarismo”, “Leonard, você fazia judô até pouco tempo. E chamo de Leonard mesmo, fica quieto”, “Você não pode viver só assistindo essas porcarias na TV e comendo guloseimas aleatórias”, “O seu corpo vai ficar desacostumado”. Blablabla.

Yay.

O legal da academia é que havia aquele cara tentando se provar hetero com todas as suas forças, e ele ficava observando com uma mistura de divertimento e nojo básico enquanto o cara era um imbecil prepotente com as mulheres, pensando seriamente se devia ir até ele e ajudar com isso de sair do armário (o que basicamente queria dizer que pretendia levá-lo para a cama e depois fazer insinuações em público para deixá-lo nervoso, se fosse ser sincero) ou apenas continuar olhando de forma desaprovadora e enjoada para a falta de respeito com as moças.

Um dia ele chegava à resposta.

Naquela segunda, porém, ele passou longe da academia e seus aparelhos de ginástica, cheiro de suor e barulho de pessoas se esforçando, ligando o rádio (algo que àquela altura era quase automático) e pondo na estação que tocava hip-hop e rap, dirigindo tranquilamente pelas ruas da cidade até uma casa branca simpática e sem muros, de dois andares e com um pequeno jardim com plantas terminando de se recuperar da temporada de neve e pedras claras, a fachada branca com letras azuis indicando os serviços oferecidos: psicólogos, nutricionistas e fonoaudiólogos.

Ele estacionou em uma vaga não muito distante, cruzando a distância com passos firmes e arrastando as solas do tênis no tapete de boas vindas em frente à porta de vidro escuro antes de entrar. Havia uma sala de espera que, embora logicamente houvesse mudado com o passar do tempo, ele já estava acostumado; as paredes em um tom suave de bege, com exceção da imediatamente em frente à porta, onde estava a mesa com a recepcionista, uma mulher que não devia passar dos vinte e cinco anos, com o cabelo preto preso em um rabo de cavalo, mexendo no computador. Ele olhou ao redor, procurando um lugar vazio nos bancos acolchoados marrons, que estavam relativamente vazios, considerando que já era cinco e meia. Esperaria até a recepcionista parecer um pouco menos atarefada antes de ir dizer algo, porque o horário de funcionamento ia até seis horas, fosse como fosse.

Uma moça apenas um pouco acima do peso abriu a porta de correr na parede onde estava a recepcionista, fechando-a logo em seguida, e a mulher levantou a cabeça para olhá-la, abrindo um sorriso simpático.

— Bom fim de tarde, dona Sylwia. — ela disse, de forma educada, e a mulher sorriu de volta, ajeitando a bolsa no ombro antes de começar a andar.

— Para você também, querida. — ela respondeu, acenando suavemente antes de deixar o lugar. A recepcionista voltou a olhar para a tela do computador, clicando algumas vezes antes de erguer a cabeça.

— Senhor Frömming? — chamou polidamente, e um homem com barriga protuberante e rosto rosado se levantou e foi até ela, com um sorriso amigável, sussurrando algo que Leon não pôde entender. — O senhor pode assinar para confirmar presença antes de entrar, por favor? — pediu, e ele assentiu imediatamente, sentando-se na cadeira em frente à mesa da moça e pegando a caneta para assinar o papel que ela passou para ele.

Leon foi até lá assim que o homem desapareceu pela porta de correr, temendo que a recepcionista voltasse ao trabalho.

— Oi, boa tarde. Eu queria conversar com a senhora Gramlich. — a mulher virou-se melhor para ele na cadeira, com uma expressão relaxada e paciente.

— Claro. Eu preciso que você me dê sua preferência de horários primeiro, para que eu possa procurar por uma vaga, e me dê o seu...

— Não, não. Eu não quero marcar uma consulta. Quero realmente falar com ela quando terminar o turno, então... — a moça franziu ligeiramente o cenho, parecendo incerta. — O meu irmão se consultava com ela e quero ver o que ela acha sobre recomeçar as consultas.

— Hm... bem, tudo bem. Você pode me dar o seu nome e o nome do seu irmão, por favor?

— Claro. Eu sou Leonard Völkers e o meu irmão se chama Shey. — ela digitou rapidamente no computador, assentindo para deixá-lo saber que entendera, então voltou-se para ele.

— Vou falar com ela assim que a consulta de cinco horas terminar.

— Ok. — sorriu para ela, levantando da cadeira. — Obrigado.

— Por nada.

Ele voltou para o banco, então, esperando. O homem com a barriga protuberante saiu cerca de quinze minutos depois, parando na recepcionista para pegar um papel recém-impresso antes de sair. Pouco depois, uma mulher de pele chocolate e cabelos crespos bem curtos saiu também, cumprimentando a recepcionista com entusiasmo demais para ser apenas uma paciente, os saltos batendo no chão e produzindo o "toc-toc" característico até que ela se fosse.

Lisbeth Gramlich apareceu, acompanhando uma menina de no máximo quatorze anos, nem cinco minutos depois do relógio indicar seis da tarde, com um sorriso calmo e sussurrando algo para a menina antes que ela fosse embora. Antes que o loiro pudesse se pronunciar, a recepcionista mandou um olhar para ele e chamou a psicóloga, começando a dizer algo para ela, baixo demais para que conseguisse entender algo.

Leon abriu um sorriso fraco a olhando, pois por mais que Gramlich, ao longo dos sete anos que Shey se consultava com ela, houvesse mudado de corte de cabelo, abandonando os longos fios castanhos em prol de um corte chanel não muito acentuado, e obviamente ficado mais velha, continuava se vestindo da mesma forma relaxada, calças jeans confortáveis, a blusa em estilo batinha em um tom claro de laranja meio coberta pelo jaleco, os pés calçados por tênis, e tinha o mesmo ar de simplicidade e placidez que ele se lembrava.

Quando ela se virou para ele, com um sorriso mais que um pouco amigável e uma linguagem corporal completamente relaxada, ele se lembrou de ter feito algum comentário imbecil sobre ela ser bonita (não exatamente com esse termo, mas, hey) para a mãe quando Shey decidiu que gostava dela, e de Aloá ter lhe mostrado o punho de forma ameaçadora. Sorriu de volta, se levantando do banco.

— Quanto tempo. — ela soltou, estendendo uma mão para ele, a qual apertou imediatamente. — Shey está com você?

— Não, nem sabe que estou aqui. Tô vindo no lugar da minha mãe, também, então tô sozinho.

— Ah, certo. Você quer conversar na minha sala? — perguntou, chamando-o com a mão e começando a caminhar assim que Leon assentiu. Eles seguiram pelo corredor após a porta de correr, entrando em uma sala mediana, com um tapete cor de creme e felpudo, um sofá de dois lugares bege, uma poltrona da mesma cor e um monte de almofadas em um canto, em cima de um outro tapete, as paredes claras, uma dela com um papel de parede que imitava madeira, e a janela toda de vidro coberta por uma persiana. — Pensei que Shey tinha passado para outra psicóloga.

— Nem. Ele tentou logo depois de sair do... — ele limpou a garganta, sem conseguir se obrigar a dizer a palavra.

— Hospital.

— É. Hospital. — ela assentiu, indicando o sofá de dois lugares para que Leon se sentasse. — Ah, não. — ela arqueou uma sobrancelha, parecendo curiosa, e se sentou na poltrona marrom perto do sofá. – Quero dizer, eu não estou te pagando, não quero pegar muito do seu tempo.

— Ah, Leon. — Gramlich soltou, olhando de forma gentil. — Eu conheço você e o seu irmão há sete anos. E o meu horário de trabalho já terminou, então não se preocupe. Vamos, sente aí.

— Obrigado. — murmurou, sentando-se e quase não conseguindo evitar de arregalar os olhos para o quanto o sofá era confortável.

— Então, por que você veio aqui?

— Eu achei que Shey precisava da sua ajuda e queria ter certeza. Pedir a sua opinião, você sabe.

Ela o encarou com atenção e expectativa, e ele começou a atualizar a psicóloga sobre o estado de Shey, falando das tentativas de suicídio, do tempo que ele passara trancado no quarto e apenas mantendo longe da conversa os sentimentos do irmão, porque ele não tinha nada que opinar sobre isso, e tinha certeza que Gramlich o interromperia se ele começasse a especular demais. Quase trinta minutos depois, ele tinha uma enxaqueca e uma consulta marcada para Shey, para dali a três semanas.

~o~

Seus olhos praticamente doíam, graças àquela dor de cabeça que não passava, enquanto dirigia pelas ruas da cidade, pronto para ir embora para casa, tomar um remédio, jantar e terminar de preparar as lições para a aula do dia seguinte. Seus pensamentos mudaram subitamente assim que seus olhos bateram em uma figura andando pela calçada, carregando uma bolsa de carteiro no ombro, com passos confiantes, mas desviando das pessoas ao invés de esperar que elas o fizessem.

Seus lábios se abriram em um sorriso involuntário e ele acelerou, indo um pouco para frente do homem e então parando o carro, abaixando o vidro e colocando a cabeça para fora.

— Yves! — chamou, sorrindo quando ele olhou ao redor. — Yves! — repetiu, abrindo um sorriso ainda mais largo quando o rapaz o encontrou, os olhos escuros que ele não se lembrava bem de que cor eram se arregalando um pouco quando o encontraram.

— Leon? — ele tentou confirmar, embora os olhos brilhassem e ele sorrisse de uma forma empolgada. O loiro ouviu um motorista impaciente buzinar e, lançando um breve olhar para o retrovisor, fitou novamente o outro.

— Entra aí. Vamos beber alguma coisa. Tô com saudades de falar contigo.

— Sem compromisso de terminar a noite no motel, certo? — ele gargalhou, um pouco surpreso por quase ter se esquecido da forma como Yves era direto.

— Claro. Só conversar. — garantiu, observando Yves correr para dar a volta e entrar para se sentar no banco do carona. Tornou a acelerar o carro assim que a porta foi fechada, notando o ex-namorado jogar a mochila no banco de trás e se acomodar, então se voltando para a rua.

— Não achei que você falaria comigo na rua. — ele comentou, naquele tom descontraído típico, e Leon permitiu um sorriso leve surgir no rosto.

— E eu não achei que você iria responder e ainda aceitar sair para tomar uma bebida. — revelou, em um tom consternado. — Cadê o seu respeito próprio?

— Hei, eu disse que não ia terminar no motel. A gente não vai mais foder, cara. Até porque eu tô namorando outra pessoa. Relacionamento sério. Eu acho. Yay. — ele prendeu outra risada, virando-se para olhar o outro mais uma vez quando parou em um sinal fechado.

Ele ainda podia entender porque acabara saindo com Yves, e bem até demais. Ele gostava dos cabelos escuros que agora ele mantinha em um corte repicado um pouco acima da altura do queixo, das roupas escolhidas, uma jaqueta negra, calças skinny azul-escuro e uma blusa que ele tinha quase certeza que era cor de vinho, com aqueles tênis de cano médio nos pés. Ele possuía um rosto agradável que sabia favorecer com os cortes de cabelo, lábios pálidos, assim como sua pele, mãos de dedos longos e unhas bem cuidadas. E aquela porcaria de sorriso de lado.

Ele se lembrava de ter marcado a pele dele com mordidas, chupões, tapas e arranhões, assim como se lembrava, e às vezes aleatoriamente durante encontros com ficantes fixos, que ele o deixava fazer quase tudo, realizar quase toda fantasia que decidisse compartilhar. Lembrava-se também de ter de fazer silêncio para que a mãe e Shey não ouvissem nenhum som suspeito, quando Yves dormia em sua casa, e como isso sempre era um desafio adicional que deixava a ambos animados.

Havia também as noites de karaokê bêbado, as risadas no carro, as conversas sussurradas, os beijos demorados, as sessões de cinema em que ficavam provocando um ao outro caso o filme fosse ruim e tinham de se controlar até conseguir chegar a algum lugar mais privado; e como uma vez não conseguiram e acabaram fazendo no banco de trás do carro, no estacionamento, como prenderam a respiração e riram baixinho quando Leon percebeu que havia um guarda passando por ali.

Trai-lo havia sido mesmo uma atitude além dos limites da estupidez.

— Eu estava mesmo com saudades de você. — comentou, em um tom mais baixo que o planejado, e Yves pareceu surpreso por um momento, então abriu um sorriso suave e assentiu.

— Foi divertido, né? — retrucou, lançando um olhar pela janela, deixando de fitar a Leon, que logo teve que fazer o mesmo, já que o sinal havia aberto.

— Eu sinto muito.

— Sente nada, Leon. — ele riu anasaladamente, com um desdém claro. — Você faria de novo se eu tivesse te perdoado.

— Não faria, claro que não. — mas ele sabia que faria. E de qualquer forma não era sobre isso que queria falar. Yves mesmo deixaria claro que tinha um namorado, e que não tinha nenhuma intenção de ir pra cama com ele. O que era uma pena, mas ainda assim algo que ele não podia contestar. — E não foi por isso que eu te chamei pra beber. Eu sempre gostei de conversar com você.

— Eu também. — ele sussurrou, encostando a cabeça no vidro da janela. — Onde você está me levando?

— No momento estou tentando chegar na área dos bares.

— Posso sugerir um? — Leon virou-se para olhá-lo por um mínimo segundo, arqueando uma das sobrancelhas.

— Desde quando você entende de bar? Até onde me lembro, você curte comprar a bebida, levar pra casa e se embebedar vendo Animal Planet.

— Ha. Ha. E eu não entendo, pra sua informação. É o bar favorito do meu namorado. Às vezes vou me encontrar com ele lá depois do trabalho.

— Hn, ok. Altos padrões.

— Cala boca, Leon. — ele murmurou, com uma risada presa na voz, e o loiro riu baixinho, negando com a cabeça.

— Qual o nome?

— Körperschaft. Fica a uma rua de distância do karaokê que servia aquela batata com queijo do caramba.

— Körperschaft não é aquele bar corporativo de gente de escritório?

— É, é sim.

— O que, você tá namorando um desses nerds de escritório?

— Hm… é, algo assim… — o loiro não pôde evitar rir, deixando os sons dominarem o carro sem pudor, fingindo que não notava a energia desaprovadora de Yves.

— Você? Com um desses caras? Isso nem faz o seu tipo!

— Eu decidi fazer uma exceção.

— Ai meu Deus, isso deve ser um relacionamento tão sem graça!

— Sem graça? — ouviu uma risada breve e zombeteira. — Um relacionamento comigo?

— Uh, desculpa, senhor fodão.

— Até onde me lembro você se divertiu bastante.

Isso eu não posso negar.

— Então aumenta o volume desse rádio. O que é essa porcaria, hip-hop?

— Porcaria? Como alguém que é fã de Rihanna pode ficar falando isso da música dos outros? E isso é rap.

— Ei, a Rihanna é uma diva! E qual é a diferença?

— Não vou perder meu tempo te explicando.

— Você nem sabe, sabe?

— Olha, isso é Samy Deluxe. Ele é um rapper.

— Grande porra de explicação.

— Foda-se.

Yves riu, pondo a mão no rádio e aumentando o volume ele mesmo, balançando de leve a cabeça ao ritmo da música, enquanto Leon batucava no volante. Ele seguiu dirigindo até o centro, encontrando o bar desejado após algumas poucas indicações de Yves. Não era a sua escolha de bar, na verdade: ele era mais do tipo que gostava do pub com cerveja do lado, mas já que o ex-namorado havia sugerido, por que não? O estabelecimento tinha um pequeno estacionamento aos fundos, e ele pôs o carro em uma das últimas vagas, assobiando de leve para a BMW ao lado.

— E aí, o carro do seu namorado tá por aqui? — perguntou, pegando o celular para mandar uma mensagem à mãe, avisando que chegaria mais tarde em casa. Yves sorriu, olhando rapidamente ao redor e encolhendo os ombros.

— O dele é um preto discreto com vidros escuros.

— Entende tudo de carro, tô impressionado.

— Foda-se. — eles saíram do carro enquanto Leon ria, e ele ligou o alarme, olhando ao redor, para os veículos parados no estacionamento.

— Eu estou pensando seriamente se tenho grana pra pagar um drink aqui.

— Leon, por favor. — o outro cortou, com uma voz risonha, e virou para ele com um sorriso brilhante. — Você é professor de primário e eu sou um veterinário em inicio de carreira. Hoje é segunda. Eles fazem tipo uma promoção. Vem, vamos logo que tem um coquetel de pêssego com vodca que você precisa esperimentar.

— Soa bom. — concordou, começando a caminhar em direção ao corredor lateral, para que entrassem logo no bendito bar. — Deve ter um monte de gente de terno lá dentro. Nós vamos deixar eles com inveja dos nossos tênis confortáveis.

— Sim. — Yves cantarolou em concordância, parecendo contente, e eles finalmente chegaram às portas, entrando no estabelecimento. Ele piscou um pouco para se acostumar às luzes amareladas e ao ambiente em tons pasteis, entretanto Yves imediatamente o agarrou pelo pulso e puxou-o para um dos sofás em formato de meia-lua, com a mesa redonda, de madeira escura.

— Isso é tão chique que eu tô com medo. — admitiu, fazendo Yves arquear uma sobrancelha e olhar ao redor.

— Sério? Os drinks são tão bons. — ele olhou ao redor, erguendo ambas as sobrancelhas para os outros clientes do bar, em sua maioria pessoas de terno claramente recém-saídas do trabalho, e outras tantas que estavam simplesmente bem-vestidas. — É, o Theodor não tá aqui.

— Ah meu Deus, ele até tem nome de gente rica. — o moreno riu, negando com a cabeça e puxando o cardápio de couro do centro da mesa.

— Para com isso, ok?

— Ele é um desses fetichistas ricaços tensos?

Não.

— Tô tentando entender como você acabou num relacionamento com alguém que frequenta esse tipo de lugar.

— Eu peguei um trabalho temporário no escritório dele. Sabe, recepcionista substituto, pra licença maternidade da moça. Ele era gato, me achou gato, ficou me encarando e me chamou pra beber.

— E vocês acabaram no motel, porque é assim que funciona com você, né?

— Bem, sim, mas você tá me fazendo parecer muito fácil. — Leon arqueou uma sobrancelha em sua direção, e Yves o encarou de forma indignada. — Eu não sou tão fácil assim, ok?

— Claro, claro… — murmurou, abrindo um sorriso fraco, e o garçom logo chegou, com uma expressão bem-humorada.

— Boa noite, como estão? — ele perguntou, em um tom educado e ameno. — Já decidiram seus pedidos?

— Dois coquetéis de pêssego, por favor. — Yves se pronunciou, sorrindo calmamente, e o garçom anotou o pedido, soltando mais um cumprimento antes de virar as costas e se retirar. — Como anda dona Aloá?

— Woa, você lembra do nome da minha mãe.

— Claro que lembro, Leonard. E do seu irmão. Aquele tenso. Ele já parou de encarar as pessoas quando a voz dela dá falsete acidental?

— Não que eu saiba.

— Ele devia.

— Devia, é… — ele parou por um segundo, umedecendo os lábios e desviando os olhos por um segundo. — Yves… — chamou, um pouco incerto, e o outro se aproximou um pouco mais, com o cenho franzido.

— O que foi?

— Eu meio que tô no meio de situação de merda. — segredou baixinho, e Yves torceu as sobrancelhas.

— O que aconteceu? — questionou, e parecia sinceramente confuso. Leon tentou se lembrar se haviam terminado antes ou depois de Shey ter perdido o controle no primeiro ano. Tinha quase certeza que havia sido antes, mas…

— É que o meu irmão… ele meio que é homofóbico.

— É, eu notei pela cara dele quando me via no seu sofá. Mas o que rolou? Você contou pra ele que é bi?

— Não, cara. Leva a sério e não ri, ok? Eu tô falando essa porra com você porque já te enchi o saco com problema familiar quando a gente namorava.

— Não, claro. Pode mandar. Eu sei aconselhar pessoas em casos de homofobia.

— É que ele meio que se apaixonou por um cara. — ele vasculhou o rosto do outro, procurando por algum sinal de riso, mas a expressão de Yves continuava neutra.

— E pirou total, eu suponho. — ele sugeriu quando pareceu que Leon não ia continuar. O loiro abriu a boca para falar, parando enquanto o garçom punha as duas taças com liquido alaranjado e com pedacinhos de pêssego presos nas bordas, com canudos dobrados. Tomou um gole longo, respirando fundo.

— Total.

— E o outro cara?

— Se declarou pra ele. E ele pirou mais ainda e jogou um monte de besteira no cara. — Yves soltou um som de entendimento, pondo o canudo na boca e sorvendo um pouco do liquido.

— E como tá agora? O outro cara ainda quer ele? O Shay ainda quer o outro cara? Eles estão se pegando ocasionalmente?

— É Shey. — corrigiu, mais por instinto que qualquer outra coisa. — Não faço ideia sobre o outro cara, mas eles não estão se pegando, tenho certeza. O Shey ainda deve gostar dele, mas ele é burro pra caralho.

— Então, qual o plano?

— Tô falando disso aqui pra ver se você tem algum.

— Embebeda os dois e deixa juntos numa sala. Eles vão se pegar, o seu irmão vai ver que beijar é bom, vai querer mais e com sorte o desejo vai falar mais alto. Com o tempo ele vai se odiando menos e, bom, final feliz e etc. — Leon franziu um pouco o cenho.

— Esse na verdade é um bom plano, mas o Shey não pode beber. Toma uns remédios sérios, aí.

— Ah. Hmm…. — ele tomou mais um gole, com o cenho franzido, claramente pensativo, e Leon não pôde evitar abrir um sorriso de lado, se inclinando mais para trás no sofá e agarrando a taça.

— Por que você não vai lá e seduz ele pra mim?

Eeeeu? Nem ferrando. Tá maluco? Eu com um virgem menor de idade homofóbico que tem maior jeito de ser careta? — ele olhou para Leon com indignação, então piscou, arregalando um pouco os olhos. Eles eram azul-escuros, Leon viu. Ele realmente havia se esquecido. O sorriso ficou um pouco mais largo. — E eu tenho namorado.

— Tava zoando. Mas bem que você podia. Você era bom nisso, até onde me lembro. — Yves lhe mostrou o dedo do meio da forma mais discreta que pôde, com uma expressão um pouco amarrada. — Se bem que nem rola. O Santini é mais bonito que você.

Ei.

— Ele é. Deixa eu te mostrar. — resmungou, puxando o celular do bolso e indo até o Whatassp, tocando na janela de conversa de Santini e então colocando sua foto de perfil para ser ampliada, virando-a para Yves logo em seguida.

— Awn, que gracinha. Não faz meu tipo, mas eu não entendi direito porque seu irmão ainda não jogou ele numa cama. — Leon abaixou o celular, encarando-o com exasperação.

— Exatamente! Às vezes o Shey dá raiva! — assistiu Yves tomar mais um gole do coquetel, fazendo o mesmo, porque aquele negócio era realmente muito bom, e se não tivesse a impressão que era meio caro e não tivesse de dirigir (e depois lidar com Shey, quando chegassem em casa), teria pedido outro. — Mas então. Qual o plano? — Yves o olhou novamente, com aquela expressão pensativa.

— Sei lá. Fazer ele ouvir Tomboy?

— O que?

— É, sabe? It’s ok to be gay, let’s rejoice with the boys in the gay way. — ele cantarolou, movendo os ombros e encarando Leon, que tampou a boca para tentar conter a gargalhada, com uma das sobrancelhas arqueadas. — Hooray for the kind of man that you will find in the gay way. — ele parou, olhando ao redor com os olhos um pouco arregalados. — Será que alguém ouviu isso?

— É assim que se paga mico em bar chique! — exclamou, deixando a gargalhada escapar de forma contida, e Yves riu junto, embora os olhos não houvessem diminuido de tamanho. — Se bem que foda-se, a gente já tá de jeans e tênis. — o outro baixou a cabeça até quase o nível da mesa, soltando uma risada contida e aguda.

— Eu venho aqui com o Teddy, Jesus. — murmurou, tentando recuperar a compostura, e Leon arregalou os olhos, tendo que tampar a boca de novo.

Teddy? Teddy?! — tampou o rosto, sentindo-se prestes a rir muito mais alto que devia naquele ambiente cheio de executivos. — Ele é… ele é seu namorado ou seu consolo? — recebeu em respostas mais uma sequência de risadas agudas e contidas, e Yves pôs uma das mãos sobre a mesa, como se em busca de apoio.

O moreno ergueu o rosto uns bons minutos depois, se abanando, com o rosto avermelhado, e Leon apenas passou a mão pelo cenho, afastando alguns fiapos de cabelo da testa, embora tivesse a sensação que seu rosto estava no mesmo estado. Tomou um gole do coquetel, observando Yves respirar fundo algumas vezes, com um sorriso largos nos lábios.

— Sem plano, eu acho. — o moreno murmurou algum tempo depois, e Leon teve de se conter para não começar a rir de novo.

— Sem plano. Só vou tentar falar com o Santini.

— Mas bem, mas bem. — ele cantarolou, agarrando a taça de coquetel e pondo o canudo na boca, sorvendo um pouco. — Como vai a sua vida? Continua como professor, ou já conseguiu passar pra orientador?

— Na verdade eu decidi que gosto de dar aula. — revelou, encolhendo os ombros. — Crianças, cara. — Yves sorriu brilhantemente, se aproximando um pouco mais.

Eles passaram quase duas horas lá, falando sobre como estavam suas vidas, rindo e se divertindo, mesmo que só houvessem pedido além do coquetel de pêssego alguns aperitivos e mais dois coqueteis, dessa vez de maracujá e sem álcool, porque Leon decidiu que queria experimentar e, surpreendentente, os preços não estavam mesmo tão medonhos assim. Benditas promoções de segunda-feira.

Ele levou o rapaz em casa, se surpreendendo ao descobrir que ainda se lembrava do endereço, e Yves lhe deu seu novo número, dizendo que podia adicioná-lo no Whatapp, mas lhe lembrando, com aquela cara de pau típica, que não era uma foda disponível. Ele tinha um sorriso discreto nos lábios enquanto voltava para casa, relembrado do porque de Yves ter sido o motivo dele ter contado para a mãe que era bissexual. Um sorriso que só não era maior porque ele ainda não podia deixar de querer se estapear por ter perdido o rapaz por não conseguir manter os jeans abotoados.

Aumentou o volume do rádio, batucando os dedos no volante ao ritmo de Samy Deluxe.


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Notas finais do capítulo

Ei. Eu nunca peço comentários, nem nada, mas você pode deixar um comentário me dizendo qual seu personagem favorito, por favor? Eu fiquei repentinamente muito curiosa sobre isso -qqqqq
Enfim. Espero que tenham gostado.
Até o/



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