You make me feel wrong escrita por Lyssia


Capítulo 17
Cups When I'm gone


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente. Demorou, eu sei, e pode apostar que estou tão satisfeita com isso quanto vocês. Foram acontecendo coisas, e depois que elas passaram eu fui ficando desanimada e sem inspiração por elas, e depois ainda inventei de entrar em espiral de Tokyo Ghoul (alguém aí gosta de Tokyo Ghoul, aliás? Negócio divino~) e fodeu tudo de vez -q
Espero que gostem do capítulo, anyway.
A música de título é da Anna Kendrick. Eu não resisti à tentação, desculpa -qqqq
Espero que tenham ido bem nas provas, aliás. Quem tá na escola. Gambatte, guys :3



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Foi relativamente fácil manter-se afastado por quase duas semanas completas. Bastava andar com cuidado pelos corredores, lançar alguns olhares por sobre o ombro, não sair de sala no horário de almoço e guardar o material um pouco mais rápido, para sair antes que Santini parasse perto do portão de entrada da escola com os amigos, como acontecera na primeira quarta-feira. Não seria vantajoso todos os dias voltar correndo para dentro do edifício e lá permanecer por uma hora inteira, até julgar seguro ir para a rua.

A primeira vez que sonhou com ele, fazia exatamente três dias desde que voltara à escola, três dias que o vira acidentalmente. Estavam sobre uma pequena ilha de gelo no meio do mar, em pleno pôr-do-sol. O céu era uma mistura de rosa com laranja e a água era prateada e brilhante, com ondinhas aparecendo aqui e ali, muito raramente. Santini montava um boneco de neve com montes de neve acumulados na ilha, com flocos nos cabelos e nos cílios, o capuz abaixado e um sorriso nos lábios que nunca paravam de se mover, formando palavras e risadas que Shey não conseguia ouvir.

No segundo, andavam um ao lado do outro em uma rua escura e, ao virarem uma esquina, avistaram uma mulher caída perto de uma porta. Quando Santini se aproximou para ajudar, ela abriu os olhos e eles brilhavam de um verde-jade assustador; o moreno começou a correr aos berros e Shey o seguiu, dizendo-lhe para parar, falando que a mulher não os perseguia, mas Santini continuava correndo e quebrando os painéis de vitrais de Nossa Senhora que apareciam no meio da rua, até que um senhor tão magro que podia ver a definição de cada um de seus ossos agarrou-o pelo braço, ignorando os berros e o quanto ele se debatia, e puxou-o para a sombra de um carro antes que Shey estivesse perto o bastante para fazer algo.

No terceiro, virou aquele corredor, no dia do baile, e o encontrou aos beijos com aquele ruivo artificial. Não houve choque, dessa vez, e apenas se virou para correr, completamente em pânico, porém foi agarrado pelo pulso, e quando virou para lutar por liberdade Santini pulou e o beijou. Um beijo que queimava até a alma e que o fez acordar se debatendo e ofegando.

No quarto e último até aquele momento, Santini estava em seu quarto e eles conversavam normalmente. Então o moreno pediu para tirar um cochilo em sua cama, o que ele permitiu, por algum motivo, e desceu para a sala, capturando pombas brancas até tudo ficar escuro e subir para acordar Santini e mandá-lo para casa. Mas o garoto simplesmente não despertava, por mais que o sacudisse pelos ombros e chamasse, e quando pôs os dedos debaixo do nariz não sentiu o vento suave da respiração.

Acordou com o ar entrando e saindo dos pulmões de forma acelerada e descompassada, os olhos vazando, mas com a garganta livre de soluços. Sentou-se na cama, limpando o rosto e atraindo os joelhos para o peito, encolhendo-se no vão entre uma parede e outra e mantendo os olhos arregalados no vazio, sem ter certeza do que estava pensando. O despertador tocou pouco depois e o desligou sem olhar, sem saber ao certo se queria ir para a escola.

Preciso vê-lo, pensou antes que pudesse se conter, encolhendo-se mais. Preciso vê-lo. Ele não pode estar morto. Não pode. Não pode. Preciso vê-lo e ter certeza de que está respirando. Preciso vê-lo.

Então levantou-se, arrumou-se, alimentou-se e marchou até a escola, o tempo de aula conseguindo passar ainda mais devagar enquanto tentava se controlar. Ele está vivo, repetiu-se milhões de vezes. Está vivo e respirando por aí. Foi só um pesadelo. Mas não conseguia se convencer, e o simples ato de lembrar do corpo amolecido do rapaz sobre sua cama punha suas mãos trêmulas.

Por isso, no horário de almoço, foi com o máximo de cuidado até o refeitório, saindo junto com a massa de estudantes esfomeados para se camuflar melhor, passando para o pátio externo antes de chegar, confortando-o até visualizar, um pouco distante, a mesa de Santini. Foi um breve segundo antes que saísse de vista, correndo de volta para a sala, mas a espectro do moreno sorrindo ao redor de Daniel, Helena e Sarosh o confortou tanto que a tensão sumiu de seus ombros e conseguiu comer todo o seu sanduíche de queijo com alface e tomate.

O problema é que, passado o alívio, a imagem dos outros adolescentes, do grupo que ele mais ou menos fizera parte até pouco tempo atrás, não saía de sua cabeça. E passar o horário de almoço sozinho começou a ser deprimente, e ele voltou a se lembrar de Daniel e Helena sendo grudentos, e como o garoto sempre conferia se ele estava comendo direito. Sentia falta disso, por algum motivo. E da risada absolutamente imbecil de Santini, e da sensação daqueles olhos sobre ele, e de como ele não parava quieto, e do quanto falava, e das expressões, e da voz, e dos comentários aleatórios. Sentia falta de Santini.

Ele chegou a considerar tentar fazer novos amigos, mas quando parou para tentar observar suas opções qualquer animo o abandonou imediatamente. Ele achou, em primeira instância, que seu problema era com as pessoas na sala em si: a forma como elas falavam, como elas interagiam, suas vozes, tudo. Mas no fim das contas, após parar para ser racional, ele notou que era apenas o fato de que não eram as pessoas que ele queria, e que seus colegas de sala eram tão bons quanto qualquer outro.

Mas não podia voltar, não conseguiria olhar nos olhos de Santini nunca mais, não havia como, não depois do que o moreno havia dito. Então ele continuou com seu joguinho imbecil de se esconder pelos corredores e olhar por sobre os ombros, pois o que mais poda fazer?

~o~

A sala de Lisbeth Gramlich era a mesma coisa de paleta marrom, sofás confortáveis e tapetes felpudos, embora a sala de espera houvesse sido reformada. Ele a seguira até a sala com passos sincronizados aos dela, e assim que fechou a porta atrás de si eles afundaram em um abraço breve, e ela tinha o mesmo cheiro fraco de verão, embora estivessem na primavera. Ela se sentou em sua poltrona habitual, e ele se jogou no meio das almofadas, chutando os tênis para longe.

Passou os primeiros quarenta minutos da consulta dupla contando tudo que acontecera desde que voltara à escola, e na verdade fazia algum tempo, mas ele não sabia que tinha tanto a dizer. A verdade é que conseguira resumir tudo em dez minutos até chegar ao dia na ponte, e ele sabia que ela notara que havia pulado deliberadamente o motivo de ter tentado suicídio, e continuado falando como se nada, embora com a voz calma, quando ela questionou, mas Listeth não o obrigaria a dizer nada, então podia apenas seguir.

— O quadro das borboletas amarelas se foi. — comentou assim que terminou, sem dar realmente tempo que a mulher dissesse algo, olhando ao redor, e Lisbeth soltou um som de concordância.

— Era de areia colorida e eu deixei cair quando fui tirar para colocarem o papel de parede. — explicou, dando de ombros.

— Eu vou fazer um para você. Não com areia. Com tinta. Mas eu vou. — disse, olhando para o lugar em que o quadro das borboletas costumava ficar.

— Você acha que eu estou esperando que você me dê algo? — ela perguntou, em um tom afável e livre de julgamentos, e Shey negou com a cabeça, ainda sem olhá-la.

— Só ganhei de uma professora de Artes uma faixa de pano de tela e nunca soube o que fazer com ela.

— E por que não para a sua mãe?

— Ela não gosta de quadros tão longos. Eu faço coisas menores pra ela.

— E o seu pai?

— Eu não quero dar presentes para ele. — respondeu em um reflexo, arregalando os olhos na direção da mulher, que apenas ergueu as mãos, como que pedindo calma.

— Sem julgamentos, lembra?

— Ah... — engoliu em seco, umedecendo os lábios. — Eu acho que ele quer ficar apenas com a família nova dele. Não acho que esteja muito interessado em ficar perto de mim ou do Leon.

— Mas você disse que ele chamou você para passar um tempo na casa dele no ano novo, não?

— Foi. E eu fui lá. Melanie passou o tempo todo me fazendo comer e perguntando sobre como anda a minha saúde mental. Eu acho que ela estava preocupada, embora não seja muito agradável saber que ele conta essas coisas a ela. Nick é uma criança bastante desagradável, então no geral não foi muito bom.

— Hm. E com o seu pai? — questionou, olhando-o com calma.

— Eu não sei bem. Nós não conversamos muito há algum tempo, na verdade, então é complicado definir. Não sei se é algo natural conforme os filhos crescem os pais não conseguirem mais conversar com eles, ou se o problema sou eu.

— Isso varia de família a família, mas o afastamento familiar raramente é culpa de uma única pessoa. Principalmente em um caso como este. Você foi até a casa dele, não? E ele lhe convidou. Então a culpa no mínimo está equilibrada entre vocês dois.

— Hmmm... eu não estou exatamente com... vontade de voltar a falar com ele normalmente, para ser sincero? Ele trata minha mãe e Leon mal.

— Está é uma escolha sua. Pense sobre isso sem tentar descobrir o que as outras pessoas vão achar da sua decisão. Você quer continuar falando com ele normalmente ou prefere aumentar o afastamento?

— Eu... não sei...

— Ah, não. Não precisa responder agora ou para mim, mas quando for pensar nisso, tente ir por esse caminho, o que acha?

— Tudo bem. — retrucou, remexendo as mãos.

— Isto é o que mais vem lhe incomodando, ultimamente?

— Não... — não, não mesmo. Mal pensava nisso, se fosse para ser honesto. — Ah. Ah. É. Eu fiz amigos.

— E essa não é uma boa notícia?

— Seria. Mas não é. Porque não nos falamos mais.

— Por quê?

— Eu... — ele abriu os lábios para falar, sentindo algo travar a garganta e parando para engolir em seco, arregalando os olhos para o chão.

Lisbeth esperou, com uma paciência que ele tinha a sensação que não teria no lugar dela. Ele podia vê-la rodar o pé fora do chão, em sua posição sentada de pernas cruzadas, mas toda vez que tomava coragem para olhá-la nos olhos ela parecia serena e paciente. Foram-se cinco minutos antes que ele decidisse continuar.

— Havia esse garoto no baile de início de ano letivo. — começou, sem ter coragem de olhá-la. — Ele estava perto dos armários. E tinha esse outro garoto. Eles estavam... juntos... E eu fiquei encarando. E achei aquilo tão estranho. Mas aí o garoto me viu, e ele olhou, e pareceu assustado, e depois ele piscou pra mim. Eu não sei. Ele parecia feliz. Tinha uma risada imbecil. Tem. Não tinha, mas tem. Ele está vivo, ainda.

Shey mordiscou o lábio, fechando os olhos e se encolhendo um pouco.

— Eu vi ele de novo durante as aulas. Ele não é da minha turma, mas dava pra ver nos corredores. E ele é muito bonito. Muito bonito mesmo. Era divertido desenhar. Ainda é, na verdade. Mas eu parei. Ou tentei parar. Eu não sei. Eu não achava ele nojento, mesmo que ele estivesse errado. Muito errado. Porque você não pode só sair por aí com homens. É nojento. Mas ele não era.

Respirou fundo, deixando o ar entrar e sair dos pulmões com uma calma que não lhe pertencia.

— Eu não... eu queria odiar ele, eu acho. E pensar nele um pouco menos. E mesmo que ele não parecesse nojento, eu me sentia nojento por... — se interrompeu, arregalando os olhos, encarando a psicóloga, que parecia tão serena quanto no inicio, em pânico. — Eu não... ele... — limpou a garganta, desviando o olhar novamente. — Então eu tentei me jogar da ponte. E ele apareceu.

— Ah. — Lisbeth soltou, o primeiro som desde que começara a falar, e ele a olhou novamente, em parte esperando que ela tivesse algo a dizer. Ela lhe deu um sorriso tranquilo, negando com a cabeça. — Desculpe. Continue, por favor.

— Ah... ele apareceu. E me fez sair. Eu teria me jogado, se ele não aparecesse. Porque eu estou só adiantando o meu destino de ir para o Inferno, continuando vivo. Mas eu não poderia fazer aquilo com ele olhando. Não poderia, porque... — apertou os olhos com força, passando a mão pelos cabelos. — Então ele foi na minha casa, e conversou com Leon. Sobre o que eu tinha feito. Bem, tentado fazer. E o Leon ficou triste. Muito triste. E contou pra minha mãe, depois. Eu tinha acabado de voltar da Igreja. Antes de ir, digo.

Fez mais uma longa pausa, com o cenho muito franzido, arrastando a mão pelo cabelo e transformando tudo em uma terrível confusão.

— Ele é muito legal. O Santini.

— Santini, o garoto no corredor?

— Sim. Ele é muito legal. E gentil. — desviou os olhos, suspirando profundamente. — Eu realmente espero que Deus possa perdoá-lo. Porque ele não merece ir para o Inferno.

— Você acha que ele precisa ser perdoado? — o loiro não respondeu, aconchegando-se mais nas almofadas.

— Ele me apresentou os amigos dele. São pessoas legais. Eu acho. O ruivo não. Bem, mas ele devia ser assim só comigo. Mas havia a Helena e o Daniel. O Daniel é muito gentil, também. Ele ficava agindo como... a mãe de todo mundo, eu acho? Ficava perguntando por que eu não estava comendo e enviou um monte de mensagens quando eu fiquei doente. E me deu comida de presente. A Helena também. Ela é linda. Eu não... acho que essa seja a parte mais importante de falar. Mas para os nossos padrões atuais e culturais de beleza ela é incrível. E desenhar ela é muito bom.

— Foi bom conversar com eles?

— Eu não conversava tanto assim. Passava o almoço com eles. E a gente saiu umas vezes. Mas eles eram legais. Pessoas adoráveis, sabe? — sorriu fracamente, encolhendo-se um pouco. — Jogamos videogame uma vez. Quando eu estava dormindo na casa do meu pai, na verdade. Eles me viram no parque. Digo, o Daniel e o Santini. E o Santini veio correndo e saltitante e ficou constrangido imediatamente depois. Foi um pouco engraçado, eu acho. Então a gente foi na casa dele. Do Daniel. E vimos Frozen. Não foi muito legal, mas a irmãzinha do Daniel estava lá com uma amiguinha.

— Você está melhor com crianças, agora?

— Não. Mas a Amora é uma boa criança. Algumas são cruéis, outras são insuportáveis, e ficam gritando. Ela é... fofa, eu acho.

— Uhum... mas continue. Vocês viram Frozen.

— Ah. Sim. Vimos Frozen. E o Santini dormiu no meio de uma mordida no biscoito. E a Amora pôs um monte de pregadeiras nele quando não estávamos olhando, mas o Daniel tirou. E o Santini não acordou mesmo assim. E a gente jogou Mortal Kombat. Digo, eu fui bem ruim, mas foi divertido. Ele pegou leve comigo depois da primeira partida. Eu não queria voltar para casa. Para a casa do meu pai, digo. Mas tinha combinado de voltar para o jantar, então, hm... eu me lembro de ter recusado companhia pra voltar pra casa. Ou que me levassem até o portão. Isso é aceitável? Socialmente aceitável, quero dizer.

— É. Você não é obrigado a ficar aceitando companhia, é claro.

— Ah.

— Mas então...?

— Ah. Sim. Aconteceram algumas coisas, eu acho. Eu acabei contando do meu aniversário para o Santini. E ele conheceu a minha mãe. Eles se dão bem, acho. Eu fiquei tentando parar de pensar nele, também. Muito. Não queria parar de falar com ele, porque... a minha experiência anterior com amizades foi completamente... completamente diferente, então achei que eu podia controlar essa... coisa. Mas eu não podia. Então eu amaldiçoei ele, sem querer.

— Como assim?

— Ele disse que gostava de mim.

— Como amigo?

— Não. Ele perguntou se me incomodava ele ser... desse... jeito... e depois disse que gostava de mim. E eu... gritei com ele. E disse um monte de coisas... porque... eu entrei em pânico. Porque... — ele parou, arregalando os olhos para a parede, com a respiração se tornando mais difícil, o ambiente parecendo girar. — Porque... ele... ele é o Santini... e eu...

Enterrou a cabeça nas mãos, pressionando as palmas em seus olhos fechados, com a respiração ainda rasa e o corpo começando a tremer.

— Eu sonhei com ele. Estava desviando dele na escola, e sonhei com ele. No último ele estava morto. E eu não aguentei. Eu precisei ver ele. Mas eu não posso mais olhar nos olhos dele. Eu o amaldiçoei. Ele está amaldiçoado. Por mim. Por mim. Eu não queria, eu juro.

— Shey. — a psicóloga chamou, e ele notou, por quão perto sua voz soava, que ela estava mais próxima. — Shey, aqui. Respira fundo... devagar... apenas pelo nariz, usando o diafragma. Você ainda lembra como fazer isso, né? — assentiu, tentando seguir a instrução com alguma dificuldade. — Você quer um pouco de água?

— Eu gosto dele.

O ar pareceu suspenso e ele arregalou os olhos para a mulher, que apenas o encarou de volta, sem nenhum julgamento no olhar, antes de enterrar a cabeça nos joelhos e deixar a respiração se descompassar novamente.

— Não. Shey. Respire lentamente. — ela repetiu, e ele a ouviu levantar e ergueu o olhar, vendo-a caminhar até onde estavam as duas garrafas térmicas que ela mantinha na sala desde que se lembrava, pegando um copo descartável e enchendo-o rapidamente.

— Eu gosto dele. — repetiu, e o estômago se revirou enquanto Lisbeth voltava para perto. — Ah. Eu sou gay. — ofegou, arrastando as unhas da mão direita pelo couro cabeludo. — Eu sinto muito. Eu sinto tanto.

— Aqui. — ela disse apenas, estendendo o copo e abaixando ao seu lado. Ele agarrou-o com a mão trêmula, e usou também a outra, a que mantinha na cabeça, quando percebeu que acabaria derramando. — Beba devagar. Nós não queremos que você perca o controle. — ela disse com uma voz confortante e firme, e ele se viu obedecendo, tendo de forçar o liquido a passar pela garganta. — Você quer desenhar?

— Não.

— Tudo bem. Vamos tentar a respiração quadrada?

— Eu não consigo contar, agora.

— Eu faço com você. — ela respondeu, abrindo um sorriso gentil, e ele assentiu, tomando mais um gole da água.

Ele imitou-a por um tempo, concentrando-se para saber quando exatamente ela estava soltando e puxando o ar, e achava que já havia passado no mínimo dez minutos quando começou a se sentir mais calmo, a cabeça girando um pouco pelo exercício respiratório, e ela parou assim que notou que Shey não mais tentava imitá-la. Eles fitaram-se longamente, em um silêncio estranhamente confortável, até que ele deixou os olhos caírem, recostando-se novamente nas almofadas.

— Desculpe.

— Pelo quê?

— Eu não sei. — recuperou o copo que pusera no chão, tomando um gole da água. — Eu não sei. Eu não queria... gostar dele. — arregalou novamente os olhos, começando a respirar profundamente pelo nariz para não deixar a respiração voltar a um estado medíocre.

— Por que não? — ela perguntou, sorrindo calmamente em sua direção. — Você não disse que ele era legal?

— Ele é. Mas ele é... — umedeceu os lábios. — Ele é gay.

— Sim. Bem, ou bissexual. Pelo que você disse.

— Eu não quero... — abaixou a cabeça, batucando os dedos no chão. — Eu não quero ser gay. Isso é pecado. É nojento. Eu sou nojento.

— Não, você não é. Olhe, Shey—

— Podemos mudar de assunto? Por favor.

— Sim. Claro. Vamos falar disso quando você estiver pronto.

— Ok. Obrigado. Você pode puxar outro assunto, por favor?

— Claro. — ela sentou em no tapete onde estavam as almofadas, ao lado dele. — Você já começou a pensar na faculdade?

~o~

Ele estava mergulhado em exercícios de matemática, com o relógio marcando uma da manhã, na escrivaninha de seu quarto, quando Leon abriu a porta, com o cabelo desarrumado e os olhos pesados deixando um pouco claro que caíra de sono no sofá da sala. Havia decidido, durante o jantar, que apenas tomaria o remédio para insônia caso ainda estivesse acordado às duas da manhã, portando, quando o sono não veio ao deitar na cama, decidiu se levantar e abrir os cadernos escolares, procurando por exercícios para adiantar e indo pelo de matemática, para eliminar logo o mais difícil.

— Que cê tá fazendo? — Leon murmurou, em uma voz enrolada de sono, e Shey levantou a página do caderno para ele. — Quê isso?

— Matemática.

— Vai dormir, caralho. — ele resmungou, parecendo indignado. — Matemática a essa hora? Você tá me zoando?

— Eu não estava com sono.

— Então pelo menos pega algo que não estimule o seu cérebro a ficar acordado.

— Ah. Tudo bem.

— Boa noite. — ele pronunciou, agarrando a maçaneta para fechar a porta, e Shey largou o livro na mesa, decidindo se pronunciar antes que o irmão saísse.

— Leon. — chamou, vendo-o parar o movimento, franzindo o cenho em sua direção.

— Fala.

— Obrigado. Por me arrastar de volta para a escola, digo. As minhas notas poderiam ter caído. E eu já estou tendo dificuldade com as matérias novas de exatas. — o mais velho abriu um sorriso sonolento, entrando no quarto e bagunçando seus cabelos.

— De nada, peste. — respondeu, dando pequenas pancadinhas em sua cabeça antes de deixar o quarto, permitindo que voltasse a seu momento de insônia. Ele fechou o livro e o caderno de Matemática, levantando-se para guardá-los e agarrando os de Literatura.


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