Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 14
Capítulo 14




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Balanço suavemente o ombro de Katniss para acordá-la. Ela abre os olhos, atordoada. Seu rosto parece melhor. Tento disfarçar toda a minha tristeza, mas meu tom de voz me denuncia quando reúno minhas forças para falar com ela.

— Vá para a cama, Katniss. Vou cuidar dele agora.

— Peeta. Sobre o que eu disse ontem sobre fugir... — ela começa.

— Eu sei. Não há nada para explicar – interrompo. Na verdade minha vontade é dar risada, por ela achar que eu ainda estava cogitando essa hipótese.

— Peeta...

— Só vá para cama, ok? – digo, e me viro incapaz de encarar seus olhos.

Observo ela subir as escadas, sem olhar para trás, e me sento na cadeira que estava ocupada por ela, assim que escuto a porta de seu quarto fechar. Me afasto um pouco do corpo de Gale, me sentindo esfaqueado pela proximidade que Katniss estava dele. A cadeira ainda está quente. É bom sentir o calor do corpo dela, nem que seja dessa maneira humilhante. Fico alguns minutos, sem saber ao certo porque vim aqui. Gale, começa a fazer ruídos, recobrando a consciência. Pelo estado da sua pele, imagino que ela vai sentir muita dor quando o efeito da morfina passar. No fundo, eu queria que ele sofresse. Mas do que adiantaria? Me levanto, procuro uma bacia na cozinha, e encaro o ar gélido da manhã. Encho a bacia de neve, e faço uma espécie de manta sobre a pele ferida de Gale. No começo ele estremece, mas depois parece relaxar, acho que volta a dormir. Pego um pedaço de pão, ainda morno, e me sento a fim de comê-lo, mas não consigo. Fico girando a macia fatia entre os dedos, até que uma voz moribunda me surpreende.

– Que cheiro bom.

– Gale, você está bem? – pergunto, logo me sentindo um idiota. É claro que ele não pode estar bem.

– Poderia estar melhor. Onde está Katniss? – ele pergunta, parecendo fazer um esforço excruciante para falar.

– Ela foi se deitar. Passou a noite toda ao seu lado – respondo, e abaixo a cabeça.

Silêncio.

– Você sabe que ela te ama, não sabe? – Gale pergunta tão baixo, que eu quase não sou capaz de escutar.

Levanto a cabeça abruptamente, e encaro seus olhos cinzas, tão parecidos com o de Katniss, para me certificar de que ele não está brincando.

– Você sabe que foi uma encenação – é tudo o que consigo responder.

– Ela te ama de verdade – ele sussurra. – De verdade.

Fico paralisado ao ouvir essas palavras serem proferidas por ele. Por que ele diz isso com tanta convicção? Não. Não posso me iludir mais uma vez. Ele está delirando, é isso, são os remédios.

– Hey, se você não vai comer, me dê, pois estou com muita fome – ele diz, fazendo eu me lembrar de onde estou.

Aí me lembro do pão em minha mão. Estendo para que ele pegue, mas vejo que nem que ele queira muito, não irá conseguir levantar o braço para pegá-lo. Suspiro.

Cena irônica, eu colocando pedaços de pão na boca do meu inimigo. Mas essa é uma palavra errada, pois se nós dois queremos ver Katniss feliz, não podemos ser inimigos. Mas também não significa que tenhamos de ser amigos. Dou quase o pão inteiro para Gale, sem nem perceber como pode parecer estranho isso. Pois as palavras que ele disse mais cedo, estão cravadas em minha mente. Ela me ama de verdade. Será?

Gale logo adormece novamente, e depois de horas, a mãe de Katniss aparece com uma expressão cansada.

– O que você fez aí? – ela pergunta indicando a cabeça para Gale.

– Bem, coloquei um pouco de neve. Parece que ele estava com muita dor. Tem algum problema eu ter feito isso? Pode piorar? – pergunto, sentindo um pavor correr em meu corpo. Katniss nunca me perdoaria se eu causasse algum mal a Gale.

– Não! – Ela me tranquiliza. – Eu ia fazer isso agora mesmo, mas com algumas ervas. Mas por ora vou deixar assim, já que ele esta dormindo.

– Ah, que bom. Acho que vou para casa. O tempo está piorando. Trouxe pão, como sempre – dou uma risada sem jeito. – Ah, e Gale comeu um pouco de pão também. Espero que ajude.

A mãe de Katniss sorri de forma tão afetuosa para mim, que eu tenho vontade de abraça-la e chorar. Mas eu apenas sorrio de volta, e me encaminho para a porta.

– Peeta – ela chama.

Eu paro, e vejo ela subir as escadas. Alguns instantes depois, ela volta com algo na mão, e me entrega. Quando pego, vejo que é uma foto. Quase me desmancho em lágrimas quando vejo de quem é a foto. Katniss está sentada num banquinho, duas tranças caídas ao ombro, um sorriso faltando um dente.

– É a foto que tiramos em seu primeiro dia de aula. Ela tinha apenas sete anos - a mãe dela diz, com um olhar saudoso na foto.

Fico envergonhado por chorar, mas eu não consigo me conter.

– Eu vi nos jogos, quando você disse aquilo. Que se apaixonou por ela, quando a viu, no primeiro dia de aula – ela continua, fazendo eu chorar ainda mais.

Ela me abraça.

– No fundo, ela te ama Peeta, de verdade.

Dizendo isso, ela se afasta de mim, e eu me pergunto, por que hoje, justo hoje, que eu tinha decidido desistir desse amor, todos estão falando isso para mim. Enxugo minhas lágrimas, tentando achar as palavras, mas elas simplesmente não vêm.

– Obrigado – digo baixinho, e vou para minha casa.

Passo na casa de Haymitch, para verificar se está tudo bem, e me deparo, com um Haymitch mais bêbado que o usual. Jogo um cobertor sobre ele, fecho toda a casa e acendo a lareira. Preciso voltar mais tarde para trazer algo que ele possa comer quando acordar. Vou para minha imensa solidão, que eu chamo de casa, e faço alguns pães. Enquanto estão no forno, fico olhando a foto de Katniss, e me perguntando porque eu tinha que ter me encantado por essa garotinha... Tento relembrar o que se passou pela minha cabeça, quando eu tinha sete anos, mas não consigo achar um motivo para esse amor ter nascido dentro de mim. A explicação mais plausível, é que eu estava predestinado a sentir esse amor. Independentemente de ser correspondido ou não, meu destino, ou a minha missão, é amar Katniss incondicionalmente.

Tiro os pães do forno, e levo para a casa de Haymitch. Ele ainda dorme. Talvez esteja desmaiado. Toco de leve seu ombro, e ele murmura algum insulto. Sorrio.

Volto para casa, me sentindo extremamente cansado. Tiro meu casaco, e estou a caminho do banho, quando o telefone toca.

Estremeço, pensando em quem poderia estar me ligando. Haymitch não pode ser, pois acabei de sair de sua casa, e ele estava dormindo. Katniss também não pois... pra que ela me ligaria? Só pode ser alguém da capital. Pelo que fiz, em ajudar Gale. Pego o telefone, e para minha surpresa é a voz de Katniss que escuto.

— Hey, eu só queria ter certeza de que você chegou em casa — ela diz, sem jeito.

— Katniss, eu vivo a três casas da sua — respondo, descrente de que o motivo da ligação seja realmente esse.

— Eu sei, mas com o tempo e tudo.

— Bem, estou ótimo. Obrigado por se preocupar.

Silêncio.

— Como está Gale?

— Bem. Minha mãe e Prim estão aplicando o casaco de neve agora.

— E seu rosto?

— Aplicaram um pouco em mim, também. Você viu Haymitch hoje?

— Dei uma checada nele. Completamente bêbado. Mas eu acendi sua lareira e deixei algum pão para ele.

— Eu queria conversar... com vocês.

— Provavelmente tenho de esperar até que o tempo se acalme — digo, sabendo que não é seguro conversar alguns assuntos pelo telefone. — Nada mais vai acontecer antes disso, de qualquer forma.

— Não, nada mais — ela concorda, e desliga.

Fico segurando o telefone contra meu rosto, como se ela fosse falar comigo de novo a qualquer momento. Como se ela, assim como Gale, e sua própria mãe, fosse dizer que me ama, de verdade. Olho lá fora, pela janela, e é impossível enxergar algo, a não ser uma tênue luz na direção da sua casa. Deve ser a luz da cozinha. Onde ela deve estar cuidando de Gale neste exato momento. Sinto um nó na garganta, mas não tenho mais lágrimas para chorar. Fico pensando em como tudo isso irá acabar. Adormeço, ainda segurando o telefone, e imaginando como seria bom, dormir ao lado de Katniss novamente. Apenas uma última vez...


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