Em Chamas - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 13
Capítulo 13




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Haymitch conseguiria fácil livrar Katniss e Gale disso, mas eu preciso interferir. Enquanto o novo pacificador berra, perguntando porque diabos Katniss se intrometeu nisso, eu os alcanço e a pego em meus braços, bem devagar, e dou a única explicação que me vem à mente.

— Ele é primo dela. E ela é minha noiva – acrescento para ele não se perguntar o que diabos eu tenho haver com isso. - Então, se você quer chegar até ele, terá de passar por nós dois.

O homem carrancudo fita cada um de nós com um semblante assustador. Estremeço ao pensar que ele poderia simplesmente chicotear todos nós, ou até matar-nos. Mas eu não tiraria meus pés daqui. Não sem Katniss. E Haymitch. E Gale.

Uma fileira de pacificadores observa o espetáculo, sem reação alguma. Um silencio paira no ar. O que restou da minha perna, começa a latejar sob a armação de metal que carrego. Finalmente, uma pacificadora, que avistei no prego algumas vezes, enquanto observava Katniss, pigarreia e dá um passo à frente.

— Creio que, para um réu primário, o número de chicotadas é dispensado, senhor. A não ser que a sentença seja morte, o que seria feito pela artilharia.

— Este é o protocolo padrão daqui? — pergunta o Pacificador Chefe.

— Sim, senhor — ela responde, e mais alguns pacificadores sinalizam positivamente.

— Muito bem. Então tire seu primo daqui, garota. E lembre-o de que na próxima vez que ele caçar nas terras da Capital, eu pessoalmente trarei a artilharia.

Dizendo isso, ele passa a mão pelo chicote, espirrando sangue em nós. Uma última olhada furiosa, ele se vira e sai.

Os outros pacificadores o seguem, e em um instante a praça antes lotada, está vazia.

Katniss corre as mãos pelos pulsos atados de Gale, e sussurra seu nome várias vezes, tão baixinho, tão docemente, que só eu sou capaz de escutar. Gostaria de estar no lugar dele, ao ter que escutar ela o chamando assim. O açougueiro, amigo de meu pai, aparece com uma faca, para que eu possa cortar as amarras que o prendem, e quando o solto, ele desaba ao chão totalmente inconsciente. Conseguimos ainda, comprar uma espécie de prancha na loja de roupas para servir como maca, e seguimos para a casa de Katniss, que Haymitch deduziu ser a melhor opção já que mãe dela está acostumada a lidar com enfermos, e Gale é quase da família. Quase, mas um dia realmente será. Jogo esses pensamentos para longe, e me concentro em carregar a pesada “maca” com a ajuda de Haymitch, e ignorar a dor em minha perna e em meu coração. Dois mineiros nos ajudam pois Gale é surpreendentemente pesado. Uma menina magricela aparece com olhos assustados para ajudar Katniss, que está com seu rosto muito inchado no lado esquerdo. Gostaria de eu mesmo poder ampará-la, mas fico grato por alguém fazer isso. No caminho Katniss pede para a menina chamar a mãe de Gale, e se enrola na jaqueta dele, que estava jogada pela praça.

– Põe um pouco de gelo nisso aí – Haymitch diz, e eu percebo que o inchaço está aumentando, e seu olho se limita a uma pequena fenda, que não para de lacrimejar. Torço para que ela não sofra consequências graves, mas se acontecer, que a capital possa dar um jeito nisso. Os mineiros que nos ajudam começam a contar sobre como Gale foi parar nessa situação, e eu acertei. Foi por caçar. Tenho que impedir que Katniss continue com isso. O que eu faria se fosse ela, levando essas chicotadas como punição? Minha perna cambaleia, só de pensar.

Quando chegamos a casa de Katniss, sua mãe se assusta com a cena.

– Novo pacificador chefe – Haymitch explica.

Ela assente, e assume um novo semblante. Em segundos, Gale está deitado sobre a mesa da cozinha, em cima de um pano branco e começam os cuidados. Ela e Prim trabalham cautelosamente, enquanto Katniss, chorando, implora para que elas o salvem. Eu saio, pois não suporto ver essa cena. E preciso pegar mais neve para Katniss, que nem se dá conta de que ela também está precisando de cuidados. Enquanto estou concentrado em minha tarefa, a mãe de Gale chega. Eu digo para ela entrar, e entro em seguida. Forço Katniss a se sentar um pouco afastada do corpo inerte de Gale, enquanto pressiono a neve em seu rosto.

Gale recobra a consciência, e solta gemidos de dor. A mãe de Katniss começa a preparar um tipo de chá para ele beber, mas me pergunto se isso é suficiente para parar a dor de feridas tão profundas.

— Isso não será o suficiente — Katniss diz, todos nós a encaramos. — Isso não será o suficiente, eu conheço a sensação. Isso nem mesmo curará a dor de cabeça.

— Iremos combinar com pílulas para dormir, Katniss, e ele aguentará. As ervas são mais para a inflamação... — a mãe dela começa a explicar...

— Só lhe dê o remédio! — Katniss grita, se levantando da cadeira. — Lhe dê! Quem é você para decidir o quanto de dor ele pode aguentar?

Gale começa a emitir sons agonizantes em resposta aos gritos de Katniss. As ataduras que cobrem os ferimentos começam a manchar de sangue novamente.

— Tirem ela daqui — a mãe dela ordena.

Obedeço. Levando-a para o quarto com a ajuda de Haymitch, enquanto ela tenta a todo custo se libertar de nós, xingando a sua mãe, a Haymitch, e não sei por qual motivo, a mim. Fico segurando-a por um tempo, até que ela se acalma, e deita na cama, se encolhendo, e me repelindo. Escutar seus soluços é doloroso demais, ainda mais por eu saber o motivo deles. Sussurro para Haymitch, sobre a ideia dela de fugir, devido a rebelião do distrito 8, e sobre o que ela disse sobre Snow não ter achado o suficiente “nossas” atuações. Haymitch não responde nada, mas pela sua expressão sei que ele não acha uma boa ideia. Eu também não acho, mas por Katniss eu faria qualquer coisa, a seguiria para qualquer lugar.

Já está noite quando a mãe de Katniss vem tratar do seu rosto. Eu fiquei no quarto o tempo todo, mas Katniss se recusou a falar comigo, ou deixar eu a tocar. Sua mãe garante que o ferimento foi superficial. Quase choro de alívio. De repente, escutamos uma batida na porta. Ficamos todos em alerta, preparados para o pior. Mas para nossa surpresa, é Madge, a filha do prefeito, com uma caixinha na mão. Ela simplesmente a entrega e sai correndo pela neve.

– Garota louca – Haymitch sussurra.

Katniss abre a caixa e encontramos meia dúzia de frascos contendo um líquido claro.

– O que é isso? - pergunto

— É da Capital. Chama-se morfina — a mãe de Katniss responde.

— Eu nem sabia que Madge conhecia Gale — digo.

— Nós costumávamos vender morangos a ela — Katniss responde furiosa.

Mas por que ela está assim?

— Ela deve gostar muito dele — diz Haymitch.

— Ela é minha amiga — Katniss diz, e volta para o quarto.

Agora eu entendo. A suposição de que haja algo entre Madge e Gale a deixou assim. Por que eu tenho que ver tudo isso? Por que eu não vou pra minha casa e me poupo desse sofrimento, dessa humilhação de ver Katniss descontrolada por causa de Gale? Por que? .... Bem, por que eu não consigo sair daqui sem antes saber que Katniss está bem. E para isso acontecer, Gale tem que ficar bem. Quando ele recebe o medicamento, seu corpo parece relaxar instantaneamente. Prim prepara o jantar para nós, e Katniss parece estar mais calma. A mãe de Gale vai embora, prometendo voltar no dia seguinte, já que tem filhos pequenos para criar. Eu me ofereço para ficar, mas a mãe de Katniss faz eu e Haymitch irmos embora.

Entro em minha casa, gelada, sombria, silenciosa, e quebro minha promessa. Choro por muito tempo. Talvez por horas. Eu não sei. Choro sem saber o motivo. Choro por nada, por tudo. Choro como se a dor em meu coração fosse parar, fosse se derramar pelas minhas lágrimas. Olho para o retrato que pintei de Katniss, e me pergunto, porque eu não posso ser merecedor desse amor. O que eu fiz de errado? Encontro duas respostas. Amei a garota errada, e sobrevivi nos malditos jogos que deveriam ter apenas um vencedor. Passo a noite, os olhos vidrados na tela, pensando como tanta coisa está acontecendo, e eu não posso fazer nada para impedir. Pessoas morrendo no distrito 8, pessoas foram mortas no 11, pessoas morrendo a toda hora, uma rebelião iminente, tudo indiretamente por minha causa, e eu aqui, agindo como se ser rejeitado fosse pior que morrer de fome. Mas, dói mesmo. É uma dor que eu sinto não ser capaz de suportar. E ainda por cima, tenho um pressentimento que mais coisas ruins irão acontecer. Como se fosse possível, mas eu sei que esse é só o começo. Me levanto do chão gelado, onde passei a noite toda jogado, e faço o que sei fazer de melhor: pães. Em seguida tomo um banho, visto um agasalho, pego os pães frescos com um aroma delicioso, e marcho para a casa de Katniss. Mesmo que ela não me queira, eu não consigo deixar de estar ao seu lado. Quero apenas ver se ela está bem. Encontro a porta destrancada, e quando a abro, fico paralisado diante do que vejo. Meus olhos se enchem de lágrimas, e ardem demais, por eu não ter dormido, e chorado a noite toda. Até que ponto eu aguentarei me sentir assim? Até quando meu coração continuará batendo, mesmo dilacerado? Encontro Katniss, dormindo ao lado de Gale na mesa, o rosto tão próximo do seu, os dedos entrelaçados na sua mão. Coloco os pães na mesa, e levo as mãos ao rosto, numa tentativa de abafar o som dos meus soluços. Repito mentalmente que o que importa é Katniss estar feliz. Mas, por entre minhas lágrimas, me pergunto se era preciso tamanha infelicidade para mim, ser o preço de vê-la feliz. Me aproximo, na dúvida entre acordá-la, ou continuar a ver essa cena. Os dois parecem felizes juntos, apesar das circunstancias. Saio da casa, atormentado e ajoelho na neve, desejando parar de sofrer. Fico ali por um tempo, torcendo para que a dor do frio sobre minha pele, mascare a dor em meu peito. Mas isso não resolve. Nada irá resolver. Volto para dentro e escolho acordar Katniss para que ela possa se deitar em sua cama, e descansar. E chego a uma conclusão. Não importa o que aconteça, eu sempre vou estar ao seu lado. Mas não vou mais interferir. Chega de encenações para a capital, chega de tentar conseguir seu amor. Vou guardar esse sentimento tão grande a sete chaves aqui em meu peito, e me contentar com a felicidade dela estando com Gale. Mas eu queria não sofrer tanto... Isso não é pedir demais.


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