Roses and Demons EX: Crimson Blast escrita por Boneco de Neve


Capítulo 23
Impiedade e Loucura




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Quase dois dias depois, Fileo finalmente conseguiu chegar a Gricai. Logo que chegou ao castelo, foi ao salão particular dos Combatentes à procura de seus companheiros, os quais de fato já estavam lá a sua espera.

Fileo: Mestre Rashu, Mestre Tong-Hu.

Rashu: Tu és um de nós, senhor Fileo. Não há necessidade de nos adereçar como mestres.

Fileo: Ah... Desculpem a demora, a roda da minha carruagem quebrou e levei um tempão pra consertar...

Rashu: Não tem problema. O que importa é que chegaste aqui. Podemos começar ou prefere descansar um pouco antes de isso?

Fileo: Ah, não; não preciso descansar. Podemos começar agora.

Rashu: Muito bem. E quanto a ti, senhor Tong-Hu; alguma objeção?

Tong-Hu: Nenhuma, meu amigo. Vamos em frente.

Fileo reparou que Tong-Hu não parecia muito contente naquele momento e ele já imaginava muito bem o porquê. Porém, ele também estava temeroso. O resultado daquela discussão muito provavelmente não seria bom para Mileena. O Combatente loiro, porém, procurou se acalmar e escutar tudo com atenção para ver se de alguma forma poderia livrar a moça de manopla do estratagema a ser deliberado, seja lá qual for.

Rashu: Como todos nós sabemos, a Mão de Pravus tem executado ações ousadas ultimamente, sendo que a última dela resultou na morte de toda a família Shabon, uma das três grandes famílias que formaram Sortiny.

Tong-Hu: Mas é estranho. Se ela é uma caçadora de recompensas, por que ir atrás de alguém que não era sequer procurado?

Fileo: Talvez os Shabon tivessem alguma coisa de valor que ela estava atrás...

Rashu: Sim, mas as pistas que Omoma Shabon nos deu antes de morrer dão a entender que tudo aquilo não fora um mero roubo. Se fosse, não haveria por que causar tamanho estrago.

Tong-Hu: Tem ideia então do motivo?

Rashu: Não tenho uma ideia plena, mas Omoma informou sobre o item que a Mão de Pravus havia obtido. Era o diário de Midea Darphai.

Tong-Hu: A líder do clã? Soa sério...

Fileo: Mas isso não é o suficiente para constatar que a Mão de Pravus é uma Darphai.

Rashu: Verdade, mas isso somado aos fatos de ela ter usado magia e de ter demonstrado boa capacidade de luta reforça bastante a possibilidade.

Fileo: Certo... (Caramba, musa...)

Tong-Hu: OK, ele chegou a descrever a figura?

Rashu: Segundo ele, a moça estava coberta da cabeça aos pés naquela hora, mas ele aparentemente já havia a visto antes. Ela era alta, tinha pele branca e cabelos negros. Ele reparou que ela usava uma luva vermelha no braço direito.

Tong-Hu: Ele não conseguiu vê-la e conseguiu dar essa descrição? Difícil de acreditar...

Fileo: Eu concordo. Isso sem contar que ela poderia muito bem mudar de aparência. Ainda mais se ela for mesmo uma bruxa.

Rashu: Nisso eu sou forçado a concordar também. Contudo, ainda assim, eu acredito que já é possível tomar algumas providências.

Tong-Hu: Estamos ouvindo.

Rashu: Vamos orientar os chefes das cidades a ordenarem os guardas para redobrar a atenção quando virem alguma mulher com a aparência descrita por Omoma. Eles devem apenas observá-las a princípio, sem levantar suspeitas. Caso encontrem a Mão de Pravus, eles devem informar ao chefe de sua cidade e este deve fechar todas as saídas em seguida. Então, devem cerca-la e intima-la a comparecer aqui em Gricai. Ela não deve ser pressionada sob hipótese alguma, mas se ainda assim ela oferecer resistência, nós interviremos diretamente.

Tong-Hu: Que cauteloso...

Fileo: Mest... Er... Rashu, não acha que estamos sendo apressados? Nós ainda não temos total certeza da aparência dela e...

Rashu: Sua aparência não é o único critério de sua identificação. A sua luva é o critério mais confiável. A Mão de Pravus não seria estúpida de descartar um objeto poderoso tão facilmente...

Fileo: (Isso se ela conseguisse tirar a luva, né...)

Rashu: Não deve ser difícil detectar algum poder especial vindo dela, então o risco de confusão é mínimo. Além disso, a corte demanda uma resolução rápida para este caso. A destruição da família Shabon foi uma ofensa máxima para todo o reino de Sortiny, portanto deve ser tratado com total prioridade.

Fileo: Eu entendo...

Rashu: Outra coisa muito importante. Os detalhes desta operação não podem chegar aos ouvidos do rei. Muito menos a identidade da Mão de Pravus.

Tong-Hu: Ué? Como assim, o rei não pode saber?

Rashu: Ordem direta da rainha-mãe. Ela quer que a Mão de Pravus seja trazida viva até aqui, a princípio, para questionamento. Se o rei souber disso, ele certamente exigirá a cabeça dela imediatamente.

Tong-Hu: Tem certeza que isso não vai dar problema, Rashu? Você sabe muito bem que a autoridade máxima aqui é o rei, não a rainha-mãe. Se ele descobre...

Rashu: Como tu mesmo disseste, eu sei muito bem disso, senhor Tong-Hu... Se acontecer algo de errado, eu assumirei toda a responsabilidade.

Vendo a resolução de Rashu, Tong-Hu encerrou suas perguntas. Fileo, da mesma forma, também ficou em silêncio. De certa forma, Fileo não estava tão incomodado com o plano de Rashu. Ainda que fosse um plano considerado prematuro por falta de informações mais concretas, o caráter cauteloso o permitiria ter um controle mais suave da situação, facilitando assim a proteção à Mileena. Vendo que os dois não tinham mais contra-argumentos, Rashu prosseguiu.

Rashu: Parece que chegamos a um acordo. Faremos o seguinte agora: Eu comunicarei a decisão à rainha-mãe e depois vou distrair o rei. Enquanto isso, Tong-Hu reunirá os soldados da guarda real e os aspirantes na área de treinamento e Fileo reunirá alguns mensageiros no salão de entrada. Oriente-os a passarem todas as informações que obtiverem até a nós e somente a nós. Por agora, isso é tudo.

Depois de finalmente decidirem tudo, os três Combatentes Reais encerraram a reunião. Fileo abriu a porta da sala para sair e encontrou uma das serviçais do castelo logo a frente. Ela estava carregando uma bandeja com um jogo de chá.

Fileo: Ah, oi, Matita.

Matita: Ah... Er... Olá, senhor Fileo, senhor Tong-Hu e senhor Rashu.

Rashu: Posso saber o que fazes aqui, Matita?

Matita: Eu estou voltando dos aposentos da Rainha Noemi. Acabei de lhe servir o café da manhã.

Rashu: Muito bem. Diga-me, como ela está?

Matita: Ela está com um pouco de dor de cabeça, mas ela está bem, senhor. Pelo menos foi o que me pareceu.

Rashu: Certo. Eu irei vê-la. Eu encontrar-me-ei convosco mais tarde, senhores. Com vossa licença.

Tong-Hu: Toda...

Matita: Eu também vou indo. Com licença.

Fileo: À vontade...

Fileo não pode deixar de notar que ela parecia desconcertada ao ver os três. Julgando que era apenas por estar de frente com os Combatentes Reais, ele não se preocupou com isso e deixou-a ir em paz.

Duas horas depois, os três se reuniram novamente, desta vez no portão do castelo, para relatarem o progresso do plano.

Fileo: Os mensageiros foram informados e já estão se preparando para partir.

Tong-Hu: Os soldados também acataram as ordens. O problema é com os aspirantes.

Rashu: O que tem os aspirantes?

Tong-Hu: Não apareceram. Descobri depois que eles saíram de Gricai faz alguns dias e não deram mais notícias.

Rashu: Tsc... Alguém porventura sabe o motivo da saída deles?

Tong-Hu: Disseram que Blodia queria ver se Jasmine sobreviveu ao ataque a casa Shabon e que Rex e Agouro foram atrás pra acompanhar e, se possível, enfrentar a Mão de Pravus.

Rashu: Néscios... Eles podem colocar tudo a perder.

Tong-Hu: Ou podem facilitar o nosso trabalho. Vai que eles cumprem o plano, mesmo sem saberem...

Rashu: Para o bem deles, é bom que estejas correto...

Após a breve conversa, os três Combatentes foram cuidar de preparativos secundários para a operação de busca à Mão de Pravus. Fileo ficou um pouco alarmado com a notícia a respeito dos aspirantes. Ele não estava exatamente preocupado com os aspirantes, mas com Mileena, pois ela poderia ter problemas se fosse encontrada por eles.

Porém, quem teve problemas mesmo foram os próprios Combatentes. Quando eles estavam para enviar os mensageiros, sons de trombetas ecoaram pelo território real, partindo da sacada principal do castelo. As trombetas tocadas eram as usadas para emergências envolvendo a família real, por isso, todos no reino pararam seus afazeres imediatamente. Rashu, preocupado, correu para o castelo e foi até o salão real e chegou até a sacar a sua espada Extereus, porém não encontrou ninguém além do rei Ritchie e alguns poucos guardas. O rei estava sentado no trono, parecendo apenas entediado, como se nada estivesse acontecendo. O Combatente ficou confuso.

Rashu: Majestade, o que aconteceu?

Ritchie: Sim, aconteceu, algo muito grave.

Rashu: Hm... Perdoe-me a franqueza, mas aquelas trombetas são usadas somente para emergências. Não me parece que...

Ritchie: É verdade que você descobriu a identidade da Mão de Pravus?

Rashu se surpreendeu ao ouvir aquela pergunta. O que ele mais temia aconteceu. O rei sabia das informações que deveriam ser mantidas em segredo. Rashu procurou manter a calma e contornar a situação.

Rashu: Peço humildemente o teu perdão por isso, majestade. Eu não contei sobre isso porque, na realidade, as informações sobre a Mão de Pravus não são completas...

Ritchie: É UMA DARPHAI, RASHU! UMA MALDITA DARPHAI!

Rashu: ...

Ritchie: O que diabos estava passando nessa sua cabeça recheada de esterco, heim, seu soldado retardado?! Por acaso, você acha que eu sou como um desses plebeus débeis que infestam essa terra?!

Rashu: Não, majestade, longe de mim pensar tal coisa de ti...

Ritchie: Completas ou não, essas informações deveriam ter sido passadas a mim de imediato! Foi negligente e imbecil da sua parte, Combatente!

Rashu: Eu... Eu peço perdão mais uma vez...

Naquele momento, Tong-Hu e Fileo chegaram ao salão real, também estranhando o que acontecia.

Tong-Hu: Alteza, o que aconteceu?

Ritchie: O que aconteceu é que eu vi que estou cercado de incompetentes! Eu vou ter que consertar as suas asneiras diretamente!

Ritchie se levantou e foi para a sacada principal do reino, seguidos pelos seus servos pessoas. Perto da entrada principal do castelo, a maioria dos soldados e empregados do castelo estava posicionada, esperando alguma notícia. Quando o rei apareceu na sacada e seus servos anunciaram sua presença, todos ficaram em silêncio. Os Combatentes apareceram ali naquele exato momento e passaram a observar o rei, que se pronunciou.

Ritchie: Atenção, todos vocês! Quem foi assinalado para sair e cumprir as ordens de Rashu para a busca à Mão de Pravus, fará exatamente assim! Porém, a ordem a ser dada aos chefes das cidades será esta: Os soldados irão inspecionar todas as casas e investigar todas as moças com a descrição dada! Mulher alta, branca, jovem, cabelos negros longos e luva vermelha! Se for a Mão de Pravus, detenham-na a qualquer custo e tragam-na aqui, viva ou morta!

Fileo: Mas o que ele está fazendo?

Ritchie: E tem mais! Avisem aos chefes que qualquer que oferecer informações confiáveis sobre o paradeiro dessa desgraçada receberá uma recompensa de dez mil moedas de ouro! E qualquer que atrapalhar essa busca, será automaticamente declarado como traidor e será condenado e executado no ato!

Os que ouviam esse discurso ficaram perplexos. Fileo ficou pálido, porque estava vendo a situação sair totalmente do seu controle e virar literalmente uma caça à bruxa. Rashu, por sua vez, olhava sem demonstrar reação.

Ritchie: É bom que saibam que a Mão de Pravus não é uma inimiga qualquer! É uma bruxa imunda que deu a sorte de escapar de nossas mãos oito anos atrás! Ela é uma Darphai!

Os ouvintes mais uma vez demonstraram espanto, pois os Combatentes não os haviam informado desse detalhe. Temerosos, começaram a cochichar uns para os outros, se perguntando sobre o motivo dos Combatentes terem ocultado essa informação e o que a Mão de Pravus, sendo um membro do clã que quase acabou com o reino, seria capaz de fazer com eles, caso percebesse que estava sendo seguida. Fileo, por sua vez, ficou aflito, temendo por Mileena; enquanto Tong-Hu coçava a cabeça, demonstrando vergonha com o ocorrido. Rashu manteve a expressão impassível, não demonstrando emoção alguma, mas se retirou dali antes de ouvir o fim do discurso. Seus dois companheiros sabiam, porém, que, diferentemente do que ele aparentava, seu coração estava repleto de uma mágoa pesada, a qual certamente não seria aplacada com facilidade.

Ritchie: Aquele súcubo não pode permanecer rodeando o reino de Sortiny! Ela tem que ser detida, custe o que custar!

No dia seguinte, no corredor de acesso à cozinha do castelo, as empregadas se preparavam para servir o almoço para a família real. Tudo corria nos conformes, quando Rashu apareceu. Ele não fez alarde algum, mas sua intensa seriedade fez com que as empregadas parassem de arrumar as coisas por um momento, olhando temerosas para ele.

Rashu: Quero que vós todas formeis uma fila, de costas para a parede. Agora.

Empregada-Chefe: Mas senhor Rashu, estamos para servir o almoço do rei e da rainha-mãe, se nós nos atrasarmos...

Rashu: Serei breve. Formai a fila.

As empregadas obedeceram e formaram uma fila, ficando uma ao lado da outra. Elas estavam visivelmente ansiosas. Rashu ficou de frente para elas.

Rashu: Ontem, eu organizei uma operação especial para capturar a Mão de Pravus. Tal operação exigia que algumas informações referentes a ela se mantivessem confidenciais, até mesmo para o rei. Porém, de alguma forma, o rei as descobriu e reformulou a operação ao sabor de sua vontade. Não intento em difamar o rei, mas isso certamente culminará em tragédias pelo reino inteiro. E eu creio que uma de vocês é responsável pelo vazamento das informações secretas.

As empregadas ficaram mais tensas do que antes, embora não tivessem uma plena ideia do que estava acontecendo. Sem saberem exatamente o que dizer, preferiram permanecer caladas. Rashu, porém, fixou os olhos em uma delas, a mesma que seus companheiros e ele encontraram ao saírem de sua sala particular.

Rashu: Matita... Aproxima-te.

Matita: E-Eu, senhor?

Rashu: Sim, tu mesma.

Trêmula, Matita se aproximou até ficar a pouco mais de um metro do Combatente. Ele continuava fitando seu olhar sério na moça, que ficava cada vez mais nervosa.

Rashu: Eu e meus companheiros te encontramos ao sairmos de nossa sala. Seria exagero da minha parte pensar que tu escutaste a nossa conversa?

Matita: Er... Eu... Não, senhor, eu confesso que escutei a conversa... Mas não contei nada ao rei! Eu juro por Adriel!

Rashu: Contaste a mais alguém?

Matita: Eu comentei com as minhas amigas sobre isso, mas tenho certeza que elas também não disseram nada. Estive com elas o tempo todo; ninguém saiu para contar a ele.

Rashu: E onde foi isso?

Matita: Foi por aqui mesmo, senhor.

Rashu: Nunca passou pela tua mente que o rei ou alguma outra pessoa poderia estar por perto, escutando a vossa conversa?

Matita: Er... Mas, eu... Não notei ninguém... Eu não sei...

Rashu: Basta. Vai-te daqui.

Matita: Está me dispensando, senhor?

Rashu: Sim.

Entristecida, Matita tirou a faixa de cabelo, que era parte do uniforme de todas as empregadas, e se virou para ir embora dali. Porém, quando ela deu três passos, Rashu desferiu um golpe com a lateral da mão no pescoço dela. O golpe foi rápido, mas forte o suficiente para deslocar uma de suas vértebras cervicais. Sem sentir dor alguma, Matita caiu morta, de olhos abertos, para o horror de todas as outras empregadas. O Combatente pegou Matita pelo vestido, segurando-a como se fosse um animal abatido.

Rashu: Lembrai-vos disso quando pensardes em fazer fofocas com assuntos de segurança do reino. Com licença.

Rashu partiu carregando o corpo de Matita, indo para fora do castelo para descarta-la. As outras empregadas, chocadas, tentaram ao máximo se controlar para mais tarde servir o almoço sem causar problemas, mas não puderam. Abraçaram-se e choraram em silêncio por sua amiga falecida e também por causa de seus futuros incertos como serventes do castelo de Gricai.


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Notas finais do capítulo

Enquanto as coisas continuam quentes em Gricai, Mileena e suas amigas plumadas têm visitas bem inconvenientes.

Próximo Capítulo: Os Aspirantes - Parte 1

Confira!



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