Roses and Demons EX: Crimson Blast escrita por Boneco de Neve


Capítulo 22
Amargas, não tão solitárias


Notas iniciais do capítulo

Acho que o Julian, o autor do R&D principal, vai gostar dos bichinhos desse capítulo... Ou não.



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A Casa de Prata, outrora o símbolo máximo de força e segurança de todo o reino de Sortiny, agora não passava de míseros escombros ocultos por espinheiros.  Depois da rebelião das bruxas, a Casa foi saqueada; todos os pertences que lá estavam foram levados; entre eles livros, poções, equipamentos de luta e de pesquisa e muitos outros objetos de valor. Após o saque, a casa foi demolida e o local foi abandonado. Ninguém mais ousou chegar perto daquele lugar, pois virou um ninho de monstros, fato que muitos clamam ser a última maldição do clã Darphai.

Ao chegar ao portão de entrada, Mileena contemplou o interior da Casa de Prata, que era na verdade uma enorme fortaleza com um campo de treinamento ainda maior atrás do edifício. A maioria das paredes ainda estava de pé, mas não havia mais teto e os andares quase não tinham mais chão; em vários pontos do andar térreo da fortaleza era possível ver o céu. Um misto de emoções distintas inundava o coração da moça de manopla: Tristeza, raiva, frustração, mas também um pouco de saudade e de alegria, pois foi lá onde teve a oportunidade de viver uma vida nova depois de quase morrer nos desertos. Porém, Mileena também sentia uma forte apreensão. Ela podia ouvir ruídos vindos do campo de treinamento. O cheiro forte que pairava no local também era bem incômodo: Era cheiro de fezes de monstro misturado com o de sangue. Vagarosamente e procurando não fazer barulho, Mileena se adentrou na Casa de Prata e foi ao corredor de acesso ao salão que se abria ao campo de treinamento.

Ao olhar pela porta do salão, Mileena viu uma cena grotesca. O campo de treinamento estava ocupado por dezenas de haripis, que vorazmente devoravam cadáveres de ogros. Haripis eram monstros femininos, muito incomuns de se ver. O tronco e a cabeça dessas criaturas eram praticamente idênticos a de uma mulher humana, sendo costumeiramente belos. Porém, no lugar dos braços e pernas, havia respectivamente grandes asas plumadas e patas semelhantes à de aves. O fato de serem tão incomuns de se ver se dava por sua voracidade. As haripis eram capazes de comer quase qualquer coisa sem pestanejar, inclusive seres humanos. Eram monstros bastante territoriais, normalmente preferindo lugares altos, além de terem comportamento bestial, apesar da aparência. Qualquer criatura que penetrasse em seu território, até mesmo uma haripi de outro bando, era atacada e comida no ato. Porém, Mileena não se mostrava intimidada com as haripis que ali estavam. Estas estavam tão entretidas com seu banquete que nem notaram a presença dela de imediato. Porém, assim que a viram na porta do salão, começaram a rosnar como cachorros para ela. Mileena não estava assustada com a recepção, mas se mostrava cautelosa.

Mileena: Pra vocês rosnarem desse jeito, significa que...

Do meio do grupo de haripis à frente, surgiu uma haripi grande e robusta com uma vasta cabeleira rebelde. A grande criatura olhava silenciosamente para a moça explosiva com um semblante de uma guerreira nobre e logo fez pose de ataque.

Mileena: Arrumaram uma nova líder. Legal. Estava mesmo querendo descontar meu desgosto em alguém.

Como provocação, Mileena fez sinal com os dedos para que haripi grande avançasse. A criatura caiu na provocação e avançou a toda velocidade contra a moça de manopla. Quando a haripi tentou dar um golpe com as garras que possuía na articulação final da asa, Mileena fez um avanço brusco, evitando o ataque, e aplicou-lhe um poderoso soco na boca do estômago da criatura, forçando-a a expelir parte de sua janta pela boca. Caindo de joelhos, a haripi abraçou a própria barriga, devido à tamanha dor que sentia, ficando completamente incapaz de enfrentar Mileena. Esta calmamente se posicionou atrás da criatura, pôs a mão com a manopla em seu rosto e a outra mão atrás de sua cabeça. Em seguida, impiedosamente torceu-lhe a cabeça, quebrando-lhe o pescoço e matando-a de imediato. Após deixar o corpo de sua adversária cair, Mileena se virou para o bando, olhando-as seriamente. As haripis se mostravam assustadas e olhavam para a moça de manopla, temendo uma reação agressiva.

Mileena: Tem mais alguma cacatua aí querendo brigar?

As haripis se mantiveram em silêncio, ainda assustadas. Vendo que as criaturas aladas não iam mais oferecer resistência, Mileena caminhou em direção a elas. Mais assustadas ainda, as haripis abriam espaço à medida que ela se aproximava. Mileena, porém, nada fez contra elas. Apenas caminhava em direção ao fundo do campo de treinamento.

Mileena: Quando terminarem de comer, limpem essa sujeira, tá? Esse lugar já fede demais...

Ao chegar ao limite do campo de treinamento, Mileena viu uma estrutura pequena. Aquilo era originalmente uma solitária, feita para encarcerar bruxas que cometeram delitos graves, geralmente rebeldia explícita e violenta. Agora, era um simples quarto. Ao se aproximar do quarto, Mileena percebeu um horroroso cheiro vindo dele, pior do sentia antes. Ela finalmente percebeu o motivo depois de olhar para o interior do quarto: O chão e a cama estavam cobertas de fezes de haripi. Furiosa, ela saiu do quarto e deu um berro para a direção oposta do quarto.

Mileena: SUAS GALINHAS GIGANTES, VOCÊS CAGARAM MEU QUARTO INTEIRO!!!

As haripis, ao ouvirem o grito, se apavoraram e, temendo que Mileena fosse atrás delas, voaram em debandada e se esconderam nas árvores. A moça de manopla percebeu isso e, não querendo gastar mais energia desnecessariamente, foi limpar o seu quarto a pleno contragosto.

A verdade é que Mileena já conhecia aquele grupo de haripis há muito tempo e foi ela também que transformou a solitária em um quarto. Depois da rebelião do clã Darphai, o povo começou a saquear a Casa de Prata e a depreda-la. Mileena havia flagrado a cena e, com a ajuda de um feitiço, conseguiu induzir alguns monstros que estavam nas redondezas, sendo a maioria deles haripis, a atacar o local e manter as pessoas longe dali. O resultado saiu melhor do que o esperado, pois as haripis fizeram das ruínas da Casa de Prata seu novo ninho e, graças a isso, Mileena não precisaria lançar outro feitiço como aquele para manter o povo longe. Depois que Midea morreu, Mileena passou a frequentar aquele local para treinar, lutando contra haripis e alguns monstros ingênuos o suficiente para invadir o ninho, mas que tinham a “sorte” de não virar almoço de haripi até então. Nisso, Mileena era considerada líder daquele bando de haripis pelas próprias, pelo menos até o momento em que elas arrumavam uma nova haripi considerada forte o bastante para lidera-las, pois Mileena não ficava lá constantemente. Mas, quando ela voltava, ela matava a nova líder de forma brutal para não dar margem para contestação. Como a solitária foi a única estrutura mantida de pé na Casa de Prata, Mileena o transformou em um quarto bem simples para descansar e pôr as ideias em ordem quando estivesse por lá. Sendo o cômodo blindado, nenhum monstro conseguiria atacar a moça de manopla de surpresa.

Depois de passada a madrugada e a manhã, na Vila da Ferradura, Carly terminava de varrer a sua biblioteca, a qual, para o seu desgosto, estava sem clientes. O fato de não sentir mais o cheiro forte de mofo que empesteava o local há poucos dias era de fato um alívio, mas o excessivo silêncio a incomodava, ainda mais considerando que ela tinha um hóspede com o qual dividiu o próprio quarto. Após terminar de varrer, ela foi até lá e viu Purkeed sentado em um banquinho, olhando um caderno em total quietude. A expressão do menino, porém, parecia vaga e deprimida. Já a bibliotecária trocou brevemente o seu rancor por um acesso de melancolia; mas o rancor logo voltou e, assim, ela disparou uma dura voz para Purkeed.

Carly: Quem falou que você podia pegar isso aí?

Purkeed: Ah... Senhorita Patch, desculpe! Eu vou colocar de volta...

Carly se adiantou e pegou o caderno da mão do menino, que a olhava com temor.

Carly: Da próxima vez, peça antes. É muito feio mexer nas coisas dos outros. Você também não ia gostar se fizessem isso com você.

Purkeed: D-Desculpa...

Envergonhado e entristecido, Purkeed abaixou a cabeça enquanto Carly se dirigiu à sua cômoda para colocar o caderno de volta ao seu lugar. Foi quando uma sensação horrível pesou imensamente no coração da jovem. Era culpa. Purkeed estava na biblioteca contra a sua vontade e, não podendo sair, literalmente não tinha o que fazer. Além disso, um evento trágico em seu passado que assombrava a mente da bibliotecária ressurgiu com um peso muito maior. Remoída pela culpa, Carly procurou se retratar.

Carly: Na verdade... Eu é que te devo desculpas. Andei muito mal humorada esses dias e tô logo descontando em quem não tem nada a ver com isso... Eu deixo você olhar mais o meu caderno, mas da próxima vez que quiser pegar mais alguma coisa, é só pedir. Sem medo, tá bom?

Purkeed pegou o caderno em silêncio e começou a olhar os desenhos nele novamente. Eram desenhos que pareciam ter sido feitos por uma criança e a maioria era de personagens. Era possível interpretar que o personagem mais desenhado era Carly por causa dos óculos grandes e do cabelo. Ainda se sentindo mal pela situação, ela tentou parecer mais amistosa. Além do mais, como fazia tempo que ela não tinha uma conversa sólida com alguém, finalmente ela tinha uma oportunidade, ainda que seu ouvinte fosse um adolescente um pouco infantil. Então, ela pegou outro banquinho e se sentou de frente pra ele.

Carly: Gosta dos desenhos?

Purkeed: Sim. Foi você que fez?

Carly: Não, não... Foi meu irmão.

Purkeed: Você também tem um irmão?

Carly: Tinha. Ele tá em Utopia agora.

Purkeed: Ah... Eu sinto muito... Eu...

Carly: Não esquenta. Ainda assim, não foi justo descontar em você.

Purkeed: Hm...

Carly: Na verdade, eu tenho um pouco de inveja da sua irmã. Talvez esteja sendo duro pra você, mas eu pude ver que ela se importa muito com você.

Purkeed: Minha irmã... Ela costuma sair bastante. Antigamente, ela ficava no máximo uns dois dias fora, mas ainda assim, ela tinha um tempo pra brincar comigo. Recentemente, ela tem passado muito mais tempo sumida e agora... Ela me coloca aqui e nem me fala direito o que tá acontecendo...

Carly: É, mas, se ela se deu ao trabalho de me pedir pra te esconder aqui, é sinal que ela se importa com você. Falando nela, ela é sua irmã adotiva, não é? Vocês não se parecem nem um pouco...

Purkeed: Sim, mas ela é a única família que eu tenho. Eu não sei o que houve com minha família de sangue. Eu não tenho memória dela; nem sei se ainda existe...

Carly: Nossa... Sinto muito...

Purkeed: E você? Tem família?

Carly: Acredito que sim, né? Não a vejo há muito tempo.

Purkeed: Se você tem família, por que mora aqui sozinha? Não sente falta dela?

Carly: Claro que eu sinto falta, mas... Não tenho coragem de voltar a encontrá-la...

Purkeed: Por quê?

Carly: É uma história um pouco longa... E de preferência, gostaria que não saísse comentando por aí.

Purkeed: Tudo bem. Não tenho o que fazer mesmo. E também não tenho muitos amigos pra sair contando.

Carly: Tá bom. Eu morava num vilarejo pobre no reino de Boterbloem, que ficava a noroeste de Roquinon. Meus pais eram pequenos comerciantes e queriam ensinar pra mim e pras minhas irmãs mais velhas as manhas da profissão, mas eu não queria essa vida. Ganhávamos pouco dinheiro e vivíamos sempre em aperto; sem contar que não tinha um dia que não houvesse briga entre a gente, especialmente entre meus pais. Um dia, perdi de vez a paciência. Aí, eu, louca e rebelde como sempre fui, resolvi fugir de casa.

Purkeed: Nossa! Que loucura! Eu não teria coragem...

Carly: É, mas só tive problemas por causa disso. Logo que saí de casa, já tive o primeiro. Meu irmão, Kai, me flagrou saindo de casa e queria ir comigo de qualquer jeito.

Purkeed: Kai... Foi ele que fez esses desenhos, não é?

Carly: Sim, ele mesmo. Éramos muito próximos, mas eu não queria levá-lo comigo pra que ele não passasse pelas dificuldades que a fuga poderia oferecer. Isso sem contar os probleminhas que ele tinha... Ele era muito desligado da realidade, mas também muito agitado. Pior, ele era mudo. Mas... Não teve jeito. Ele insistiu tanto que acabei cedendo.

Purkeed: Puxa... E então você veio até aqui, né?

Carly: A intenção era ir pra Emperícia e eu paguei uma caravana para ir até lá. Só que pro nosso completo azar, eu tinha pegado a caravana errada sem perceber e ainda por cima a gente caiu no sono antes da partida. Quando eu acordei, já tava bem longe de Emperícia...

Purkeed: E pra onde a caravana ia?

Carly: Até os reinos do norte. Não fosse o fato de fazer um frio de Pravus por aquelas bandas, seria uma boa alternativa a Emperícia. Só que um cara nojento quis se engraçar comigo e ficou na minha cola durante a viagem. Fiquei com medo do que ele poderia fazer comigo ou ao Kai, então pulamos fora antes do destino final. Bem aqui, em Sortiny. Estranhei bastante o lugar no começo. Todo mundo era desconfiado e olhavam pra gente como se fossemos criminosos. Não tinha a menor ideia de que tinha acontecido uma rebelião de bruxas nem nada. Enfim, eu ia usar o resto do meu dinheiro pra pegar a caravana de volta, mas olha aí, fui assaltada. Levaram todas as minhas coisas e todo o meu dinheiro. Eu e o Kai só ficamos com a roupa do corpo.

Purkeed: Credo... E o que aconteceu com vocês depois?

Carly: Viramos andarilhos. Passamos a viver de caridade ou, quando a coisa apertava mesmo, de pequenos roubos.

Purkeed: Ah...

Carly: Felizmente, isso não durou muito tempo. Depois de andar por dias sem rumo, a gente chegou aqui na vila. Tava chovendo horrores. Estávamos procurando um lugar pra se abrigar e aí, vimos a biblioteca aberta. Aí, entramos.

Purkeed: Ah, então foi assim que você conheceu a biblioteca...

Carly: Isso aí. A princípio, eu estranhei porque parecia que não tinha ninguém. Mas aí ela apareceu. Do nada.

Purkeed: D-Dona Maricott...

Carly: Ela mesma. A velha chapada.

Purkeed: Ouvi dizer que ela era perigosa... Era verdade?

Carly: Perigosa? Nem tanto. Mas era louca. Muito louca. Ela gostava de cheirar. Ela cheirava tudo. Tudo o que alguém poderia imaginar. Ela picava e queimava as coisas pra inalar a fumaça. Ela fazia isso com ervas, com as tulipas que ela cultivava, com as páginas dos livros... Teve um dia que ela cortou uma mecha do meu cabelo pra cheirar. Cara... Eu quase tive um treco...

A essa altura, Purkeed nem comentava mais, mas permanecia boquiaberto com a história. As reações do menino divertiam Carly, que continuou contando sua história com um tom de suspense.

Carly: Horrível, né? Pois é, pois é, pois é. Heh... Enfim, ela tinha me posto pra ajudar nos afazeres da biblioteca, mas... Ela me dava medo. Sempre ficava me perguntando se ela pretendia fazer alguma bruxaria comigo ou com o Kai. Aí, quando eu percebi que ela tinha cortado uma mecha minha pra cheirar, fiquei com tanto frio na espinha que eu decidi fugir dali com meu irmão na mesma noite. O problema é que ela trancava toda a biblioteca durante a noite. Então, eu esperei ela dormir e aí fui sozinha até o quarto dela pra pegar as chaves e algum dinheiro que ela poderia ter. As chaves tavam no criado-mudo dela. Eu fui lá pegar, quando de repente...

Purkeed: D-De repente...

Carly: A velha caiu da cama!

Purkeed: P-P-P-Por Adriel! E o q-q-que ela fez?!

Carly: Nada. Do jeito que caiu, ficou. Mas, vou te contar, aquele foi o maior susto que eu tomei na vida. Quase que eu desmaiei de verdade.

Purkeed: M-Mas o que aconteceu então?

Carly: Eu estranhei que ela não tinha se levantado. Ela não tava mexendo nem um músculo. Tava apavorada. Eu toquei nela com o pé, mas nada. Depois me abaixei e toquei nela com o dedo. Nada. Peguei na mão dela, tava fria. Fui ver se ela tava respirando. Nada. Conclusão: Tava morta.

Purkeed: M-M-Morta? Como?

Carly: Bom, eu pedi por socorro quando percebi que ela tinha morrido. Quando o médico veio e olhou ela, ele disse que ela provavelmente tinha morrido por insuficiência respiratória. Nenhuma novidade, considerando o que ela fazia.

Purkeed: Hm... Agora que você falou, eu me lembro da irmã Mileena me contando que ela havia morrido. Ela só não tinha me contado como ela morreu.

Carly: É... Bom, fato é que, depois disso, eu assumi a biblioteca. E é isso.

Purkeed: Ah... Mas peraí, você não me contou por que não você não tinha coragem de voltar até a casa de sua família.

Até aí, Carly estava feliz por entreter Purkeed com sua história. Mas então, Carly mudou sua expressão, parecendo desconcertada.

Carly: Ah, é... Bom...  Eu tinha a intenção de vender a biblioteca e usar o dinheiro para ir pra Emperícia, mas ninguém queria comprá-la. Então, tentei juntar dinheiro com o meu trabalho. Mas meu serviço era cansativo e os clientes daqui viviam me enrolando. Um dia, eu cheguei ao limite da minha paciência. Naquele dia, o Kai tava brincando na área de leitura e derrubou sem querer um dos armários no chão; fez uma bagunça enorme. Acabei estourando e descontando tudo nele; depois disso, ele fugiu pra fora da biblioteca. Achei que ele não fosse longe e que ele logo voltaria, por isso nem fui atrás. Mas ele tava demorando. Caiu a noite e nada dele aparecer. Eu já tava arrependida de ter gritado com ele daquela forma. Então, eu fechei a biblioteca e saí atrás dele. Logo depois que eu saí... Uma das moças da cidade veio falar comigo e disse pra eu ir para o hospital... Quando eu cheguei lá... Tinha um corpo coberto por um lençol...

A essa altura, Carly tinha removido os óculos para desembaçá-lo com seu avental. Dada a reação dela, Purkeed já imaginava de quem ela estava falando.

Purkeed: Kai...

Carly: Ele tinha corrido até uma fazenda, não sei se ele conhecia o lugar ou se ele tinha se perdido... Ele tinha passado perto de um cavalo e... O cavalo se assustou e... Acertou um coice em cheio no rosto dele... Morreu na hora...

Purkeed: ...

Carly: Como eu me arrependo desse dia... Cheguei a tentar me matar naquele dia, mas me impediram. Tentei outras vezes, mas não tive coragem... Só me restou a opção de lidar com toda a dor, mas... Cara, como é difícil... Aff...

Purkeed normalmente custava a entender determinadas coisas, mas dessa vez ele entendeu bem o que aconteceu. Se Carly voltasse pra casa, provavelmente sofreria com a fúria de sua família, não só por ter fugido de casa como por causa da morte de Kai. Purkeed permaneceu em silêncio, sem saber direito o que dizer. Carly, porém, tentando se recompor, pôs de novo os óculos e se levantou.

Carly: Bom, eu... Eu vou fazer um lanche pra gente, tá bom? Qualquer coisa que precisar, me chame.

Purkeed: Ah... Tá bem...

Chegando à cozinha, Carly pegou alguns ingredientes para preparar um mingau. Depois de organizar tudo em cima da mesa, ela parou por um instante. Tirou os óculos, os colocou em cima da mesa e apoiou os dois braços nela. Ela esperava que, ao compartilhar sua história com Purkeed, sua dor diminuísse um pouco, mas o efeito foi o contrário. O resultado foi um choro amargo e silencioso, vindo de uma dor que parecia não ter fim.


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Notas finais do capítulo

O foco do próximo capítulo é em Gricai. E lá, os ânimos andam exaltados demais.

Próximo Capítulo: Impiedade e Loucura

Confira!



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