Roses and Demons EX: Crimson Blast escrita por Boneco de Neve


Capítulo 21
Caminhando pelas Sombras




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Lobs e Fileo continuavam conversando ao lado da taverna, sendo que o primeiro, na verdade, se limitava a resmungar copiosamente.

Lobs: Eu quero só ver o que aquela idiota vai fazer agora... Eu falei várias vezes pra ela ficar longe de encrenca, longe desses assuntos das Darphai, mas ela nunca me escuta!

Fileo: Lobs, por favor, se acalma. Agora, é hora de nós colocarmos a cabeça no lugar e pensar em algo. Se bem que eu mesmo também estou preocupado demais pra pensar em algo...

Mileena: Idiotas!

Fileo / Lobs: IKH!

Os dois homens tomaram um tremendo susto com a exclamação da moça de manopla, que havia conseguido fazer uma aproximação silenciosa e ainda por cima segurando Carly pela boca. A pequena até esboçava um desvencilho, mas Mileena a segurava firmemente, a ponto de causar-lhe dor, e apertava mais forte toda vez que ela tentava se mexer. A moça explosiva arfava levemente, demonstrando ligeiro cansaço.

Fileo: Credo, musa; isso é maldade, sabia?

Lobs: É, sem contar que é muita hipocrisia sua nos chamar de idiotas depois de tudo o que você aprontou, sua peste!

Fileo: E... O que está fazendo com a donzela?

Mileena: Ah, nada demais. Vi essa cachorrinha largada aqui, escutando a conversa de vocês e resolvi leva-la pra passear.

Carly: Mmmmmmph! Mmmmmph!

Fileo: Ai, não…

Lobs: Isso tudo não estaria acontecendo se você não insistisse em meter o nariz onde não deve!

Fileo: Musa, a donzela está ficando azul.

Mileena: Não bote a culpa das suas bisonhices em cima de... Hã, azul?

Carly: MMMMMPH! MMMMmmmmmph...

O rosto de Carly estava tomando um tom azulado por causa da falta de ar, pois Mileena se excedia com sua força. Vendo isso, a moça de manopla destapou a boca da bibliotecária, mas impiedosamente a pegou pelas vestes em seguida.

Mileena: Um pio, e você vira migalha. Não que falte muito pra isso no seu caso. Enfim, você entendeu?

Carly: Puf... E-Eu entendi... Eu não conto pra ninguém, prometo... Puf...

Lobs: Mileena, se eu fosse você, eu acabava logo com essa garota. Ela vai causar problemas.

Mileena: Guarde seus pitacos pra você! E pode ir parando com seus sermões também; eu já tô farta de ouvir!

Lobs: Hmph...

Carly: Olha, sem querer ser chata, mas se vocês continuarem com essa briga, mais gente além de mim vai saber...

Lobs: E desde quando você se importa?

Carly: Bom, eu tô com uma Darphai aqui, né? Se eu fizer algo, eu vou morrer de qualquer jeito, então...

Mileena: Olha só, ela aprende rapidinho. Diferente de certos retardados que parecem tem uma bola de cabelo no lugar do cérebro...

Lobs: Olha quem fala...

Fileo: Olha, já chega, tá? A donzela está certa. Se prolongarmos essa confusão, mais gente vai saber.

Mileena coçou atrás da cabeça, demonstrando um pouco de vergonha, pois mesmo tendo recriminado os dois pela conversa em alto tom de voz, ela fez o mesmo ao discutir com Lobs. Assim como ela, o taverneiro também ficou quieto, embora ainda estivesse de cabeça quente. Ao ser indagada sobre o que aconteceu, Mileena deu um breve relatório, mas adulterou alguns detalhes, especialmente os referentes à Marjorie, e não mencionou coisa alguma sobre Jasmine. Lobs não ficou mais calmo com a explicação de Mileena, Fileo ficou temeroso por ela ter passado a poucos metros de Tong-Hu, e Carly ficou curiosa a respeito do diário de Midea. Mileena, por fim, acabou por mostrar o diário para os três, sendo que a bibliotecária se mostrou bastante intrigada.

Carly: Espera aí... Isso é o diário de Midea Darphai? Mas a capa dele... É quase idêntica aos livros que foram roubados da minha biblioteca!

Mileena: Sim.

Carly: Mas... Eu tinha dado uma lida neles antes pra cataloga-los. Não pareciam nem um pouco com diários.

Mileena: As Darphai codificavam os diários delas com magia. É por isso que não se pareciam com diários.

Carly: Existe magia até pra isso?! Caramba, vocês bruxas têm truques pra tudo...

Fileo: Isso me leva a perguntar; como você conseguiu os diários das Darphai, donzela?

Carly: Não olhe pra mim; esses livros já estavam na biblioteca antes de eu herdá-la da Dona Maricott, a antiga dona. Eu só descobri agora que aqueles livros eram diários...

Mileena: Depois que o clã Darphai foi destruído, a Casa de Prata foi saqueada pelo povo. No mínimo, aquela velha maluca estava no meio e pegou alguns diários... Assim como alguns mercenários a serviço de Aspo. É o meu palpite.

Lobs: Mas o que Aspo queria com os diários das Darphai afinal de contas? Eram só diários; não iam resultar em uma soma de dinheiro tão grande...

Mileena: Não, ele não chegaria a armar um esquema de tráfico de mulheres só pra conseguir dinheiro com a venda de alguns diários... Ele estava atrás de algo bem maior. Eu tenho certeza que está no diário da minha mãe, mas...

Com uma expressão de descontentamento, Mileena impôs a mão sobre o diário para fazer o lacre mágico aparecer. O lacre que apareceu, contudo, era diferente dos que selavam os livros das outras bruxas. Ele era composto de múltiplos semicírculos roxos, disposto de forma desarranjada. Ao contrário de Mileena, Carly se mostrava maravilhada com o que via.

Carly: Oh, que legal!

Fileo: O que é isso?

Mileena: Esse é um Cadeado Mágico especial, usado para documentos supersecretos. Para abri-lo, não basta saber apenas a combinação de palavras, é necessário algo mais para completar a tranca.

Lobs: E o que é esse algo mais?

Mileena: Eu não sei. Pode ser qualquer coisa. Pode ser uma bolinha de âmbar, uma folha de papel, um fio de cabelo, qualquer coisa...

Lobs: Quer dizer então que toda essa busca, toda essa confusão que você armou... Foi para nada. É isso?

Mileena: Claro que não! Esse diário tem informações muito valiosas; do contrário, não teria uma tranca dessas! Se Aspo tentasse abri-lo, essas informações ficariam perdidas para sempre!

Lobs: Mesmo assim, encrenqueira; se não consegue abri-lo, foi uma busca inútil e que ainda por cima vai custar o seu pesc...

Naquele momento, Mileena deu uma bofetada em Lobs. Ela realmente não estava a fim de receber recriminações. Fileo olhava pasmo para a moça de Manopla, enquanto Carly não fazia questão de esconder seu contentamento com a atitude dela.

Mileena: A próxima não será com a mão aberta. Entendeu?

Lobs: Grr... Sua...

Fileo: Ei, não vamos brigar agora, tá? Precisamos pensar em como a gente vai resolver essa situação.

Lobs, que esfregava a mão no rosto devido a dor do tapa, concordou a contragosto. Igualmente, Mileena procurou recuperar a calma.

Lobs: Hmph... Eu espero ao menos que você tenha algum plano, mocinha.

Mileena: Tenho. Vou me esconder por alguns dias. Não vai demorar para os soldados apertarem o cerco, então vou sumir de vista até as coisas esfriarem.

Lobs: Aonde você vai?

Mileena: É segredo. Antes de ir pra lá, eu quero falar com Purkeed. Ele está dormindo?

Lobs: Acho que sim. Ele dorme cedo, você sabe disso.

Mileena: Certo. Mas não vou sair da vila enquanto eu não falar com ele.

Lobs: Você vai querer que eu acorde o garoto agora? A taverna tá cheia; trazer ele pra fora vai parecer suspeito.

Mileena: Eu sei disso, imbecil! Vou falar com ele depois que a taverna fechar.

Lobs: Hmph...

Fileo: Se me permite uma opinião, eu acho melhor você levar o Purkeed junto com você. O povo aqui da vila conhece a vocês dois e sabem que vocês moram aqui. Se acharem o Purkeed, eles podem usá-lo para te atrair.

Mileena: Eu entendo o motivo, mas não posso leva-lo comigo. O local pra onde vou é perigoso. Se eu leva-lo comigo, além de deixa-lo em risco, vai deixa-lo isolado de todos. Vou mantê-lo aqui na vila, onde tudo é familiar pra ele.

Fileo: Ainda assim é arriscado.

Mileena: Eu sei. Por isso mesmo, vamos coloca-lo em outro lugar da vila.

Fileo: Qual?

Nesse momento, Mileena direcionou seu olhar para Carly, que logo entendeu o recado, mas não estava gostando da ideia.

Carly: Ô, peraí... Na minha biblioteca?!

Mileena: Sim, na sua biblioteca. E já vou lembrando que você não está em condições de recusar.

Carly: Mas... Mas... Eu vivo sem dinheiro; eu mal tenho condições de cuidar de mim mesma, como é que eu vou cuidar de um cara que ainda por cima nem conheço direito?!

Mileena: Esse cara tem 13 aninhos e é um amor de garoto, muito obediente e educado. Ele não vai te dar trabalho. E, se o problema é dinheiro...

Nesse instante, Mileena pega de sua jaqueta um saquitel de moedas e o põe na mão da bibliotecária. Ao abri-lo, a pequena moça se espantou ao constatar que as moedas que havia dentro dele eram de ouro.

Mileena: Têm umas cinquenta moedas aí. Mais do que o suficiente pra você e pro Purkeed durante essa semana. Mas não abuse. Se eu souber que você colocou o Purkeed em apuros, seja por abusar do dinheiro ou por qualquer outra coisa, já sabe... É cova curta e rasa pra você.

Carly: S-Sim, eu entendi. Vou cuidar bem dele, prometo...

Lobs: Eu só não acredito que você vai dar trela pra ganância dessa garota...

Carly: Olha aqui, eu tenho necessidades, tá?! E no momento que eu tô, eu...

Mileena: Tampinha, não dá confiança pra ele. A única coisa que ele sabe fazer direito é reclamar.

Lobs: Quem avisa, amigo é...

Mileena: Em boca fechada não entra mosca; muito menos o meu punho.

Lobs: Aff...

Fileo: De novo não, pessoal...

Apesar dos ânimos um pouco exaltados, os quatro acertaram os últimos detalhes sobre os passos que haveriam de tomar. Logo após isso, Fileo partiu para Gricai para se reunir com os outros Combatentes Reais, como Rashu havia ordenado. Mileena continuou por ali, oculta. Ela aproveitou que ficaria um tempo sozinha e tentou localizar o complemento do Cadeado Mágico de Midea usando sua luva.

Mileena: (Desejo saber onde está o complemento...)

Porém, a luva não dava resposta. Mileena ficou agoniada com isso e tentou se concentrar mais no pedido, mas ainda assim não havia resposta. Depois de muito tentar e continuar sem reação, Mileena parou de tentar, sentindo um desgosto ainda maior do que antes.

Mileena: (Por quê?! Eu estou tão perto! Só falta esse complemento! Por que justo agora essa luva não quer me ajudar?!)

Mais tarde, quase de madrugada, a taverna já estava fechada, mas havia uma discreta movimentação em seu interior. Lobs então abriu a porta e olhou para os lados discretamente. Vendo que as ruas da vila estavam desertas, ele levou Purkeed pela mão até Mileena, que estava escondida em um beco. Ele ficou contente em vê-la de novo, mas não entendia o que estava acontecendo. Mileena continuava bastante consternada.

Purkeed: Irmã Mileena?

Mileena: Purkeed...

Purkeed: Que está havendo? Por que você e o senhor Lobs estão fazendo todo esse segredo?

Mileena: Purkeed, eu vou ser breve. Eu me meti numa encrenca bem grande e eu temo que você possa correr risco por minha causa. Eu sei que é chato, mas eu tenho que deixar você com uma amiga minha durante alguns dias...

Purkeed: Irmã Mileena... Eu não estou gostando disso! Você está ficando longe de casa cada vez por mais tempo e agora você quer que eu fique na casa de outra pessoa?

Mileena: Desculpa, Purkeed... Vai ser só por alguns dias, eu prometo. Quando eu conseguir resolver esse meu problema, eu vou...

Purkeed: Irmã... Eu estou cansado... Se vai ser assim mesmo, então vamos logo com isso. Quanto mais cedo isso terminar, melhor...

Purkeed se mostrava muito chateado com Mileena, e esta se sentia culpada, pois ele tinha razão em ficar triste com ela. Acatando a petição do menino e não querendo continuar com a conversa dolorosa, a moça de manopla o tomou pela mão e, sob o olhar de reprovação de Lobs, foi rápida e discretamente até a biblioteca, onde Carly a esperava. Após dar um abraço e um beijo no irmão, ela o deixou com a jovem bibliotecária e, então, foi-se embora da Vila da Ferradura.

Algum tempo depois, Mileena chegou ao vilarejo onde ficava o seu local secreto. Era um vilarejo fantasma, conhecido como Alea, que se situava a sudoeste do reino, sendo não muito distante da cidadela de Neroniá. Ninguém se atrevia a viver lá, pois era local onde muitos monstros rondavam, muito menos tentar chegar perto do centro do vilarejo, que era cercado por uma densa vegetação espinhosa e retorcida. Era exatamente lá onde Mileena estava. Era desse lugar que Mileena guardava as suas piores memórias. Lá ficavam as ruínas da Casa de Prata.

Mileena: Lar, doce lar...


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Notas finais do capítulo

Mileena tem uma "recepção calorosa" na sua antiga casa promovida por monstros excêntricos. Já Carly é assombrada por seu passado e acaba dividindo sua dor com Purkeed.

Próximo Capítulo: Amargas, não tão solitárias

Confira!



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