Eu já me levantava para voltar para minha barraca, enquanto Sherlock agora havia deitado encarando o teto da barraca.

― Lockie?

― Sim. ― Ele respondeu ainda sem me olhar.

― Acha que devo contar para ele? ― Me referia a contar a Jim sobre meu romance com Sherlock

― Não. Só vai fazê-lo sofrer. ― Sherlock virou para o outro lado.

― E se ele descobrir por outro?

― Ele não vai, John. Agora preciso me concentrar em descobrir o porquê do meu irmão ter nos separado.

― Mycroft, por exemplo, pode contar para ele. ― Disse meio frenético. ― Se descobrir que voltamos.

Sherlock virou para mim, me olhando.

― Não. Isso foi coisa de uma vez só... Conheço meu irmão, se fosse tão importante assim que ainda ficássemos separados estaríamos sendo vigiados.

― E como sabe que não estamos? ― Meu tom de voz já havia voltado ao normal.

― Eu teria percebido.

― Tudo bem. É... eu vou indo. ― Fui em direção a porta da barraca e quase lá fora ouço aquela voz carinhosa me chamar:

― John. ― Me virei sentindo um frio na barriga pela proximidade da voz. Sherlock segurou meu rosto com as duas mãos e me deu um beijo carinhoso, unindo nossos lábios por poucos, porém preciosos segundos.

Eu tinha um sorriso apaixonado estampado no rosto e Sherlock com seu olhar atento e sorriso de canto de boca analisava meu rosto.

― Tchau. ― Sorri mais mordendo os lábios. ― Até mais tarde?

― Com certeza.

Caminhei até a minha barraca e só conseguia pensar em Sherlock... não acreditava ainda que ele tinha me perdoado. Passar horas com ele sempre pareceu minutos, desde o momento em que o conheci, passava tão rápido e era sempre tão bom. Cheguei lá esperando encontrar Jim ou a barraca vazia, na verdade pensava em ter uma manhã tranquila, sozinho, enquanto podia aproveitar um sorriso incontrolável estampado em meu rosto por todo momento e pensar em Sherlock, só em Sherlock.

E quando enfim entrei mirando meu colchonete, encontrei Mary lá dentro sentada em cima dele.

― Mary? Já aqui? ― Tentei não ser deseducado, mas eu só queria tirar ela dali.

― A gente marcou de conversar depois, lembra? ― Ela sorriu. ― Então, quando... ― Mary se levantou e segurou minhas mãos me puxando para o colchonete ― vamos continuar o que paramos? Voto por agora.

― Mary. ― Eu começava a suar de nervoso. ― Eu não... Eu te chamei para podermos conversar.

― Depois disso, pode ser? ― E com um movimento rápido ela conseguiu me puxar para cima dela no colchonete. E começou a me beijar.

― Opa! ― Moriarty acabava de entrar na barraca. “Graças, Jim!” Pensei aliviado.

― Ah, Mary. ― Me levantei o mais rápido possível. ― Temos que deixar para outra hora. ― Sorri sem graça.

― De novo. ― Ela olhava de cara feia para Jim. ― Até mais, Johnny. ― Me deu um selinho rápido e olhou para Jim novamente. ― Você sempre atrapalhando, James. ― Falou séria e saiu.

Quando ela sumiu de vista Jim deu uma gargalhada.

― Você sempre atrapalhando, James. ― Ele imitou a voz dela. Nós dois rimos. ― Você precisa dar um jeito nessa mulher, Johnny. ― Imitou novamente Mary na última palavra, reproduzindo seu tom meloso. ― Ela está saindo do controle.

― Preciso contar a verdade para ela. Definitivamente. ― Disse decidido. ― Devo ir lá agora.

― Na na ni na não ― disse Jim segurando meu braço ― hoje você tem um encontro.

― Quê?

― Vamos. Troca sua roupa ou vai assim mesmo, você decide. ― Jim me analisou de cima abaixo. ― É, até que não ta tão ruim. ― Ele foi em direção a saída da barraca. ― Saímos em três.

― Três? ― Perguntei assustado. ― Três horas?

Ele colocou a cabeça para dentro da barraca com uma expressão decepcionada.

― Três minutos. ― E desapareceu.

Abri a boca chocado.

― Mas Jim eu não quero... Jim! Jim! ― Olhei para fora e o meu melhor amigo já tinha sumido.

Mesmo contra a minha vontade dei uma ajeitada no cabelo e fiquei sentado num dos bancos esperando ele voltar.

― John.

Olhei para entrada da barraca e automaticamente levantei meio atrapalhado da cadeira.

― O que você ta fazendo aqui, Sherlock? ― Puxei ele para dentro e olhei o espaço lá fora me certificando de que o Jim não estava por perto.

― Eu vi ele saindo, me certifiquei. ― Disse o moreno segurando em meus ombros. ― Você precisa saber o que eu...

― Ele vai voltar logo. ― Disse nervoso. ― Tem como me contar depois seja lá o que for? ― Me soltei das mãos dele e voltei a olhar lá fora.

― Tudo bem. ― Sherlock parou pensativo. Saí da porta para olhar para o moreno. ― Vou ficar de tocaia e quando ele sair novamente, sei que ele não consegue parar quieto num lugar por muito tempo...

― Verdade.

― Então, quando ele sumir de novo, eu volto. ― E foi saindo.

― Não. ― O puxei pela gola da camisa, o fazendo virar bruscamente para mim. ― Da próxima vez eu vou sair com ele.

― Ah... ― A face astuciosa do moreno desmontou, ele não estava esperando por aquilo, mas logo voltou a pensar em outra solução, aparentemente. ― E depois que vocês voltarem? ― Ele perguntou, eu já estava pronto para concordar, mas o Sherlock emendou uma frase na outra, um pouco apreensivo. ― Pra onde vão?

― O Jim vai me levar... ― Eu já me preparava para receber uma gargalhada do moreno da estupidez que era um encontro armado por Jim, mas aí notei que tinha algo a mais em seu tom de voz. ― Sherlock, você está com ciúmes? ― Preciso admitir, estava gostando daquilo.

― Ah... ― Sherlock Holmes sem fala, eu não podia ter um dia melhor. ― Eu volto amanhã.

― Ok. ― Ri. ― Não vai perguntar mais nada?

― Não, não. Tchau. ― Ele não dava o braço a torcer.

Sorri.

― Tchau.

Ele foi embora e Jim chegou momentos depois, meu sorriso ainda estava grudado na minha cara.

― Já ta animado, é? ― Eu fui desligado do meu transe de pensamentos obviamente pensando no Sherlock.

Meu rosto estampava um grande ponto de interrogação sobre o que Moriarty tinha acabado de falar, Jim nem reparou.

― Ta querendo tirar o atraso? A muito tempo que isso aí ta parado, né? Mas preciso dizer que aquele ali não vai fácil no primeiro encontro não, em? Vai ter que fazer algum esforço se quiser desenferrujar isso aí. ― Ele indicava com o olhar as minhas partes inferiores.

― Oi? ― Disse espantado.

― Quê? ― Ele me olhou como se o que acabara de falar não fosse nada demais. ― Podemos ir? ― Disse indicando a saída.

― Jim... ― Comecei a fazer manha. ― Eu não to com muita vontade de ir n...

― A Mary pode aparecer por aqui.

― To pronto pra ir.

― Sabia. ― Ele riu.

Fomos caminhando até chegarmos perto da floresta, onde tinha uma toalha estendida no chão. Olhei para ele como se dissesse “sério?” Ele deu de ombros. ― Era o melhor que tínhamos para o meio do nada.

― Molly. Ele ainda ta aí? ― Moriarty perguntou a garota encostada numa árvore ali perto.

― Demorou, Jim. Mas ele ainda ta aqui sim. Esperando. ― Molly respondeu.

― Desculpa. É que eu tive que resolver uma coisa antes. ― Ele indicou o pano no chão ― John, senta aí. ― Fechei a cara e continuei de pé.

― Ele foi pegar uma garrafa de vinho que eu obriguei ele a trazer antes da viagem. ― Ela riu. ― Certinho demais.

― Molly, aqui. ― O garoto de quem deviam estar falando apareceu com uma garrafa de vinho. ― E parece que chegaram.

― John queria te apresentar ao Greg.

― Mas todo mundo me chama de Lestrade. ― Disse Greg se aproximando. Sorri tentando parecer simpático.

Nos sentamos sobre a toalha um de frente pro outro.

― Vamos deixá-los. ― Molly puxou Jim pelo braço e foram para longe.

Greg abriu a cesta de comidas e me ofereceu:

― Pão?

― E um pouco de vinho também. ― Sorri.

E pela minha cabeça só se passava:

“Preferia estar com Sherlock, sem dúvida. Mas já que estava ali, por que não aproveitar o banquete?” Dei de ombros e comecei a comer.