Senti um ar leve bater em meu rosto enquanto cochilava. Ia e voltava, ia e voltava. Meus sentidos acordaram, mas mantive meus olhos fechados. O sono ainda não tinha me abandonado, queria dormir mais, apenas passei a mão em minha face, afagando o lugar em que senti a brisa. Então senti o ar ir e vir mais acelerado e então escutei:

― John ― num sussurro leve e acolhedor.

Abri os olhos um pouco sonolento, enquanto identificava a voz e aquele rosto tão perto do meu. Minha visão foi focando aos poucos e quando percebi quem era, meus olhos se arregalaram, ao mesmo tempo em que o meu coração deslanchou em palpitar.

― Sh-Sh-Sherlock? ― Eu disse me empurrando com as mãos para cima, para me apoiar numa possível cabeceira, que havia sido “colocada” ali pela minha cabeça, aparentemente, pois estávamos acampando e aquilo era um colchonete. O moreno se afastou um pouco e parou em pé olhando para mim.

Holmes ria ao me ver atrapalhado querendo se encostar em alguma coisa e foi quando as costas do meu eu sonolento encontraram a “parede” da barraca. Me encostei largando meu peso para trás, realmente não tinha muita noção do que fazia, sinceramente, eu devia ser amarrado sempre que ficasse nesse estado de sono, para não fazer nenhuma besteira. A parte detrás da minha cabeça e costas bateram contra um dos ferrinhos, altamente frágeis, que mantinham a barraca em pé, senti o ferro se deslocar, virei atrapalhadamente meu corpo para tentar segurá-lo, mas acabei empurrando-o ainda mais quando minha mão se enrolou no lençol que estava preso ao colchonete e tudo forçou a barraca para fora ainda mais. Sherlock ria cada vez mais ao me ver todo atrapalhado. E então... a barraca tombou.

Enquanto eu fiquei ali, estatelado no chão, pude perceber num relance, que o Holmes se abaixou impressionantemente rápido, ou então parecia tão rápido assim pra mim porque estava com muito sono e naquele estado não seria rápido o suficiente nem para dar um passo na frente do outro, na velocidade o suficiente para não me fazer desequilibrar, então, o moreno provavelmente tinha feito o que qualquer pessoa num estado normal faria, mas eu não estava nem um pouco em condições para analisar as coisas, até porque quem tinha mania de analisar as coisas era o Sherlock, até hoje não entendia o porque de todas as observações e analises de pessoas e coisas que o moreno fazia, mas de qualquer maneira, era uma das qualidades dele que eu mais amava.

Uau... O quanto minha cabeça divagou mesmo? Voltando ao Sherlock impressionantemente rápido, que se abaixou desviando da outra ponta da barraca. Eu ali jogado na grama, enrolado no colchonete, no lençol e embolado na própria barraca, enquanto Holmes permanecia em pé, apenas rindo, enquanto uma brisa passava e remexia seus cachos... uma visão encantadora. Mas, espera, estava ouvindo mais, olhei em volta, não era só o meu moreno rindo, mas sim quase o acampamento todo. Ao ver as pessoas me encarando e caindo na gargalhada, me encolhi apertando o colchonete, estava quase enfiando a cabeça embaixo da barraca quando senti uma mão passando entre meus cabelos.

― John. ― Era Sherlock ajoelhado ao meu lado. ― Ei. ― Ele agora me segurava pelos ombros, me fazendo sentar. ― Ta tudo bem. ― Riu. ― Acontece.

― O que você está fazendo aqui, Sherlock? ― Ouvi Moriarty se aproximar. Ele estava parado atrás de nós dois com os braços cruzados.

― Jim. ― Estiquei o braço para ele. Moriarty o segurou me ajudando a levantar.

― Vocês são amigos? ― Perguntou Holmes voltando a ficar de pé e deu dois passos para trás cauteloso. “Droga! Sabia que um dia isso ia acontecer.” Pensei chateado. Desejava tão profundamente que Sherlock não mencionasse nós dois.

― Claro. Se você tivesse parado por um momento para perguntar o que acontecia na minha vida fora dali. ― Jim virou o rosto irritado.

― Você gostava do jeito como mantínhamos as coisas. ― Disse Sherlock normalmente. Jim esperava por mais, mas o moreno não tinha mais nada a dizer.

― Como pude gostar de uma pessoa tão repugnante? Não teve nem decência de terminar comigo pessoalmente.

― Você sabia que podia acabar a qualquer momento, não tenho culpa se uma onda de sentimentos, considerados por mim na época superficiais ― o moreno olhou rapidamente para o meu rosto e depois voltou a encarar o chão ― tomaram conta de você.

― Você não tem nenhuma compaixão. ― Jim estava indignado. Ele se aproximou de Sherlock. ― E ainda fala comigo da maneira mais fria possível! ― Ele praticamente gritava. ― Você NUNCA, NUNCA vai ser capaz de amar alguém ou ser amado... Não depois da pessoa conhecer o seu verdadeiro eu. ― Jim saiu irritado esquecendo até da minha presença ali.

― Como vocês se conhecem? ― Sherlock se aproximou com raiva nos olhos. Minha garganta travou e minha voz não conseguia sair. Tomada a coragem, após alguns segundos consegui responder.

― Ele é meu melhor amigo. ― Holmes balançou a cabeça negativamente, claramente irritado e foi embora. Eu não poderia estar me sentindo pior.