Círculo Fechado escrita por MarcosFLuder


Capítulo 3
Capítulo 3




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BASE SECRETA EM ALGUM LUGAR DOS ESTADOS UNIDOS

O alarme é ouvido em toda a base começando uma correria. A maioria dos que ali estavam não sabiam a razão, mesmo assim todos assumiam suas funções como ordenado nas muitas simulações feitas nos últimos dias.

— Porque esse alarme está tocando? – pergunta Mulder.

— Venha conosco e vai ver com os próprios olhos agente Mulder – disse o Senhor White.

Eles caminharam por vários corredores e Mulder pode reparar que quanto mais avançavam dentro da base maior era a vigilância. Foi então que pararam em frente a uma porta blindada onde o Senhor White só precisou usar a sua voz para fazer a porta abrir e dar para uma câmara de onde se via outra porta blindada. Esta foi aberta da mesma maneira, mas só depois da primeira porta ter sido fechada. Mulder não pode evitar a expressão admirada ao ver a enorme instalação a sua frente. “Dava para esconder um disco voador aqui”, foi o que ele pensou de imediato. Só que em vez disso o que ele viu foi algo que o impressionou mais ainda, uma bola de luz que parecia flutuar a poucos centímetros do chão. Deu-se conta também que esta parecia estar emitindo uma espécie de energia que afetava todos os aparelhos eletrônicos que estavam próximos.

A bola de luz estava dentro de uma depressão enorme no compartimento, e Mulder pode ver as pessoas subindo pelas escadas embora existisse ali um elevador que ninguém se atreveu a usar. Quando todos já estavam na parte superior do local, o Senhor White ordenou que a depressão fosse lacrada para evitar que os aparelhos de toda a base acabassem sendo afetados. O barulho de grandes engrenagens se movendo chamou a atenção de Mulder, que pode ver a depressão ser lacrada por uma estrutura que parecia uma imensa tampa de vidro que permitia a todos ver o que acontecia no local. Mulder notou uma tensão visível nos rostos de todos, menos no Senhor White, que parecia impassível diante da situação. “Parece até alguém que eu conheço”,  ele pensou, enquanto fixava o olhar na depressão onde a bola de luz aumentava de tamanho. Um som estranho era emitido, que nem mesmo o ambiente lacrado conseguia abafar.

— Está pior do que a outra vez – disse o Senhor White – antes o som era todo abafado Dr. Grant.

— Fico imaginando o barulho lá dentro – disse o Dr. Grant – uma pessoa que estivesse ali teria o seu sistema auditivo destruído em poucos segundos – o barulho diminuiu até sumir, da mesma forma que a bola de luz lá dentro voltou ao seu tamanho normal. Alguns aparelhos na parte superior da instalação foram afetados e embora não tenha sido nada muito sério Mulder pode perceber, mais uma vez, a tensão dos homens lá dentro.

— Está ficando pior a cada momento – disse o Dr. Grant – da próxima vez acho que não vai ser possível conter o fenômeno aqui dentro.

— Quer dizer que podemos ter que acobertar outra disfunção temporal grave como a que aconteceu em Grover?

— Eu diria que se aquilo ocorrer mais uma vez com certeza vai ser muita mais intensa – disse o Dr. Grant.

— O que é aquilo lá embaixo? – perguntou Mulder e o Senhor White mandou que o compartimento fosse aberto para pegarem o objeto. Foi uma surpresa para todos ao notarem que era um vestido vermelho muito elegante feito para uma mulher de corpo pequeno e delicado. Junto havia um bilhete que o Senhor White leu e entregou a Mulder.

— É pra você agente Mulder.

Mulder leu o bilhete e tomou um choque ao perceber de quem era. Não fora um sonho então. O Queen Anne e os nazistas, e aquele beijo de despedida, seguido de um soco que doeu mais nela que nele.

“Fox Mulder mais uma vez eu escrevo para você, pois é o único em que confio para enfrentar essa inusitada situação. Em nossa aventura no triângulo das Bermudas você me falou sobre viagens no tempo. A princípio tudo parecia uma loucura, mas agora eu tenho que me curvar aos fatos, e por isso volto a pedir a sua ajuda, embora tema que esse bilhete nunca chegue as suas mãos. Só posso contar mesmo com o bom senso de quem estiver do outro lado dessa bola de luz para convocá-lo à essa missão, até porque eu não posso confiar em outro que não em você”.

— Parece óbvio que o nosso misterioso aliado é na verdade uma aliada – disse o Senhor White.

— O que está acontecendo aqui afinal? – perguntou Mulder.

— Creio que você já deve Ter uma ideia do que é aquilo lá embaixo, agente Mulder.

— Uma máquina do tempo?

— Eu não diria máquina agente Mulder – disse – um portal ou uma fenda seria o termo mais apropriado para o que temos aqui.

— Vocês conseguiram criar uma fenda no tempo?

— O auge de um trabalho que começou a mais de 50 anos agente Mulder - disse o Senhor White – um trabalho que pode vir a ser destruído pela irresponsabilidade de um de seus principais realizadores – foi até uma mesa e pegou alguns projetos antigos.

— O que é isso?

— Planos, agente Mulder! Planos de construção da primeira bomba atômica e que foram roubados no inicio de 1941 e levados para a Alemanha.

— Eu nunca ouvi falar nesse fato – disse Mulder.

— É claro que não! Muito pouca gente soube disso, um bem guardado segredo de guerra que se manteve até hoje devido ao fato de não ter tido grande repercussão ao longo da história.

— E porque não teve repercussão?

— Um grande golpe de sorte da nossa parte eu diria! Na época os nazistas tinham o seu próprio projeto e não deram a devida importância a esses aqui, o que permitiu que um de nossos espiões o recuperassem.

— Deixe-me adivinhar – disse Mulder – se os nazistas tivessem levado esse projeto a sério e impedido a sua recuperação eles poderiam ter desenvolvido a bomba atômica antes dos aliados e ganhar a guerra.

— Exatamente agente Mulder – disse o Senhor White.

— Você ainda não explicou o que está acontecendo aqui.

— A equipe de cientistas alemães que analisou esse projeto votou contra a sua utilização, exceto por um deles, que acreditava na sua eficácia, mas foi voto vencido.

— De quem você está falando?

— De um homem chamado Martim Speer! Um brilhante cientista que no fim da guerra foi beneficiado pela Operação Clip de Papel e ganhou a proteção de nosso governo em troca de seus serviços.

— Ele trabalhava nesse projeto! – disse apontando para a fenda temporal abaixo.

— Ele era o principal homem desse projeto agente Mulder! Na verdade sem ele nós nunca teríamos conseguido chegar até aqui – o Senhor White olhou para a depressão abaixo – só não podíamos imaginar que o entusiasmo dele pelo projeto tivesse uma motivação bem específica.

— Está querendo me dizer que ele entrou por aquele portal e viajou no tempo?

— Pois foi exatamente o que ele fez.

— Ele quer mudar a história! Quer garantir que os nazistas possam usar os planos originais da bomba atômica e ganhar a guerra.

— Contra todo o bom senso é exatamente isso que ele quer fazer.

— Mas tudo o que ele vai conseguir fazer é destruir a nossa realidade – disse o Dr. Grant.

— A história não pode ser mudada agente Mulder, e qualquer um que tentar faze-lo vai desencadear um desastre de consequências terríveis, que provavelmente vai destruir a nossa realidade – pela primeira vez Mulder notou algum tipo de emoção na voz do Senhor White – por um golpe de sorte parece que nós conseguimos um aliado do outro lado que conseguiu devolver os planos que Speer tinha levado com ele – aponta para as mãos de Mulder – esses planos que estão em suas mãos agente Mulder foram mandados de volta para a sua época original, ou seja, a nossa. Eles vieram junto com um bilhete nos mesmos termos desse último que você leu.

— O que vocês querem de mim afinal? – o Senhor White mostra a ele algumas fotos das ruínas do banco de Grover – o que causou isso?

— Trata-se das consequências da distorção temporal causada pelo uso da fenda – disse o Dr. Grant – poderia ter acontecido agora a pouco, mas nós conseguimos conte-la. O problema é que não poderemos fazer isso para sempre, e irá piorar cada vez mais.

— Mas o que eu posso fazer quanto a tudo isso?

— Não é óbvio agente Mulder? Nós queremos que você faça uma nova viagem no tempo.

— O caso do Queen Anne no triângulo das Bermudas – disse – eu pensei que tudo tivesse sido um sonho.

— Como pode ver agente Mulder, não foi um sonho – disse – você realmente fez uma viagem no tempo, provavelmente através de uma fenda natural existente no triângulo das Bermudas, e com certeza foi lá que conheceu a nossa aliada no passado. E como parece que ela só confia em você, nós não tivemos outra alternativa a não ser convocá-lo para essa viagem no tempo.

— E o que eu devo fazer?

— Para começo de conversa, você deve levar esse vestido consigo na viagem que vai fazer, e mais importante, trazer o Dr. Speer de volta para a nossa época – disse o Senhor White – acreditamos que essa é a nossa única chance de consertar os estragos que estão sendo feitos.

— Como podem saber que eu vou parar na época certa?

— Pelos objetos que temos recebido eu diria que há uma ligação entre essa época e aquela para onde foi o Dr. Speer – disse o Dr. Grant – mas você só vai viajar no tempo e não no espaço, ou seja, você vai aparecer nesse mesmo local só que a quase 60 anos atrás.

— Vamos providenciar algumas roupas típicas daquela época, bem como uma boa quantia em dinheiro – o Senhor White lhe dá uma arma antiga – você talvez precise disso para convencer o Dr. Speer a voltar.

— Devo advertir que matá-lo no passado pode ter consequências tão desastrosas quanto a viagem que ele fez para mudar a história – disse o Dr. Grant.

— Leve-a de qualquer forma e lembre-se que se todas as alternativas de um retorno falharem, mata-lo terá que ser a única solução – Mulder pegou a arma e olhou para o Senhor White – só mais uma coisa agente Mulder.

— O que é?

— Uma maneira de garantir a sua motivação em concluir essa missão com sucesso – entregou a ele uma foto que fez Mulder gelar, pois mostrava Scully no estacionamento do FBI, prestes a entrar no carro. Ele notou especialmente o ponto vermelho em sua nuca.

— O Dr. Speer com certeza vai tentar convencê-lo de que os nossos temores a respeito das consequências de uma viagem no tempo são infundados – disse tomando a foto de Mulder – essa foto é para garantir a você que não importa quem esteja certo a respeito desse fato, se você fracassar em sua missão a sua parceira vai pagar caro por isso.

Mesmo para alguém como Mulder, toda aquela história parecia absurda. Enquanto colocava as roupas de época, e pegava o dinheiro que lhe era dado, ele imaginava se tudo não seria um truque , uma conspiração. Nada parecia fazer muito sentido, e se não fosse por sua experiência no triângulo das Bermudas, ele não acreditaria em nada do que lhe foi contado. Contudo, as evidências eram fortes demais, principalmente a sua carteira de identificação do FBI, que acreditava ter se perdido no mar de Sargaços. Qualquer pessoa normal, e de bom senso, diria que tudo aquilo era uma loucura e se recusaria a embarcar nessa aventura. Mas ele era Fox Mulder, e ainda havia as ameaças contra Scully. Por isso, quando deu por si, já estava em frente ao portal que brilhava feito um pequeno sol. Ele teve que tapar os olhos com as mãos para protegê-los de um brilho intenso e ofuscante. Caminhava a passos lentos e inseguros em direção a bola de luz à sua frente, até que num impulso, ele jogou-se dentro dela. O Senhor White viu Mulder sumir dentro da fenda temporal e pela primeira vez em muitos dias ele se permitiu um sorriso. “O círculo começa a se fechar”, ele pensou, concluindo ao mesmo tempo que restava apenas esperar o desenrolar dos fatos.

EM ALGUM LUGAR DOS ESTADOS UNIDOS

1942

Mulder não soube dizer quanto tempo durou, um segundo ou uma hora. A sensação entretanto era horrível. Quando o brilho diminuiu ele encontrou-se diante de uma depressão igual a da base, na verdade era a mesma, mas não havia nenhuma instalação a sua volta. Ele olhou para cima e viu o céu estrelado. Começou a olhar em volta e viu um vulto num elevado, que se afastou. Mulder também viu uma escada, e subindo por ela saiu da depressão onde se encontrava. Estava bem escuro, mas ele pode ver um carro de modelo antigo parado adiante e foi em sua direção, sendo detido quando os faróis foram ligados.

— Por favor eu já tive luz suficiente por hoje – disse Mulder – dá pra desligar isso – os faróis foram desligados e ele a viu saindo do carro com um vestido idêntico ao que Mulder trouxe consigo, só que todo preto. Ele a olhou fascinado, parecia uma aparição, uma criatura feita de sonhos. Ela estava deslumbrante.

— Eu queria ter certeza de que era mesmo você – ela disse enquanto se aproximava dele até ficar bem em frente.

— Pensei que nunca mais ia te ver – disse Mulder – na verdade pensei que tudo havia sido um sonho.

— Não foi um sonho agente Mulder – disse a mulher de cabelo ruivo, estatura baixa e rosto suave. Os olhos pareciam duas piscinas azuis, onde ele queria mergulhar até se afogar, e por fim a boca sensual, ressaltada por um batom vermelho insinuante. “Valeria a pena correr o risco de outro soco?”, ele pensou, respondendo a sua própria pergunta tomando-a nos braços como fizera naquele navio, em meio a uma fuga desesperada. Agora sim, ele tinha certeza de que não fora um sonho. O hálito quente, o perfume suave e os cabelos macios eram os mesmos que povoaram seus sonhos nos dias que se seguiram àquela viagem as Bermudas. O beijo era intenso, quase selvagem e as mãos dele passeavam pelas costas quase nuas daquela mulher idêntica e ao mesmo tempo diferente de Scully. “Scully”, o pensamento veio a sua cabeça e ele a soltou, sentindo-se estranhamente indigno e infiel. Ambos ficaram ali parados, olhando um para o outro. Mulder relaxou o corpo, esperando outro soco. Em vez disso, ela aproximou-se dele e lentamente, colocou o braço em volta de seu pescoço, enquanto alisava seu rosto até aproximar seus lábios dos dele e beija-lo. O céu, as estrelas e o luar foram as únicas testemunhas daquele momento de paixão.

MOTEL BLUE MOON

GROVER

COLORADO

ÉPOCA ATUAL

Scully estava no banheiro daquele motel de Quinta categoria. Enquanto procurava lidar com os enjôos que sentia ela, estava preocupada mesmo era que Krycek percebesse o seu atual estado. Foram momentos de muita tensão até eles despistarem seus perseguidores. Essa mesma tensão acabou precipitando os sintomas da gravidez. Ela estava naquele banheiro tentando se recompor e pensando no que dizer para o sujeito do lado de fora. Era importante evitar que ele desconfiasse de alguma coisa, pois não havia a menor chance de confiar naquele sujeito. Ele ainda era o homem que ajudou a matar sua irmã; Scully tinha ganas de matá-lo da maneira mais dolorosa possível. No entanto, ela precisava controlar a raiva, a ansiedade e principalmente os sintomas de sua gravidez. Ela só saiu do banheiro quando percebeu que estava de volta ao seu estado normal.

— Tudo bem com você? – perguntou Krycek

— Não foi nada demais – disse Scully – nos últimos dias eu tenho me esforçado em excesso para encontrar o agente Mulder e acho que o meu corpo está sentindo os efeitos disso.

— Tudo bem – disse Krycek – vamos ao que interessa.

— É melhor mesmo, pois se você não me der uma pista concreta a respeito do agente Mulder eu vou embora.

— Tudo o que eu posso dizer é que o chefe daqueles homens que nos perseguiram estão com ele agora.

— Por que? O que eles querem com o Mulder?

— Não sei ao certo – disse – eu ouvi uma conversa entre o tal Senhor White e o canceroso, mas tudo o que consegui entender é que o agente Mulder era necessário para uma missão.

— De que missão você está falando?

— Eu não sei agente Scully! Mas com certeza trata-se de algo muito importante.

— Nada do que você diz faz o menor sentido.

— Você sabia que o canceroso está morrendo? O Senhor White ofereceu a ele uma chance de se salvar se o ajudasse a encontrar o agente Mulder – ele aproxima-se de Scully, que faz menção de pegar a arma, ele para em frente a ela – o senhor White precisa do Mulder para alguma coisa que diz respeito ao que aconteceu no banco de Grover, e eu posso ajuda-la a descobrir o que é.

— Porque você faria isso Krycek? Pelos meus belos olhos é que não seria.

— Como é que você pode saber – ele exibiu aquele sorriso cínico que poderia afetar qualquer outra mulher menos Scully. Sete anos convivendo com Mulder e seus gracejos a deixaram meio que imunizada contra esse tipo de charme cafajeste.

— Qual é o seu verdadeiro interesse nessa história Krycek?

— Poder, vingança e mais algumas coisas!

— Que coisas?

— As coisas mudaram muito agente Scully, desde que a maior parte dos líderes do sindicato foi morta naquela base aérea a quase dois anos.

— Mudaram de que jeito se o sindicato continua ativo?

— Mas não é mais a mesma coisa minha cara, principalmente depois de saber que no mundo das grandes conspirações nós nunca estivemos sozinhos.

— Está querendo me dizer que existe outra organização secreta agindo nos porões do governo?

— Exatamente agente Scully – aproxima-se novamente de Scully, que dessa vez não esboça nenhuma reação, e eles ficam bem próximos – o que está lá fora é muito mais que a verdade ou o sindicato, e se você quer mesmo encontrar o agente Mulder é melhor abrir a sua mente para esse fato.

— Tudo bem Krycek (suspira) eu vou aceitar os seus argumentos, embora ainda não confie em você, mas eu quero saber se você tem uma pista a respeito de Mulder.

— Ainda não, mas logo devo ter alguma coisa – o celular de Scully toca.

— Scully – Krycek nota que suas feições ficaram mais sérias do que o costume – eu já estou indo agente Doggett.

— Quem era?

— O agente encarregado de investigar o desaparecimento de Mulder – por um instante ela parece olhar o vazio, como se Krycek não estivesse ali – ele me quer em Washington para explicar o incidente no necrotério de Grover.

— E o que você vai dizer?

— A verdade é claro – olha para ele – eu recebi uma informação anônima dizendo que encontraria pistas a respeito do paradeiro de Mulder e fui até lá investigar – ela vai em direção a porta.

— Eu vou acompanhar você até Washington.

— Não precisa Krycek.

— Eu acho que precisa sim agente Scully, mas não se preocupe que eu ficarei de longe, afinal ninguém precisa saber que a mais recatada agente do FBI costuma andar em tão má companhia – novamente o sorriso cínico, mas Scully decidiu ignora-lo e saiu daquele motel barato, sendo seguida de longe por Krycek.

BASE SECRETA EM LOCAL DESCONHECIDO

A situação naquela base já havia voltado ao normal para a maioria dos que estavam ali dentro, mas em um determinado local as coisas ainda estavam tensas.

— Eu ainda tenho dúvidas se foi uma boa ideia mandá-lo nessa viagem – disse o Dr. Grant.

— Era a solução mais viável para o presente momento – disse o Senhor White.

— Porque não mandar um comando tático buscar o Dr. Speer?

— E encontrá-lo aonde meu caro? A única pessoa que saberia deixou bem claro que só confia no agente Mulder, e além do mais há o perigo de termos tanta gente vagando pelo passado.

— Eu sei mas...

— Não tem mas Dr.! O agente Mulder é a nossa única esperança de uma solução para esse caso e ele vai fazer o possível para não nos decepcionar – olha a foto de Scully – ele não vai querer pôr em risco a vida de sua inseparável parceira.

— Eu tenho medo que o Dr. Speer conte a ele tudo o que sabe a nosso respeito.

— Provavelmente ele fará isso meu caro, mas eu não me preocupo com esse fato já que o agente Mulder não terá o que fazer com essas informações.

— As vezes eu estranho muito essa sua tranquilidade Senhor White.

— E porque meu caro Dr.?

— Sei lá! É como se você... soubesse algo... algo que ninguém mais sabe.

— O que acha Dr. Grant? – os olhos do Senhor White são frios e sem emoção, seu sorriso chega até a ser assustador, pois tão raro e desprovido de qualquer sinal de alegria, mas o Dr. Grant percebe claramente que acertou no seu palpite.

GROVER

COLORADO

1942

Quando Mulder abriu os olhos estranhou o quarto que não era o seu, bem como a cama desconhecida. Uma olhada em torno do quarto o deixou ainda mais confuso, ao ver os móveis antigos. Foi só a partir daí que sua mente começou a organizar as coisas e ele lembrou-se de sua viagem no tempo , do reencontro com alguém que passeou muito por seus sonhos e que ontem se mostrou muito real. Seus pensamentos foram interrompidos quando ela entrou com uma bandeja de comida.

— Imagino que esteja com fome – ela disse colocando a bandeja na cama.

— Não estou muito acostumado com isso – disse Mulder.

— Você precisa se alimentar – ela coloca um pedaço de bolo na boca dele.

— Você não precisa fazer isso – ele diz isso, mas saboreia intensamente aquele pedaço de bolo enquanto se sentia quase perdido na imensidão daqueles olhos azuis – como conseguiu escapar do Queen Anne? Quando a minha parceira o encontrou no futuro ela me disse que ele tinha se transformado num navio fantasma.

— Eu fiz o que você me pediu e convenci os tripulantes a dar meia volta com o navio – ela dizia isso e comia um pedaço de bolo sob o olhar atento de Mulder – só que depois eu tratei de cuidar dos meus próprios interesses.

— Do que está falando?

— Você não lembra? Eu estava lá para proteger um cientista responsável pela construção da bomba atômica.

— Eu me lembro sim, mas e daí?

— E daí que eu aproveitei a confusão para resgatá-lo dos nazistas e depois consegui entrar em contato com um navio aliado que estava nas proximidades.

— E como conseguiu isso?

— Eu tinha um rádio-transmissor na minha cabine – ela sorri como uma criança marota – depois disso foi só pegar o cientista que estava protegendo e deixar o navio num bote salva-vidas – ela volta a pôr um pedaço de bolo na boca de Mulder – em menos de duas horas nós fomos resgatados.

— Nossa! 007 não faria melhor.

— Quem!!! – Mulder sorri com o espanto dela.

— Nada não, deixa pra lá!

— O nome da sua parceira por acaso é Scully?

— Porque você pergunta isso?

— Você falou o nome dela quando estava dormindo – Mulder mal consegue disfarçar o constrangimento por ouvir isso e resolve desviar a conversa.

— Você não me disse o seu nome.

— Eu perguntei primeiro! Quem é Scully? – ele passa as mãos suavemente , pelo rosto dela.

— Ela vai ser você daqui a 60 anos!

— Que bobagem é essa? – ela olha para ele com a mesma expressão incrédula que Scully costuma fazer quando ouvia alguma teoria maluca de Mulder e ele se assusta um pouco ao constatar isso.

— Acho melhor parar por aqui – ele se levanta e vai até a janela – você sabe que eu não pertenço a essa época... e o que eu vim fazer aqui.

— É claro que eu sei – ela aproxima-se dele – não estou te cobrando nada. Eu sei que só você veio para pegar o Dr. Speer e voltar para sua época.

— Nós temos que encontrá-lo o mais rápido possível... eh! qual é o seu nome afinal?

— Pode me chamar de Maggie.

— Maggie? Maggie?

— Algum problema com esse nome?

— Não eu... deixa pra lá – ele começou a vestir-se – como iremos encontrar o Dr. Speer?

— Ele entrou em contato com um grupo de simpatizantes do nazismo que atuam no país – ela olha pela janela – o problema é que esse grupo foi desarticulado, mas não conseguimos pegar os seus líderes. O Dr. Speer está com eles e eu só consegui descobrir que eles estavam aqui em Grover, mas não faço ideia em que parte da cidade estão escondidos.

— Onde fica a sede do banco Federal de Grover?

— Porque você quer saber?

— Porque eu tenho certeza de que o esconderijo deles fica nas proximidades.

— Como pode saber disso?

— O Dr. Speer precisa voltar o quanto antes para a nossa época Maggie! A vinda dele para cá e suas tentativas de mudar o futuro estão causando uma série de distorções temporais em minha época.

— E quais as consequências disso?

— Segundo as pessoas que me mandaram para cá essas distorções vão acabar destruindo a nossa realidade.

— E a única coisa que poderia evitar isso é levar o bom Dr. de volta para sua época.

— Exatamente! Pelo que me foi dito o banco Federal de Grover foi atingido na minha época por uma dessas distorções temporais, e eu acredito que o mesmo tenha acontecido aqui.

— Por causa do Dr. Speer! Você acha que a simples presença dele naquela agência possa ter desencadeado o fenômeno?

— Talvez! Mas o fato é que temos que encontrar o Dr. Speer o quanto antes, e essa é a nossa única pista.

— Eu sei onde fica o banco – ela pegou a sua bolsa e Mulder viu quando tirou uma arma de dentro, verificando se estava carregada. Por um instante pensou em Scully, mas decidiu que o melhor no momento era afastá-la de sua cabeça – vamos indo Fox?

— Oh claro, vamos! – ele despertou de seu torpor e saiu acompanhado daquela linda mulher, mas ao chegarem na portaria ela decidiu voltar ao apartamento.

— Eu preciso pegar uma coisa que esqueci lá em cima.

— Tudo bem, mas não demora mui... – ela não o deixa terminar a frase e o surpreende com um beijo.

— Não se preocupe, eu volto já – Mulder a observou caminhando em direção ao elevador, sua mente suja trabalhando como poucas vezes antes. Isso, e mais os olhares jocosos das pessoas a sua volta, o deixou constrangido como poucas vezes em sua vida.

BANCO FEDERAL DE GORVER

COLORADO

Eles estavam dentro da agência bancária procurando por algum sinal do Dr. Speer, mas não haviam tido qualquer sucesso. Antes disso já haviam percorrido todo o quarteirão adjacente e a frustração havia sido a mesma, com ambos já desanimando.

— Tem certeza de que o fenômeno que atingiu essa agência na sua época foi sentido aqui também?

— Com certeza Maggie! Só que aqui o fato não teve maiores consequências, pois tudo foi aparentemente apagado da memória das pessoas.

— Como se nunca tivesse acontecido!

— Pois é! Só que na minha época foi bem diferente, pelo que vi nas fotos que me foram mostradas – Mulder dizia isso enquanto olhava para todos os lados procurando um sinal do Dr. Speer.

— Nós estamos nessa busca a horas Fox – ela disse – vamos comer alguma coisa – eles saíram em direção ao restaurante que ficava em frente ao banco, e depois de terem sido servidos recomeçaram a conversa.

— Como foi que você se envolveu nessa história? – perguntou Mulder

— Foi quando o Dr. Speer procurou a ajuda desse grupo de simpatizantes do nazismo – disse – a intenção dele era conseguir ajuda para sair do país e ir para Alemanha entregar os planos da bomba atômica.

— E o que você tem haver com esse grupo?

— Eu estava infiltrada nele Fox...eu monitorava as suas atividades enviando ao governo relatórios regulares a respeito de tudo o que era discutido e decidido nas reuniões que faziam.

— Agora eu estou me lembrando – Mulder franze o cenho – aquele cientista com quem você estava no Queen Anne. Ele disse que você trabalhava para a OSS.

— Quando os planos originais da bomba atômica foram roubados, a quase um ano atrás, criou-se uma grande preocupação na área de segurança com a atuação desses grupos de simpatizantes do nazismo.

— Acho que eu já tinha lido alguma coisa a respeito disso Maggie – ele disse – parece que alguns desses grupos serviam na verdade de suporte para espiões nazistas atuarem em nosso território.

— Exatamente Fox! E esse grupo em que eu estava infiltrada era um dos mais atuantes nessa área.

— Mas você disse que ele foi desarticulado.

— Nós pegamos quase todos os integrantes... só que os líderes escaparam. A verdade é que eles podem formar outro grupo em pouco tempo se não forem capturados – ela coloca uma mexa de cabelo para trás... como Scully fazia – infelizmente existem muitos simpatizantes do nazismo no país.

— Como foi que você se envolveu com esse grupo?

— Foi através do líder deles – ela abaixa os olhos e evita encará-lo, parece constrangida – eu... hã... conquistei a sua confiança – um ligeiro silêncio surge entre os dois, ele olha a boca dela semi aberta, a língua dela passeando pelos lábios... como Scully fazia. Tudo isso deixando Mulder cada vez mais espantado com tantas coincidências entre as duas – eu estava na reunião em que o Dr. Speer apareceu com os planos e pediu ajuda para deixar o país em direção a Alemanha.

— Ele falou que veio do futuro para mudar os rumos da história?

— É claro que não! Com certeza iam pensar que ele era louco e não iam dar-lhe ouvidos.

— Então como foi que você descobriu?

— No princípio eu achava que ele era apenas um espião que havia enganado o nosso sistema de segurança e roubado outra vez os planos da bomba atômica – ela faz uma pausa para suspirar – eu só fui descobrir a verdade quando tive a chance de mexer nas coisas dele. Além dos planos da bomba eu vi também um mapa marcando o local onde ele apareceu, vindo do futuro.

— Foi assim que você concluiu que ele veio do futuro?

— É claro que não! Eu continuei mexendo nas coisas dele e achei a sua carteira de identificação do FBI.

— Mas como é que ela foi parar nas mãos dele?

— Não faço a menor ideia! O fato é que eu resolvi confrontar o Dr. Speer e ele me contou que veio do futuro com a intenção de mudar a história – ela sorri – acho que ele levou um susto quando eu disse que conheci você no Queen Anne.

— O que você fez depois?

— Eu já havia denunciado o grupo por acobertar atividades de espionagens, mas quando os homens do governo invadiram o local eu resolvi confirmar a história do Dr. Speer antes de entregar os planos que tinha nas mãos.

— E quando chegou ao local marcado no mapa você viu a fenda que o Dr. Speer usou para vir do futuro.

— Foi o maior susto da minha vida, mas depois da experiência que tive com você no mar de Sargaços...

— Foi aí que você devolveu os planos e a minha carteira e ainda voltou uma segunda vez.

— Eu imaginei que o Dr. Speer precisava voltar para sua época, mas não podia contar isso aos meus superiores.

— Eles iam achar que você estava maluca.

— Foi por isso que eu mandei aqueles bilhetes pedindo ajuda, e citando especificamente o seu nome.

— Só queria saber como a minha carteira do FBI foi parar nas mãos do Dr. Speer.

— Como eu disse antes , não faço a menor ideia.

— Segundo eu me lembro a minha carteira de identificação ficou com o comandante do esquadrão nazista que invadiu o Queen Anne – ele fica alguns instantes pensativo – impressionante como as coisa estão interligadas entre si.

— Do que está falando?

— Da minha aventura no triângulo das Bermudas, e de como ela foi indiretamente responsável pelos eventos que me trouxeram até aqui.

— Porque está dizendo isso?

— Se você conseguiu escapar do navio com o cientista é razoável supor que alguns nazistas também tenham conseguido, inclusive o sujeito que ficou com a minha carteira do FBI. O mesmo se pode dizer do espião infiltrado entre os marinheiros do Queen Anne. Eu me lembro que contei para ele vários fatos que iriam acontecer no decorrer da guerra.

— Tem razão Fox! É possível sim.

— E de alguma forma essa carteira deve ter ido parar nas mãos do Dr. Speer. Ele deve ter ouvido o relato a respeito do dono dela ser um maluco que dizia coisas sem nexo a respeito do que iria acontecer no futuro.

— E quando ficou claro de que as tais “coisas sem nexo” acabaram se confirmando ele concluiu que você tinha vindo do futuro.

— Antes de qualquer coisa ele era um cientista Maggie, e apesar de Albert Einstein ser Judeu, o Dr. Speer devia concordar com a teoria dele sobre ser possível viajar no tempo.

— As vezes tudo isso parece tão absurdo.

— Eu entendo Maggie – Mulder coloca as mãos sobre as dela – só que agora nós precisamos encontrar o Dr. Speer o mais rápido possível.

— Que coincidência interessante – uma voz os interrompe e Mulder pode ver o espanto no rosto de Maggie – o Dr. Speer também tem a maior urgência em encontrá-los – passa a mão pelo rosto de Maggie – principalmente você minha querida.

— James eu...

— Não diga nada minha cara – aproxima-se do rosto dela e a olha com um misto de raiva e desejo – não vai faltar oportunidade para que acertemos as nossas contas.

— Quer fazer o favor de soltá-la – a voz de Mulder é firme e atrai a atenção do sujeito.

— Mas o que temos aqui – volta a olhar para Maggie – mais um que caiu nas suas garras meu bem? – Mulder se levanta e sente de imediato um cano de revolver nas suas costas, mais três homens acompanhavam James.

— James por favor...

— Calma querida, nós não vamos matá-lo – a faz levantar-se – vamos levá-los até o Dr. Speer – Mulder pensou em reagir, mas foi detido pelo olhar de Maggie. Por um instante isso o lembrou de Scully e da comunicação sem palavras que haviam desenvolvido em anos de convivência juntos. Os dois saíram, acompanhados por James e seus três capangas. Haviam poucas pessoas no restaurante naquela hora e ninguém pareceu notar nada de errado na situação. Eles foram levados para um beco nas proximidades, onde havia um carro esperando. Após verificarem que não havia ninguém olhando, o próprio James acertou Mulder com a coronha do revolver, deixando-o desacordado.

— Por Deus James – Maggie abaixa-se para socorrer Mulder – você não precisava fazer isso – ele a levantou, imprensando-a na parede do beco com violência.

— Não me diga o que eu posso ou não posso fazer “olhos azuis” – ele a beija com uma mistura de desejo e violência e depois a joga dentro do carro, enquanto Mulder é colocado no porta-malas pelos seus capangas. Quando todos já estão acomodados, o veículo sai em disparada.


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