Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 34
Recuperação




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Kakashi prestava apenas meia atenção aos papeis em suas mãos. A maior parte das últimas horas ele gastara espiando, por cima das pastas que segurava, a mulher deitada sobre sua cama, observando o cobertor cinza ser movimentado para cima e para baixo pela respiração da kunoichi. Respiração essa que, e ele mal podia agradecer o suficiente, já voltara ao normal.

O Hatake, contudo, não conseguiria afirmar que já estava cem por cento tranquilo em relação àquela situação. Demoraria para se recuperar do susto que tivera ao chegar em casa e se deparar com Nana caída no chão do banheiro, tremendo, o simples ato de respirar aparentando exigir um esforço quase ridículo da mulher. Agora, enquanto novamente fitava o rosto tranquilo dela se destacar das mechas cor de fogo, ele tentava afastar aquela visão de sua mente. Esforçava-se em se concentrar nas boas notícias ao invés de reviver os minutos de pânico. Correra para socorrer a kunoichi, a fração de segundos que levou até alcançá-la potencializando a tortura que fora imaginar, outra vez, a morte dela. Ordenara a Pakkun chamar Sakura e agoniara-se outros tantos minutos esperando a chegada da aluna que, por fim, disse apenas se tratar de uma intoxicação. “Poderia ter sido fatal se ela tivesse inalado algo mais do que o fez, mas Nana ficará bem, Kakashi-sensei”, Sakura dissera, ao terminar de extrair do corpo da ninja qualquer vestígio de veneno. Foi uma sensação revigorante sentir o oxigênio entrar em seus pulmões novamente após a jovem tranquilizá-lo.

E assim, desde então, fingir ler relatórios enquanto espiava Nana por cima deles, torcendo para ela acordar o mais breve possível, era a missão que Kakashi dera a si. E, bom ninja que era, manteve-se nela até algo próximo ao nascer do Sol, quando um movimento diferente sobre o cobertor exigiu dele até a pouca atenção que dedicava aos papeis, depositando-a por completo onde ele mais queria: em Nana.

— Ai… - ele a ouviu gemer enquanto vi-a sentar-se lentamente, apoiando parte do peso do corpo em uma das mãos sobre o colchão, a outra massageando a têmpora - Minha cabeça…

— Ressaca, Nana-chan?— ele provocou, rindo divertido sob a máscara, disfarçando o alívio que sentia ao vê-la consciente.

— A noite deve ter sido boa, então… - ela ironizou, voltando o rosto ao Hokage - Lembro de nada.

— Como você se sentindo? - perguntou Kakashi, levantando-se e indo até ela - respirando bem?

— Não deveria?

— Você respirou algum tipo de gás, ficou mal. A Sakura disse que não ia ter sequelas, só querendo saber se você bem mesmo… - explicou Kakashi, sentando-se no colchão ao lado dela. O ninja a encarou firmemente. Queria ter certeza das condições da mulher. Ela estava pálida, aumentando o contraste de sua pele com seus fios ruivos, e seus olhos pareciam cansados, sem muita energia. Mas, fora isso, aparentava estar bem.

— Acho que está tudo ok. Você foi ver a Aiko?

— Ela está bem, mais tarde te levo pra vê-la… - ele respondeu vagamente, sabendo que brigariam quando ela descobrisse que Aiko foi levada do bunker sem sua permissão - Seus braços estavam feridos…

— Como assim você me leva pra vê-la? - cortou Nana, mudando o tom. Kakashi respirou. Poderia viver cem vidas e nunca aprenderia a lidar com a mulher.

— Nana, calma, ok? Você não bem, quis ser legal. Se você quiser ver Aiko sozinha, pelada, fazendo macaquice, faça. Mas não custa você me deixar ser gentil de vez em quando…

Nana franziu as sobrancelhas, mas, mesmo com a desconfiança de sempre brilhando em seus olhos, não disse nada. E Kakashi, consequentemente, respirou mais aliviado. Não estava com paciência para briga.

— Você destruiu…?

— Claro - respondeu a mulher, altiva.

— Eu encontrei uma caixa com fichas de ninjas de Konoha ao lado das suas roupas… - começou Kakashi, assumindo seu lado Hokage por um segundo. Queria tirar o assunto do caminho - Supus que você a trouxe.

Nana acenou confirmando.

— Tinham informações médicas nas fichas… Você tem ideia de pra que serviam? - Nana negou - Imaginei… Entreguei-as a Sakura de qualquer forma… Ela analisará.

— Fez bem… - elogiou Nana, enquanto levava ambas as mãos à cabeça, respondendo ao estímulo da dor. Por instinto, Kakashi inclinou-se em direção a ela, segurando-a levemente pelos ombros. Contudo, ao contrário de semanas antes, na cabana da mulher, quando essa quase morrera em consequência do próprio jutsu, o Hatake sabia exatamente o porquê de tanto cuidado para com ela.

— A Sakura disse que doeria por algumas horas, mas já passa - ele informou, recebendo um discreto aceno positivo como resposta - Você precisa se hidratar, vou buscar água…

— Eu tenho que tomar banho, me sinto febril… - disse Nana, fazendo menção de levantar-se, mas falhando na metade do movimento, perdendo o equilíbrio. Kakashi a segurou.

— Calma, mulher, pra que a pressa? - ele perguntou, sentindo-a apertar seu braço em apoio.

— Já disse, preciso de um banho… Onde estão minhas roupas? - ela perguntou, virando-se para encará-lo, uma sobrancelha levemente arqueada.

— Ah… Bem, estavam contaminadas, então entreguei à Sakura para que ela descobrisse o veneno e depois as queimasse - começou Kakashi, divertindo-se, ajudando-a a colocar-se de pé. Ele a soltou por um segundo, enquanto ela se equilibrava, e fitou-a, vendo a origem da pergunta da mulher: sua camisa cinza, que ele nela vestira e só a cobria até pouco acima da metade da coxa. Era uma boa visão aquela, Kakashi pensou, sorrindo - Sem contar que você fica muito melhor assim, desfilando pela minha casa…

— Pervertido! - ela xingou, mas sorria - Você ainda lê aqueles livros indecentes?

— Pervertido? - ecoou Kakashi, fingindo-se ofendido, aproximando-se de Nana e pousando as mãos sobre a cintura dela - E olha que nem falei como eu queria que você, de fato, andasse pela casa! - ele provocou e, vendo como a boca dela se abriu para responder ao mesmo tempo em que seus olhos se esbugalhavam em divertida indignação, continuou - Vamos, eu te ajudo a ir até o banheiro… E não faz essa cara, você precisa de ajuda!

Nana emburrou, mas aceitou a ajuda. Ele poderia apenas lhe servir de apoio, bengala, enquanto a mulher, lentamente, caminhava até onde queria. Contudo, ultimamente, lhe faltava paciência para lidar com coisas simples de formas complicadas. Nana esgotara a sua que para tal fim era destinada. Assim sendo, Kakashi simplesmente levantou a kunoichi nos braços e, ignorando um ensaio de protesto, a levou ao banheiro. Colocou-a no chão e, ao encarar a expressão raivosa dela, piscou.

— Eu posso andar!

— Eu sei… E agora você sabe que eu posso te carregar no colo.

engraçadinho hoje, né? Quer me dar banho também?

— Ah… Adoraria! - confirmou Kakashi, sincero - Mas tenho que cozinhar alguma coisa. Você precisa comer bem…

— Então vai logo! com fome! - ordenou Nana, virando-se e entrando no banheiro, apoiando-se ocasionalmente nas paredes. Kakashi sorriu, apreciando a visão das pernas da namorada? e, quando a porta foi fechada na sua cara, voltou-se para a cozinha.


cozinhando o que, Kakashi—sama? - ele ouviu a voz de Nana soar a poucos metros dele. Não que isso fosse necessário para que o ninja notasse a presença da mulher. O cheiro de sabonete em sua pele era quase um “Querido, cheguei!”.

— Bah… sopa, o que mais? Comida de doente… - ele respondeu, virando o rosto para encará-la. Ela caminhava até ele bem mais firme do que meia hora antes, sinal positivo de sua melhora. E, por isso, Kakashi se conteve em forçá-la a se sentar. Não havia motivos para exagerar na preocupação - Você está se sentindo melhor?

— Bastante… Mas a cabeça… - Nana deixou a frase morrer no ar aproximando-se das panelas e provando o que havia em uma delas.

— Você com frio? Quer alguma outra roupa? - perguntou Kakashi, fitando-a com a blusa de antes. Ela negou. O Hatake observou os braços livres de machucados da mulher, tão diferentes de quando ele a encontrara, e agradeceu, internamente, à Sakura.

— Mas vou precisar de outro uniforme Anbu, já que o meu…

— Não, não vai. Você não é mais Anbu - informou Kakashi. Nana levantou os olhos da panela e pousou-os sobre ele. O cansaço ainda cravado nas íris amarelas da mulher tornou a decisão do Hokage ainda mais fácil - Eu te disse que essa era sua última missão como espiã. Você assumirá outro posto agora, e eu darei início à investida de Konoha. Não vamos ficar parados esperando eles estarem prontos…

— Outro posto? - ela repetiu, séria. Kakashi acenou - Eu não sirvo pra

— Sem doce, Nana - cortou Kakashi, colocando o restante dos legumes dentro da panela - Você é ninja, serve pra o que eu mandar você fazer.

Fez-se silêncio, ao que Kakashi agradeceu. Ele fechou a panela, pronto para esperar os minutos restantes de cozimento, e girou nos calcanhares. Fitou Nana, agora encostada na mesa, os olhos de loba afiados em sua direção. Respirou pedindo paciência. Se ficasse com a mulher, como queria, tinha consciência de que sua vida seria um exercício diário de paciência.

— Nem você nem a Aiko se esconderão mais… Como Hokage, tenho que ser capaz de proteger minha própria família.

— Como assim Aiko…?

— Ah... Bem… - Kakashi suspirou - Tirei Aiko do bunker.

— Oi?

— Calma Nana… - ele implorou, aproximando-se da mulher, pousando as mãos sobre os ombros dela. Se antes os olhos de loba o cortavam, agora pareciam querer fazê-lo explodir - Ela segura, ok? Está melhor agora! A menina estava triste, e chorava… Não era bom pra ela ficar ali, sem sol, sem pessoas…

Você a tirou de lá porque ela chorava? - sibilou Nana - Ela é uma criança! Chora por tudo! Que tipo de pai é você que faz as vontades da menina porque ela chora?

— Ah, tem isso também… Ela sabe que eu sou pai dela.

Kakashi agradeceu imensamente que a mulher estivesse fraca, que mal pudesse se sustentar nas próprias pernas, que não houvesse a menor possibilidade dela atacar. Teria a casa destruída se não fossem esses aspectos. Os olhos dela, antes apertados, esbugalharam-se em choque e, em seguida, transbordaram fúria. O Hatake segurou os pulsos da kunoichi por instinto e engoliu em seco. Precisava falar antes que ela recuperasse a capacidade de fazê-lo.

— Eu não contei, ela já sabia! Desde a cabana, já sabia! Fica fria, ela levou numa boa…

Numa boa?— engasgou-se Nana e Kakashi confirmou. Ele estranhou o tom fraco da mulher. Esperava um grito e não um quase soluço - Ela bem? Chorou?

legal… Parece tudo bem - falou Kakashi, rapidamente, aproveitando a brecha. Ele viu a kunoichi abaixar a cabeça e estranhou. Aiko era realmente seu ponto fraco - Hey, ela parece bem mesmo! A grande preocupação dela se resumia a ser ou não uma hime!

— Humph… - muxoxou Nana, levando as mãos, cujos punhos ainda eram presos por Kakashi, aos rosto, esfregando. O kage sorriu solidário a mulher e puxou-a para um abraço, deixando-a afundar o rosto em seu peito. Apoiou o queixo sobre a cabeça dela enquanto enterrava uma mão em seus fios vermelhos úmidos. Pousou a outra em suas costas e apertou-a mais contra si. Não percebera até aquele momento, mas sentira saudades daquela situação. Era bom sentir o corpo quente da kunoichi, afagá-la, envolvê-la de alguma forma. Poderia ficar assim por muito tempo, ele pensou satisfeito. Mas ela interrompeu. Empurrando-o devagar, afastou-se o suficiente para encará-lo. Ele abaixou o rosto e deixou seus olhos se prenderem nos delas. Que, se pelo menos não gritavam, permaneciam - Onde ela está agora?

— Com o Gai - respondeu Kakashi de uma vez, sabendo que aquilo por si só poderia “recomeçar” a briga que ainda não tiveram.

— Com o Gai? O Gai?— repetiu Nana, a cada sílaba substituindo um inicial tom de incredulidade por um de indignação - O Gai, Kakashi?

— Sim, Nana, o Gai… - ele confirmou, impaciente - Ah, qual é, você ainda implica com ele?

— Eu não implico com ele, ele implica comigo! - defendeu-se a kunoichi, empurrando Kakashi para que a soltasse. O Hatake não o fez - É uma paixão por você, um amor…

— Nana, deixa disso! Não tem ninguém que eu confie mais pra deixar a Aiko. Sendo ela minha filha, ele será o melhor das babás!

— É claro que será! Mais que isso, sendo Aiko sua filha, ele deve achar que é a mãe dela! - ironizou Nana. Kakashi riu - Não. Tem. Graça. Kakashi.

— Tem sim… - discordou o ninja.

— Não tem!

— Vocês têm essa implicância estúpida de vocês há anos. Eu nunca entendi por que.

— Porque ele é apaixonado por você e não quer te perder! - argumentou a mulher, semi-histérica - Olha, Kakashi, eu nunca te falei sobre isso, mas... Fala a verdade. Vocês já tiveram um lance?

Nana! - indignou-se Kakashi, reprovando-a - Pirou?

— Não, é sério. Olha, sem neura, eu entendo. Aliás, essa é a única explicação pra todo esse amor que o Gai tem por você…

— Nana, não viaja! - cortou Kakashi rindo e, antes que ela pudesse voltar a argumentar, continuou - Olha, o Gai vai cuidar dela, não vai? Você também confia nele, não confia? - o kage ponderou. O silêncio que se seguiu foi um consentimento - Então pronto. Mais tarde vamos vê-la, ok?

Tá!— concordou Nana - Mas, olha, você não tem nada com o Gai, né?

Porra, Nana! Ciúmes, sério?

Tô falando sé…

Kakashi não a deixou terminar. A provocação, além de ter o espetáculo que era aquela mulher presa entre si e a mesa, acionou algum botãozinho em seu cérebro que fez o sangue ferver. Ele a puxou com delicada violência (isso pode?), ao mesmo tempo em que abaixava a máscara, e beijou-a. Voltou a afundar os dedos nos cabelos vermelhos dela, sentindo os lábios febris da mulher esquentarem os seus. Poderia não ter passado um único dia desde que se beijaram daquela forma pela última vez. Naquela mesma cozinha. Ele deslizou uma das mãos pelo corpo de Nana e sentiu-a passar os braços pelo seu pescoço, os dedos em sua nuca fazendo-o arrepiar. Contornou a silhueta da mulher, descendo pela cintura, chegando à metade das coxas, onde sua camiseta (nela, vestido) acabava. Apertou o tecido contra a pele da ruiva, subindo-o alguns centímetros. Aprofundou o beijo, ela o correspondendo intensidade insana tão dela. Sentiu-a morder seu lábio inferior, do jeito que só ela sabia que ele gostava, e desistiu de resistir – não que o tivesse tentando. Deslizou as mãos pela pele dela, por baixo da roupa, chegando sem obstáculos até a cintura. Segurou-a com força, levantando-a e sentando-a sobre a mesa. A boca da mulher escorregou até seu queixo e desenhou seu maxilar, parando ao alcançar sua orelha. A respiração dela o arrepiou mais, excitou mais, e ele, estranhamente perdido e consciente, pousou seus lábios no pescoço alvo de Nana, sentindo o cheiro dela o drogar. Não existia coisa alguma no mundo. Só ela. Com ele. Seus cheiros se misturando, suas peles, seus corpos. Fogo.

— Ah! Kakashi-sensei!

Kakashi e Nana se empurraram ao mesmo tempo, o barulho de uma cadeira se chocando contra o chão sendo consequência do susto que levaram. Já com a máscara, ele levantou os olhos e viu Naruto e Sasuke parados à entrada da cozinha, o Uchiha com o rosto levemente virado, corado, tentando manter alguma discrição, enquanto o outro apontava descaradamente em direção ao casal pego em flagrante, as bochechas tão vermelhas que poderiam estar ao sugo. Instintivamente, o sensei puxou a mulher à sua frente e, num único movimento, levantando-a em seus braços, colocou-a atrás de si, a consciência do quão curto era o vestido/camiseta que ela trajava latejando em sua cabeça. Sentiu Nana afundar o rosto em suas costas e só pode lamentar sabendo que a repentina timidez da mulher o puniria mais tarde.

— Vocês não sabem bater na porra da porta, caralho? - ele ralhou, ciente de que nunca usara aqueles termos com os alunos. Os dois o encararam surpresos e Kakashi respirou fundo, tentando se controlar. Era difícil. Não bastante a raiva por ser interrompido e pela intromissão não-avisada dos alunos, ainda havia o coração acelerado e o sangue quente, esses culpa de Nana. Ele fechou os olhos por uma fração de segundo e, quando tornou a abri-los, tentou voltar à calma de sempre - O que vocês querem?

— Ah… - começou Naruto, abaixando a mão que ainda apontava em direção ao sensei - Ah… Ah…

— Ficou gago, moleque? - ele ouviu Nana gritar, ainda escondida atrás dele.

— O Naruto queria falar com você - respondeu Sasuke, seco, a típica inexpressividade no rosto.

— Não podem voltar outra…

— Não, Kakashi, fala com eles - interrompeu Nana. Kakashi virou o rosto para encará-la. Ela ainda estava levemente corada, mas o orgulho de sempre não permitia que qualquer timidez maculasse sua pose - A sopa quase pronta, serve alguma coisa pra eles comerem… Vou me trocar.

— Certeza? - perguntou o ninja, desapontado. Queria mandar os alunos a Marte e retomar de onde parara. Mas Nana confirmou em um aceno e ele aceitou. Suspirou derrotado e, voltando-se aos meninos, acrescentou - Fechem os olhos e se virem, vocês dois!

— Ãhn? - perguntou Naruto, mas, no segundo seguinte, obedeceu ao sensei, imitando Sasuke, que já compreendera. Kakashi esperou ter certeza que nenhum dos dois poderia ver e, então, deu à Nana permissão para ir. Obviamente, preferiria que ela tivesse corrido ao quarto, na velocidade da luz, garantindo que nada, nenhum centímetro de seu corpo quase nu, fosse visto. Mas a mulher mal podia andar, e mesmo se pudesse jamais sairia correndo em desespero, traída pela timidez. Assim, Kakashi a viu desfilar até fora da cozinha de canto de olho, pronto para fuzilar o guri pervertido que tentasse espiá-la.

— Se eu sentir um nanofluxo de chakra vindo dos seus olhos, Uchiha, você vai precisar de outra prótese, entendeu? - Nana ameaçou, segundos antes de entrar no quarto. Kakashi viu um leve tremor passar pelo corpo de Sasuke e, sentindo algo descer queimando pelo esôfago, ponderou que, talvez, só talvez, devesse dedurar o aluno à Sakura.

— Pronto, podem virar, seus pervertidos! - xingou Kakashi, enquanto via Naruto e Sasuke virarem e irem em direção à mesa - Sabe bater na porta? Então. Ainda é usado.

Malz, ae, Kakashi-sensei - desculpou-se Naruto, coçando a cabeça, nem tentando conter o sorriso - Mas como é que eu ia saber que o senhor tava pegando a Nana?

— Olha o respeito… - advertiu Kakashi, checando a sopa. Quase boa.

— Aliás, Kakashi-sensei, - continuou Naruto, ignorando-o - fala sério, como o senhor conseguiu uma mulher dessas?

— Naruto… - foi a vez de Sasuke advertir. Kakashi respirou.

— Ah, Sasuke, vai dizer que também num quer saber?

— Não.

— Mentiroso! - acusou Naruto, rindo - Claro que você quer! Uma delícia daquela com o Kakashi-sensei, que nem mostra a cara! E ela é toda gostosona agora, que já é tiazona. Imagina quando era cocotinha?

— Não sei… Eu me acho mais gostosa agora, sabe? - filosofou Nana, encostada à porta do quarto, respondendo a Naruto que travou, os braços erguidos parados em meio ao movimento de desenhar uma silhueta com as mãos. Kakashi, que se controlava para não arremessar a panela de sopa quente sobre o aluno, riu por baixo da máscara, desligando o fogo e virando-se para encarar a mulher - Acho que a confiança dos trinta me favoreceu. Qual sua opinião, Kakashi?

— Não vou falar pra não alimentar as imaginações pervertidas desses moleques depravados! - posicionou-se Kakashi, indo em direção à mulher, que agora vestia um yukata azul por cima da blusa. Ficara enorme nela - Como você se sentindo?

— Muito bem com tantos elogios! - ela agradeceu, fazendo Sasuke e Naruto (que agora brincava de estátua com os braços colados ao corpo) corarem. Sussurrando, acrescentou - Você já me perguntou isso algumas vezes hoje.

— Deixa eu te ajudar… - ofereceu-se o Hatake, servindo de bengala à Nana pelo seu caminho até a cadeira. A mulher sentou-se confortavelmente e Kakashi voltou aos afazeres domésticos, colocando os pratos sobre a mesa a fim de servir a todos. Usou de certa violência ao pousar os de seus alunos, mas teve que se segurar para não rir. A kunoichi sorria sedutora para os dois, divertindo-se à custa dos jovens.

— Mas o que vocês queriam aqui mesmo? - ela perguntou, arrastando a voz, e piscando. Sasuke virou o rosto.

— Ah, é… tinha esquecido! - Naruto exclamou, dando-se um tapa na testa - Kakashi-sensei, preciso que o senhor me dê uma missão pra hoje à noite! Algo que faça ser impossível eu ir a um jantar!

— Ãhn?

— Ah… é… bem… - gaguejou o Uzumaki - Como eu explico…?

— O idiota aqui com medo de encarar o pai da Hinata - expôs Sasuke - E ela marcou um jantar pra hoje à noite…

— Ah… faz sentido… - concordou Kakashi terminando de servir a sopa e juntando-se aos três à mesa. Nana elogiou a comida e o Hatake agradeceu com um aceno. Não estava com fome alguma e, por isso, deixaria a sua para mais tarde - Mas não precisava pedir, pra falar a verdade. Você estará em missão de qualquer forma…

— Ah, ufa! - respirou Naruto, jogando seu peso contra o encosto da cadeira, fechando os olhos e agradecendo, brevemente, enquanto levantava as mãos ao céu - Valeu mesmo, Kakashi-sensei! te devendo essa!

—Como assim ele estará em missão, Kakashi? - perguntou Nana, devolvendo a colher cheia de sopa que ela pretendia engolir ao prato e concentrando-se em encarar o ninja, as sobrancelhas, franzidas em um misto de curiosidade e apreensão.

— Ah, bem, faz parte. Ele é um ninja, sabe… - ironizou Kakashi, divertindo-se enquanto via a expressão de Nana variar, nada serenamente, de um “do que você falando?” para um “eu vou enfiar sua cabeça na bunda dele se você não parar de palhaçada”. Quando a mulher abriu a boca para verbalizar o que seus olhos já estampavam, o ninja continuou, sério - O laboratório deles foi destruído, mas nós seríamos muito ingênuos se achássemos que aquele era o único. Sai informou que, aparentemente, a Raiz tem comprado reagentes, materiais, equipamentos em geral de diversos fornecedores ao redor do mundo ninja. A maioria ilegal, é claro. Pela planta que você desenhou nos seus relatórios passados, ali não era o estoque.

— A Sakura destruiu o estoque - interrompeu Sasuke, lembrando a todos que ainda estava ali - Na noite em que recuperamos…

— Um deles, Sasuke - respondeu Kakashi, fazendo o aluno se calar - Naquele tinha apenas a carga que eles roubaram da vila.

— Nós devolvemos a carga, a vila do seu lado de novo - ponderou Naruto, levantando-se e servindo-se de mais sopa - Eu continuo fazendo o que o senhor mandou. Fico ajudando os moradores na reconstrução, levando os problemas deles às juntas de assistência social que a Obaa-chan criou, explicando a posição do governo. todo mundo se sentindo bem mais seguro desde que devolvemos a carga. Claro, alguns babacas continuam falando que o sensei é muito novo pra ser Hokage, que é herói de guerra, que vai nos levar a outra. Mas a maior parte do nosso lado. Eles não vão mais apoiar qualquer golpe…

— Isso é bom, Naruto - concordou Kakashi, a quem nada do que Naruto expusera era novidade - Mas não acredito que colocar a vila contra o governo era o único plano da Raiz. Era apenas um facilitador. Se desse certo, ótimo, seria mais fácil nos derrubar. Mas a chance de dar errado era maior.

— Então qual é o plano atual deles? - perguntou o Uchiha, seco e direto. O pragmatismo de Sasuke poderia ser visto tanto como uma qualidade quanto como um defeito. Kakashi preferia encará-lo da forma positiva. Ele mesmo já fora tão alheio a rodeios quanto o aluno, apesar da experiência ter lhe ensinado que amaciar as palavras às vezes era tão vital quanto dizê-las - Eles sabem que não podem ganhar da gente numa batalha direta. Você sabe o que eles pretendem.

— Sei é? - rebateu Nana, a quem a última afirmação do garoto fora direcionada - O que eu sei é você deveria colocar um pouquinho mais de formalidade e educação na língua quando falasse comigo, moleque.

— Desista, Nana - aconselhou Kakashi, sorrindo - Ele nunca me chamou de sensei, não vai te tratar por san ou senpai.

— O irmão era mais educado… - murmurou a mulher distraidamente, após lançar ao Uchiha um olhar de leve desprezo. Sasuke apertou os olhos, demonstrando interesse no que ela dissera, mas Kakashi interrompeu:

— Nós não sabemos o que eles farão, Sasuke. Têm um plano, com certeza. Armas químicas ou biológicas são uma possibilidade…

— Se eles atacarem a vila com algo químico, - começou Naruto, assustado, os olhos esbugalhados encarando o sensei demonstrando o quanto ele entendera da ameaça - como nós…?

— Konoha tem planos de emergência para situações como essa - informou Kakashi, tentando passar ao garoto uma segurança que não tinha.

— Mas estamos quebrados - continuou Nana, desistindo da sopa - Um único ataque e a vila estaria na bancarrota. Não nos recuperaríamos em menos de dez anos. O Hokage tem uma função militar de proteção do País do Fogo, enquanto o Daimyo deveria assumir funções mais administrativas. Mas na prática, o Senhor Feudal e seu Conselho são como distribuidores do dinheiro que o país arrecada. Eles definem o orçamento de cada entidade do governo e as mandam se virar. Se algo dá errado, eles miam. Mas não administram. O Hokage administra. O País do Fogo não perdeu muito de seu orçamento total, mas a Vila perdeu. A receita de Konoha vem, em sua maior parte, das missões ninjas. Mas, depois da Guerra, perdemos força militar e diminuímos as missões. Perdemos, assim, dinheiro. O Daimyo não aumentará o orçamento da vila para a reconstrução, pois seria ilógico, do seu ponto de vista, fornecer mais dinheiro a um setor que está dando prejuízo. Por isso, apesar da crise ser geral, Konoha é a cidade do país mais afetada.

— Além disso, os gastos com a segurança do País do Fogo continuam altos para nós. Mantemos toda a fronteira coberta, além dos ninjas de alto escalão destinados à guarda do Daimyo. Descobrimos, junto com o golpe, um buraco nas contas públicas do departamento de defesa, causado por desvios de membros da Raiz infiltrados.

— Nós estamos financiando o ataque contra nós mesmos? - concluiu Sasuke. Kakashi acenou.

— Eu não sei como eles nos atacarão fisicamente, mas administrativamente é claro ver como farão. Estamos perigosamente próximos a uma recessão, mas nossa economia dá sinais de melhoras, a reconstrução de Konoha gera renda, movimenta o comércio, fortalece a economia interna - explicou Kakashi didaticamente - Em alguns meses, voltaremos ao progresso econômico. Fato. A não ser que sejamos atacados. Dentro da vila. Se isso acontecer, se o golpe atingir o setor civil… Bem, todas as nossas reservas já estão sendo usadas para a reconstrução social e econômica de agora. Teremos apenas cofres vazios se precisarmos reconstruir de novo num futuro próximo.

— Isso sem mencionar que, caso a vila seja muito fragilizada, as outras nações ninjas podem se sentir tentadas a atacar… - completou Nana - Além, é claro, de algum foco que sobre dos golpistas atuais.

— Não tem como eles ganharem da gente, Kakashi-sensei - disse Naruto, a confiança levemente vacilante - Nós, juntos, bem… não acho que alguém consiga nos bater.

— É a mesma coisa que o Sasuke disse, Naruto. Por isso sabemos que eles têm alguma estratégia bem feita. Porque sabem que, caso venham pra cima, não podemos deixar foco nenhum sobrar. Acabaremos com todos. E eles sabem que, militarmente, somos superiores - expôs Kakashi, e continuou - Eles têm um plano militar e é algo que envolve armas químicas e biológicas. Se eles atacarem a vila em si, mesmo que ganhemos, perderemos. É isso que temos que impedir. Haverá uma batalha, é impossível impedir. O lance é mantê-la longe da aldeia. Assim, atacaremos antes.

Houve silêncio por um minuto. Kakashi sentiu o incômodo de três pares de olhos pousarem sobre si e quase gritou para que parassem. Contudo, sabia que seriam muito mais os que o encarariam quando ele declarasse guerra na mesa do conselho. A começar pelos próprios conselheiros anciões, que provavelmente se sentiam livres de suspeitas, sem saber como tinham cada minuto de suas vidas vigiado desde que foram ligados aos golpistas. Sairiam da reunião presos por conspiração. Sasuke e Nana, provavelmente, teriam a alma lavada quando vissem os dois velhos algemados por Anbus. Seriam libertos, claro, o argumento das décadas dedicadas à Konoha pesando a favor deles. Mas o exílio do governo era vitalício, Kakashi confiava.

Também encararia os olhos astutos de Tsunade, que mal voltara de uma batalha - a reunião dos Kages - e já entraria em outra. Mas confiava no apoio da Godaime. Conversaram brevemente assim que a kunoichi voltou e aparentavam concordar com a gravidade da situação. Ficar sob constante ameaça, esperando o inimigo agir, não era a preferência de nenhum dos dois. Ambos eram corajosos e astutos o suficiente para liderarem um campo de batalha no ataque, ao invés de se manter na defesa. Especialmente quando tinham o ataque que tinham. Com Naruto e Sasuke de centroavante, era crime jogar na retranca.

— Por isso vocês dois têm missões hoje - recomeçou Kakashi, quando o silêncio se tornou sufocante demais - Acredito que você já tenha recebido alta, né, Sasuke? Está com suas roupas normais…

— A Godaime me liberou - informou Sasuke.

— Sakura-chan ficou puta…— riu-se Naruto, quebrando um pouco a tensão.

— Ela ficará um pouco mais então. Preciso que vocês destruam todas as instalações da Raiz que nós conhecemos - ordenou Kakashi, apreensivo. Talvez Sakura estivesse irritada com alguma razão. Talvez o Uchiha ainda não estivesse em condições de lutar - Iremos à sede e discutiremos os detalhes da missão com Tsunade-sama.

— Kakashi, - interrompeu Nana - já explodimos um laboratório ontem, eles virão pra cima. Eles são terroristas treinados...

— Não são - cortou Kakashi, virando-se para a mulher. Era como se os olhos dela fossem folhas de papel. E as íris, tinta amarela. Facilmente lia-se neles um você tá louco. O Hatake ignorou – São golpistas. Terror será a última sombra que passará pelos olhos deles. Essa semana, Nana, seremos românticos. Voltaremos ao nosso primeiro encontro.

A mulher não respirou. Não muxoxou. Não lamentou. Kakashi apenas viu os olhos delas mudarem. Em sombras sobrepostas. Até ficarem frios como ele sabia que os dele estavam. E, então, completamente alheio a seus alunos à mesa, que encaravam o casal com uma reverência disfarçada, o Hokage completou:

— Vá de escarlate.


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Notas finais do capítulo

Olá, mina-san!
Galera, desculpa mesmo a demora. Sério. Tô atoladíssima de coisas da facul... espero tá compensando com um capítulo grandão again! ;-)

Anyway, muitíssimo obrigada por cada capítulo! Valeu meeeesmo! Uhuuu
Vou responder a todos, claro, mas só amanha. Tô caindo de sono kkkk

Pleease, comentem! Por favor! De presente de niver pra mim! uhuuu! (poderia tá matando, poderia tá roubando, poderia tá me candidatando à um cargo político, mas tô aqui, pedindo um review de presente de niver...).

Mendigando aqui, de boas. kkkk

Bem, valeu por comentarem e por acompanharem a fic até aqui. Estamos nos aproximando do fim, acho que já passamos dos 80% e talz, então por favor, aguentem mais um pouquinho! Uhuuuu!

Kissus, mina-san!