Golpe de Estado escrita por M san


Capítulo 35
Hajime!


Notas iniciais do capítulo

POV duplo ;)



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A grande vantagem em ter uma floresta cercando a aldeia era a facilidade em se esconder, se camuflar. As árvores eram altas e a vegetação densa, não era tarefa das mais difíceis se misturar ao verde e tornar-se invisível. Já a desvantagem... O outro lado usufruía das mesmas facilidades. Assim, eles não eram vistos. Mas não podiam ver. Bem, Sakura não podia ver.

A Haruno já estava acostumada a missões às cegas, a receber uma ordem e executá-la tendo como base um plano falho. Os clientes de Konoha tinham a detestável mania de omitir pequenos e pouco importantes detalhes a fim de baratear a escolta. Então, quando seu sensei lhe ordenou, numa voz abaixo um tom da costumeira indicando o quão vital era obter sucesso, que ela se juntasse a Sasuke e Naruto para juntos destruírem os esconderijos da Raiz, a jovem ficou feliz em, pelo menos, saber quantos eram. Quinze. Espalhados num raio de treze quilômetros ao redor da vila. Mas, como em raras vezes, havia mais informações além do número de alvos: a localização de cada um desses, graças à Nana, Yamato e Sai, era conhecida. E, para facilitar ainda mais a missão, dois aliados uniram-se ao time sete. O substituto de Sasuke, Sai. E a princesa dos Hyuuga (e de um certo Uzumaki), Hinata.

Entretanto, mesmo diante de tantos facilitadores, o papel fundamental da missão elevava significativamente o grau de dificuldade dessa. Não era simplesmente não falhar. Era executar de forma perfeita. Garantir não só a destruição completa dos esconderijos, mas também de qualquer artefato dentro deles. Poder bélico, mantimentos, laboratórios, central de informações. Cada alvo escondia um aspecto essencial à estrutura organizacional da Raiz em sua tentativa de golpe. O sucesso da missão não significava apenas uma derrota ao inimigo, mas também a desestruturação do mesmo. Contudo, por outro lado, caso falhassem, apenas provocariam a fera, jogando pimenta nos olhos dela. Uma vez que a queimação passasse, e essa não era demorada, sofreriam o contra-ataque. E aqui morava a peça que faltava ao quebra-cabeça que Kakashi, Tsunade e Shikamaru tentavam montar: com o que os rebeldes pretendiam atacar?

Sakura tinha uma aposta – que torcia para estar errada – e fundamentava-a na massa branca que Nana trouxera a Kakashi e nas fichas que a kunoichi salvara de um laboratório que destruíra. A massa, como expusera a jovem ao sensei e à shishou, era um corpo de prova. Orgânico e vivo. Como um ratinho de laboratório cujas reações eram as mais próximas possíveis às do corpo humano. Assim, o palpite da menina era armas biológicas. Um vírus, uma bactéria, fungos. Talvez colocassem a vila sob a ação do agente e, possuindo o antídoto/remédio, pedissem como resgate o controle da aldeia, a renúncia imediata dos Kages, a cabeça de ambos. Não matariam os heróis de guerra, seria um tiro no pé colocar a população contra a nova ordem de forma tão profunda. Exilariam-os, garantindo a segurança dos aldeões proporcionalmente à distância que os exilados mantivessem do País do Fogo. Era eficaz, na visão da Haruno. Konoha voltaria a crescer, sem as intervenções contrárias provocadas pela Raiz. A população, a princípio assustada, se ajustaria às novas condições. Ninguém interferiria, sob a ameaça de envenenamento. Sem furos.

Kakashi e Tsunade concordavam que, de fato, aquela era uma possibilidade. A ordem de destruir os esconderijos, já dada antes da exposição de Sakura, fora reforçada após essa. Deveriam causar o maior dano possível à Raiz de modo a diminuir o poderio de um ataque. Contudo, para a surpresa da jovem, ela era obrigada a concordar, Shikamaru não parecera muito inclinado a concordar com a teoria da Haruno. Dissera que, “é, pode ser”, mas não acrescentara nada além. Talvez o Nara visse os furos que ela não enxergava. Ou, talvez, estivesse de recalque por não ter sido ele a expor. Todos apostavam na primeira.

Sakura respirou profundamente o ar gelado da floresta, afastando de seus pensamentos a reunião que tivera mais cedo, na qual batera sua aposta, e a que teria dali a algumas horas. Não era momento para pensar nos se da vida, mas sim para agir. Precisava se concentrar na missão. Apertou um pouco mais a escuta em sua orelha, assegurando sua firmeza, e esperou o comando. Viria da voz de Hinata, que estava centenas de metros acima das copas das árvores, montada, juntamente com Sai, em um dos pássaros do rapaz, colocando toda a extensão pela qual se distribuíam os esconderijos dentro de seu raio de visão. Uma vez que Naruto e Sasuke alcançassem, assim como a Haruno já fizera, seus pontos de partida, a Hyuuga daria o sinal e os três iniciariam o ataque. A cada um, cabia a destruição de cinco alvos. A Sai e Hinata, cabia comandá-los como peças num shougi, e agir como reforço, caso necessário. Não seria.

– Sasuke-kun, só falta você alcançar o ponto inicial – a voz doce e baixa de Hinata soou no ouvido de Sakura, tirando-a de um semi-transe de concentração. Ela usou de uma fração de segundo para absorver a informação.

– Sasuke-kun, tudo bem? – a médica-nin perguntou, uma pontada de preocupação cutucando-a. O Uchiha ainda não estava cem por cento em sua opinião, mesmo que Shizune e Tsunade discordassem, insistindo que sua visão médica estava nublada por uma super-preocupação – Você tá ok? Por que não chegou...

– Porque o meu ponto é o mais distante – a voz de Sasuke a cortou, seca. Sakura mordeu de leve o lábio inferior. Ultimamente, tendia a se irritar um pouco mais com a grosseria do Uchiha – Pronto, estou em posição.

– Naruto? – Sai indagou, recebendo um hai em resposta, o mesmo que obteve de Sakura – Ao seu comando, Hinata-san.

– Hajime! – ordenou a Hyuuga.

Sakura deu um salto inicial e partiu em direção ao seu primeiro alvo. Era subterrâneo. Deveria procurar uma árvore muito velha, de acordo com Sai, sendo essa a referência da entrada. A Haruno desconfiava que pouco importava quão velha fosse a árvore, não conseguiria distingui-la das demais. Mas, confiando que Hinata a avisaria, não discutiu. Apenas aceitou. Pulou alguns galhos, vasculhando por uma planta cuja idade se destacasse das outras e, mal concluíra que não, não era capaz de adivinhar quão velhos eram os troncos, ouviu seu nome num chamado:

– Sakura, está cinquenta metros à sua frente.

– Hai – confirmou a Haruno. É, havia uma árvore velha à sua frente. Mas passaria batido sem o aviso de Hinata. Sakura ergueu o punho, concentrando chakra suficiente nesse, e, girando no ar, a fim de aumentar o impulso, socou a base da árvore, sua força sobre-humana rachando o solo, provocando um desmoronamento na parte oca sob esse. Era como a repetição de alguns dias antes – Algo de pé, Hinata?

– O quarto nível do subsolo não desmoronou por inteiro, mas há seis sobreviventes se unindo em contra-ataque – informou a Hyuuga, um tom preocupado maculando a voz tímida. Sakura, contudo, sorriu de leve. Ah, a ação e seu poder revigorante.

– Sakura, - a voz de Sasuke soou tão imediato que quase cortou a de Hinata – Se você preci...

– Sasuke-kun, cuida da sua parte, tá? – interrompeu a Haruno, o mais “carinhosamente” que pode, em meio a um salto de nove metros buraco (ex-esconderijo) adentro. Houve algum comentário de Sai sobre sua brutalidade, mas Sakura ignorou. Ergueu a perna, concentrou chakra no calcanhar, demoliu o restante. E, após o concluído de Hinata, voltou à superfície, iniciando o caminho em direção ao segundo alvo sob sua responsabilidade.

– Naruto-kun, - Hinata chamou, o tom mais delicado usado até ali, Sakura reparou – Seu próximo alvo é algum tipo de depósito. Tenha cuidado, pode ser tóxico!

– Pode deixar, Hinata-chan! – Naruto respondeu. Sakura riu.

A jovem correu por dez minutos sem ser chamada por Hinata. Seu próximo alvo era um caverna em uma das cordilheiras próximas à vila e, sabendo a direção até as montanhas, Sakura só precisava ser indicada em relação a qual caverna atacar. Nesse meio tempo, Naruto e Sasuke seguiram as ordens da Hyuuga, alcançando e destruindo seus segundos alvos, avançando, em seguida, aos terceiros. Sakura acelerou o passo quando ouviu o Uzumaki confirmar a finalização do esconderijo número dois. Não era uma competição, mas... era uma competição.

– Sakura, a caverna fica a dois mil metros a partir da base, no centro da cordilheira – começou Sai, didaticamente – Ela é recuada, a entrada está escondida atrás de algumas árvores, e é...

– Merda! – cortou Sakura, parando de supetão em frente à montanha. Ela encarou o paredão a sua frente, a raiva, misturada pela adrenalina da missão, queimando seu estômago, e quis soltar mais meia dúzia de palavrões, mas conteve-se, decidindo responder o insistente O que foi? de Sai em seu ouvido – Nevou a semana inteira! A montanha coberta...

Porra, eu sabia que deveria ter verificado os esconderijos antes! – lamentou Sai, misturando raiva e decepção na voz – Hinata, você consegue indicar a caverna à Sakura?

– Ela está a dois mil metros da base, mas com a neve não da pra ela ver onde começa a base... – respondeu Hinata.

– Pula esse e vai pro terceiro, Sakura – opinou Sasuke – Quando eu terminar, dou um jeito nesse...

– Sasuke-kun, eu já disse pra tomar conta da sua parte! – sibilou Sakura, escalando a montanha com saltos rápidos. A neve afundando suas botas, congelando seus pés, e a mania insuportável de Sasuke subestimá-la não ajudavam em seu humor – Vou provocar uma avalanche, tem alguém perto, Hinata?

– Uma avalanche? – repetiu o Uchiha – Você tá...?

– Sakura-chan! – exclamou Naruto ao mesmo tempo em que o companheiro – Não precisa, deixa que o Sasuke...

– Hinata, tem alguém perto? – perguntou Sakura mais uma vez, a voz sobrepondo-se às dos companheiros.

– Ah... Não. Mas, Sakura, se você ficar presa na avalanche...

– Se você escorregar com o tremor, não vamos conseguir pegá-la, é perigoso e desnecessário – argumentou Sai, mas foi apenas mais um para Sakura ignorar. Se Sasuke ou Naruto tivessem dito que provocariam uma avalanche, ninguém questionaria. Ela era tida como a kunoichi mais forte da vila, mas mesmo assim havia certa descrença na amplitude de suas habilidades. Era difícil mudar primeiras impressões.

– Já estou no topo, - começou Sakura pousando a algumas dezenas de metros da margem do precipício da montanha - o tremor da avalanche vai destruir a caverna. Avise se sobrar algo, Hinata.

Sakura, como de costume, levantou o punho repleto de chakra concentrado. Ela respirou e, sem hesitação alguma, socou o chão, as ondas do impacto fazendo o solo sob seus pés tremerem fortemente. A garota saltou vários metros para trás, aumentando a distância entre si e a beirada da montanha. Um barulho ensurdecedor atingiu seus ouvidos, sufocando um grito transmitido pela escuta, e sendo substituindo por um som agudo, fino e constante. Algo como a vogal “i” prolongada. Ela sentiu a neve deslizar sob os pés e posicionou-se no alto de uma rocha seca, cujo cinza escuro destacava-se do branco infinito. Não ouvia nada além do som agudo de antes, mas o movimento desordeiro e violento da neve à sua frente a indicava as proporções do que fizera. Sorriu discreta.

Longos minutos se seguiram ao soco de Sakura e a menina não fez menção de mover-se um centímetro sequer da rocha em que se apoiara, enquanto um mar de neve caia montanha abaixo. Ela tremia da cabeça aos pés, mas a culpa por isso deveria ser colocada na conta do vento forte e congelante que maltratava o alto da cordilheira, e não de um possível medo em meio à força natural. Obviamente, se caísse na neve, teria problemas, mas seu controle de chakra era tão preciso que estava praticamente fundida à rocha. Aos poucos, a violência branca à sua frente diminuiu até cessar, a umidade deixada pela neve revelando poças rasas, as quais o frio se apressava em congelar. Sakura retirou a escuta e pousou a mão direita sobre a orelha agora livre, o zumbido provocado pelo barulho da avalanche ainda perturbando sua cabeça. Repetiu o mesmo procedimento sobre a orelha esquerda. Em segundos, curou os machucados do ouvido interno, escutando, agora, o silêncio mortal pós-catástrofe. Sentiu-se um pouco culpada.

– SAKURA? SAKURA? – a garota ouviu uma voz estridente gritando assim que reposicionou a escuta – SAKURA?!

– Ela não responde, vou até lá...

– Já disse que ela está bem, Sasuke-kun – a voz da Hinata interrompeu o Uchiha.

– Eu estou bem, Sasuke-kun – Sakura respondeu, ouvindo um escandaloso suspiro aliviado vindo ela sabia bem de quem.

– VOCÊ QUASE ME MATOU DO CORAÇÃO, SAKURA-CHAN! – ralhou Naruto. Sakura riu.

– Você vai nos deixar surdos, Naruto! – reclamou Sai, impaciente – E por que não respondia, Sakura?

– O barulho da avalanche me deixou momentaneamente surda – a Haruno respondeu – Sobrou alguma coisa, Hinata?

– Ah, não mesmo. A maior parte você destruiu com o soco, Sakura...

– Ótimo. Continuemos, então.

–-

– Olá, Gai! – Nana cumprimentou, quando a Besta Verde de Konoha abriu a porta para recebê-los. Kakashi suspirou atrás da kunoichi. Pela expressão que Gai fizera ao encarar a mulher, a implicância recíproca entre esses não mudara em nada.

Fora assim desde que Kakashi os apresentou um ao outro. Por algum motivo desconhecido do Hatake, Gai e Nana implicavam entre si das formas mais infantis possíveis. O primeiro já colara chiclete nas madeixas ruivas da kunoichi diversas vezes (o Hatake se lembrava de oito). Já a mulher, entre passar cola em assentos e colocar purgante no sakê, certa vez tentara raspar as sobrancelhas do ninja enquanto esse dormia. Kakashi mal conseguira salvar a namorada da fera nessa oportunidade.

– Nana. – disse Gai, o tom baixo e seco, como se estivesse prestes a iniciar uma batalha. Kakashi suspirou mais uma vez.

– Que bom que vocês mantêm o amor um pelo outro – ironizou o Hatake, pedindo, internamente, por muita paciência – Podemos entrar, Gai?

– Ah, claro, Kakashi! – confirmou Gai, afastando-se da porta e, voltando ao tom seco de antes, acrescentou – Você também. Nana.

Nana não respondeu, ao que Kakashi agradeceu. Eles entraram no apartamento do jounin e encontraram Aiko assistindo TV sentada ao chão da sala, Shori ocupando, preguiçosamente, todo o espaço do sofá. A menina levantou o rosto ao perceber as visitas entrarem e, para surpresa de Kakashi, correu em sua direção.

– Hokage-sama! – ela exclamou, sorridente. Kakashi esperava – torcia, na verdade – que ela abrisse os bracinhos, pedindo um abraço. Mas a menina não o fez. Contudo, somente seu sorriso iluminado já fora suficiente – Muito obrigada por me deixar ficar aqui! – ela continuou, curvando-se noventa graus em agradecimento. Para o Hatake, tanta formalidade era levemente frustrante – Eu me diverti muito hoje! Bem melhor que o bunker.

– Se divertiu tanto que nem lembra mais de mim, sua boboca? – provocou Nana, cruzando os braços em fingida revolta atrás de Kakashi. Aiko, que até aquele momento não a notara, gritou um entusiasmado mamãe e pulou, alegremente, no colo da mulher, abraçando-a apertadamente, enquanto era sacudida pela kunoichi. O Hatake sentiu inveja – Você se comportou? Obedeceu ao Gai? Ela se comportou, Gai?

– Ah, claro, ela é muito disciplinada – respondeu Gai, reforçando o que dizia com um aceno de cabeça – Nem parece sua filha. Deve ter puxado ao Kakashi.

– Para um cabeça de tigela sobre rodas você se acha muito engraçadinho, né, Sobrancelhudo? – rebateu Nana, fazendo careta. Aiko ficou séria.

– O Gai-san é muito legal, mamãe. Ele me ensinou a jogar pedra-papel-tesoura. E me deu dicas pra ganhar do Hokage-sama.

– Te deu dicas? – riu-se Kakashi, indignando Gai.

– Ele nunca ganhou do seu pai, Aiko! – exclamou Nana, rindo também. Gai abriu a boca para rebater, mas Nana continuou – Que cheiro engraçado é esse, Aiko? Cheiro de cachorro molhado? Você não lavou seu cabelo direito!

– Lavei sim! – defendeu-se a menina, sem eficácia. No segundo seguinte, Nana a empurrava para o banheiro, ralhando sobre como a criança tinha que esfregar bem – Mas dói!

Kakashi sorriu ao ver as duas desaparecerem banheiro adentro, Shori no encalço. Ele voltou-se para Gai, ainda com uma expressão boba no rosto, disfarçada, felizmente, pela máscara, e curvou-se de leve. O ninja cuidara de sua filha e deixara-a feliz. Não havia mais nada que o Hatake pudesse fazer exceto agradecê-lo.

– Você é o Hokage, Kakashi – começou Gai, um pouco constrangido – Vai se curvar toda vez que der uma ordem?

– Não lhe dei uma ordem – corrigiu Kakashi – Fiz-lhe um pedido. Obrigado por cuidar da Aiko.

– Pode deixar ela comigo, serei uma excelente babá! – exclamou Gai, a pose nice guy assegurando a promessa – Vamos, sente-se ali. Aproveite que aquela loba folgada, finalmente, largou o sofá.

Kakashi seguiu até o sofá e sentou-se, aproveitando os minutos de tranquilidade que teria antes da reunião daquela noite. Seu time, acrescido de Hinata, deveria voltar em breve da missão em que os mandara e, apesar de confiar completamente na capacidade de seus pupilos, intimamente mantinha-se angustiado numa preocupação paterna relacionada a se eles voltariam bem e rápido. A caminho do apartamento de Gai, chegara a expor sua agonia com Nana, que respondeu com um sincero e pragmático Eles são melhores que a gente, Kakashi, deixa de drama!

– Achei que Nana estava infiltrada, ou algo do tipo... – começou Gai, mal humorado.

– Ela não chegou a estar infiltrada, no sentido de se disfarçar como um deles – explicou Kakashi, voltando-se, lentamente, a Gai – Ela os espionou. Mas era preciso que ela fosse comprometida...

– Era preciso?

– Eu... – Kakashi suspirou. Não, não era exatamente preciso. Mas ele o quis – Eu precisava.

Gai não perguntou. Não era necessário. Só havia uma pessoa em Konoha que sabia da história entre ele e Nana, e essa era Gai. Kakashi não desabafava com ele, não falava como ela era mandona, ou como a sopa dela era deliciosa. Mas, mesmo sem contar coisa alguma, Gai sabia de tudo. Em meio a sua espalhafatosa personalidade, havia uma sensibilidade que não era vista em ninguém mais que o Hatake conhecesse.

– Aiko-chan se parece muito com você – Gai falou, sentindo que precisava mudar de assunto – Ela é... descolada.

Kakashi riu. Então Aiko o ignorara?

– Mas ela gosta de falar, como a Nana...

– Ela parece a Nana, a mesma cara – ponderou Kakashi, sorrindo – E são mandonas...

– Nah, Aiko-chan é bem mais fácil de lidar, e sorri bastante. Ela é melhor que você e que a Nana! Posso adotá-la, ela será uma excelente discí...

– Você não vai vestir um macacão verde nela, Gai – cortou Kakashi, sério. Não conseguia fazer piada com aquilo – Sem contar que Nana te mata.

– Não tenho medo daquela cabeça de fósforo! – exclamou Gai, revoltado – Aiko-chan será exímia em taijutsu, deixe comigo.

Kakashi não discordou, em respeito ao favor e à boa disposição do amigo, mas não tinha a menor intenção de deixá-lo fazer com Aiko o que fizera com Lee. Já era triste o suficiente apenas um.

A porta do banheiro abriu e uma Aiko mal humorada saiu, enrolada num roupão de estampa de ossinhos. Os cabelos lisos caiam a altura dos cotovelos, já secos e brilhando como prata. A menina caminhou emburrada até Kakashi que, não podendo resistir, riu do bico da criança. Nana apareceu atrás da filha segundos depois, uma expressão triunfante no rosto.

– Ainda tive que secar o cabelo... – resmungou Aiko, sentando-se ao lado de Kakashi.

– Mas agora eles estão bem cheirosos... – ponderou Kakashi, bagunçando os fios – E demorou quase nada.

– Vou falar pra mamãe lavar seus cabelos então. Ela tentar arrancar meu couro cabeludo com a força que esfrega!

– Isso é porque você não para quieta, não sei como consegue se sujar tanto! E levanta logo e vai vestir o pijama! – mandou Nana, ao que Aiko, depois de um suspiro mal humorado, obedeceu.

– Não precisa ser tão rígida com ela, Nana! – exclamou Gai.

– Gai, - começou a mulher e Kakashi, pela enésima vez, suspirou. Qual o problema entre os dois? – obrigada por cuidar dela. Ela gostou muito de você, não sei por que... Então obrigada. Eu agradeceria se você pudesse continuar tomando conta dela por mais alguns dias.

Kakashi piscou. Gai também. Nana, por outro lado, curvou-se discretamente, quase que apenas um aceno de cabeça, o que era mais que ela já fizera em toda a vida.

– Nã-nã-não precisa-a a-agra-descer, Nana – gaguejou Gai, sacudindo as mãos freneticamente – Filha do Kakashi, mi...

– Sua filha? – sibilou a mulher, os olhos cintilando em perigo. Kakashi aliviou-se. Ela voltara ao normal.

– Como você tem tanta certeza que ela é sua filha, Nana? - provocou Gai, Nana girou os olhos. Kakashi riu.

– Não vou me dar ao trabalho de discutir com você, Gai. Kakashi, temos que ir…

– Eh… - o Hatake concordou, levantando-se cansado - Gai, nós declararemos guerra essa noite. Eles virão atrás da Aiko… Não posso mandar um grupo Anbu antes de declararmos, nem transferir vocês de lugar, porque denunciaria a posição dela e indicaria nossos planos. Mas Sasuke e Naruto virão buscá-los depois. Só vá com eles, tudo bem?

– Sim, Rokudaime - respondeu Gai, batendo continência.

– A Shori será capaz de identificá-los com precisão - acrescentou Nana, abrindo a porta do quarto onde Aiko estava - Aiko, já se trocou?

– Desculpe colocá-lo nessa situação… - desculpou-se Kakashi

– Aiko? - chamou Nana, ao que a menina saiu correndo, o pijama na mesma estampa que o roupão - Nós estamos indo, tá? Obedeça ao Gai! Naruto e Sasuke virão te buscar mais tarde, não precisa levar nada, só a Shori. Depois mamãe pega suas coisas.

– Eu vou sair? - perguntou a criança, confusa. Kakashi ajoelhou-se para ficar a altura da filha, assim como Nana - Vou voltar pro bunker? Eu não quero… Papai, não deixa eu…

– Calma, você não volta mais pra lá, tá? - Nana tranquilizou-a, abraçando-a. Kakashi, no entanto, havia sido transportado a outro lugar. Não havia uma única molécula de oxigênio que entrasse em seu corpo, ele era capaz de apostar. Algo o atingira na barriga. Não. Na cabeça. Uma bomba, certamente. Aiko o chamara de… pai. Papai – KAKASHI!

Nana o gritara e, segundos depois, ele sentiu um cotovelo atingir, de fato, sua barriga. Voltando do transe, ou da outra dimensão para a qual fora transportado, o Hokage fitou a kunoichi ao seu lado, que franzia as sobrancelhas indicando, claramente, que não entendia o que havia com ele. Quanto tempo será que apagara?

– Você tá legal? - Nana perguntou, puxando sua orelha. Sempre fora carinhosa, a Nana.

– Ah, uhum… - ele concordou. Fitou Aiko. Ela o fitou de volta. A mesma expressão confusa de Nana no rosto da filha. Novamente, por quanto tempo apagara - Me distrai…

– Você vai declarar guerra? - Aiko perguntou. Obviamente, ela o ouvira falar com Gai. Tinha que ter cuidado com o que falava perto de crianças - Vocês vão lutar na guerra?

– Não é assunto pra criança, Aiko - cortou Nana, afastando a franja da filha dos olhos da pequena, mas Aiko não estava falando com ela. Olhava para Kakashi. Falava com Kakashi.

– Vai ser perigoso Aiko… Mas é pra garantir que toda a vila estará bem. Que ninguém fará mal às famílias da vila, às crianças. Como você - Kakashi respondeu, ignorando o olhar rigoroso de Nana.

– Vocês vão lutar, então? - ela perguntou, a voz estranhamente firme para uma criança tão pequena. Talvez, a ignorância fosse a culpada pela firmeza. Kakashi respirou fundo. Achou melhor não mentir.

– Vamos. Sua mãe e eu.

– Você vai proteger minha mãe?

– Do que você falando, Aiko? - interrompeu Nana, brava - Seu pai é o Hokage. Eu que vou protegê-lo.


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Notas finais do capítulo

Galera, nem preciso dizer quanta vergonha eu tô, né? Tipo, muita vergonha mesmo.
Mas bem, vou tentar me justificar. Eu realmente tenho problema com tempo. Especialmente porque, apesar de gostar de escrever, eu estudo exatas. E, de verdade, é muito, muito mesmo, desgastante. No sleep, no fun, no life. Contudo, geralmente, consigo tempo pra escrever, porque é minha válvula de escape. Essse semestre, na segunda metade dele, me perdi e bem... não consegui o tal tempo. Desesperei, estudei loucamente, consegui passar, mas não consegui escrever. Voltei agora. E vou tentar, de verdade, não deixar mais isso acontecer. Vou manter a fic viva (até porque estamos na reta final) e vou me esforçar ao máximo para um final digno, a altura de vocês, queridíssimos leitores. Por favor, de verdade, não em abandonem! Eu não farei o mesmo nunca mais!

Desculpem. =(

Quanto ao cap, pov duplo! uhuuu! Hoje foi um cap curto mas a partir de agora os caps serão mais longos e, geralmente, com povs multiplos. Me esforçarei para não ser confuso. Vai ter mta ação, mta mesmo. Então, por favor, divirtam-se! E comentem! Pleaaase!

E podem brigar comigo, eu mereço... Só não mto pq eu choro. =((

Kiiiiissuuus! E gomen...


Obs.: O PoV é duplo, mas porque sou desatenta esqueci de verificar se a formatação do word tinha passado para a da site. Consequência: as linhas puladas para indicar a separação entre os pov não foram coladas e aí ficou tudo uma confusão. Já separei bonitinho e peço mil desculpas (só peço desculpas, né?). Ficarei mais atenta! Humph!