Ironias do Destino escrita por Bi Styles


Capítulo 46
Capítulo 46 -Narrado por Gabriel


Notas iniciais do capítulo

oi oi gente (dei uma de Kéfera de novo)
Nossa, postei um capítulo só ano passado :o (PIADINHA RUIM)
Eaí, como começou o ano de vocês? Espero que esteja sendo fantástico.
Leiam e se preparem, porque tem emoção nesse capítulo.



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Ao acordar, vi que estava sozinho novamente. A ficha ainda não havia caído. Gustavo, morto? Minha mãe só podia estar de brincadeira. Certamente tirara uma conclusão precipitada. Eu teria sentido. É para isso que servem os irmãos gêmeos, não é?

Eu teria que tirar minhas próprias conclusões. Olhei para a porta do meu quarto, que permanecia trancada. Ninguém iria me impedir. Não agora.

Tentei me sentar e com muito esforço, consegui. Olhei para meus braços e vi que no momento eu só estava tomando o soro. Arranquei a agulha que estava em meu braço e já me preparava para me levantar, quando, de repente, minhas pernas não me obedeceram. Não havia pra quê pânico.

Nunca isso tinha acontecido. Deveria ser um efeito colateral da quantidade de anestésicos que eu havia tomado. Ou poderia ser uma leve dormência.

Peguei minha mão e passei na minha perna. Eu não senti nada. Eu não estava sentindo minhas pernas.

Agora era a hora de entrar em pânico.

Comecei a gritar e gritar. Minhas palavras não faziam sentido para mim, quanto mais para alguém. Então ouvi uma correria do lado de fora e o enfermeiro alto entrou, acompanhado de Daniela e de, por incrível que pareça, Kiara.

Eu não queria que ela me visse daquele jeito. Chorando, desesperado. Mas ela lançou um olhar solidário, que continha uma grande tristeza. Gustavo.

O enfermeiro se aproximou de mim e tocou meu ombro.

–Sente dor? –perguntou, e pude notar esperança em sua voz.

–POR QUE NÃO ME DISSERAM QUE EU NÃO PODERIA MAIS ANDAR? –berrei.

–Gabriel, isso não será definitivo. A infecção se tornou gravíssima, e comprometeu suas duas pernas. O que parecia ser inofensivo se tornou algo grandioso.

–EU QUERO VER GUSTAVO! –gritei, ignorando todas aquelas palavras.

Kiara arregalou os olhos e quis se aproximar, mas minha mãe a deteve.

–Gabriel, seu irmão não pode te ver no momento. –Daniela falou.

–ELE NÃO ESTÁ MORTO, MÃE. EU SINTO. –gritei, com a voz falhando no final.

–Bem, ele ainda não está morto, Gabriel. Mas se prepare para algo muito ruim. –o enfermeiro interveio.

–CALE A BOCA! –gritei, mas vi que minha voz estava ficando rouca. Baixei meu tom. –Eu quero ver Gustavo. Eu preciso ver Gustavo.

–Gabriel, eu já lhe disse... –começou minha mãe, mas Kiara interrompeu.

–Deixem ele ver o irmão. –falou, com a voz firme. Lancei meu olhar para ela e vi o quão bela ela estava, daquele jeito responsável. Agora que o pai se fora, ela seria a governante daquele lugar. E ela seria uma ótima rainha. E, não. Não estava falando isso por que eu estava apaixonado por ela. Claro que, mesmo depois de tudo eu ainda gostava dela, mas Gustavo a merece, muito mais do que eu.

–Senhorita... –avisou o médico.

–Sou a governante agora, se não sabe. Meus pedidos são ordens para você. –falou e pude ver um tom de arrogância na voz dela. Gostei.

–Providenciarei uma cadeira de rodas. –falou ele e saiu.

Daniela olhava horrorizada para Kiara. Não sei por que. Eu me sentia orgulhoso dela. Ela não era mais aquela menina assustada, que sentia medo de tudo. Ela era uma mulher. Uma mulher que certamente estava destruída por dentro, mas que ostentava um semblante calmo por fora. E olhe que só tinha 15 anos.

Ela se aproximou de mim e disse:

–Sou eternamente grata pelo o que fez por seu irmão. –ela apertou minha mão, e vi lágrimas em seus olhos azuis. –Eu sei que, quando ele acordar, vai querer te matar por você quase ter morrido.

“Quando” ele acordar. Ela estava otimista, assim como eu. Juntando todas as forças que ainda me restavam, sorri.

–Ele sentirá orgulho ao ver a mulher que se tornou, Kiara. –falei.

–Eu sei. –ela sussurrou.

Neste momento, o enfermeiro entrou com uma cadeira de rodas e, com muito esforço, me colocou nela.

–Você é bem pesado. –falou ele.

–Músculos, meu jovem. –falei, e ele deu um leve sorriso.

Pelo canto do olho vi Kiara enrubescer. Lembrei da cena do quarto dela e eu mesmo fiquei vermelho.

...

As portas que levavam ao quarto de Gustavo estavam sendo guardadas por uma dupla de guardas. Eles deixaram-nos entrar assim que viram Kiara, então não ouve problemas.

Olhando para Gustavo, quis zombar as pessoas por acreditarem que ele estava tão mal. Ele parecia tão tranquilo, parecia estar dormindo.

O enfermeiro guiou minha cadeira de rodas até perto da cama dele e eu não soube o que falar. Eu queria tanto vê-lo, queria tanto poder ver que não estava morto. Mas agora que eu estava cara a cara, não sabia o que fazer.

Kiara se aproximou e sussurrou algo para o enfermeiro, que se retirou, na companhia dela, me deixando totalmente a sós com Gustavo.

Eu estava tão próximo dele que podia ver alguns machucados em sua face, alguns arranhões até. Coloquei minha mão em seu pescoço e senti uma leve pulsação. Era a mesma pulsação que eu tinha sentido quando ele caiu no chão.

–Gustavo... –comecei. Não sabia o que dizer, então quis falar naturalmente, algo que eu falaria agora se ele estivesse acordado. –Acredita que não vou mais poder andar? Isso é horrível. Eu tentei me levantar, mas minhas pernas não responderam ao meu comando. É como se meu cérebro tivesse se desligado das minhas pernas. Eu estou agora sentado em uma cadeira de rodas, precisando que alguém empurre ela para mim, porque não sei manusear direito. Mas vou ter de aprender, não é? Quem diria, Gabriel Vanseford tendo de depender dos outros. O mundo e suas voltas. –suspirei. –Os médicos dizem que talvez eu volte a andar, mas vou ser bem sincero, Gustavo: Não acredito em milagres. Eu só pensei em uma coisa... –falei e sorri. Gustavo teria começado a rir, se pudesse. –Como é que eu vou “namorar” agora? Meu Deus, não tenho a mínima ideia de como se faz isso, deste jeito.

Dei um pequeno riso e fiquei sério novamente. Olhei para Gustavo, que ainda estava imóvel, e peguei na sua mão.

–Gustavo, sua situação não é nada boa, e eu sei disso. Mas, por favor, lute. Eu sei que você está me ouvindo, então escute com atenção. Kiara precisa de você. Suas duas famílias precisam de você. Então, não desista. Você nunca desistiu, por que agora seria diferente? Você sempre lutou para ficar com Kiara, e agora vai querer ir embora? Não, não, não. Eu entreguei os pontos, Gustavo. Você está com o caminho livre, a poucos passos de se casar com Kiara e fazê-la feliz. Você não pode ir agora. Além disso, você vai querer ver Arthur crescer. Aquele menino vai ser um galã, se me permite dizer. Acho que você adoraria vê-lo chegar todos os dias em casa com uma garota diferente. Anastácia também precisa de você. Ela passou todo esse tempo longe, sofreu com uma grande crise, que levou o pai de Kiara embora, e ela ainda está bastante emotiva. O senhor Alef... estou falando igual a Kiara,...O senhor Alef está velho e precisa de sua ajuda para fabricar as roupas. E também tem sua outra família, Daniela e Jorge. Não sei se um dia você vai considera-los de fato uma família, mas mesmo assim eles precisam de você. E por último, e menos importante, tem um tal de Gabriel. Um passarinho me contou que você salvou ele muitas vezes, e ele não teve como te agradecer. Seria falta de educação você não permitir que ele lhe diga obrigado. –fiz uma pausa. - Ele também precisa de você. Ouvi falar que ele está em uma cadeira de rodas, e quer que você o ajude a seguir em frente, porque você é o irmão dele e certamente o entenderá. Uma pessoa disse para Gabriel que vocês sempre se amaram com irmãos, só que nenhum dos dois admite, porque são orgulhosos. Mas acho que não é só por causa disso. Acho que os dois não são apenas orgulhosos. Acho que foi um sentimento novo que eles não souberam lidar: o amor fraterno. Você certamente já sentira, já que tem dois irmãos. Mas Gabriel não. Ele sempre foi sozinho. E ele deve ter se sentido um pouco estranho sentir um amor por um cara que estava tentando roubar sua noiva. Eu acho que vocês dois sempre sentiram esse amor, desde o primeiro momento que se viram. Por que o amor, principalmente de irmãos, não tem explicação. Está traçado no nosso DNA esse amor. Então, não adiantou nada a gente... quer dizer, Gustavo e Gabriel quererem se afastar. –foi só agora que percebi que minhas bochechas estavam molhadas. Ainda bem que não havia ninguém aqui. –Não desista. Por favor. –concluí, sentindo minha voz embargada. Apertei com força sua mão e tentei me afastar, mas a minha mão estava presa na de Gustavo.

Arregalei os olhos e sussurrei:

–Gustavo?

A mão que estava segurando a minha apertou mais.

–Gustavo! –exclamei. –Doutor! –gritei.

A porta se abriu e entrou o enfermeiro alto lá dentro.

–O que houve? –perguntou, demonstrando preocupação.

–Olha isso. –falei e mostrei minha mão presa na de Gustavo.

Ele se aproximou e viu o quão apertada minha mão estava na dele. Mal ele olhou, o aperto afrouxou. Mas já era um começo.

O enfermeiro checou a pulsação dele e a respiração.

–Tivemos uma melhora no quadro dele, pelo o que podemos ver. –ele falou e sorriu.

Kiara entrou e sorriu.

–Eu ouvi direito? –perguntou.

–Sim. Agora poderemos ter esperanças. –o enfermeiro afirmou. –Vou chamar o médico. –ele já estava na porta quando deu meia volta e pegou a guia da minha cadeira de rodas. –Vou te levar para o quarto.

–Vai me dopar de novo? –perguntei, sarcástico.

–É bem melhor ficar dormindo do que ficar deitado em uma cama sem nada para fazer, não acha? –ele retrucou, arqueando uma sobrancelha.

–Mas acho que existem pessoas nesse lugar que realmente precisa de anestésicos. Muito mais do que eu. –retruquei de volta, deixando ele sem palavras.

–Então tudo bem. –ele, por fim, cedeu.

–Gustavo, volto mais tarde, okay? –falei e sorri. –Não saia daí.

–Acho que ele não tem muita alternativa, Gabriel. –sussurrou o enfermeiro, de modo brincalhão.

Então ele me levou para o meu quarto vazio e sem vida, onde me colocou delicadamente na cama.

–Parece que você ajudou Gustavo melhorar. Foi uma ótima ideia leva-lo até lá. –ele disse, quando eu já estava bem deitado.

–Eu sempre tenho boas ideias. –fiz uma pausa. –Quando ele irá acordar?

–Não podemos ter certeza, Gabriel. Pode durar semanas, meses. Igualmente sua recuperação. Pode demorar meses para você voltar a andar.

–Ou nunca.

–Não perca as esperanças.

–Não acredito em milagres.

–Você acabou de presenciar um. –falou ele, certamente se referindo á Gustavo. –Bem, preciso falar com o médico. Até mais tarde, senhor sabe-tudo.

–Libere a entrada de pessoas para cá. Não quero ficar sozinho.

Ele afirmou com a cabeça e se retirou. Não demorou muito tempo para que Kiara entrasse e sorrisse para mim.

–Olá. –ela saudou alegremente.

–Está feliz por mim ou por Gustavo? –perguntei, tentando soar o mais normal possível, mas soou meio grosseiro.

–Pelos dois. Gabriel, foi incrível o que você fez. –ela falou e sentou-se perto de mim.

–Eu só conversei com ele.

–Não. Você deu a ele motivos para continuar vivo. Todos que iam lá falavam a mesma coisa: Desculpe, desculpe e bla bla bla. Você foi o primeiro que falou o que ele queria ouvir: que ele ficasse porque muitos precisavam dele.

–Não sei...

–Você falou com tanta sinceridade e... –ela buscou as palavras certas. –Era como se ele tivesse ouvido apenas você.

–É, pode ser. O importante é que ele está com condições de viver. –falei e desviei o olhar.

–As vezes o viver não é suficiente, não é? –perguntou ela, em um tom suave.

–Kiara, eu não poderei mais andar. Do que adianta uma vida dependendo dos outros?

–Acho que você não se convenceu de que poderá melhorar.

–Claro que não! Quantas pessoas você já viu, que perdem a habilidade de andar, e que voltam a fazer isso?

–Na verdade, eu nunca vi ninguém com esse problema.

–Pois eu já vi Kiara, e muitas vezes. Lá na França é bastante comum, devido ás constantes guerrilhas ou doenças degenerativas. Ninguém que eu conheça já voltou a andar.

–Quem sabe você não seja uma exceção?

–Kiara, vamos mudar de assunto? –perguntei, tentando esconder minha impaciência.

–Tudo bem, então. –ela suspirou. –Eu ouvi sua conversa com Gustavo e... –ela corou, mas sorriu. –Você tem medo de não conseguir...errr... “namorar”.

Ruborizei no mesmo momento.

–Não acho que eu deva ter esta conversa com você, Kiara. –falei.

–Não acha a conversa digna de uma dama? –perguntou ela, arqueando uma sobrancelha.

–Claro que não!

–Tudo bem então. –ela falou, aparentando estar irritada. –Tenho que ir comer algo. Já faz um tempinho desde minha última refeição.

Ela falou e se dirigiu á saída, mas lembrei de algo que eu gostaria pedir.

–Kiara! –chamei. Ela se virou, com a expressão interrogativa. –Será que eu poderei sair desse quarto logo?

–Vou providenciar isso. –ela falou e sorriu. –Esse quarto é muito monótono. Você deve voltar para seu quarto. Irei falar com o médico para que mudem você para lá. Fica perto do quarto de seus pais, assim não ficará sozinho.

–Obrigado. –agradeci e sorri.

–Não há de quê. –ela respondeu e sorriu, aquele sorriso pelo qual me apaixonara.

Quando ela saiu, me senti sozinho novamente. O enfermeiro estava certo. Sem o anestésico, eu iria ficar sem nada para fazer. Então decidi tentar dormir, coisa que consegui sem muito esforço.

...

Acordei com uma pessoa sacudindo meu ombro. Ao abrir os olhos, me deparei com meu enfermeiro.

–Nem precisou de anestésico. Estou satisfeito. –ele falou e sorriu.

–Por que me acordou? –eu odiava quando me acordavam.

–Você vai sair daqui. –ele disse e começou a me levantar da cama. –Não sei como vou conseguir subir as escadas com você nessa cadeira de rodas, mas vamos tentar.

Assenti com a cabeça e ele me levantou, me colocando na cadeira de rodas.

–Vamos lá. –ele falou e começou a me empurrar.

...

No caminho, vários rostos solidários me encaravam. As expressões diziam: Olha, lá vai o garoto que não poderá mais andar; coitado, tem apenas 17 anos. Outra coisa que eu odiava: pena.

Quando chegamos na escada, foi um grande desafio, que foi cumprido com muita lerdeza. Ele me empurrou degrau por degrau. Tinha de falar com Kiara pra ela fazer uma rampa.

Ao chegar no meu quarto, estava tudo bem arrumado, esperando por mim. Minha mãe e meu pai estavam lá, ao lado da cama, com expressões felizes. Eles me ajudaram a me deitar, e o enfermeiro disse, antes de sair:

–Virei te observar com frequência.

Assenti e ele saiu.

Meus pais me olhavam com tanta alegria que eu pensava que ia sair faíscas de seus olhos.

–Meu querido... –minha mãe falou e apertou minha mão. –Ainda bem que está aqui. Ficará mais perto de nós.

–É. Aquele quarto estava me deixando louco.

Ela deu uma pequena risada. Meu pai se aproximou e me deu as duas adagas de ouro, ambas gravadas com um G maiúsculo. A minha adaga e a de Gustavo.

–O senhor Richers encontrou isso. –ele disse, enquanto eu olhava a minha adaga, que ainda estava suja de sangue. Do sangue daquele que quase matou meu irmão.

–Quando Gustavo acordar, você dará para ele. –minha mãe falou.

Fez-se um silêncio desconfortável, que foi quebrado por uma batida na porta.

–Pode entrar. –falei e aquela criada loirinha de Kiara entrou no quarto. O nome dela era... Lilla... Não lembrava direito.

–Olá, senhor e senhora Vanseford. –ela cumprimentou e fez uma reverência. –Senhor Gabriel, estou aqui para cuidar de você.

–Cuidar de mim? –perguntei, arqueando uma sobrancelha.

–Sim. Kiara me mandou ficar aqui, caso precise de qualquer coisa.

–Tudo bem. –falei. –Seu nome é Lilla, não é?

–Hilla, senhor. –ela falou.

Quando ela disse isso, meu coração deu um pequeno pulo. “Não queira se apaixonar por ela”, ordenei ao mesmo. “Chega de sofrer por amor”.

Continua...


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Notas finais do capítulo

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