Equilíbrio escrita por Huntress


Capítulo 5
Temia se perder; temia morrer.


Notas iniciais do capítulo

Eu demorei muito para escrever, sim. São as últimas semanas de aula e os trabalhos estão todos acumulados - já saibam que adoro protelar e sou mestre da procrastinação. Esse capítulo é maiorzinho que os outros e provavelmente um dos mais fraquinhos. Eu queria fazer uma ligação de amizade entre as duas, mas é complicado criar vínculos quando a situação é a que foi apresentada nos outros capítulos. [Muito embora, estou orgulhosa dele. Então...]
Peço perdão àqueles que esperaram tão ansiosamente por este capítulo, mas aqui está. E eu não vou postar mais hoje, por razões de: quero todos extremamente curiosos.
Boa leitura e não se esqueçam de comentar.



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O silêncio que as rodeava era mórbido e os passos de Lilith eram dominantes. Sofia olhava-a com cautela, seguindo suas curvas com certa curiosidade. Percebia em sua pele seminua marcas iminentes do que julgou ter sido alguma forma de tortura – seus punhos pareciam ter sofrido a força das cordas e suas costas possuíam séries de arranhões avermelhados.

“Quando chegar lá...”, começou a ruiva, sem virar-se para ver a reação de sua acompanhante ao ouvir novamente a voz autoritária que mulher havia lhe acordado com tapas – apenas um, para ser mais exata – anteriormente. “Tomará vinho e se divertirá com as meninas.”

“Eu não sou muito fã de álcool. E você falando nesse tom, parece que elas não são gente boa e que você está me obrigando a arranjar alguma forma de me divertir.”, falou, esquecendo-se completamente que sua vida estava em perigo. Sua boca aberta seria um sério problema em ocasiões em que deveria se submeter, mas algo no fundo de sua alma dizia-lhe para ser sincera com a sua mais nova líder.

“Acredito que não há alternativa a não ser aprender a beber. Vai precisar de alguma forma de fugir do mundo depois da primeira vez.”, possuía um tom melancólico, como se sentisse pena daquelas que a ela deveriam ser subordinadas, porém ignorara completamente seu comentário seguinte, como se apenas consentisse com a sua forma de pensar em relação ao apresentado.

“Primeira vez no quê?”, sentiu-se tentada a perguntar, embora já imaginasse a resposta que receberia. Se estava sendo encaminhada para um local com um nome tão subjetivo quanto Zona, já conseguia ver o que estaria prestes a acontecer consigo quando chegasse ali.

“Não vai demorar acontecer. Você tem um corpo favorável. Só temos de atrasar um pouco para que possamos fazer os rituais para que tire pelo menos proveito da situação.”, seu temor foi confirmado depois da segunda sentença da jovem demônio. Suspirou baixinho, criando em sua mente estratégias de fuga, embora não conhecesse a área e soubesse que seria burrice apenas sair correndo, sem rumo, em busca de um guarda-roupa encantado que a levasse para um mundo sem tamanho terror.

Não queria ter de vender seu corpo, mas a tensão presente no ambiente a fazia pensar que se não o fizesse seria morta – se é que já não o estava. Sentiu seu corpo pesar mais a cada instante, encolhendo-se na tentativa de tirar a pressão que a seguia por todo o caminho.

“Rituais?”, sussurrou, com uma voz quase inaudível. Permitiu sua criatividade leva-la para muitas vertentes e não conseguia deixar de temer nenhuma delas; não conseguia deixar de se torturar com o pensamento de que corria um perigo iminente só por se encontrar ainda viva.

“Sim. Rituais. Mas isso não é para agora.”

“Como isto funciona?”, havia certa curiosidade em seu tom, como se tivesse perdido o total medo de sua situação poucos segundos depois de ter sido apresentada a ela – e havia sido exatamente isso o que acontecera.

“Reunimos as garotas, te abençoamos, te amaldiçoamos, te transformamos em uma de nós e fazemos você rezar para a Deusa em sigilo. Coisas assim.”, parecia brincadeira da parte da mulher, mas aquilo fez com que a loira relaxasse pelo menos um pouco. Talvez ali percebesse que realmente ainda havia esperança e que, provavelmente, ainda encontraria alguma luz ao fim do túnel de caminho árduo, calor extremo e odor mórbido de enxofre.

“Vocês rezam?”, no fundo de sua mente sabia que esta pergunta não era muito bem esperada – talvez por causa da menção a algum tipo de maldição ou o fato de terem de transformá-la em “uma delas”, acontecimentos de relevância muito maior que cultos a uma deusa desconhecida.

“Sim. Todos nós rezamos, mesmo inconscientemente. Seja para qualquer criatura, de Deus a Lúcifer, um pedido muito forte elevado ao além já uma oração.”, sua fala era bastante informal, embora seus passos fossem elegantes. Os olhos de Sofia vigiavam os pés da ruiva com cautela, observando-a andar por certo trajeto antes de segui-la – sinceramente, não queria cair novamente por falta de chão à sua frente.

“Isso é uma boa teoria.”, seus lábios se moviam involuntariamente para formar aquelas palavras e sua voz saíra grossa o suficiente para ser confundida com a de um homem, mas Lilith não pareceu se importar com o ocorrido. Em verdade, ela havia parado – e sua seguidora, percebendo o ato com certo atraso, trombado com a mesma por inércia.

“Chegamos.”, ela sussurrou e os orbes da garota seguiram na imensidão, procurando por algo que pudesse a abrigar de alguma forma, mas não havia nada a não ser o vazio que queimava seus olhos em um vermelho vívido, como se o fogo nascesse dali e se desfizesse no mesmo local. Era uma bela paisagem, devia admitir, como o mar que invadia o espaço e não havia fim.

“Não há n–”, sua frase foi interrompida com a surpresa da transformação da mulher à sua frente. Seu corpo preencheu-se de escamas em locais estratégicos, como os ombros e o meio das costas; seus cabelos alongaram-se e enegreceram-se; suas unhas, anteriormente bastante bem-feitas, transmutaram-se em enormes garras, tão finas e afiadas quanto lâminas. Asas parecidíssimas com as de morcegos saíram de suas omoplatas e, quase como calculadamente, acertaram a mais nova vítima em cheio.

Com um gemido de dor e um suspiro de espanto, logo viu-se ao chão, sabendo que o pior ainda estava por vir. Sua força se desfez e esperou pelo grande mal, aquele ainda mais iminente quando a antigamente ruiva virara-se para si, mostrando olhos amarelados, repletos de sede – ainda não conseguia escolher do quê: de sangue ou de morte – e uma fisionomia demoníaca. Manteve-se no chão, sabendo que quaisquer tentativas de se levantar seriam falhas.

Sua mente se encontrava enevoada quando o demônio voou em cima de seu corpo e prendeu-a definitivamente no chão. Seus braços foram elevados, puxados por mãos tão escamosas e rígidas que chegavam a raspar-lhe a derme, e as pernas foram abaixadas, esticadas quando obrigadas a dar espaço ao corpo da mulher com quem muito facilmente imaginava uma amizade em um universo paralelo, onde não servisse como objeto de tortura e diversão de algum sádico acima de sua dimensão.

Elevou seu olhar às pupilas verticais daquela que a segurava rente à terra quente e avermelhada, tentando compreender o sentido de toda aquela ação inédita. Sabia que corria perigo ao ser levada para um local desconhecido como a Zona, mas não conseguia concatenar sobre quão assustador a situação seria.

No brilho opaco dos orbes da mulher, pôde ver seu reflexo cansado e assombrado; um que exibia o medo na expressão e a fraqueza nos lábios, que se abriram em um sorriso tímido antes de a situação piorar por completo. Deixou uma lágrima silenciosa escorrer por seu rosto sujo de poeira, formando um caminho manchado em seu rosto.

Fechou os olhos, tentando assim controlar suas emoções, mas nada foi facilitado quando sentiu as garras de Lilith arranhando sua tez, rasgando seus tecidos e adentrando seus pulsos. Sua mente alertou-a para perdoá-la por aquela ação – algo dentro de si a lembrava que não era exatamente culpa da ruiva a situação em um todo. Houve um espasmo, não seu, e depois um grito. Sabia que este último viera de sua parte, pois sentia a garganta doer com extremidade.

Presas invadiram seu pescoço e sentiu-se morta por dentro, como se retirassem sua alma de seu físico, desprendendo-a da vida natural. Não havia o calor do sangue escorrendo por sua pele, apenas dor. A inconsciência vagava sobre seu ser, protegendo-a do sofrimento daquele específico momento. O sono veio lentamente e suas pálpebras relaxaram, assim como todo seu corpo, mas ele não conseguiu tirar seu temor. E havia temor. E temia se perder; temia morrer.


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Notas finais do capítulo

Okay, okay. Vocês me odeiam. Apenas comentem sobre isso.



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