P.O.V Elsa

A Olympic High School é uma escola para pessoas talentosas. Há arqueiros, cavaleiros e amazonas, ginastas, jogadores de vários esportes coletivos, esgrimistas e patinadores no gelo, como eu. Mas aqui só se aceitam os de mais alto talento, ou seja, essa escola é só para os melhores e aqui, esses melhores aprenderão a serem melhores ainda.

Eu, por exemplo, sou uma patinadora no gelo ganhadora de vários campeonatos, sendo que meu primeiro campeonato foi aos 9, ganhando um aos 11 e depois disso nada pôde me parar, e aqui estou, entrando nessa escola. Claro que há motivos para isso e para eu não continuar na minha vida não tão monótona, mas sem dúvida calorosa que vivia com meus pais e minha irmã em Seattle, um deles, é meus pais terem morrido e eu e Anna termos tido que nos mudarmos para a casa de nossa tia, bem longe da nossa real casa.

Mas bem, tenho que encarar, nós tivemos sorte que tia Silvia nos deixou morar com ela, senão seríamos levadas para sabe Deus onde. Apesar de que ela seria uma burra se não nos aceitasse com o tanto de dinheiro que nossos pais nos deixaram de herança.

Tia Silvia está nos levando para o colégio, Anna está no banco da frente, conversando animadamente com nossa prima, Rapunzel, que, infelizmente, não estudará conosco, já que não tem nenhum talento com nenhum tipo de esporte. Olho ansiosamente pela janela do carro, vejo lojas, pessoas sorridentes andando juntas ou com animais de estimação, vejo belas paisagens, vejo outros carros e tudo isso de novo e de novo.

Quando finalmente chegamos ao colégio, tia Silvia para o carro, deseja-nos boa sorte e vai levar Rapunzel ao colégio. Olho em dúvida para Anna, ela sorri para mim e diz num tom calmante:

–Relaxe, o que pode acontecer de mais?

Pois é, o que pode acontecer de mais? Eu não ser aceita? Virar uma pária na sociedade desse colégio? Besteira. “O que pode acontecer de mais?”, fico repetindo mentalmente.

Ela sorri novamente para mim e abre as portas do colégio e uma lufada de ar quente atinge meu rosto. Ofego. Odeio, simplesmente odeio calor. O corredor está um pouco vazio e ninguém olha para nós, apesar das portas fazerem um barulho enorme quando se fecham novamente. Anna puxa minha mãe e me conduz até um garoto loiro, alto, musculoso e um pouco narigudo, que está mexendo em seu armário.

–Oi, somos novas, meu nome é Anna e essa é minha irmã, Elsa. Poderia nos dizer onde fica a secretaria?

O garoto olha-nos e sorri para Anna. Ela é tão carismática e desenrolada, gostaria de ser um pouco mais como ela.

–Não tem esse corredor? –pergunta para ela, gesticulando para um corredor a alguns metros de nós –Vá até o final, depois vire a direita, na terceira porta a esquerda tem escrito bem grande na porta “secretaria”, não tem como errar. -ele lhe lança mais um de seus charmosos sorrisos e o aperto de Anna em meu braço aumenta.

–Obrigada. –murmuro, quando minha irmã esquece de fazê-lo.

Nós seguimos suas indicações e entramos na secretaria. A senhora atrás do balcão nos sorri carinhosamente e pergunta:

–Em que possa ajudá-las, minhas jovens? Vocês são novatas, não é? Nunca as vi aqui antes.

–Sim. –diz Anna, sem nem me dar a oportunidade de falar novamente –Anna e Elsa, prazer. Poderia dar nossos horários, o número de nossos armários e seus respectivos códigos?

A senhora sorri docemente para nós e vai até uma pequena estante, ela olha dentro de uma caixinha e murmura algo inaudível, depois pega dois papéis retangulares e uma chave e vai para um pequeno armário, ela enfia a cabeça lá dentro e quando tira, sorri novamente para nós. Ela nos entrega duas tiras finas de papel e nos dá as indicações de onde estão nossos armários. Tivemos sorte, serão lado a lado. Sorrio feliz para Anna.

Andamos pelos corredores, agora apinhados de gente, procurando os armários 169 e 168. Segundo a mulher, teríamos que subir as escadas e virar a direita no corredor, então, era só prestar bastante atenção nos números dos armários que mais cedo ou mais tarde acharíamos. Nós tentamos subir as escadas, mas só conseguimos subir dois degraus dos vários degraus, quando fomos interrompidas por um som alto e irritante e por um pequeno bloco composto principalmente por garotos com uniformes de hóquei, liderado por um garoto de cabelo loiro bem claro, um pouco magro, alto e um pouco musculoso, mas muito bonito.

Fico atônita, olhando para ele. Nunca houve nada parecido com isso na minha antiga escola em Seattle. Em um cartaz tem escrito “Parabéns, Dragons, por mais um jogo vencido!”. Então o time de hóquei havia ganhado mais uma partida, mas para quê tanta comoção se nessa escola só entram os melhores e o time deve vencer todas as partidas? “Vai entender os grosseirões do hóquei!”, penso.

O pequeno bloco desce lentamente a escadaria, empurrando todos que tentam subir e retardando todos que tentam descer, mas nenhum parece incomodado com isso. O bloco parou a nossa frente, ou melhor, a minha frente, Anna havia descido de volta para o primeiro piso e eu nem havia percebido. Corro meus olhos pela frente do pequeno grupo de pessoas, o loiro que havia nos dado informações mais cedo está no meio do grupo, também de uniforme de hóquei, o loiro que lidera o grupo me olha feio.

–Licença. –ele rosna, de braços cruzados.

Olho alguns instantes a mais para ele, e percebo que seu cabelo não é loiro muito claro, como o meu, é na verdade branco! Olho para o resto do bloco novamente e percebo que todos me olham com expectativa, esperando que eu saia do caminho. Coro ferozmente e eu detesto isso, cubro meu rosto com meu cabelo e desço os dois degraus que havia subido, ficando ao lado de Anna, que pensa que não vejo o sorrisinho bobo que lança ao garoto loiro, que lhe retribui. O barulho volta e o pequeno bloco volta a marchar pelos corredores da escola. O garoto de cabelo branco caminha orgulhosamente a frente, sorrindo muito, mas me dedica novamente um olhar de raiva, o que faz meu embaraço se tornar raiva.

–Eu odeio hóquei. –murmuro.

–Perdão? –diz Anna.

–Nada. –repondo e subo rapidamente as escadas, pego meu material, olho para minha grade de horários e vou para a aula de literatura, na sala 42.

Não demoro muito a encontrar a sala, entro e não vejo muita gente, só uma garota com um enorme cabelo ruivo e cacheado, eu sorrio para ela e ela sorri para mim.

–Prazer, Elsa Ice. –estendo minha mão.

–Merida Redhead. –ela a aperta.

Sorrio. “Pronto. Minha primeira amiga.”, penso.