Ao decair do último floco de neve... escrita por Cameron Fracktallya Scare


Capítulo 3
❄ Capítulo 3 - A última dança... ❄


Notas iniciais do capítulo

Trilha Sonora:

Say Goodbye - Miley Cyrus
I'll Always Remember You - Miley Cyrus



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Os dias se passavam, um pós o outro, sem nenhuma pressa. O tempo parecia desacelerar toda vez que Matthew chegava ao hotel onde ela estava e subia as escadas com um rosa branca em mãos, ele batia na porta e esperava que ela abrisse para ele poder ver aquele pequeno sorriso que se formava em seus lábios. Podiam existir muitas garotas naquela cidade e até mesmo no mundo mas ele sabia que Quione era única e fazia questão de mostrar a ela aquilo. Ele dizia que as rosas lembravam muito ela... Pétalas brancas delicadas, um aroma suave e refrescante e a beleza da doçura oculta pelo silêncio. Ela sempre agradecia e corava tão suavemente que era quase impossível notar, diferente dele que ficava parecendo um pimentão de tão vermelho.

Era engraçado ver eles juntos, já que Matthew era tão falante e Quione tão calada. Ela ainda se portava como se fosse uma princesa e sempre ouvia as histórias dele, histórias que ele tagarelava sem parar com medo de que de ser desinteressante demais para ela ou então de não ter assunto para conversar. Eles passeavam sem pressa pela cidade, com um destino novo a cada dia. Fosse nas trilhas ao lado do lago, ou então dançando num bar à noite, e até mesmo comendo em um restaurante bacana, o tempo em que ele não estava tentando arranjar dinheiro através de trabalhos temporários ele passava com sua dama especial.

Certa vez, em uma caminhada em que ela usava um vestido curto e simples, começou a nevar bem devagar e então ele tirou o casaco e deu e o colocou sobre os ombros dela para que não sentisse frio, tentar se esquentar nessa ocasião foi bem difícil e ele tremia quando ela estendeu a mão. "Segure em minha mão, prometo que não sentira frio se o fizer." Ele não entendeu muito bem mas também não recusou, no momento em que tocou a mão dela o frio se dissipou, mesmo com os flocos de cristal caindo em seus cabelos, ele sorriu e entrelaçou os dedos nos dela. "Isso é bom." Foi tudo que ele disse, uma frase que continha milhares de significados e fazia o coração de ambos bater dentro do peito. Ela não revelara a Matthew sua essência e poderes em momento algum, não queria que isso interferisse no que ela estava sentindo e não julgou necessário ele conhecer sua família ou coisa do gênero, quando este assunto vinha à tona, ela despistava falando que tinha sangue nobre nas veias e que seus pais continuavam a vigia-la, o que não era uma mentira completa.

Quione escovava os cabelos negros naquela manhã, sentada em frente a uma penteadeira de seu quarto de hotel pensando no que seu pai diria assim que ela regressasse. Ela era como uma joia preciosa para ele mas não sabia como seria vista agora que passara duas semanas junto a um mortal. De todo o modo, Bóreas não teria justificativas para trata-la de forma diferente, já que também já havia se envolvido com mortais antes, coisa que costumava acontecer quando sua esposa estava longe dele e que Quione jamais pode entender, visto que não via grande utilidade nos mortais.

— Bom dia...

Ele coçou os cabelos loiros na nuca e sorriu enquanto se levantava da cama com nada mais que uma cueca box branca, que ele jurava ser verde na noite passada. Quione, que vestia uma camisa branca aberta juntamente com sua lingerie de renda, se virou na cadeira e fitou ele que agora caminhava na direção dela.

— Bom dia.

— Dormiu bem?

— Sim, e você?

— Tive uma noite ótima... Tudo fica melhor do seu lado.

Mesmo parecendo que aquele dia estava maravilhoso, uma certa aura de preocupação envolvia o ambiente, mesmo que oculta. Na noite passada, Matthew havia levado ela para jantar e contado que havia conseguido dinheiro suficiente para prosseguir com sua jornada, porém que não sabia se deveria já que se apaixonara por ela. Quione, sempre o ouvia falar de como era seu sonho de conhecer o mundo todo e explorar os novos horizontes aprendendo tudo que fosse possível... Não era justo. A questão que ela também havia se apaixonado, porém era uma deusa... Era imortal. Por mais que quisesse mante-lo ao seu lado jamais poderia força-lo a ficar, por mais fria que fosse não negaria a ele a chance de conhecer o mundo do qual sempre sorria enquanto falava, não podia dizer aquilo. Sua resposta foi para que ele continuasse com a jornada, já que muito em breve ela iria embora da cidade. Matthew partiria naquela noite e foi assim que eles resolveram passar o último dia... Juntos. Quione terminou de escovar os cabelos, colocou seus jeans e uma bata verde-água e esperou que ele também se vestisse.

— Quione... Tem alguma coisa errada?

Ela já estava calada a bastante tempo, desde que eles saíram do hotel pra ser mais exato e seu rosto inexpressivo o deixava preocupado de certo modo. Ele usava um casaco marrom com uma camiseta de mangas compridas preta por baixo, calças jeans e botas de caminhada na cor bege, diferentes dos saltos de cristal dela. Já havia se costumado com o fato de Quione não sentir muito frio mas conseguiu faze-la vestir o sobretudo naquela manhã. O café estava sendo tomado no mesmo lugar onde ele se viram pela primeira vez, coisa que ele achou bem poética para abater a tristeza daquele dia. Ela o observou e então bebeu o líquido fumegante da xícara.

— Eu estou bem.

— Tem certeza?

— Tenho... Tenho certeza.

Quione estava mais calada do que o habitual mas mesmo assim Matthew decidiu leva-la para um passeio pelo cidade e, ao chegar numa praça, ele teve uma ideia um tanto quanto maluca. Correu pela área e subiu as escadas de um pequeno coreto até estar no centro, o piso estava levemente coberto pela neve. Ele estendeu a mão para ela e pigarreou.

— O que pensa que esta fazendo?

Ele se limitou a sorrir.

— Me concede uma dança, senhorita Quione?

— Mas não há nenhuma música tocando.

— Não importa. Vai me fazer uma desfeita?

Ela ponderou um pouco mas acabou por se render, primeiro por que seria falta de educação negar um pedido cordial, e segundo por que, querendo ou não, ela o amava. Ele dançaram ao som de uma melodia que apenas os dois poderia ouvir e foi a primeira vez que ele ouviu o riso dela, algo tão magnético que ele desejou poder parar o tempo ali, naquele instante, e nunca mais se ver longe. Quione rodopiava com graciosidade e Matthew não ficava para trás, aquele doce momento ficaria guardado ali naquele lugar para sempre. Mesmo assim, isso não evitou que o fim da tarde chegasse. Horas depois, ele estavam no terminal rodoviário da cidade e sol já iria se por, eles se fitavam como se os olhos pudessem falar por eles e permaneciam em silêncio. Matthew encostou a testa na de Quione e sussurrou.

— Eu te amo... Obrigado por tudo.

Quione nunca tinha sido tratada daquela forma, tão especial e única mas não sabia se era capaz de pronunciar palavras como aquelas, era demais para ela. Antes que pudesse calcular as consequências, ela tocou seu o rosto e encostou seus lábios nos dele em um beijo demorado.

— Também o amo.

Palavras que saíram em um sussurro tão baixo que apenas ele pode ouvir. Aquilo era muito mais do que se podia esperar e serial algo que realmente valeria à pena guardar por anos. O aviso sorono tocou na estação... Era hora da partida.

— Boa sorte em sua aventura, Matthew. E agradeço por me contar suas histórias.

— Ah falando nisso!

Ele se abaixou e abriu a mochila que estava no chão, de lá tirou uma caixinha de música feita de vidro que se assemelhava muito a cristal. Ele fechou o zíper e sorriu ao coloca-la nas costas e depositar a caixinha nas mãos de sua amada. Era toda adornada e belíssima mas ela não entendia o por quê daquilo.

— É um presente, pra que sempre se lembre de mim... E da nossa dança. Isso não é um adeus Quione, ainda nos veremos de novo então... Até logo.

Ele sorriu e deixou um selinho nos lábios dela antes de partir em direção ao ônibus que tomaria para prosseguir com sua jornada.

— Até logo...

Ela novamente sussurrou em tom baixo e o viu se afastar. Quando Matthew já havia sumido de vista, Quione abaixou o olhar até o pequena caixa e abriu a tampa, uma melodia lenta e aguda começou a tocar fazendo com que um casal no centro da baixa dançasse, era como se ele tivesse conseguido mesmo capturar o momento. Dentro daquela caixinha havia um bilhete escrito com uma bela caligrafia.

"Querida Quione,

Estava atrás de algo que me lembrasse você e acabei trabalhando um pouco mais para conseguir comprar este presente. Quando o vi na loja de cristais eu só pude pensar em você, espero que goste.

Com amor,

Matthew Fracktallya"

Ela embrulhou de volta o bilhete e fechou a tampa da caixinha de música a abraçando contra o peito. Ficou ali parada por alguns instantes mas depois se virou para regressar ao seu lar, não o hotel em que estava hospedada, mas sim, seu verdadeiro lar... Quebec. Ela não regressou ao hotel, invés disso, tomou um caminho pela noite com passos decididos em meio as florestas, suas roupas mundanas se metamorfosearam em um belo vestido branco e longo ao passo que os flocos de neve dançavam ao seu redor, a deusa guardaria aquilo como um tesouro precioso mas já era hora de regressar para junto dos seus, e foi assim que seu corpo sumiu no fim do crepúsculo, se transformando na neve que caia sobre West Kelowna.

[Cinco meses depois...]

— Minha filha...

A senhora da neve estava no palácio de seu pai, Bóreas, olhando pela janela quando o próprio deus adentrou seu quarto. Ela se virou com a mão espalmada sobre a barriga protuberante e olhou para Bóreas que vestia um terno branco e alinhado com uma faixa roxa cruzando o peito e uma bela capa de pele lhe caindo sobre as costas, sua barba grisalha estava muito bem aparada e os olhos tempestuosos brilhavam de forma incomum. O vestido que ela trajava se assemelhava a seda e era azul marinho com detalhes brancos e dourados, além de mangas soltas e longas. Vóreas, o fiel lobo ártico de Quione, levantou a cabeça para observar a conversa mas se manteve calado no canto do aposento.

— Olá, meu pai.

Ela sorriu e o reverenciou de forma sempre elegante enquanto o mesmo andava até onde a filha se encontrava, Aura até tentou ajudar Quione a passar por aquilo quando descobriu nos primeiros meses, mas Zetes e Calais acabaram por contar aos pais a verdade... A gravidez de Quione por parte de um mortal. Ela já havia voltado a ser a mesma de antes, uma mulher fria e distante mas jamais seria daquele modo com seu amado pai.

— Não se esqueça de que fizemos um acordo. Esta criança que esta por vir poderá ficar mas terá de honrar o nome da família e servir aos boréades.

— Sei disso, meu pai e lhe prometo que ele será um excelente semideus.

Mesmo não sendo fã daquela raça distinta, Quione agora deveria aceitar que teria um filho semideus. Mas ela iria garantir que ele não fosse um fraco e patético garoto que não sabe nem ao menos segurar uma espada. Bóreas tocou o ombro da filha e assentiu, aquilo seria até interessante já que sua família pouco simpatizava com mortais por perto. A voz de do vento norte, que era extremamente grave, relaxou um pouco, ele ajeitou a coroa sobre os cabelos da filha e sorriu de forma educada.

— E qual será o nome deste semideus?

Quione dirigiu o olhar, do pai, até uma mesa próxima à sua penteadeira onde uma pequena caixa de cristal repousava junto à um vaso com rosas brancas retiradas de seu jardim particular e então voltou os olhos cor de café intenso aos do pai, retribuindo o sorriso com um de mesmo porte.

— Cameron... Seu nome será Cameron.


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Notas finais do capítulo

Seria este um eterno adeus? Ninguém pode dizer, pois o futuro é algo imprevisível. O fim não é um encerramento, e sim um recomeço, tendo e mente o adeus de Quione e Matthew, agora iniciamos e verdadeira história.

O que será que aguarda o destino deste semideus que está para nascer? Isso você só descobrirá, no próximo capítulo...