Ao decair do último floco de neve... escrita por Cameron Fracktallya Scare


Capítulo 4
❄ Capítulo 4 - O início real... ❄


Notas iniciais do capítulo

Trilha Sonora:

See Through - Pentatonix



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Os meses se passaram sem grandes acontecimentos. Os boréades continuavam a vida como sempre e Quione ainda passeava por seu jardim durante as tardes porém agora ficava apenas no palácio. Zetes e Calais continuavam a guardar as entradas da morada de seu pai e Aura ainda cuidava das mensagens externas e internas ao vento norte. Mesmo com a uma barriga grande e protuberante por conta da gravidez, a deusa da neve não deixava de servir aos propósitos que lhe eram incumbidos, como recepcionar, ou até mesmo congelar, alguns "convidados" que chegavam até o palácio com intuito de irritar ou importunar lorde Bóreas. Orítia, havia retornado quando Quione completou oito meses de gestação e ficou surpresa com as notícias sobre sua filha. No mês seguinte as coisas começaram a sair do controle... Quione já não conseguia se concentrar de forma correta e precisava de repouso de forma constante. Ela jamais engravidara de um mortal e se sentiu agradecida, de certa forma, pela partida de Matthew e por ter mantido segredo dele quanto ao pequeno Cameron. Sua presença por perto poderia significar o risco de torna-la uma mortal.

Era o fim do mês de novembro quando a princesa de gelo começou a sentir contrações cada vez mais contantes e intensas. Seu ventre já estava enorme e os criados a cercavam constantemente para garantir que estaria tudo pronto e seguro. O palácio era cercado de criados e criadas, pessoas que juraram lealdade aos boréades, muitas vezes em troca da própria vida e para não se tornarem estátuas de gelo no salão principal e no jardins da entrada. Eles não possuíam nenhum poder, eram apenas serviçais. Certa tarde, no último dia do mês Aura fora alertada de que Quione precisava falar com ela e se apressou pelos corredores levantando a bainha de seu longo vestido para que não tropeçasse nas anáguas. O bordado branco era recoberto se pequenos cristas que delineavam arabescos e o corpete possuía um enlace de cristais na cintura, apesar de simples aparentava ser uma peça de alta costura no corpo da dama das brisas congelantes. Na chegada ao quarto ela se deparou com a irmã deitada na cama suando frio e sendo cuidada por duas damas de companhia.

— Saiam, por favor.

Elas reverenciaram Aura e se retiraram do local. Diferente de sua irmã gêmea, Aura havia sido feita pelo lado mais brando e doce do inverno, possuía uma personalidade calma e por vezes meiga. Ela se ajoelhou ao lado de Quione e segurou sua mão entre as dela.

— Esta se sentindo bem, irmã?

— Não muito... Não imaginava este tipo de dor apenas para trazer uma criança ao mundo.

Aura teria sorrido se o rosto que Quione não houvesse se contorcido. Mesmo diferentes ela eram bem próximas uma da outra e confiavam a si sua própria vida. O mais interessante no contraste eram os cabelos. Mesmo gêmeas, Quione havia nascido com os cabelos negros como o ébano, enquanto Aura nascera com os cabelos brancos como o leite. Eram Yin e Yang, duas forças opostas que se completavam formando um só.

— Não se preocupe, em breve tudo se findará.

— Mais breve do que podem imaginar...

Aura se virou e deu de cara com Orítia na porta. A ninfa observava as filhas com um sorriso no rosto, em grande parte ela acreditava que sua família era tão distinta por conta dela, já que não possuía a mesma frieza do marido. Em seus cabelos repousava uma coroa maior de prata, e seu vestido verde água com detalhes em azul turquesa faziam dela uma estonteante visão, a visão pelo qual Bóreas se apaixonara tão perdidamente à ponto de a sequestrar. Por mais poderosas que fossem, aos olhos dela, sempre seriam suas garotinhas. Ela se aproximou enquanto as filhas à observavam.

— De acordo com seu pai, ele nascerá esta noite.

— Mas mãe... Não esta muito cedo? A senhora tem certeza? - disse Aura.

– Sim. Vosso pai esta fazendo os preparativos para a chegada da criança... O guerreiro dos boréades.

Ela então sorriu transmitindo certa calma e doçura para o ambiente ao seu redor, mesmo que não possuísse tanto poder ainda emanava uma aura de sabedoria que poderia fazer qualquer um ceder aos seus encantos. As filhas relaxaram e a neve começou a cair tranquilamente. Os flocos continuaram a dançar pelo ar por horas e horas até que a noite chegasse, Quione fazia aquilo sem nem ao menos saber e permaneceu em seu quarto com um dama de companhia. Ela se sentia tão estranha e diferente, mesmo sabendo que poderia voltar a ser quem era assim que a criança viesse ao mundo. Agora ela seria uma mãe, mas não teria habilidades para demonstrar afeto maternal mesmo que quisesse, isso não era de seu feitio. Ela suspirou imaginando como Matthew trataria seu filho, o entretendo com as mesma histórias que contara para ela e o ensinando a explorar, escalar e coisas mais... Coisas que seu filho não aprenderia com o pai... O pequeno Cameron teria de ser moldado para uma forma diferente de uma criança semideusa normal. Muitos semideuses já havia visitado aquele lugar no Quebec, sempre pedindo ajuda ou querendo algo da família e todos pereceram como enfeites... Não, seu filho não seria parte daquela corja, ele iria ter de aprender a se erguer e lutar sozinho, sem protestos.

Do lado de fora do palácio, Calais observava a neve cair tendo em posse uma espada tão vítrea quanto uma placa de gelo. O dia estava tranquilo exceto pelo centro das atenções que era sua irmã.

— Já soube das novas? - Disse Zetes ao se aproximar do irmão.

Calais piscou para afastar os pensamentos distantes e então o fitou, ambos usavam as mesmas vestes. Uniformes reais como de príncipes porém seu irmão tinha os detalhes da roupa em um tom de ciano enquanto só dele era mais semelhantes ao marinho. As asas despontavam das costas de ambos, brancas com detalhes arroxeados nas pontas das penas, uma faixa cruzava o peito de cada um e apesar de gêmeos eram totalmente diferentes. Calais era mais paciente enquanto Zetes se mostrava mais frigido.

— Que novas?

— Há boatos de que o bebê de Quione nasce hoje... Esta noite.

— Então teremos um semideus por aqui? Quer dizer... Além de nós mesmos.

— Sim, isso já é um fato há tempos.

Zetes se colocou ao lado do irmão e então permaneceu em silencio. Naquela noite seu pai prometera que aconteceria uma aurora boreal e o sol já se punha no horizontes deixando um fraca luz até que sumisse completamente. Os flocos ainda dançavam no ar e os criados zanzavam pelo palácio.

— Acha que as coisas mudarão? Com esta criança de Quione aqui?

— É difícil dizer, mas podemos garantir que ele ande na linha, sabemos que é muito fácil desagradar nosso pai.

— É verdade...

E os dois ficaram ali com as espadas nas bainhas observando a chegada da noite. A parteira já se prontificava no quarto de Quione e tudo estava preparado, as contrações ficavam cada vez mais insuportáveis mas mesmo assim assim não havia sinais da criança nascendo. Zetes e Calais continuavam a guardar as entradas e Aura e Orítia estavam no quarto da grávida. Bóreas se mantinha sentado em seu trono de gelo sem sinais de que fosse se levantar. As horas se passaram até que chegar à, exatamente, sete da manhã. Já era, oficialmente, o primeiro dia do mês de dezembro e Quione emitiu um som de grito sentindo seu corpo se contorcer. Nesse momento Bóreas abriu os olhos e se levantou de seu trono, suas asas inteiramente roxas surgiram e sua capa se arrastava pelo tapete enquanto ele rumava para os jardins no caminho oposto ao quarto de sua filha.

— Mas um pouco senhora... - Disse a parteira.

A cabeça do bebê já era visível e com um empurrão e um grito da deusa um choro cresceu no quarto. O pequeno Cameron sentia os pulmões arderem e Quione parava de apertar a mão de sua irmã que agora sorria. A serva limpou a criança em uma tina de água gelada e o envolveu em uma toalha de linho branca para leva-lo aos braços da mãe. Orítia sorria plenamente feliz pelo sofrimento da filha ter acabado e pela chegada do semideus, Zetes e Calais foram alertados a comparecer no quarto e rumaram para lá sem pressa. O pequenino se acalmava nos braços da mãe e os lençóis estavam manchados pelo icór dourado dela, ela apenas ordenou que o pequeno Cameron se calasse e depois de alguns segundos ele se aquietou em seu seio materno, o frio que ela transmitia o reconfortava imensamente.

A essa altura, o deus do vento norte se encontrava no jardim da filha, em frente a um buraco escavado no solo, ele deixou uma gota de cristal cair no buraco e fez com que os ventos o cobrissem com neve. Bóreas admirou os tons de azul e branco do local e um levíssimo sorriso se delineou em sua face rígida.

— Bienvenue Cameron... Veremos se conseguirá resistir ao tempo e manter sua vida, e se acaso não for útil a nós terei em você uma excelente estátua para meu acervo.

Ele se virou e caminhou a passos calmos de volta para o palácio onde se reuniria com sua família novamente. Um leve brilho surgiu por debaixo da neve e uma muda de galhos brancos surgiu onde Bóreas havia enterrado a gota de cristal.


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Notas finais do capítulo

São as diferenças que nos tornam únicos...E é aqui que nossa história realmente começa. Será que este semideus conseguira se provar digno de estar na presença dos boréades e receber sua confiança? Só saberemos com o decorrer desta história.