Isabella

Muitas vezes a vida nos prega peças nas quais não sabemos como atuar. Alex estava sentado em minha frente com as mãos sobre a cabeça. Sua respiração parecia estar acelerada demais, podia sentir a tensão que estava sobre seus ombros. Respirei fundo e me sentei ao seu lado um pouco distante. Josh apareceu na sala, pela sua expressão parecia estar surpreso, tanto quanto eu. Olhei para Alex que ainda permanecia na mesma posição. Alguns minutos se passaram e um silencio perturbador se instalou no ambiente. Abri a boca na tentativa de falar algo, mas não consegui dizer absolutamente nada. Tentei buscar as palavras certas, mas tudo parecia tão inapropriado para aquele momento. Entendo o que o Alex deve estar sentindo, não é comum descobrir que seu pai tem outro filho que na verdade é seu melhor amigo. É tão confuso pra mim, quanto pra ele.

– Eu não sei o que dizer. – disse Alex.

– Descobri isso recentemente, o Ricardo procurou o John e...

– Não chame ele de Ricardo, agora ele também é seu pai. – Alex ergueu a cabeça e olhou em meus olhos, uma lágrima escorreu de seu rosto.

– Você esta chorando? Esta triste?- coloquei minhas mãos sobre seu rosto e limpei as lagrimas que caiam sem parar.

– Isa. – Alex pegou minha mão e a beijou delicadamente. – Agora é minha irmã, isso não poderia me deixar mais feliz. – o abracei forte e o enchi de beijos. – Eu te amo, ainda mais.

– Agora eu tenho dois irmãos, me sinto a garota mais feliz do mundo. – Alex continuou a me abraçar.

– E não esquece que tem o melhor namorado do mundo. – gritou Josh.

– Jamais amor.

Alex ficou conosco para almoçar, conversamos mais um pouco sobre a novidade. O estranho era que nada mudou entre nos, permanecíamos os mesmos, e eu que pensava que ele mudaria comigo, seria mais rude ou talvez mais serio e aconteceu completamente diferente.

Durante a noite acordei assustada, tive um sonho tão ruim com Josh. Parecia tão real que chegou a me dar medo. Olhei para ele que estava dormindo tranquilamente ao meu lado, levei a mão até o seu rosto e o acariciei.

– Ninguém me faz tão feliz quanto você me faz, amo você. – beijei seu rosto de leve e me deitei novamente.

...

Preto ou vermelho? Olhei- me no espelho pela decissima vez e não me agradava da roupa na qual estava vestida. Por mais que Vick tenha me dito que o preto seria melhor eu voltava a olhar para o vermelho. Mas pensando bem, quem usaria um vestido vermelho em uma janta na casa dos pais?

A verdade é que estou me sentindo insegura demais, não sei como me portar frente o meu pai, tudo é novo pra mim. E sem o John se torna tão vazio, é como se um pedaço meu estivesse perdido. Ninguém sabe, nem mesmo o Josh, que todas as noites antes de dormir eu peço a Deus que o meu irmão mude de ideia e venha ao meu encontro. Meu coração doi tanto de não poder ve-lo. É ruim saber que ele esta em um lugar onde eu não esteja e que estamos perto, mas ao mesmo tempo tão longe.

Arrumo o ultimo detalhe do meu vestido e me olho do espelho. Ao ver meu reflexo noto uma lágrima solitária descer meu rosto lentamente. A pior das dores é aquela no qual se carrega na alma, aquela no qual te doi tanto que parece não couber dentro do peito.

Ouvi uma batida na porta, rapidamente limpo a lágrima do rosto e me viro em direção há porta. Alex coloca a cabeça para dentro e sorri ao me ver. Sorrio fraco tentando disfarçar a tristeza que havia se formado em meu coração.

– Oi loira, nossa que gata ein, se não fosse teu irmão eu te pegava. –ironizou. - Alex veio em minha direção e me abraçou. Seus olhos analisaram minuciosamente o meu rosto. Logo ele percebeu que algo havia de errado comigo. Alex me conhece e sem duvida não deixaria isso por despercebido.

– Que houve gatinha?

– Nada, não quero falar disso agora.

– Tem certeza? A gente pode ficar aqui essa noite e conversar.

– Acho melhor a gente ir, o Ricar.. nosso pai esta esperando por nós.

– Você promete que irá ficar bem? Não quero te ver assim. - Alex pegou meu rosto com as duas mãos e beijou o topo da minha cabeça.

– Prometo. – sorri fraco.

O jantar iniciou com um prato maravilhoso, preparado por Ricardo, que segundo ele é um ótimo cozinheiro. E realmente ele estava certo, o prato estava perfeito. Alex e Ricardo não paravam de contar suas histórias engraçadas, nos fazendo rir. Megh e a minha madrastra conversavam algo sobre sapatos e eu permanecia quieta. Josh ainda estava no hospital, ao menos me mandou uma mensagem avisando que não viria. Durante essas duas semanas que se passaram não nos falamos muito, a faculdade esta um caos, provas e trabalhos até o pescoço e o hospital nem se falava. Com o cargo tão importante sua responsabilidade havia aumentado significativamente. Alex falou algo interrompendo meus pensamentos.

– Gente eu queria compartilhar algo com vocês. – disse Alex. – Olhei para ele e vi um sorriso estampado em seu rosto. Alex se direcionou até Megh e se ajoelhou em sua frente. – Megh, lembra quando nos conhecemos? Aquele dia no térreo do prédio? Você estava tão agitada que deixou seu casaco cair no chão e eu gentilmente peguei pra você? – sorriu. - Desde aquele dia eu soube que de uma maneira ou outra o seu coração seria meu. E quando a Isa me propôs aquela proposta maluca, eu já sabia que não conseguiria ir tão longe fingindo ser seu falso namorado. Então decidi te conquistar e falar a verdade para meus pais. E hoje na presença das pessoas mais importantes para mim eu quero te pedir algo. – Alex tirou uma caixinha vermelha do bolso e abriu revelando um anel. – Quer ser minha namorada? – Megh olha para Alex ainda surpresa e responde.

– Claro que quero. – Alex a deu um selinho carinhoso e colocou o anel em seu dedo.

Os parabenizamos e o jantar seguiu cheio de risadas e brincadeiras. Depois de quase uma hora Josh me manda uma mensagem avisando que não poderia ir ao jantar. Nesse momento já estava no auge do stress.

Me despedi do pessoal, dando uma desculpa que estava com dor de cabeça, quando na verdade queria estrangular o Josh por perder o jantar da minha nova família. Afinal, agora eles eram a minha única família, já que eu e John não nos falamos mais.

Chegando em casa vi Vick sentada no sofá com um pote de sorvete nas mãos, que assistia um programa de culinária.

– Isa, vem cá precisamos conversar. – me aproximei e sentei no sofá. – Marquei meu ultrassom pra daqui a uma semana e eu queria pedir pra você ir comigo se quiser é claro. – sorriu tímida.

– Claro que vou sim, afinal sou a madrinha. – sorri.

– Você me parece triste, esta tudo bem? - Vick analisou meu rosto minuciosamente.

– Não muito, estou achando que o Josh esta tão distante.

– Ele anda trabalhando muito, o cargo aumentou por isso ele não para em casa. E ainda tem a faculdade, provas e trabalhos, dá um desconto pra ele.

– Acho que estou me prendendo demais no Josh, talvez seja porque ele é a única família que tenho, tirando o meu recente pai.

– Olha Isa, posso te dar um conselho? – Assenti. – Se a sua dúvida é em relação a fidelidade do Josh, pode ficar tranquila, porque até se a Jennifer Lopes aparecesse na frente dele se oferecendo, ele não te trocaria. – Sorri forçado.

– Não que seja isso Vick, é que as vezes me bate a insegurança. Mas deixa pra la vou dormir, estou começando a ficar com dor de cabeça, o dia foi cheio. - sorri fraco.

Entrei em meu quarto, escolhi uma roupa e fui tomar banho. Deixei que água caísse sobre meu corpo por cerca de meia hora. Me deitei na cama e rapidamente peguei no sono.

...

Josh

Tempo, essa palavra esta me consumindo ultimamente. Gostaria que meu dia tivesse 26 horas, porque administrar tempo pra faculdade, trabalho e namoro é tão complicado. O hospital esta me consumindo completamente, até parece que depois que Nicole entrou para a equipe as horas de serviços aumentaram, e acredito que isso seja um tanto proposital. Nem parece que essa garota fez faculdade, pois sempre esta no meu pé me perguntando algo. O que me incomoda não é o fato dela perguntar, mas a forma como me olha, sempre tentado parecer inocente, mas com um olhar de malicia. Já vi que ela demonstrava interesse em mim, era nítido, até os meninos da outra equipe vieram conversar comigo, mas não estou interessado, até porque a loira conseguiu me amarrar de uma maneira que nem sei como explicar.

As semanas foram se passando e mal vejo a Isa, pois quando chego ela esta dormindo, apenas de manhã podemos conversar, mas por pouco tempo. Estava com saudades das suas risadas e do seu perfume. Daquele jeito de menina inocente que só ela tem.

Durante os meus turnos vi varias vezes John, que nem ao menos conversava comigo. Apenas falávamos de assuntos referentes aos pacientes. Eu gostaria tanto de que ele entendesse os meus motivos e de voltar tudo como era antes. Sinto falta do meu irmão, o John pra mim é parte da minha família, e isso considero muito antes de pensar em ter algo com a Isa.

Não vejo a hora de acabar com toda essa confusão, a única coisa que eu peço é que ele me entenda e veja que apesar de eu não ser o cara mais qualificado para a irmã dele, eu a amo, até muito mais do que eu pensei imaginar.

Isabella

O calor estava escaldante, tanto que a aula de educação física teve que ser no ginásio. A professora teve a ótima ideia de nos dividir em dois times mistos para jogar vôlei. No começo a turma relutou muito, mas quando ouviram que valeria nota todos correram para quadra, inclusive eu.

Começamos a jogar na euforia, tanto que no primeiro set ganhamos de 20 x 12. Já no segundo set perdemos de 20 x 10. E a decisão seria no ultimo set que estava disputado, ambos os times queriam a vitória. Não que valesse algo, mas porque todos são um tanto competitivos demais.

A bola havia caído em Megh que passou para Erick que jogou para mim, mas por questão de segundos uma tontura me tomou conta. Só vi que iria cair para trás quando meus olhos rapidamente ficaram escuros fazendo com que meu corpo caísse ao chão.

...

Na tentativa de abrir os olhos, só conseguia enxergar rostos embaçados e vozes chamando o meu nome. Forcei – os novamente dando de cara com Josh me analisando. Seu olhar estava sobre o soro que estava no alto de minha cabeça. Ele anotou algo em uma prancheta e voltou a me olhar.

– Isa, esta me escutando, sou eu Josh.

– Eu sei seu bobo, consigo te ver. – ironizei.

– Só estava testando seus olhos. - piscou.

– Parece que só nos vemos quando eu esbarro por aqui. – Josh se aproximou de mim e pegou minha mão.

– Não fala assim, fiquei preocupado com você.

– Isso não foi nada, acho que foi apenas o calor.

– Seu nível de glicose abaixou muito, por isso desmaiou. Por acaso hoje você comeu algo? E não me diga que foi apenas uma barrinha de cereal.

– Eh hoje não comi nada, porque estava atrasada pra escola. Como você teve plantão acabei tendo que ir de ônibus e perdi o horário. – Josh me olhou serio me repreendendo com o olhar.

– Que isso não aconteça mais Isabella, ou teremos que ter uma conversa particular.

– Quem sabe assim a gente fica mais tempo junto. Estou pensando em me internar aqui, talvez te veja mais. – ironizei.

– Não fala uma coisa dessas Isabella, nem brincando. – beijou o topo da minha cabeça.

– O John apareceu por aqui?

– Sim, ele que te deu o pronto atendimento, mas depois que você passou para esse quarto, minha equipe ficou como responsável, já que nos somos “parentes”.

– Quando vou sair daqui? Já estou me sentindo melhor, acho que posso ir pra casa. – olhei para a bolsa de soro que pingava o liquido lentamente.

– Depois que os exames ficarem prontos, e eu ver os resultados pode receber alta.

– E quanto tempo demora?

– Cerca de umas cinco horas. Ou seja, no final do meu plantão. – sorriu.

– Ah não, logo hoje que sairia a nova temporada da minha serie. – bufei.

– Quem mandou não se alimentar. – Josh deu os ombros.

– Vou chamar outro médico pra me atender, você é bem mal Educado. – o provoquei. – Já até vi um ótimo por aqui, aquele loirinho de olhos verdes. – Josh fechou a cara e soltou minha mão.

– O Rodrigo? Ele é da medicina interna, não te atendera. – falou com sarcasmo em sua voz.

– Nem se eu jogar meu charme? – continuei ao provocar.

– Não ouse abusar da minha paciência Isabella. – Josh se virou, anotou algumas coisas na prancheta que estava em suas mãos e saiu.

Depois de quase 5 horas um médico veio até mim e me trouxe os resultados dos exames que foram todos positivos. Recebi alta e fui até a sala de Josh, já que seu plantão estava no fim decidi o esperar na porta de fora. Me sentei em um banco e fiquei esperando dar a hora de saída. De longe vi Josh acompanhado de uma loira, seu rosto era um tanto familiar. A tal garota parou Josh no meio do caminho e pegou sua mão, rapidamente ela levou sua mão até o rosto dele e acariciou o lugar.

Meu sangue ferveu ao ver aquela cena, mas ao mesmo tempo o velho sentimento de insegurança me bateu. Caminhei rapidamente aonde eles estavam interrompendo aquela cena nada agradável. Josh olhou para mim um tanto surpreso.

– Nunca mais encoste no meu namorado sua piranha. - dei um tapa em sua cara e puxei Josh pelo braço.