Amor verdadeiro escrita por ananda s2 gina e ferdinando


Capítulo 5
Mal entendido


Notas iniciais do capítulo

desculpa pela demora mais ta ai bjs



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[...]

– Não, Gina! Volta aqui, por favor!
Gritava Ferdinando, com os olhos marejados e o coração apertado.
A sala, que até então abrigada os mais variados sons de talheres e vozes, se tornou absurdamente silenciosa. Todos estavam como que congelados, tomados pela surpresa, uma das presentes, pela culpa, outro, pelo desespero. Esse ultimo foi o primeiro a quebrar o silêncio.
– Aurora, agora você passou dos limites. O que te deu na cabeça pra fazer isso com a Gina?
Ele a olhava com olhar de reprovação, demonstrando clara decepção.
– Me desculpa Nando. Eu... eu nem sei o que me deu! Eu achei que vocês puser estar... ah, Nando.
A moça gaguejava, tentando explicar o inexplicável.
– Depois nós conversamos. Agora a única coisa que me importa é achar a Gina e desfazer esse mal entendido que você armou.
Nando ainda tinha em sua mão direita a pulseira, a pouco arremessada pela ruiva. Aurora não pode deixar de notar a semelhança entre ela e o acessório que o noivo carregava no pulso.
– Seu Pedro, não se preocupe, eu vou fazer o melhor que eu puder pra achar a sua filha e trazer ela de volta. – garantia o engenheiro, querendo acreditar nas próprias palavras.
– Vá sim, meu amigo Ferdinando, vai que eu fico aqui cuidando da mãe dela, que não está passando bem, sabe?
O senhor de barba e cabelos ruivos amparava a senhora, que estava a ponto de desmaiar devido aos últimos acontecimentos.
– Por favor, Nandinho! Vá e traga minha Gina o mais rápido possível!
Dona Tê já não segurava mais as lágrimas, ao implorar para o engenheiro.
–Vou sim, dona Tê. Fique tranquila que eu só volto aqui, quando a Gina estiver junto comigo. Meu pai, eu levarei o Zelão, o Isidoro e o Rodapé comigo.
Ferdinando tentava raciocinar sobre a melhor tática para encontrar a jovem, mas era invadido por um incomum sentimento de culpa, como se fosse responsável por ela e qualquer perigo que ela pudesse correr, ele jamais se perdoaria.
– Vamos meu filho, eu sei que a moça é valente, mas existem muitos perigos nesses matos a noite. Vá logo e leve quem você quiser contigo.
O Coronel Epaminondas ordenava. Ele não gostava muito da moça, mas daí a deixa-la correr riscos era outra história.
– Muito obrigada meu pai. Vamos, Zelão! Chame o Roda e o Isidoro, por favor.
Neste momento, sem que ninguém percebesse, olhares foram trocados entre o capanga de vestes negras que adentrava a porta e a bela moça de cabelos róseos. Não passou disso, pois logo o olhar terno foi substituído pela voz do engenheiro, que chamava a atenção dos três homens para si.
– Zelão e Roda irão pelos arredores da fazenda procura-la. Se a acharem, tragam ela aqui pra minha casa ou a leve para a sua casa, dependendo da distância. – Ferdinando segurou nas mãos dos capatazes e amigos, finalizando: - Façam o melhor que puderem, por favor.
– Sim, dotôrzinho, mas porque procurar a Gina, o que aconteceu?
Zelão parecia confuso, tanto pela situação, quanto pelo azul dos olhos que acabava de fitar.
– Depois eu explico direito, meu amigo.
Ferdinando olhava para Aurora com o olhar ainda mais acusador, fazendo-a bufar, indignada com a atenção que a então amiga de infância recebia de seu noivo.
– Quando eu voltar, temos muito o que conversar, Aurora.
Disse finalmente à noiva, que revirou os olhos com a fala do jovem.
“O que será que ele vai fazer? Será que vai terminar o noivado? Não por causa daquela uma... não é possível! Justamente agora que eu estou conseguindo o que meus pais tanto querem, que é entrar pra família Napoleão, ela chega e acha que pode destruir tudo? Não mesmo! Não vou desapontá-los” pensava a moça de cabelos castanhos, que já havia subido as escadas e agora se trancava no quarto de visitas da mansão.
– Quem diria, amigo Pedro, que a noiva do meu filho causaria tantos problemas em uma só noite, não é mesmo? Eu pensava que essa atitude viria de sua filha, e não dela;
– É o que? O que você tá dizendo da minha filha?
– Nada, amigo Pedro! Besteira minha. Tomara que o Nandinho ache logo a sua filha e que ela esteja bem. Disse o coronel, desviando o foco da sua infeliz colocação.
***
Gina ainda não acreditava no que havia acontecido. Grossas lágrimas corriam pelo seu rosto, enquanto caminhava a passos largos em direção ao estábulo. Já havia passado os limites da fazenda Napoleão e agora adentrava a sua. Havia uma dor imensa em seu peito. Uma sensação de que algo muito valioso estivesse sendo tirado dela, algo como perder uma coisa ou alguém a quem se ama muito. Gina parou, ainda tirou os sapatos de salto alto, jogando-os em meio ao matagal.
“Não posso acreditar. Eu ainda achava que eramos amigos... não é possível que o Ferdinando tenha mudado tanto desde que eramos adolescentes” pensava a ruiva, invadida por memórias em que ela e o amigo corriam pelos campos de trigo, brincando e cantando, sem se importar com nada além da amizade entre eles. “Ele foi muito importante pra mim, mas jamais vou perdoar por isso que ele me fez...”.
A dor em seu peito apenas aumentava e o vazio que sentia era tão grande que não a permitia pensar em outra coisa que não fosse sair dali, correr para o mais longe que pudesse, onde não fosse obrigada a encarar seus pais, a amiga Juliana, ou pior ainda, o par de olhos azuis que insistentemente lhe invadiam a mente.
Aproximando-se do estábulo pouco iluminado, chamou pelo seu fiel companheiro.
– Vem Pipoca! sou eu, a Gina!
O cavalo, reconhecendo a voz da dona, se aproxima da moça, que segue com ela na escuridão da noite. A escura paisagem da fazenda era iluminada apenas pela lua, já que o céu estranhamente não trazia estrelas naquela noite. A visão era perfeita para um encontro apaixonado, mas esse, definitivamente, não era o caso.
Andando sem rumo pela fazenda, Gina observa algum animal se movimentando por trás de alguns arbustos, mas não consegue identifica-lo, já que Pipoca se assusta e sai em disparada, galopando em direção a um rumo que a moça desconhecia.
Com certo custo, ela conseguiu fazer com que o animal parasse, puxando a rédea e tomando novamente o controle.
– Ô, Pipoca, tá tudo bem, foi só um susto!
Ela o acalmava, ainda montada sobre o cavalo, acariciando suas lindas crinas, quando reconhece um som familiar.
– Eu não acredito que você trouxe a gente pra cá, Pipoca! Essa cachoeira é o último lugar que eu queria estar agora. Tudo o que eu quero esquecer, esse lugar me faz lembrar...
Ela estava atordoada. Lágrimas já se formavam novamente em seus olhos, embargados de lembranças, tristeza e decepção.
Descendo do cavalo, andava pelo local que estava ainda mais belo, à luz da lua e de alguns raios que iluminavam o céu esporadicamente sem que ela percebesse, pois estava afogada em suas memórias.
***
Na casa dos Napoleão, Maribondo dava à seu Pedro a notícia que poderia mudar os rumos daquela procura.
– Eu fui até o estábulo da fazenda e o Pipoca sumiu! O estranho é que ele sai apenas comigo, o senhor ou a menina Gina!
– Pois então não se preocupe, Maribondo, porque a própria Gina deve ter pego ele.
Dizia o senhor, com ar de alívio. Estando na companhia do animal, com certeza Gina estaria mais protegida do que se cercada por muita gente. Pipoca conhecia a ruiva desde sempre e eles tinham uma amizade que até parecia que o cavalo podia conversar com a moça.
– Ô mãe, dona Juliana! - Chamava Pedro. – É melhor a gente ir pra casa, porque assim que o Ferdinando encontrar a nossa filha, ela não vai querer vir pra cá.
– É mesmo pai! E se ela foi lá pra casa antes do dotôr Nando encontrar ela e não tiver ninguém por lá, aí sim aquela menina pode fugir de vez. – Dona Tê exagerava, como de costume.
– Nossa, dona Tê! Não é pra tanto... mas vamos sim! Estou mesmo preocupada com minha amiga. – Disse Juliana, de forma delicada.
Despediram-se do Coronel Epa e sua família. Este assegurou que, qualquer fosse o horário, se precisassem de ajuda, não hesitassem em chama-lo. Sentia-se, de certa forma, culpado pelo acontecido.
***
Ferdinando, que ia a cavalo em direção à saída da fazenda, na companhia de Zelão e seu inseparável Quarta-feira, é alcançado por Pedro Falcão e as outras duas, que seguiam para sua propriedade.
– ô Ferdinando, ainda bem que eu te encontrei ainda por cá! Maribondo veio avisar que o Pipoca sumiu. Tenho certeza que ele tá com a Gina.
– Pipoca? Quem é Pipoca?
– O cavalo dela, dotorzinho. Ele sai daquele estábulo só se for comigo, com Maribondo ou com a minha menina!
– Pois a sua filha é mesmo muito corajosa, seu Pedro! Sair a essas horas por esses matos, à cavalo é muito perigoso pra uma moça como ela. Mas fique tranquilo que eu vou fazer o impossível pra achar a nossa... a sua Gina seu Pedro! – Disse Ferdinando, disfarçando pelo que quase acabara de dizer.
– A minha menina sempre foi corajosa e você sabe muito bem disso, Ferdinando. Eu confio que ocê vai achar ela e levar sã e salva pra nossa casa.
– Pode ter certeza disso, meu amigo. Vamos Roda, vamos Zelão? – chamava o engenheiro, ainda mais decidido a encontra-la.
***
Seu Pedro, Dona Tê e Juliana haviam chegado em casa, quando uma fina garoa caía sobre a propriedade.
– Ai meu Deus do céu, Pedro! Tá começando a chover e essa menina perdida por aí! – sofria a mãe, com a mão sobre o peito, demonstrando aflição pelo pensamento.
– Fica calma mãe, a Gina conhece esse lugar como a palma da mão dela e daqui a pouquinho o Nando tá estourando com ela por aqui! – Acalmava Pedro, enquanto Juliana servia uma xícara de chá para acalmar os nervos da senhora.
– Eu gostaria muito de esperar a Gina com vocês, mas eu realmente estou muito cansada e amanhã devo acordar bem cedo para ir à escola. Assim que tiverem notícias da minha amiga, me avisem, por favor! – Pedia Juliana, subindo as escadas em direção ao quarto. – Boa noite!
– Vai sim, professora... Eu e Pedro ficamos aqui, esperando.
***
Ferdinando, ao perceber os pingos de chuva que se formavam, dispensou os dois amigos. Seguiria sozinho na busca pela ruiva. Algo em seu coração o remetia a uma lembrança distante, que o dava certeza que a encontraria em um certo lugar. Um lugar especial.

***
– Você tá vendo Popoca? O último lugar que eu queria estar hoje era aqui e olha só onde você me trouxe? Mas eu prometo pra mim mesma que nunca mais volto aqui. Nunca mais!
– Não prometa... o que você não pode cumprir, Gina! – Dizia Ferdinando olhando seriamente para ela.
A visão que ela teve naquele momento a fez estremecer. Ferdinando estava ainda sobre seu cavalo, iluminados pela luz do luar e sendo atingido pela fina garoa que agora caía. O cenário, nada menos que nostálgico, misturado à imagem do engenheiro a fizeram perder o fôlego. Estaria ela imaginando aquilo tudo?
Quando ele desceu do cavalo, rumando em sua direção, ela pode perceber que não. Ele era real.
– Nossa, Ferdinando! Você me assustou! Como descobriu que eu estava aqui? E quem disse que eu não posso cumprir minha promessa? – Dizia ela, o encarando.
– Assustei porque, Gina? Sou eu, o Ferdinando! E respondendo às suas perguntas, eu vim porque algo me dizia que eu te encontraria aqui, nesse lugar. Você não vai cumprir essa promessa Gina, porque eu não vou deixar.
– e você acha que é quem pra deixar ou não eu fazer algo, seu engenheirinho? – Dizia a ruiva, com os olhos semicerrados, desafiando o jovem a sua frente.
– Ara porque... porque... – nem ele sabia ao certo, mas sabia que de certa forma tinha direito sobre essa escolha – Porque eu lhe quero muito bem, Gina! E além do mais, esse lugar é especial pra mim tanto quanto pra você. Ou você se esqueceu que foi aqui o seu primeiro beijo, Gina? Ou melhor, que foi aqui o NOSSO primeiro beijo? – ele dizia, já se perdendo em pensamentos que o remetiam ao passado, se aproximando lentamente da moça a sua frente, como que atraído por algum magnetismo que emanava do corpo dela, quando é despertado de seus devaneios, ao ouvir a voz dela dizer, firmemente.
– Especial, Ferdinando? Especial só se for pra você e sua namoradinha, por que pra mim esse lugar não significa nada. Eu nem sequer me lembrava que aconteceu alguma coisa aqui, afinal não passou de uma aventura de adolescentes, não é mesmo? Algo sem importância...
– Não Gina, Não foi coisa de adolescente e você sabe disso. O que vivemos aqui foi muito sério sim. Saiba que eu tenho muito carinho e admiração por você, tanto que deixei a Aurora pra vir procurar por você. – Ele dizia, a fitando nos olhos, enquanto acariciava sua mão direita em um toque naturalmente carinhoso.
– Não acredito em mais nenhuma palavra sua, Ferdinando. Qualquer confiança que eu tinha em você, acabou hoje naquela jantar. Você mostrou mais uma vez que não passa de um covarde. – ela puxou sua mão das dele, para enxugar a lágrima solitária, que caía sobre seu rosto com a constatação.
A menção da palavra o remeteu mais uma vez ao passado.
– Gina, você sabe muito bem e eu já lhe provei que não sou nenhum covarde.
O olhar de ternura dele, se transformava em um olhar desafiador.
O olhar de decepção dela, se transformava em um olhar de expectativa.
Ambos mergulharam em lembranças, em sensações que há muito não sentiam.
– Provou? Mas eu já disse que não me lembro de nada disso. – sua voz beirava ao desafio.
– Pois eu não tenho problema nenhum em lhe fazer lembrar, Gina... – Disse o engenheiro, com a voz rouca, quase falha.
Ferdinando passou o braço direito pela cintura da ruiva, enlaçando-a a e trazendo pra mais perto de si. Gina se sentiu em um dejávù, como se já tivesse passado por aquilo, mas dessa vez com um sentimento ainda mais forte, um desejo que desconhecia. Sentiu seu corpo se arrepiar com esse simples toque.
Ele percebeu as reações causadas no corpo da ruiva com a sua aproximação e decidiu que o que sentia vontade no momento era o certo a ser feito. Aproximou-se lentamente do rosto dela, fitando desejosamente seus rubros lábios. Gina sentiu a proximidade do engenheiro e sabia o que viria a seguir. Se renderia sem relutar, se não fossem os grossos pingos de chuva que agora caíam sobre eles, anunciando a chegada de um forte temporal.
A moça despertou do transe de entrega em que se encontrava, afastando-o ligeiramente e correndo em direção à uma pequena caverna que havia no lugar, procurando abrigar-se da chuva que os atingia. Ferdinando seguiu logo atrás, ainda tonto pelo que quase aconteceu, abrigando-se no lado oposto da caverna, mantendo certa distância daquela que tanto o atraía.
“Por que eu fico assim quando estou perto dela? Eu perco a razão, isso nunca me aconteceu... nem pela Aurora eu me sinto assim, tão atormentado” pensava o rapaz.
A mesma pergunta mental era feita pela ruiva, que ainda sentia-se como uma adolescente, com os nervos a flor da pele diante do que quase aconteceu entre os dois jovens.
Ferdinando a observa, encolhida próxima a parede da caverna, tremendo de frio. O vestido dela provavelmente estaria molhado.
– Gina, fique aqui perto de mim, podemos nos aquecer melhor.
– Pra que, Ferdinando? Pra você tentar aquilo outra vez? – indaga, confusa.
– Ora... Foi você que me provocou! Mas saiba que não, eu prometo que não vou fazer nada, juro! Só não quero que você fique doente por conta de um resfriado. – ele tentava argumentar.
– Ahh... mas então prometa não me amolar mais as paciências, Ferdinando.
– Claro, claro, senhorita Gina, como quiser. – ele disse sorrindo. Antes de aconchega-la em seu abraço, tirou o blazer, que ainda o mantinha aquecido.
– O que você acha que está fazendo, Ferdinando? – Disse ela, observando o gesto do engenhrito.
– Calma, menina, eu quero apenas lhe proteger, posso? – Disse cheio de razão, enquanto estendia a peça sobre o corpo frio dela, a aconchegando em um suave abraço.
Por mais que fosse difícil admitir, Gina teve uma sensação de paz instantânea. Se sentia protegida e, incrivelmente, sentia que não havia melhor lugar para estar naquele momento. O engenheiro sentia a mesma calma e satisfação em estar ali, novamente naquele lugar, com aquela que sempre fez parte de suas melhores lembranças.
– Nando... – ela indagou, fitando seu rosto.
Ele esboçou um sorriso involuntário, causado pela menção, também involuntária, do apelido.
– Quer dizer, Ferdinando... Isso é errado, você agora é noivo e com certeza sua noiva não gostaria que estivesse nessa situação agora.
– Pois que eu saiba, não é errado ajudar uma amiga que está com frio. Tenho certeza que ela entenderia.
Apesar de duvidar dos argumentos dele, tudo o que ela queria era permanecer naquele abraço aconchegante. Dessa forma, adormeceu nos braços do engenheiro, que a amparava, ainda encostado em uma das paredes da pequena caverna, que os abrigava da chuva, incessante durante toda aquela conturbada noite.
cont...


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