Wild&Free escrita por Dani Schirmer


Capítulo 3
I have to let you go




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“Durantes anos o homem acreditou que podia domar o que é selvagem, mas essas teorias os fizeram entrar em confronto com povos que ali já habitavam, e com este pensamento de que se doma o que é selvagem, destruíram muitas vidas e separaram muitas pessoas, mas tudo o que eles precisavam saber era que não se doma o que é selvagem, se conquista”

– Acredito que nesse pequeno trecho do meu trabalho já diz muita coisa. – Digo olhando para a turma.

– Obrigada Senhorita Van Looly. – Ela sorria enquanto folheava o trabalho.

Sentei-me no meu lugar habitual e fiquei a espera de Anne para irmos pra aula do professor novo, hoje era finalmente sexta feira, o dia das bruxas era amanhã ou como eu melhor o conhecia, o dia de todos os santos.
O sinal tocou e peguei minhas coisas, fui caminhando lentamente até a sala, mas por algum motivo estranho ela estava vazia, sentei-me na última fileira num canto e coloquei os pês na cadeira da frente, retirei da bolsa meu caderno de desenho e coloquei sobre uma folha todos meus sentimentos, durante todos esses anos, o Halloween era o momento mais perto que eu tinha de me sentir em casa, era o dia no qual os espíritos podiam andar entre nós, o dia no qual eu poderia ver Astila, mas ele nunca aparecia.

– Me surpreendo em sempre lhe ver perdida ou desenhando. – A voz era tipicamente britânica. – Não recebeste meu recado?

– Não. – Fecho o bloco e o guardo em minha bolsa, mas fico um pouco sem ar ao ver quem era o novo professor.

– Que milagre, a senhorita não está perdida hoje ou perdendo algo. – Ele estava sentado sobre a mesa e parecia estar lendo algo.

– Onde está o resto da turma? – Digo enquanto me levanto.

– Estão preparando a festa de Halloween da Universidade, espero lhe ver amanhã. – Ele fecha o livro e me olha diretamente.

– Não sei, tenho mais o que fazer. – Paro na frente dele. – Se me der licença. – Saio da sala.

Assim que chego em casa vou ao estabulo de Wicapi e a solto de sua baia, prendo uma pena em sua longa crina e a olho diretamente em seus olhos, durante todos esses anos ela era como uma mensageira, levava meus recados aos mortos, ela estava morta.

– Va em paz menina, você está livre. – Deixo uma lagrima cair e a vejo sumir como poeira no vento, abaixo-me e começo a chorar. – Os espíritos me deram o poder te deixar ao meu lado até quando eu precisasse, mas eu não conseguia mais prende-la aqui, estava na hora dela encontrar a paz.

Assim que amanheceu comecei a ouvir as vozes, era como se minha casa virasse um centro de reuniões de velhos Cherokees, eles andavam livremente, mas nesse dia em especial eu sempre tentava os ignorar, por que doía muito não ver Astila entre eles, a única pessoa que eu queria ver era ele.
Sentei-me na varanda e fiquei olhando aquelas pessoas se cumprimentarem e se abraçarem, conversando como se tivessem voltado de viagem, mas toda aquela bela cena foi quebrada pelo toque do meu celular.

– Oi Anne. – Falo com indiferença.

– Esta no viva voz, Louise, Clara e Alice estão aqui. – Ela ria.

– Oi Gente, onde vocês estão? – Rio.

– Indo se arrumar para a festa. – Louise gritava no fundo.

– Ok, vejo vocês mais tarde. – Desligo o telefone e vou ao meu quarto. – Vamos de Cherokee então.

Depois de algumas horas me arrumando, finalmente estava pronta, duas tranças uma pena presa no final de uma e um sorriso no rosto, peguei minha bolsa e fui confiante em direção a minha moto, mas então quando fui procurar a chave percebi que meu caderno não estava lá.

– Merda! – Subo na moto e tento me lembrar a ode poderia ter o deixado.

Assim que parei a moto no estacionamento perto do prédio principal já dava para se ouvir a música, algumas pessoas passavam ao meu lado com fantasias, mas a única coisa que eu queria era achar meu caderno.
Andei pelos corredores do prédio principal com um pouco de medo, meu dia estava péssimo e meu coração pesado, tudo o que eu mais queria era ver Astila, só queria estar com ele novamente

Depois de uma hora olhando em quase todas as salas e nenhum sinal do meu caderno, fui finalmente pra festa, peguei um copo de cerveja e me escondi numa parte escura e vazia, tomei um gole e fechei os olhos por alguns segundos.

– Acho que nunca vi uma índia tão bela. – A voz vinha da escuridão, mas então aquele homem misterioso surgiu.

– A onde está sua fantasia? – Sorrio e olho pra ele.

– Estou de professor, não está vendo? – Seu sotaque era charmoso. – Acho que não me apresentei ainda. – Ele sorri e pega minha mão e a beija. – Sou Alexander Humphrey e creio que você seja a Senhorita Van Looly, estou certo?

– Sim, Nina Van Looly. – Sorrio e tomo outro gole da cerveja.

– Tenho algo que lhe pertence. – Ele tira meu caderno de dentro do casaco.

– Obrigada. – Pego meu caderno e o guardo na bolsa. – Estava aflita o procurando.

– A senhorita o esqueceu na sala de aula, mas creio que nunca vi uma índia tão bela se me permite dizer. – Ele sorri.

– Obrigada professor, mas agora eu tenho que ir, meu caminho pra casa é longo. – Termino de beber a cerveja e volto a andar em direção a minha moto, mas antes que eu pudesse chegar, escuto um barulho e quando olho pra trás lá estava ele novamente.

– Antes que eu esqueça, doces ou travessuras? – Ele sorria.

– Doces. – Sorrio e volto a andar.

Assim que cheguei em casa fui ao estabulo, mas estava vazio, não havia mais Wicapi, não tinha mais nada, somente a solidão e as vozes dos espíritos.

– Um dia você vai enlouquecer. – A voz era de Noya. – Me conte o que te machuca e eu te curarei.

– Não há cura pra uma vida de solidão. – Respondo olhando pra baia de Wicapi vazia. – Ela se foi, a minha menina se foi. – Começo a chorar.

– Todas as coisas belas são selvagens, temos que deixá-los ir por mais que nos doa. – Ela me abraça.

– Lobos, estou vendo lobos em minha terra, Wicapi se foi, está tudo errado. – Grito.

– Eu vim lhe visitar, mas tenho que ir embora, só vim ver como estava. – Ela me dá um beijo na testa e se levanta. – Fique bem.

Entro em casa correndo e me tranco no meu quarto, tiro a pena e a fantasia, coloco meu pijama e me aproximo da janela e fico olhando para a lua, como um lobo que uiva pra ela.

– Eu escolhi você Astila, agora volte pra mim. – Grito. – Eu lhe amei cada segundo, cada minuto, mas você me abandonou, por favor volte pra mim. – Saio da janela e me jogo na cama e fecho os olhos.

Os dias eram frios e solitários, mais um inverno, estava sentada no sentada no sofá de casa tomando um chocolate quente quando ouvi um barulho, levantei rapidamente e fui até o lado de fora e então o avistei, sai correndo e o abracei com força.

– Meu amor. – Disse enquanto chorava.

– Minha guerreira. – Seu abraço era reconfortante. – Achei que nunca mais teria a chance de fazer isso.

– Volte pra mim, não me deixes novamente.

– Eu faria qualquer coisa para estar aqui com você novamente, meu amor é eterno. – Ao terminar de falar ele sumiu.

Cai na neve e continuei a chorar, olhei para os céus e vi a lua brilhando entre a escuridão.

– Vocês tiraram tudo de mim, minha família, meus amigos, tiraram Astila e para que? – Suspiro. – Para uma vida de solidão?

Acordo com um barulho de uivo, levanto da cama correndo e vou a janela, mas a única coisa que avisto é um pequeno pote, desço as escadas correndo a abro a porta e então quando me aproximo percebo que era um pote de doce.

– Feliz Halloween Astila. – Pego o pote e olho pra lua sorrindo e deixando uma pequena lagrima escorrer.


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