Wild&Free escrita por Dani Schirmer


Capítulo 2
He's Dead




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A noite estava estrelada, já fazia quase três dias que Astila não vinha me visitar, o que não era muito normal, estava sentada na varanda de casa a espera dele, mas tudo o que eu via era nevoa e escuridão, o tempo passava e meu coração se apertava, sabia que havia algo de errado.
Subi em meu cavalo e viajei quilômetros até minha velho tribo, cada quilometro, cada pensamento, tudo girava em torno dele, eu precisava velo.
As estrelas me guiavam pela noite, as vezes escutava um uivo ou o som da natureza, mas com o mundo mudando, os sons mudam.

Depois de algumas horas na estrada finalmente havia chegado, desci e corri ao centro da tribo, todos me olhavam de um jeito triste, Usdi uma velha amiga apareceu e me olhou com olhos cheios de aguas, sai correndo e entrei na tenda de Astila, mas então meu coração parou por alguns segundos, abaixe-me ao seu lado e comecei a chorar.

– Você está em Migina, regresso à lua. – Deixo uma lagrima cair e abraço ele, seus pelos cinzentos eram macios. – Astila meu salvador, você estará em paz agora meu amigo, que o Hehewuti, espirito guerreiro e Kamali, espirito guia estejam com você nesta jornada. – Dou um beijo em sua cabeça e me afasto, saio de da tenda e me afasto de todos.

O homem que deu a vida por mim estava morto, todos estavam morrendo, mas eu simplesmente não podia desfrutar desse prazer.
A lua havia sumido, alguns minutos depois que havia deixado a tenda escutou alguns uivos, a natureza estava se despedindo de um dos seus grandes protetores, todos nós tínhamos algo a agradecer à ele mais eu tinha muita coisa ainda para dizer, mas sabia que ele sempre seria meu guardião, não importa quantos anos se passassem.

Acordei com a saudade no coração, meus sonhos eram lembranças de momentos únicos, nos quais eu podia rever meus amigos, sentir seus abraços e seus cheiros, lembrar de como fui feliz ao lado de pessoas maravilhosas, inocentes que morreram em guerras, inocentes que pagaram com suas vidas pela vaidade dos outros, por acharem que eram superiores e que poderiam tomar a terra que quisessem, eles poderiam toma-las, nos matar, mas sempre seria nossa e isso ninguém mudaria.

Levantei da cama e prendi meu longo cabelo em um rabo de cavalo, tomei um rápido banho e vesti uma calça com minhas velhas botas, coloquei uma blusa de alça e um casaco, levantei o capuz e sai de casa com o sol nascendo, fui em direção ao estabulo e coloquei um pouco de ração para Wicapi, não demorou muito e lá estava ela, vinha correndo em minha direção e relinchando, como sempre já sabia que estava na hora da comida, minha menina gorda, a deixei comendo e fui até minha moto.

Assim que coloquei os pés na sala de símbolos e astrologia senti que meu dia não seria bom, sentei como de costume na última carteira e comecei a desenhar, tentei recriar o meu sonho em um simples pedaço de papel, mas parecia impossível, não cabia ali tudo que tinha sonhado, mas em meu coração sim.

– Nina já soube da fofoca? – Ela dizia enquanto se sentava ao meu lado.

– Não, não sei. – Fecho meu caderno de desenhos e começo a prestar atenção na aula.

– Parece que temos um novo professor de dialetos, o nome dele é Alexandre, parece que veio da Inglaterra. – Ela ria. – Só se fala nisso.

– Posso me concentrar na aula agora? – Olho para Anne.

– Boba. – Ela continuava a rir.

As explicações da Senhorita Wonder eram interessantes, ela era descendente de uma tribo de Sioux, as melhores aulas eram as delas, a jovem moça de trinta anos cujo havia viajado o mundo todo estudando desde de tribos perdidas até as mais conhecidas.
Assim que o sinal tocou guardei meus livros na bolsa e sai lentamente na sala, me despedi de Senhorita Wonder e fui a biblioteca buscar um material para trabalho, depois de algumas horas procurando estava tudo pronto, mas percebi que o corredor estava vazio, algo que não era normal, apressei o passo e segui em direção a saída, mas então escutei algo, eram barulhos de passos, alguém estava me seguindo, peguei a primeira oportunidade e entrei em uma sala, me encostei na porta e fechei os olhos por alguns segundos.

– Está tudo bem senhorita? – A voz vinha do fundo da sala.

Abri os olhos e procurei de onde vinha a voz e então surgiu um homem no final da sala, sentado com os pés na cadeira da frente, o mesmo homem cujo havia achado minha chave no dia anterior.

– Sim, obrigada. – Olho para o chão.

– Está perdida? – Ele se levanta e vem em minha direção.

– Na verdade não, só errei de sala, se me der licença. – Abro a porta e saio.

Assim que cheguei em casa fui direto a cozinha, peguei um vinho na Adega e o abri, sentei na varanda e aprecie-o, estava começando a ficar frio, logo a grama ficaria coberta por neve, logo o inverno estaria batendo minha porta e com ele as péssimas lembranças.

– Astila você disse que me protegeria, mas onde você está? – Falo para o nada enquanto bebo. – O que aconteceu com nós? – Levanto levando comigo a garrafa vazia, jogo-a contra a parede e entro.

Andava pedida pelos campos, os cavalos corriam e brincavam, o céu estava estrelado e a lua bem aparente, a esta hora Astila estaria me fazendo rir ou ate mesmo estaria me dizendo o quanto sou especial, mas o futuro nos separou, ele não poderia se casar com uma impura, seu pai o obrigou a se casar com Adsila, filha de um chefe de outro clã.
Fui embora no dia de seu casamento, durantes meses e anos eu recebia a visita dele, mas não era mais a mesma coisa, por mais que eu sobe-se que ele estava infeliz, não tinha como mudar a decisão dos sábios mestres, só voltei a tribo no dia de sua morte, voltei com muitas coisas pra dizer, coisas que guardei por anos, mas a coragem não deixou, o medo de perde-lo era maior que tudo.
O caminho até em casa foi solitário, não havia lobos uivando, o vento não conversava comigo, não havia mais nada, somente a lembrança de uma esposa que ficou viúva, de seus filhos, e a pior de todas, a de coisas que nunca foram ditas.

Acordei suando frio, minha cabeça doía e meu coração estava acelerado, levantei da cama e fui ao banheiro, abri a torneira e lavei o rosto, mas antes de sair fiquei admirando no espelho a menina que tinha me tornado, a guerreira solitária.
Voltei ao quarto mais algo me chamou atenção, parei na janela e lá estava ele, o lobo estava novamente lá, seus olhos eram claros como o mar do caribe, mas seu pelo era escuro como a noite.

Sai de casa somente de pijamas, parei na varanda e tentei acha-lo na escuridão, era uma dúvida se era uma miragem ou se aquilo realmente estava acontecendo.

– Astila! – Gritei. – Diga que es tu, diga que voltaste pra mim.

Senti uma forte ventania tocar meu corpo e apaguei, senti meu corpo desligar em fração de segundos, era como voltar a dormir, voltar a sonhar.

– Vou chegar primeiro e você ira comer poeira do meu cavalo. – Grito, dei dois leves toques em meu cavalo e avistei o lago de longe.

Assim que cheguei ao lago desci e retirei minhas roupas, deixei somente a minha pena presa em minha trança e pulei na agua fria, e então senti algo puxar meu pé, olhei para trás e lá estava ele sorrindo.

– Minha Usdi, minha querida. – Ele puxou meu corpo contra o dele. – Quem diria que aquela pequena menina que salvei se tornaria está linda mulher.

– Você também não era velho, talvez dois, três anos mais velho. – Passo minha mão sobre o cabelo dele. – Se nos pegarem assim, vai ser um problema.

– Vamos aproveitar o momento. – Ele me dá um beijo na testa.

Acordo sentindo algo gelado, olho para os lados e vejo Anne, então percebo que ela estava segurando algo que parecia ser um copo e meu rosto estava molhado.

– O que houve? – Passo a mão sobre o rosto.

– Pelo jeito, você bebeu demais e apagou no meio da sua varanda. – Ela me puxa em sua direção. – Está bem?

– Sim, obrigada. – Sorrio fraco e entro. – Como você soube que estava precisando de ajuda?

– Bom, eu liguei para pedir ajuda em um resumo e estranhamente você não atendeu, então vim ver se estava tudo bem. – Ela para na porta.

– Obrigada Anne, posso lhe dar essa ajuda amanhã? Queria ficar sozinha. – Sento no sofá e olho pra ela.

– Sim, claro, amanhã lhe espero na aula do novo professor. – Ela ri. – Se cuida, até amanhã querida. – Ela fecha a porta e me deixa sozinha novamente.

Levanto do sofá e volto ao meu quarto, deito na cama e tento entender se aquilo realmente tinha acontecido, se algo me fez apagar, ou se eu tive sonhando todo esse tempo.


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