Wild&Free escrita por Dani Schirmer


Capítulo 1
Live Forever




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Dizem que todos nós podemos escolher nossos destinos, mas eu discordo disso, sou uma amaldiçoada, minha maldição só se completou quando fiz dezenove anos, mas sempre tem algo a mais, vivo na solidão, sem amor, vivo nas sombras.

Meu pai era um colonizador inglês, veio para onde hoje é o Estados unidos em 1730, as terras que ele habitava era solo sagrado de um pequeno clã de uma tribo Cherokee, eles entram em conflito e foram mortos por ordens de meu pai, mas uma mulher se salvou e fugiu.

Alguns anos mais tarde a mulher voltou e amaldiçoou a pequena menina frágil que acabara de nascer, ela havia me amaldiçoado. Minha infância foi normal, todas as noites antes de dormir avistava de uma janela um lobo cinzento, mas todas as vezes que chamava alguém para velo, o animal não estava mais lá.
Quando completei cinco anos, presenciei a morte pela primeira vez, uma tribo indígena invadiu nossas terras e hasteou fogo contra os estábulos e roubou nossos cavalos, mataram todos que trabalhavam ali, inclusive meu pai.
Só restava o medo e a confusão na casa, as empregadas estavam assustadas e minha mãe estava trancada em seu quarto, mas quando o sol nasceu e os índios tinham ido embora, só havia a restado a mim viva, eles haviam levado nossos cavalos, algumas empregadas e matados todos.

Eu estava sozinha entre os mortos, mas entre uma neblina que se formava o lobo cinzento apareceu e se transformou em um homem alto e forte, ele se aproximou e me esticou a mão, era um guerreiro Cherokee, durante dias cavalgamos em direção ao norte, assim que chegamos em sua tribo fui venerada por alguns e temida por outros. Aos longos dos anos vivi com aqueles que tinham se tornado meu povo, mas me afastei deles, voltei pra casa e vendi minhas terras, com o dinheiro comprei um terreno onde hoje é a Dakota do Norte e com o resto do dinheiro, ao longo dos anos aprendi a fazer aplicações e ganhar lucros.

Durante todas as noites por vinte anos Astila me visitava em sua forma animal, mas sua saúde foi ficando fraca e ele faleceu, todos aqueles que faziam parte de minha tribo faleceram ao longo dos anos, me tornei amiga de seus filhos e depois de seus netos, mas como sempre ninguém sabia do meu segredo.

Sai de casa com o sol raiando, o caminho até a faculdade era longo, eram quase quarenta minutos até a Universidade de Dakota do Norte, agora eu morava na pequena cidade de Mayville, um lugar onde eu podia viver minha eternidade de solidão em paz.

Assim que estacionei a moto em frente ao prédio principal da Universidade, havia algumas pessoas paradas conversando, mas eu já estava atrasada pra aula de Dialetos indígenas, entrei na sala correndo e sentei na última carteira, para minha sorte Sr. Fling ainda não havia chegado, tirei meu livro da bolsa e abri em uma página qualquer e peguei meu caderno de desenhos, comecei a desenhar Astila em sua forma que eu mais conhecia.

– Senhorita Van Looly! – Sua voz era de repreensão.

– Sim? – Paro de desenhar e olho para ele.

– Pare com estes seus rabiscos e preste atenção na aula. – Ele voltou a andar de um lado ao outro da sala.

Parei de desenhar e comecei a prestar atenção no que ele dizia, o que era um pouco engraçado por que ele sempre errava uma tradução ou um significado, as vezes até errava de qual tribo era, mas eu não podia levantar e simplesmente dizer que já sabia tudo aquilo.
Assim que o sinal tocou, peguei minhas coisas e sai da sala correndo, ainda havia mais duas aulas e ai eu finalmente poderia voltar pra minha solidão.

Eram duas horas da tarde quando acabou a aula de Arte e Cultura Africana, sai da sala correndo e diminui o passo ao chegar perto da saída, assim que sai coloquei meus óculos escuros e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo.
Parei ao lado da moto e comecei a procurar a chave na bolsa, mas estranhamente ela não estava lá, voltei correndo ate a sala de Arte e cultura e fui a aonde estava sentada, me abaixei e comecei a procurar, mas então escutei um barulho de porta fechando, me levantei e avistei um homem alto, de pele clara e cabelos negros que usava uma jaqueta de couro.

– Perdeu algo? – A voz dele era suave.

– Na verdade sim, perdi a chave da minha moto. – Digo um pouco aflita e volto a olhar para o chão.

– Seria estas aqui? – Ele levanta a mão segurando as minhas chaves.

– Sim! – Sorrio e me aproximo dele pegando-as. – Obrigada, mas se me der licença estou atrasada.

Assim que cheguei em casa larguei minha bolsa no sofá e fui direto ao meu quarto, fechei a porta e fiquei olhando os velhos desenhos, cada um retratava uma parte de minha vida, um momento, uma saudade.
Deitei na cama e voltei a me lembrar dos conselhos que recebi por mestres, mas principalmente os conselhos de Astila, o único que viu em uma menina branca há guerreira que sou hoje.

Lembro-me que todos na tribo me respeitavam, mas então no meu decimo nono aniversario tudo mudo, a morte veio mais ate ela me rejeitou, poucos entendiam como era possível, mas meu grande amigo dizia que isto era um dom e que era meu dever proteger meu povo, e então a frase “todos nós escolhemos nosso destino” simplesmente não se encaixava na minha vida.

Sai de casa e fui ao estabulo, avistei Wicapi e me aproximei, acariciei sua longa crina negra e sorri, era uma das poucas coisas que me davam felicidade, minha menina selvagem, minha tribo costumada dizer que não se doma o que é selvagem, se conquista, não era nós que escolhíamos nossos cavalos e sim eles.
Abri a porta da baia de Wicapi e a deixei livre para pastar durante a noite, voltei a varanda de minha casa e sentei-me em uma cadeira, admirei ela sumir no meio da escuridão que se formava, mas então algo me chamou atenção, um lobo, havia um lobo em minhas terras.

Levantei da cadeira e entrei em casa correndo, procurei em meus desenhos algo que parecesse com aquele animal, mas não era ninguém conhecido, o ultimo descendente de Astila havia morrido em 1940, não havia mais herdeiros como ele.
Peguei meu celular e liguei para Noya, minha única amiga na reserva, esperei um tempo ate ela atender, o que me deixava só mais aflita.

– Um lobo, um lobo em minhas terras. – Grito.

– Você me acorda para isso? – Sua voz era de sono.

– Está me ouvindo? – Falo aflita.

– Sim, você está falando de um Tala. – Sua voz havia mudado.

– Calma, deve ser loucura minha, não há nada de errado em ter lobos caminhando por minhas terras. – Rio. – Mas como você está querida?

– Tirando o fato de você ter me acordado, estou ótima. – Ela ri. – Se esqueceu, eu durmo cedo.

– Desculpe Noya, mande um beijo pra sua mãe, tenho que estudar. – sorrio. – Bom, até breve.

Desligo o telefone e vou ao banheiro, tomo um longo banho e logo coloco meu pijama, mas antes de ir deitar, vou a janela e admiro a escuridão, mas então avisto os mesmos olhos, o lobo estava fazendo o mesmo que Astila fez em minha infância, alguém estava me vigiando.


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