Em pleno deserto, morrendo de sede, e sem faltar muito até chegar em casa. Husani já estava acostumado com o sol escaldante e longos períodos sem água, o lado bom de estar sozinho é poder dizer tudo o que pensa em voz alta sem qualquer condenação. Nos aposentos do faraó seus pais estavam sérios e aguardando o jovem príncipe retornar a sua casa, seus dois irmãos já estavam a aguardá-lo, um grande banquete, mas ninguém sequer tocou em algo, todos com uma cara de velório, ou alguém morreu ou está prestes a morrer. Husani já chegava aos portões, os guardas o saldaram, ele devolvia com um sorrio como o habitual.

Seus criados levaram sua montaria até o local designado enquanto ele roubava algumas iguarias na cozinha e se dirigia ao quarto de seu pai o faraó – assim que pisou no palácio uma pequena garota, a mais nova criada de sua mãe lhe deu a notícia que todos o aguardavam, e já lhe adiantou que coisa boa não o esperava, podia ser uma criada de sua mãe, mas nada que alguns eventos não conquistassem uma aliada – e após subir longas escadarias tirou seu manto de seda, deixando-o jogado no corredor e entrou nos aposentos do faraó. Todos os olhares se voltaram e ele, e sempre que olhavam daquele jeito algo ruim iria acontecer, sentiu o suor frio descer pelo meio de suas costas e entrar em seu saiote, muitos sairiam correndo, mas ele apenas respirou fundo e sorriu dizendo:

–Quem vamos jogar como tributo aos deuses?

–Já disse para não dizer o nome dos deuses em vão – A voz de Amsu, o faraó era como um grupo de cavalos trotando em sua direção, implacável e firme.

–Você conhece a peça pai, e se confrontar ele ainda mostra que sabe mais dos deuses que você mesmo – Aziza finalmente teve a ousadia de tocar no banquete, encheu três taças com cerveja e um pedaço de pão, abriu as pernas e se sentou como um homem, sua mãe lhe lançou um olhar de advertência, mas ela simplesmente arrotou e trocou olhares travessos com Husani, ambos tinham os mesmo olhos, os mesmos lábios, os mesmo formato de rosto, acho que é isso que chamam de irmãos gêmeos.

–Mas então grandioso faraó, porque reuniste a sua linda rainha, seu filho brutamontes e os gêmeos mais lindos de todo o Egito? – Seu tom de ironia era o que mais irritava seu irmão mais velho, ele podia ser melhor que ele em qualquer combate, derrota-lo com apenas um soco, mas ele com apenas palavras conseguia destruí-lo por dentro. Husani era uma víbora do deserto.

–Sua irmã vai se casar com um nórdico, a guerra contra os helênicos é perigosa e precisamos selar uma aliança forte. – O faraó se levantou de seu assento e olhou para Aziza que cuspiu toda a cerveja em cima das frutas. Ele não podia ser mais sutil? Era realmente necessário dizer assim? Sem aviso prévio?

– EU TENHO APENAS DEZESEIS ANOS! NUNCA QUE IREI ME CASAR COM UM DAQUELES MONSTROS COBERTOS DE PELOS! EU SEI CUIDAR DE MIM MESMA! NUNCA VOU ME ENTREGAR PARA UM HOMEM! NUNCA!! – Ela iria explodir bem ali?

– Disso eu não tenho dúvida, vou sentir falta de você. – Husani se sentou ao lado de sua mãe e comeu uma uva, embora não demonstrasse, estava triste em perder sua irmã, e sabia que mais notícias viriam, ou então seu pai não convocaria toda a família.

– Minha filha, se acalme isso não é o fim do mundo. Você vai se casar com um dos príncipes mais influentes e honrados no norte. – Sabah sempre mantinha seu tom calmo, e independente do que acontecia era a única acalmava aquela fera que muitos chamavam de Aziza.

Um silêncio tomou conta de toda a sala, todos se sentaram e comeram, até que Husani tomou a frente:

– Certo... você vai entregar minha irmã para aqueles bárbaros, isso eu já entendi, mas porque convocar a todos?

– Porque ela não vai só, mesmo nos aliando aos nórdicos nunca se sabe o que pode acontecer. Você vai junto com ela, devem aprender com eles, e se tornar parte deles, para que quando o Egito precisar, vocês nos guiarão a um novo território. – Ainda não sabemos a necessidade de ele abrir o jogo assim tão fácil, com certeza ao está planejando secretamente.

Todos encararam Amsu, entregar uma filha ao marido está até considerável naquela época, mas os dois? As bênçãos dos deuses por qual Sabah tanto se orgulhava? A Rainha saiu da sala sem dizer uma palavra, nunca chorava na frente de alguém, mas para falar a verdade ninguém nunca se lembra de ter visto a rainha chorar. Husani queria protestar, mas sabia que aquilo era uma batalha perdida, para estar anunciando isso o faraó já deveria ter ajeitado tudo, o casamento e quando partiriam. A única coisa que poderia fazer era usar seus anos de estudos para sobreviver, e se adaptar ao seu novo futuro lar. Ele odiava situações onde não poderia protestar, sempre deveria ter uma saída, mas às vezes o mais sábio é admitir uma derrota antes de fazer sacrifícios.

Aziza saiu dali logo depois de sua mãe, Husani terminou de comer e olhou para seu irmão, eles nunca se deram bem, ele esperava um sorriso maldoso, um comentário provocativo ou qualquer coisa para afrontá-lo, mas tudo que viu foi um rosto sério e indiferente. Tinha que ir atrás de sua irmã, tinha que prepara-la para os nórdicos.