Em um dia de Natal, que estava na casa de minha tia, recebi um presente enorme. Eu tinha dez anos de idade e estava encantada com o que ganhei, e lógico, muito animada também. Fui correndo abraçar minha tia, que me deu o presente, e fui logo abrindo o pacote. Eu imaginava uma boneca linda, ou talvez uma casinha de madeira. Mas não. Ganhei uma caixa com canetinhas coloridas, e papéis em branco. Fiquei completamente decepcionada, mas agradeçi o presente.
Foi o que senti nesse momento. Minha completa ansiedade de ver Josh se tornou em decepção. E talvez um pouco de medo também.
Eu deveria ter pensado milhares de coisas para dizer a ele. "Você me traiu", ou "Você me abandonou". Talvez até um palavrão. Mas as únicas palavras que saíram foram:
–Pensei que estivesse morto- Eu digo com uma voz séria. Segurando o taco mais forte ainda.
–Pensei que me amasse- Ele diz com um sorriso gelado- Parece que temos muitas dúvidas, querida.
–Não me chame assim- Eu digo com uma voz irritada- Não sou sua querida. E nunca mais quero ser.
–Não queria que passasse por isso, mas é o que é- Ele diz pegando a faca e à passando na camiseta- Não posso mais esconder você disso.
–Você me machucou, seu monstro- Eu digo- Você me abandonou. Tem ideia do que fez?
–Tenho ideia, e certeza do que fiz- Ele diz sorrindo. Queria costurar a boca maldita dele- Mas eu fiz para seu bem. Para o nosso bem.
–Nosso bem?- Eu digo- Seu bem, seu canalha. Saia da minha casa agora, ou eu chamo a polícia.
–Vai chamar Alex?- Ele diz rindo- Ele não consegue encostar em mim Sophia. Muito menos me prender.
–Não duvide disso- Eu digo- Não duvide que EU possa fazer isso.
–Pra que duvidaria?- Ele diz- Eu sempre tenho certeza. Você não vai relar em mim Sophia. Vai fazer tudo o que eu quiser, e na hora que eu quiser.
–E por que eu faria isso?- Eu digo
–Porque se você me atacar- Ele diz sorrindo- Eu mato ele. E arranco sua cabeça fora. Ele, e seu amigo, Pedro. Até aquela sua amiguinha puta, a Luana. Todos.
Senti minha pele esfriar e uma lágrima de suor desceu em minha testa. "Prefiro não brincar com Josh", Pedro dissera. Não vou fazer o mesmo.
–O que quer que eu faça?- Eu digo- Você já me conectou, e agora quer o que mais?
–Conectei?- Ele diz- Eu não conectei você a mim. Ainda não.
–Mas como eu cortei sua boca naquela visão?- Eu digo
–Eu também não sei, mas quando eu descobrir- Ele diz- Vou descobrir um jeito de tirar você disso. Mas sobre o que eu quero, bem, eu quero você. Quero dominar o mundo inteiro, e quero você ao meu lado. Minha rainha.
–Você é maluco- Eu digo me afastando da cozinha- Como vai conseguir dominar o mundo? Vai pegar uma varinha mágica e comandar tudo?
–A lenda Sophia- Ele diz- Ela me dá um desejo.
" As portas da Morte o cavaleiro assombra, e prende todos aquele que o encontra.
Após trancar com chaves de ouro, os cem aprisionados gritarão em coro.
Com os gritos infernais o Demônio é invocado..."
–"E um desejo lhe é realizado"- Eu digo, as palavras saindo de minha boca, e eu não conseguindo controlá-las.
–Como sabe da lenda?- Ele diz surpreso
–Não sei- Eu digo-As palavras saíram de minha boca... E eu nem percebi.
Ele olha em meus olhos e seu rosto fica inexpressivo. Seus cabelos ruivos continuam os mesmos, e os olhos azuis também. Mas o sorriso maroto, e o olhar feliz desapareceram. Só ficou o egoísmo, e a raiva em seus olhos.
–Não sei como pude gostar de você- Eu digo cuspindo as palavras- Seu... Demônio.
Foi quando a porta de minha casa foi derrubada, e mais de dez homens entraram em minha casa. Inclusive Alex, que estava armado e uniformizado.
Sai correndo as escadas e fui para o meu quarto e segurei o controle que Alex tinha deixado a poucas horas atrás no banheiro. Sabia que ele estava sempre comigo.
Tiros e pancadaria foi tudo que escutei no andar de baixo. Alguém subiu ao meu quarto e entrei em desespero. Fui pra minha cama e peguei meu taco de beisebol novamente. A porta se abriu e alguém entrou.
–Está tudo bem Sophia- Alex diz entrando- Ele escapou, porém estamos bem.
Saio da cama e o abraço. Ele retribui e depois eu o jogo na minha cama. Ficamos abraçados lá, sem se beijar por alguns minutos. Até que o esquadrão saiu de casa e chamou por Alex.
–Você já vai?- Eu digo- Nao íamos ao Monte Lee?
–E nós vamos- Ele diz sorrindo- Volto em alguns minutos. É que tenho que me trocar...
–Posso ir com você?- Eu digo e depois de alguns segundos, persebo o quão estranha a pergunta foi- Eu não me sinto segura em casa. Agora não.
–Tudo bem...- Ele diz corado- Leve suas coisas e a gente sai da minha casa. Vamos?
Pego minha bolsa que estava em cima da minha escrivaninha e prendo meu cabelo em um coque fofo. Os fios saem e eu não os prendo.
–Vamos- Eu digo sorrindo- Nao queremos perder o horário não é?
–Não- Ele diz sorrindo e segura minha mão. Descemos as escadas e saímos de casa juntos.
Enquanto Alex nos levava em seu Audi A4, 2.0, branco. Não era muito bem de carros, então ele me disse o nome. Fiquei pensando nessa noite louca. Josh parecia tão maluco com esse domínio do mundo. Ele parecia aqueles personagens de desenhos animados que queriam mandar em tudo. Mas aquela lenda... Ela parecia real. Eu a repeti como se fossem palavras normais e simples. Minha vida havia mudado tanto que nem sabia mais o que era normal.
–Alex, aquela profecia...- Eu digo- Ela é real?
–É Sophia- Ele diz sério- Está escrita em um livro muito antigo, que muitas pessoas não têm acesso. Mas eu tive uma vez. Josh me mostrou.
–E ela era... Forte?- Eu digo- Realiza pedidos grandes e até malucos?
–Qualquer um- Ele diz- Porque Sophia?
–Josh falou comigo antes- Eu digo- Ele disse sobre um possível pedido... Sobre o domínio do mundo. Ele queria que eu fosse a rainha e ele o rei. Completamente maluco.
–Josh sempre foi assim- Ele diz serio-
Ambicioso, egoísta, moderador. Esse pedido não é novidade. Talvez seja um pouco louco, mas não novidade.
–Mas como comandar o mundo?- Eu digo- Ele quer ser um rei de tudo? Como? Não tem como...
–Ele quer guerra Sophia- Ele diz- Ele quer mortes. Ele quer ser o cavaleiro da morte. Ele quer que o mundo vire guerra e mortes. Por isso sua ambição.
Coloco as mãos na cabeça e imagino Josh sentado em um trono de crânios, em um manto escuro. E eu ao seu lado como rainha. Não fiquei surpresa em ver essa imagem.
Eu sonhava com essas imagens a noites, e só agora elas faziam sentido.
O cavaleiro da morte, eram os sonhos dele enforcado. Os gritos malditos, era meu choro e horror. E o desejo... O desejo. Era isso que faltava.