Bleeding Out escrita por Becky Cahill Hirts


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Oi gente,
Espero que gostem.



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Oh, em nome de minha mãe, o que eu fiz?!

Amy tentava a todo custo se livrar das roupas rasgadas e fedidas, no interior de seu imenso quarto. O quarto era, como disse, imenso, com uma parede feita de janelas — quase todos os cômodos da casa tinham uma dessas paredes — no lado oeste e um tom de azul calmo — azul real, a garota sabia — na parede oposta as janelas, no caso, na parede da porta, sendo que o resto do quarto era branco. Uma grande cama queen totalmente confortável e com uma aparência acolhedora estava no meio do quarto, com cobertores brancos decorados com enfeites azuis claros. Atrás da cama, havia uma grande comoda com porta-retratos — todos de quando Amy era criança, e somente dois onde ela estava sozinha. O chão do quarto era felpudo, devido aos tapetes que sua mãe escolherá quando a menina fez sete anos e começou a se acidentar demais no chão do próprio quarto, já que não consegui parar de brincar e se testar. Uma grande escrivaninha estava no lado norte e estantes de livros e mais livros ocupavam qualquer outro canto desse lado. Em frente a parede de vidro, dois grandes pufes estavam colocados de um jeito que dava para fitar a janela, havia também uma mesinha, em frente aos pufes e uma luminária muito bonita — uma espécie de árvore onde uma pequena, bem pequena mesmo, lâmpada era colocada na ponta de cada “galho”, com uma flor de silicone para tapá-la. Amy lembrava do dia que ganhará aquela luminária da sua avó, Grace, ela havia dito: “ Que sua vida seja iluminada e florida como este presente”.

Como sempre, pensar na avó a deixou pior.

Jogando suas roupas no chão diante da porta principal, Amy entrou em uma das portas do lado, que davam para o banheiro, o closet e a “mini-cozinha/mini-sala de estar” que ela tinha. No caso, a ruiva entrou no banheiro, despindo suas roupas íntimas e ligando o grande chuveiro.

Amy mal se olhou no espelho, sabendo o que iria enxergar. Uma garota destruída. Mesmo que, por um milagre, ela não se parecesse assim por fora, Amy sempre deu valor a parte “interior” das pessoas mais do que a “exterior”. E Amélia se sentia um lixo.

No banho, ela limpou seus cabelos e sua pele, mandando cada pedacinho de lama, terra ou folhas ralo abaixo. A menina sentia sua perna arder, devido aos arranhões que havia feito na noite passada, o sangue seco doendo para sair.

Tudo séria mais fácil se ela tivesse um kit de primeiros-socorros no quarto, mas a garota ainda não havia conseguido pedir para tio Alistair — ou qualquer outra pessoa —, o que levava-a a simplesmente limpar os machucados com água e sabão e recolocar uma roupa.

Quando a água quente já havia queimado quase todo o corpo de Amy em uma temperatura que era quase insuportável, ela desligou e saiu, apertando a pele onde os pontos vermelhos eram mais salientes.

Amy estava tendo um ataque literal de consciência. Ela estava morta de vergonha pelo que tinha acabado de fazer na delegacia e no saguão do hotel... E sinceramente, ela não sabia como iria sair do quarto, encarar aquele primo de sei lá quantos graus dela, e fingir que tudo estava bem...

Oh não, eu realmente não consigo fazer isso.

Mas ela precisava.

Ela não fazia a menor ideia de onde Dan e Alistair estavam, e até onde ela sabia — e lembrava — havia deixado um Ian muito perdido na sala, sem dirigir uma única palavra para ele.

O mundo era certamente um lugar cruel.

—> Bleeding Out <-

Ian iria enlouquecer se aquela garota não descesse agora mesmo daquele quarto!

Quer dizer, fazia quase uma hora desde o momento em que eles colocaram os pés no apartamento — e que apartamento — e a garota simplesmente virou as costas para ele, subiu pela escada de vidro baixa, e ele ouviu-a bater uma porta.

Deixando-o assim. No meio de uma sala grande, sem saber absolutamente nada sobre a casa ou sobre qualquer outra coisa.

Ele nem sabia se poderia sentar ou não... E ele realmente esperava sentar... Na verdade, enquanto subiam naquele elevador ele meio que imaginou a conversa com a garota quando entrassem no apartamento. E seria mais ou menos assim:

“— Sou Amélia Cahill, mas você pode me chamar de Amy — ela iria falar com um sorriso no rosto, um belo sorriso.

— Eu sou Ian Kabra, mas só Ian está bom — ela iria rir da piada fraca dele, jogando uma mecha de seus cabelos ruivos para trás.

— Eu estou meio bagunçada... Sabe como é, suja e tudo mais... — ela falaria, olhando para baixo e corando levemente de vergonha, e ele daria um sorriso, tentando dizer que não importava, mas ela iria cortá-lo no meio da frase. — Claro que importa, então eu vou tomar um banho e me lavar. Por favor, fique a vontade.

Ela iria se virar para ir para o seu quarto, mas pararia no limite da sala, se viraria e diria algo do tipo:

— Talvez possamos ir jantar em algum lugar ou algo assim para eu lhe mostrar a cidade e todos os lugares bons de se frequentar quando eu voltar... — E Ian ia sorrir mais que satisfeito, sentando-se no sofá e esperando...”

Mas é claro que a garota tinha que ser maluca e simplesmente sair da sala sem nem olhar na direção dele!

E ele imaginando que ela o convidaria para jantar, lhe mostraria a cidade e ele também já havia começado a imaginar o jantar, mas quando as portas do elevador se abriram ela disparou pela sala.

Ian bufou, andando até a janela, sem saber se deveria ou não tirar os sapatos, mas também, a garota não avisou nada... Pela 1381273ª vez ele desejou que Alistair e Natalie estivessem ali, seria tão mais fácil lidar com a garota se eles estivessem ali...

E Ian sabia que seria complicado. Ele sabia o que a garota pensava e sabia o que ele mesmo estava fazendo ali.

Roubando as coisas que foram dadas para ela. Foram destinadas a ela.

E então, sua última conversa com Isabel, antes dele sair de Londres lhe voltaram a cabeça, enquanto ele observava as estrelas pelas janelas grandes.

— Eu sei um pouco sobre Amélia Cahill — a mulher, também conhecida como sua mãe, lhe disse devagar. — Dizem que depois do trágico acidente que levou seus pais e sua avó a menina nunca mais foi a mesma. Ficou meio maluca... — os olhos e o tom de Isabel não eram piedosos ou compaixonados, eram frios e cruéis, quase alegres para dizer a verdade, como se o sofrimento da menina lhe alegrasse.

— O que quer dizer com isso? — Ian perguntou, observando Natalie beijar a testa do pai e entrar no avião particular da família Kabra.

— Que ela deve ser fácil de manipular — falou Isabel, quase como se repreendesse o garoto por não ter adivinhado o que ela queria dizer com aquilo. — Tão fácil como Alistair foi... Dois toques e ele acreditou fielmente que Grace Cahill os havia incluido no testamento... Um tolo, certamente...

— Nós não estamos no testamento? — Ian ficou surpreso, ele não sabia da onde aquilo, mas quando sua mãe veio com a história de que eles haviam sido colocados no testamento de Grace Cahill, ele acreditou, já que visitou a mulher algumas vezes durante sua vida.

— Claro que estão. — Isabel parecia raivosa e hesitante quando voltou a falar. — Mas não... Bem, nada que você deva se preocupar... Mas procure ficar perto de Amy, abra caminho até o coração triste dela — ela colocou as mãos no rosto do filho, sorrindo venenosamente. — Você é cheio de encantos e charmes, fará a garota se apaixonar por você e então...

— Mas ela é minha prima! — Ian não falou aquilo com choque ou horror, mais como uma constatação. Durante anos ele ficou com garotas que tinham pais importantes para ajudar nos negócios da família, mas uma prima?

— A quantidade de graus que separam vocês faz com que carreguem sangue e genes quase 100% diferente! — Isabel falou, ainda sorrindo. — E isso, é a última coisa que você precisa se preocupar, Ian.

Ele suspirou, cansado e desejando entrar naquele avião e dar as costas para Isabel e todos os seus joguinhos.

— Só diga-me o que fazer. — Ele falou por fim, colocando as mãos nos bolsos da calça.

— Conquiste o coração da garota — Isabel disse, se afastando do filho. — E então destruí-a... De maneira que ela jamais consiga se recuperar.”

Ian odiava os planos da mãe. E odiava ainda mais quando ele sabia que teria que realizá-lo, mesmo desejando arduamente o contrário.

—>Bleeding Out

Respira, Amy, respira... É só descer e falar com ele! Não há sentido em continuar prolongando isso tudo...

Deveria ser a centésima vez que Amy dizia isso para si mesma, parada ao lado da sua porta, a mão no trinco da mesma.

A garota vestia um jeans bem cortado e de aparência comportada, com uma blusa do tipo: “Hey, eu tenho 17 anos mas posso ir visitar o presidente agora mesmo, vamos lá?” , e usava uma alpargata azul safira com detalhes em branco. E sim, azul e branco eram as cores favoritas de Amy.

Ela havia secado o longo e liso cabelo ruivo e usava um daqueles chaúpezinhos fofinhos de aba. Não que ela estivesse tentando ficar linda, nem nada do gênero, ela só queria se sentir um pouco mais arrumada perto do garoto que ia tirar tudo dela. Quer dizer, o mesmo instinto que a levou a fazer aquela cena na delegacia — e a da entrada do saguão — a levara a se vestir daquele jeito... E passar um pouco de rímel nos olhos. Só.

— Eu não faço a menor ideia do que estou fazendo... — Amy lamentou-se. Com uma vontade maluca de correr para o banheiro, tomar outro banho e se livrar um pouco daqueles sentimentos ruins... — Não! Se ele vai pegar tudo de mim, pelo menos eu tenho que perder com dignidade...

Amy abriu a porta antes de conseguir pensar novamente...

“Não pense duas vezes. — seu pai costumava dizer para ela — Se parar para pensar, dará margem para que o seu oponente se estabilize e isso é tudo que não queremos, garota.”

Não pense duas vezes, Amy pensou repetidas vezes enquanto atravessava o pequeno corredor em direção as escadas. Não pense duas vezes, não pense duas vezes, não pense duas vezes, não pense...

E ela chegou no topo da sala, localizando-o parado ao lado da janela, parecendo preocupado. A testa dele estava franzida, e suas mãos davam a impressão que estavam apertadas dentro dos bolsos da calça, pelo jeito que seus ombros estavam tensos.

Amy aproveitou que o garoto estava quase de costas para ela — e não havia notado a sua presença — para observá-lo.

Ele tinha todo aquele ar elegante e superior quando entrou na delegacia, e ao mesmo tempo relaxado, como se nada que você pudesse dizer ou fazer o deixaria surpreso ou de “mãos amarradas”... Mas agora... Agora ele estava tenso, nervoso e preocupado... Havia umas três linhas na sua testa perfeita, o que Amy achou engraçado, já que a mesma sempre ficava com rugas na testa... Rugas de expressão, ela sabia, Dan uma vez lhe disse que era porque Amy tinha muitas expressões diferentes e muitas “caras” para mostrá-las. Mas é claro que ela nunca as usava.

As costas de Ian estavam arqueadas, e Amy não deixou de notar as linhas dos músculos sob a camisa, mostrando que diferente dos demais caras da sua idade, Ian tinha músculos grandes, mas conseguia permanecer “humano” e não uma espécie estranha de ser humano com um braço maior que a cabeça de Amy.

Perdida em pensamentos, Amy não notou quando Ian se virou, percebendo apenas quando o mesmo fitava seus olhos.

Âmbar no jade.

Por um segundo, os dois pareciam presos a uma espécie de bolha, Ian surpreso, Amy nervosa... Mas quase tão rápido como a guarda baixou, ela voltou a subir e Amy afastou os olhos, fitando o teto.

— Ahn... — Ian limpou a garganta. — Sou Ian Kabra, mas não há necessidade de usar o meu sobrenome todas às vezes que for falar comigo... — Amy pensou ter visto certo nervosismo enquanto ela passava os olhos por ele.

— Amélia Cahill — respondeu, fitando a janela atrás de Ian, temendo parecer mal educada se não olhasse, ao menos, na direção dele. — Posso lhe ajudar com alguma coisa, Sr. Kabra? — A garota não queria ajudá-lo. Ela certamente queria chutar a bunda do garoto e o mandar em uma caixa de volta para Londres, mas ela fora bem educada, e não iria jogar tudo pelo ralo por causa de um menino metido.

— Na verdade, creio que sim, senhorita Cahill — ele respondeu, usando o pronome de tratamento tão bem, leia-se cruel, como ela. — Acho que nosso tio não chegará tão cedo, e temo que meu estômago e o vosso precisem de comida antes disso.

— Onde meu tio está? — Amy se sentiu prestes a gaguejar, mas ela não poderia, ela sabia. Faria um esforço mas falaria normalmente com o rapaz. Como se o seu cérebro não gostasse da ideia, as mãos da garota logo fecharam em punhos, cravando as unhas na sua pele, mas não o suficiente para sangrar, apenas para fazê-la continuar forte.

— Quando eu cheguei, ele, Natalie, minha irmã, e Daniel, creio que este seja vosso irmão, foram para um sítio nos arredores da cidade, buscar alguma coisa que sinceramente eu não sei o que, mas como eu estava no banho quando eles foram, só recebi o recado... — ele falava tanto e de maneira tão natural... Como se não precisasse de nenhum esforço... Ah, claro, Amélia, só você precisa se esforçar para falar... — ... horas mais tarde, eles me ligaram pedindo para eu ir buscá-la na delegacia... Se não é muito intrometimento da minha parte, pode dizer-me como foi parar lá?

Amy respirou devagar, percebendo que ainda estava parada no topo da escada. A garota começou a descer, grata por poder olhar para baixo quando proferiu as próximas palavras:

— Você está certo, Sr.Kabra, é muito intrometimento da sua parte. — Ela queria falar aquilo de maneira que o deixasse mal, que ele pedisse desculpas e que percebesse que ela seria uma pessoa grossa demais para conversar, mas o seu tom foi fraco, devagar quase parando e muito, muito disperso.

— Peço perdão por meu erro, Srt. — o tom dele era tão calmo que Amy não aguentou e teve que olhá-lo para saber se sua expressão combinava com sua voz. — Eu não pretendia me meter em sua vida, só fiquei...

— Curioso. — Amy completou, estranhando a própria voz e coragem. Algo em Ian Kabra a fazia testar seus limites o tempo inteiro. — Não há porquê se desculpar, mas se lhe serve de consolo já está desculpado.

Amy mordeu o lábio no final, sugando o ar com uma força que desejou não ter deixado saliente.

— Agradeço pela sua compreensão — ele falou, se aproximando dela. Eles pararam para se encarar, ou melhor, Ian encarava a garota enquanto a mesma o olhava, desviava os olhos, e voltava a olhar, como em um ciclo.

— Sobre sua fome, Sr. Kabra, irei pedir para Janet lhe trazer algo — Amy falou, depois de bons três minutos.

— Não pretende comer comigo? — Ele parecia... Não... aquilo não seria desapontamento, seria?

— Não. — Amy falou simplesmente, tentando evitar que seu sangue a fizesse corar as bochechas.

— Que lastima... — Ian comentou, mas Amy já estava indo em direção ao balcão americano que separava a sala da cozinha.

Lá, de costas para ele — um fato que ela agradecia mentalmente —, ela pegou o interfone e esperou dois segundos até Janet atender prontamente, já havia passado do horário dela, mas Janet jamais iria embora sem antes falar com Amy, e isso a ruiva sabia.

— Alô? Srt. Cahill? — chamou a voz carinhosa e preocupada de Janet do outro lado da linha.

— Janet, por favor, peça para que alguém mande um jantar aqui para cima, por favor? — Amy falou, sem rodeios e sabendo que estava sendo observada por Ian. A garota queria brigar com Janet por tê-la chamado de “Srt. Cahill”, mas sua voz doia já que não estava acostumada a ser usada tanto assim.

— Certamente, Srt. Cahill. — Amy suspirou, questionando se conseguiria conseguir voz para pedir para Janet lhe chamar por seu nome, mas Janet não lhe deu muito tempo para pensar. — Senhorita, posso subir e jantar com a senhorita e seu acompanhante?

Amy sugou o ar com força, vendo pontos pretos na sua visão.

— Ele é meu primo, Janet. — Respondeu, sentindo-se tonta ainda. — E por que me pede isto?

— Pretendo me desculpar pelo meu comportamento senhorita, e eu sei que não deveria pedir isso, e eu sei que a senhorita tem total direito de negar e eu não posso ficar nem magoada mas eu realmente...

— Não há necessidade de se desculpar, Janet — Amy falou, cortando-a. — Você estava em uma reunião, não há nada de errado nisso.

— Mesmo assim, eu insisto — Janet parecia a ponto de chorar. — Se não for muita petulância da minha parte...

— Claro, por favor, suba — Amy falou, desligando o telefone antes de ouvir a resposta de Janet.

Aquela seria uma longa noite...


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Notas finais do capítulo

Hey gente, espero que tenham gostado, mesmo e mesmo!

Love u all,
Becky.