Quinze minutos de puro silencio.

No papel branco tinha dois pontinho distantes formando dois olhos mal desenhados, uma bola que eu estava chamando de cabeça uma linha reta – reta em uma má percepção- outras retas - essas mas tortas que um bêbado andando em uma linha – nas extremidades da linha principal. O bonequinho estava feito, depois de minutos de silencio não via outra saída, tinha que desfrutar de todo o meu talento artístico. Modéstia a parte, por que aquele bonequinho, mas parecia um projeto de boneco assassino respirei fundo alto o suficiente mostrando que estava tediada e queria saber algo. Mas Norman nem se deu ao trabalho de perguntar nada, nem virou pra dar moral pra mim, ele continuava a organizar aqueles papeis que Norma mais cedo desorganizou. O que ela estava procurando? E pra onde foi?

Estava parecendo Sherlock em um caso mal resolvido.

– Quer ajuda Norman? – Me virei pela vigésima terceira vez, mas a primeira a quebrar o silencio – Sabe que eu posso ajudar.

– Não precisa – Ele sorriu forçadamente me dando, segundos de atenção, e voltando para sua tarefa “dura” – Quer escutar um pouco de musica?

Assenti, minimamente sorrindo. Uma melodia lenta e melancólica ecoava pelo lugar, não era uma das melhores musicas, acredite era uma musica horrível. Nunca vou pedir pra ele fazer uma playlist. Terrível. Quando a musica parou de tocar, pensei em agradecer mas ela voltou ao inicio e a tortura musical havia começado novamente.

***

Depois de horas Norma havia voltado, parecia aflita e terrivelmente frustrada, e no mesmo momento eu me encontrava ocupada com uma garota chamada Charlotte, que tinha cabelos loiros e uma afeição que lembrava as de Bradley. Logo atrás um rapaz que parecia ser o namorado dela, talvez fosse a minha chance de saber o que estava acontecendo com a família Bates, mas para o meu desapontamento Charlotte parecia estar chapada e tive que repetir duas vezes e bem alto para ela assinar o nome na ficha.

– ASSINA O SEU NOME AQUI – Gritei pela terceira vez, e o namorado dela pareceu não se importar. Acho que ambos estavam chapados.

Norman viu sua mãe chegar e sumiu junto com ela. Que ótimo! A garota sorriu pegando a caneta de forma estranha como se fosse um bebê aprendendo a andar- no caso escrever-, escreveu o nome e as letras pareciam ser desenhados por alguém cego. Charlotte e o rapaz estavam saindo do motel, e quase perguntei como eles tiveram coragem de se chapar em um motel com alguns quartos sendo ocupados por famílias. QUASE, por que eu já estava sem saco pra aguentar esse casal.

– Will...o-olha eu já terminei aqui – Charlotte deu um passo para trás se desiquilibrando. Tropeçando no ar – Vamos... vamos embora.

Oh, hell!

Eu realmente tenho que parar de me importar com as pessoas.

– É melhor vocês irem amanha, sabe? – Comentei. A garota estava chapada demais e nem notou que eu estava falando, parecia querer pegar alguma coisa invisível.

– Não temos dinheiro pra mais uma noite – Aquele cara... Will, estava menos chapado que a garota.

– Tudo bem, podem ficar mais uma noite – Falei devolvendo a chave e mudando o dia da saída – Apenas peço para não ficarem mais chapados, tem um xerife hospedado aqui.

O tal Will arregalou os olhos e puxou a garota junto, por serem mal agradecidos nem falaram nada. Eu faço coisas legais pra isso? Cadê o “ Obrigado”? Mesmo eles não tendo muita educação fora melhor, a minha mãe interior falou mais alto. Tirei de dentro de uma bolsinha o cordão que encontrei – no quarto cinco- senhor Sulivan, havia ligado e me dado gentilmente o cordão por eu ter sido muito educada, e não poderia ter ficado mais feliz. Adoro cordões, mas realmente pensei que iria rever aqueles pirralhos novamente, e iria dar meu desenho mal feito para eles e mostrar como até eles tendo seis anos são melhores em desenhar uma arvore. Romero abriu a porta fazendo o sininho anunciar sua entrada, já era hora de verificar como a Emma está?

– Olá Emma – Ele olhou para a sala atrás de mim verificando se tinha alguém ali. Virei minha atenção também para a sala, por que ele estava olhando pra lá? – Certo, vi você recentemente com Dylan... você agora é amiga dele?

Meu rosto automaticamente esquentou, recordando do maldito grito. Deus, isso é serio? Tentei disfarçar meu incomodo, tentando ser indiferente. Romero agora se importava comigo, como um pai... ou talvez seja pena.

– Oh! – Segurei com bastante força o ferro gélido, que basicamente me ajudava a arrastar o cilindro– Não. Mas por que a pergunta?

Acredite eu sabia bem o porquê, se Norma não aceitava bem o trabalho do filho imagina o xerife da cidade. E como protegida dele, saber que eu estava de conversinha fiada com Massett era algo para se preocupar... na percepção dele é claro. Estava confiante em relação a Dylan, apesar de ser como é um irresponsável e inconsequente eu estava disposta a tentar ser sua amiga, para conseguir tirar algumas respostas.

– Emma seu pai se preocupa com você – Romero iria começar um sermão, estava estampado em seu rosto. Ele deve ser craque nisso – Dylan não é uma boa... influencia pra ninguém. Você sabe onde ele trabalha, e isso já é uma boa razão para não dar nem um “ai” perto dele. Entedi?

Assenti forçando alguma careta que denominei de sorriso de fuga, era composto de olhos brilhantes, lábios contorcidos e covinhas na bochecha. Romero por outro lado pareceu acreditar, sem dizer mais nada ele saiu me deixando ali sozinha.

– Droga – Murmurei.

Vi pela porta o carro da policia a qual pertencia a Romero sumir pela estrada. Sem xerife por hoje. A pouco tempo percebi que tinha alguma coisa errada com Romero, isso quando estava perto de Norma, ele a olhava de forma diferente. Claro, estamos falando de Norma.