Armando’s P.O.V

O dia havia começado cedo para eu e Francisca. Estávamos correndo contra o tempo para deixar tudo pronto para a festa surpresa que vamos fazer hoje à noite para comemorar os 25 anos de Stephanie e tínhamos que ter certeza de que tudo ocorreria bem esta noite e que ela não desconfiaria de nada.

Apesar de estar empenhado em preparar a festa, eu estava preocupado com o que pudesse acontecer essa noite e que essa festa talvez fosse uma das últimas lembranças que ela tivesse em toda a sua vida humana e eu queria assegurar de que seriam boas.

Se conheço Miguel tão bem quanto acho que sim, sei que ele usará essa festa como pretexto para fazer sua tão adorada entrada triunfal em nossas vidas e assim começar seus jogos de manipulação e morte.

Temo por todos dessa casa, mas especialmente por Stephanie e Enrique. Eles são os principais alvos desse jogo sádico. O primeiro a ser eliminado desse jogo, provavelmente serei eu ­— sou quem mais representa risco para ele — depois será a vez de Francisca e Augusto. Os próximos serão Ari, Sol, Mari, Isa e a pequena Thay. Por último, Enrique será o gran finale do jogo. Em consequência disso, a única pessoa que se salvará, em partes, da chacina será Stephanie, que estará sem todas as pessoas que ama por perto, e vulnerável a todos os riscos que estar ao lado de Miguel representam à sua vida. Ele é uma pessoa que possui vários inimigos, todos esperando ansiosamente por algo que pudessem usar contra ele. Após tudo isso, Miguel conseguirá o que sempre quis em todos os seus séculos de vida: Deixar de ser solitário.

Miguel podia enganar a quem quisesse menos a mim. A solidão o consumia pouco a pouco. Por mais que ele estivesse sempre cercado de seus fiéis seguidores, principalmente por sua irmã e fiel escudeira Nadia, ele continuaria sempre a se sentir sozinho, mas como não gostava de ser inferior a ninguém, pois acreditava que certos sentimentos tornavam as pessoas inferiores, nunca iria admitir isso.

Agora indo para a parte que interessa... Isa, Sol, Mari e Carla fizeram o bolo que vamos levar para Stephanie no que a nova geração dos Ponce De León chama de “tradição”, o que no caso é acordar o aniversariante do dia com uma surpresa, ou seja, Stephanie seria a próxima vítima.

Nos reunimos na porta do quarto de Stephanie com todo o cuidado para não fazer qualquer tipo de barulho que pudesse acordá-la e assim estragar a nossa surpresa. Francisca foi a primeira a entrar com todo o cuidado do mundo e seria ela quem iria acordar Stephanie. Logo em seguida, todos os outros, incluindo eu, entraram e se ajeitaram no quarto silenciosamente.

— Stephanie, minha filha, acorda! – Francisca tentava acordar Stephanie alisando seu braço com carinho.

— O que foi Mãe? Me deixa dormir mais um pouco. – Stephanie estava falando meio embolado por causa do sono.

— Vamos, Stephanie, levanta logo filha. – dizia Francisca calmamente.

Stephanie finalmente levantou da cama. Quando já estava pondo os pés no chão para colocar suas pantufas rosa de urso, arregalou os olhos em sinal de surpresa quando percebeu o tanto de pessoas que estavam em seu quarto.

— Surpresa! – gritamos todos juntos.

— Aí Meu Deus! Não acredito nisso! – exclamou Stephanie surpresa com a mão na testa. — Sério que vocês me acordaram às... 7:00 da manhã para fazerem uma surpresa pra mim. – Stephanie pausou o que falava para olhar para o relógio que fica na sua cabeceira e logo continuou a falar aos risos depois que descobriu as horas. — Armando, esse bolo que está na sua mão é de chocolate com morango? — perguntou Stephanie com os olhos brilhando e provavelmente salivando.

— É sim, Stephanie. — confirmei. — O seu favorito.

— Oba! — comemorou.

— Parabéns, Teph! — Thay foi correndo na direção da cama de Stephanie para lhe dar um abraço apertado.

— Obrigada, Thayzinha. — Stephanie agradeceu retribuindo o abraço e depositando um beijo na testa de Thay.

— Feliz Aniversário, Maninha! — agora quem parabenizava Stephanie era Ari, Sol e Mari.

Depois dos irmãos de Stephanie, Enrique deixou o lugar que ocupava entre eu e Maria e aproximou-se da cama de Stephanie com um sorriso no rosto e uma pequena caixa de presente dourada em mãos, algo que provavelmente ele iria dar para ela.

— Feliz Aniversário, Amor! — Enrique inclinou-se sobre a cama e depositou um beijo nos lábios de Stephanie e a caixa de presente nas mãos dela. — Espero que você goste, é algo muito simples comparado ao que você merece, mas como todo mundo sabe, eu não sei como dar presentes. Estou te dando esse presente como todo o meu coração. Eu te amo muito, Stephanie. — disse Enrique ternamente.

Stephanie retirou a tampa da pequena caixa e quando viu o que era, abriu um sorriso largo e seus olhos brilharam como se fossem pedras preciosas.

— Que lindo, Enrique! — exclamou Stephanie levantando o colar com a letra E cravejada em diamantes que acabara de ganhar. — Eu amei, Enrique, esse colar é muito lindo! — Stephanie estava admirando o colar como uma criança admirava um doce. Stephanie em sinal de agradecimento pelo presente deu um abraço super apertado em Enrique que quase o esmagou e depositou vários beijos apaixonados em seus lábios.

Logo após Enrique, Francisca, Maria, Augusto, Isa e Carla felicitaram Stephanie pelo seu aniversário. Agora era a minha vez. Passei o bolo que estava em minhas mãos para as de Isa e caminhei em direção à cama de Stephanie para lhe dar um abraço apertado.

— Parece que foi ontem que uma menininha pequena com franjinha vinha correndo para sentar no meu colo e ouvir histórias pra dormir. Como o tempo passa rápido. — sussurrei em seu ouvido enquanto estávamos abraçados. — Feliz Aniversário, Teph! Seu presente está lá embaixo. — disse a ela.

Seus olhos logo brilharam quando mencionei o presente. Stephanie adora presentes.

— Obrigada, Armando! — agradeceu. — E depois, eu quero o meu presente, ok?

— Ok! — respondi.

— Eu acho melhor comermos esse delicioso bolo lá na sala de jantar. — sugestionou Stephanie.

— Então vamos! — todo mundo concordou.

Todos saíram do quarto e foram descendo as escadas. Eu fui o último a fazer o mesmo trajeto.

Estava pisando nos últimos degraus da escada quando tocaram na companhia. Logo, Terminei de descer e apressei em atender a porta. Meu instinto estava me dizendo que era algo de muita importância. Abri a porta e deparei-me com um homem alto, com a pele muito branca e com roupas pretas.

— Daniel, o que você está fazendo aqui? — perguntei apreensivo enquanto fechava a porta rapidamente para ninguém ver quem é que estava esperando aqui fora.

— Armando, preciso falar com você. — respondeu.

— É alguma coisa grave? — perguntei com medo da resposta.

— Sim. — confirmou. — O conselho pediu pra eu vim te alertar que provavelmente Miguel irá fazer uma surpresa não tão surpresa hoje. — disse. — Eles estão preocupados com relação à Stephanie. Estão com medo de que algo de ruim aconteça hoje à noite na festa que vocês irão fazer pra ela.

— Bem que eu suspeitava que ele estava tramando algo. Meu instinto não falha. Ainda mais porque ele andou dando umas amostras do que está por vir. — expliquei a Daniel. — E como o conselho sabe da festa que vamos fazer para Stephanie? — perguntei.

— Armando, você acha mesmo que essa festa ia acontecer sem que o conselho soubesse? Até parece que você não conhece Constanza. Ela sempre sabe o que acontece envolvendo a vida de todos ligados ao conselho, incluindo a minha, a sua e a de Stephanie. — Daniel tinha uma expressão divertida em seu rosto que logo deu lugar a uma expressão de preocupação quando percebeu o que eu tinha acabado de falar sobre Miguel. — Como assim, ele andou dando amostras do que está por vir? Armando, o que o Miguel fez? — Daniel perguntou preocupado.

— Ele andou mandando uns presentes digamos... Íntimos e outros não tão íntimos assim. — eu estava constrangido só de imaginar aquelas caixas cheias de itens de sexshop que aquele desgraçado enviou à Stephanie.

— Como o quê, por exemplo? — Daniel estava curioso pra saber mais detalhes.

— Vibradores, gel de massagem para o corpo, calcinha comestível, camisinha, fantasia de enfermeira sexy e até algemas.

— Como sempre, Miguel continua depravado. Ele não muda mesmo! Graças a Deus que ele não é meu irmão biológico. — exclamou Daniel. — Ele mandou alguma outra coisa?

— Cartas, flores e joias. Além de ter mandado vigiarem a casa. No outro dia, Stephanie viu um deles passando pela janela e assustou-se, tivemos que falar que era coisa de sua imaginação, mas como se trata dela não podemos ter certeza se acreditou no que dissemos.

— Não quero nem ver como Constanza irá ficar quando descobrir que Miguel está conseguindo burlar a proteção da casa. — era visível que Daniel estava preocupado com a reação de Constanza.

— Burlar a proteção da casa? Como? — perguntei sem entender o que ele queria dizer.

— Você lembra da Montserrat Medina?

— Ela é irmã da Evangelina, não? — eu não tinha certeza do grau de parentesco delas. — Aquela que era a dama de companhia da rainha Teresa?

— Sim, ela mesma. Você sabe que as Medina tinham a fama de serem bruxas, não? Então, elas realmente eram. A mãe delas era a ama de leite de Miguel e de Nadia e por isso elas conviveram com o próprio durante muito tempo. Depois que a mãe delas morreu, elas foram acolhidas pelos reis em consideração a tudo que a mãe fez por eles. O tempo passou, Evangelina e Montserrat tornaram-se damas de companhia da rainha e de Nadia e por isso sabiam de tudo que acontecia no castelo, inclusive que Miguel planejava dar um golpe e tirar o pai do trono sem que nem a sua mãe – a rainha – soubesse dos seus planos e sabendo disso, Evangelina que sempre foi muito ambiciosa e também era apaixonada por Miguel e sempre fez o que ele pedia, se ofereceu para ajudar no plano e ele em troca de sua ajuda e lealdade lhe prometeu que quando ascendesse ao trono, ela seria sua rainha. Enquanto sua irmã Montserrat preferiu ficar de fora do plano maligno. O plano deu certo e Evangelina tornou-se rainha contra a vontade de toda a família. A rainha Teresa nunca foi muito com a cara de Evangelina por acreditar que ela era muito interesseira e também por só ter gostado da moça que foi escolhida na primeira reunião exigida pelo rei e depois de Lara, quando descobriram que Miguel tinha rejeitado a primeira que escolheram porque estava “apaixonado” por ela. Por isso a rainha pediu que o conselho fizesse uma segunda reunião para acharem uma nova esposa para Miguel. Fizeram a reunião e você já sabe o resultado. — contou Daniel.

— Mas porque o Miguel queria tirar o próprio pai do poder, se já tinham preparado tudo para que ele assumisse o trono? E o que Montserrat tem a ver com a proteção da casa?

— Acredito que Miguel tenha feito tudo isso porque era muito ambicioso e não acreditava que o rei iria abdicar e deixá-lo ascender ao trono. Pelo o que eu sei, ele acreditava que o rei iria abdicar a seu favor, Armando, e você sabe melhor do que ninguém que ele teria motivos para tal coisa. Foi Montserrat que previu na nova reunião do conselho que Stephanie seria a mulher “perfeita” para ser esposa de Miguel mesmo que só fosse nascer vários séculos depois e também foi a bruxa que previu a morte de Lara. E depois da morte de Lara, ela viu o qual perigoso Miguel é para a vida de alguém e o que sua irmã mais nova faria caso fosse destronada para dar lugar à outra mulher, por isso quando o conselho pôs todos os aliados a postos, ela tornou-se a conselheira de Constanza e assim passou a fazer parte do corpo de membros do conselho. — respondeu. — Ela foi a responsável pelo feitiço de proteção da casa.

— Do plano de Miguel e Evangelina, eu já suspeitava, mas não sabia que tinha sido Montserrat que previu que a Stephanie era a próxima escolhida e a morte de Lara. Mesmo depois de séculos que ocorreu isso, Constanza nunca quis me contar quem era essa pessoa.

Eu não conseguia acreditar no que Daniel me contava sobre fatos que ocorreram há mais de 500 anos. A única coisa que passava pela minha mente era como eu passei tanto tempo sem saber de tudo isso. Não podiam ter me escondido algo de tanta importância.

— Constanza nunca falou quem era, porque a própria Montserrat e outros membros do conselho pediram. Tinham medo que você pudesse fazer algo contra ela por ter previsto a morte de Lara e não ter te contado nada. Armando, você tem que entender que Montserrat não te contou isso por medo. Temos que concordar que depois da morte de Lara e do bebê que ela esperava você não estava na fase mais racional da sua vida e por isso você não era a pessoa mais amigável no momento. — explicou Daniel.

— Eu entendo, mas... A Constanza não podia ter me escondido isso, ainda mais envolvendo a Lara e o nosso filho.

— Eu sei que ela não podia ter te escondido e também nunca concordei com esconder algo dessa magnitude de você, mas provavelmente ela fez isso pensando no seu bem ou na integridade física de Montserrat. Só acho que você não pode ficar se martirizando por algo que aconteceu há 500 anos e te digo isso como o bom amigo que sou. Agora tenho que ir. Constanza deve estar precisando de mim. — Daniel terminava de falar comigo e colocava o capacete enquanto se encaminhava até uma moto que estava parada no gramado da casa que só notei quando ele saiu da minha frente.

— Ok. Vou tentar fazer isso, mas vai ser difícil. Adeus, meu amigo. — falei e logo dei um aceno de despedida na sua direção.

— Espero que você consiga. E eu prefiro dizer um até logo a um adeus. Nunca se sabe quando nos encontraremos de novo. E pelo o andar da carruagem será logo. — Daniel respondeu e logo depois acelerou a moto que em frações de segundo já estava no final da rua.