Armando’s P.O. V

— Armando?! – escutei o meu nome e logo reconheci ser a voz de Isa.

— O que houve, Isa? – perguntei a ela que estava ofegante.

— Eu tenho uma boa e uma má notícia, qual você quer primeiro? – perguntou.

— A má – respondi com coragem.

— A Stephanie escutou a nossa conversa – contou.

— O quê?! – me surpreendi – E qual é a boa notícia? – perguntei assustado.

— A boa é que ela só ouviu até a parte em que eu te perguntei se você era apaixonado por ela.

— Ufa! – fiquei aliviado por saber disso – E como você sabe? – perguntei.

— Ela falou comigo, ué! – respondeu – E falando em alguém falar comigo, Você precisa terminar de contar aquela história...

— Ok! Me encontra no jardim daqui a meia hora e eu vou terminar de te contar tudo – combinei com ela.

— Absolutamente tudo? – perguntou.

— Absolutamente tudo! – prometi.

Eu não acredito que eu estou fazendo mais uma pessoa esconder esse segredo, e é mais uma pessoa a qual Stephanie talvez não perdoe por isso. Subi as escadas em direção ao sótão aonde guardei todas as cartas e presentes que ele enviou à Stephanie durante esses últimos meses em uma caixa com cadeado e a cubri com um lençol velho e rasgado que estava em cima da velha poltrona que ficava no quarto de Stephanie...

*Flashback - ON*

6 de Novembro de 1996

— Mando, você pode me contar uma historinha pra eu dormir? – uma Stephanie de 7 anos veio se sentar no meu colo enquanto eu estava sentado na velha poltrona que ficava do lado de sua cama.

— Você vai querer qual história, Meu amor? A Bela e a Fera, Cinderela ou Rapunzel? – perguntei.

— Eu vou querer aquela que você me contou no outro dia! – respondeu.

— Qual?

— A Princesa de Kária, Mando! Você não se lembra?

— É claro que eu me lembro dela, Teph. Você tem certeza de que vai querer ela? – eu estava incerto se eu deveria contar essa história de novo a ela.

— Aham! – confirmou.

— Então tá! – afirmei inseguramente.

“Era uma vez... em uma terra muito distante, vivia uma princesa muito bonita chamada Lara. Ela era muito querida pelas pessoas que habitavam o pequeno reino de Kária e era uma das moças mais cobiçadas pelos cavalheiros que ali habitavam, em especial por dois cavalheiros extremamente distintos; onde somente um dos dois teve o amor correspondido por ela. Esse “sortudo”, como o chamavam, tinha o nome de Juan e era um dos rapazes mais disputados do reino, mas somente tinha olhos para a princesa Lara, a qual também só tinha olhos para ele...

— É o segundo pretendente dela? – perguntou Stephanie ansiosa.

— Já estou chegando a essa parte da história, Teph! – respondi.

... O outro rapaz que era apaixonado por Lara, se chamava Afonso, o qual ela só considerava como um bom amigo e que disputava seu amor com Juan. Afonso, ao contrário de Juan, não era uma pessoa de bom coração: era mesquinho, frio e maquiavélico. Sentia um amor obsessivo pela princesa e a queria para si. Num certo dia, Juan e Lara se encontraram em um baile promovido pelo rei, onde ficaram juntos pela primeira vez. Afonso, que também era apaixonado por ela, viu os dois beijando-se e não gostou da cena, jurou que se vingaria de Juan por ter roubado sua amada. Sendo assim, planejou uma armadilha para que Juan fosse flagrado com outra mulher e a princesa o visse e pensasse que fora traída por ele, e realmente isso aconteceu, ela o viu beijando uma de suas criadas e isso a magoou de tal forma em que ela prometeu nunca perdoar Juan e que a fez se tornar uma pessoa fria e amarga. Mas isso não durou por muito tempo, pois logo se descobriu que tudo não passava de uma armadilha para separar Juan e Lara. Só que o casal não imaginava que quem tinha planejado tudo isso tivesse sido Afonso, o qual Lara e Juan julgavam ser uma boa pessoa, mas se enganaram profundamente. Ao se deparar com sua iminente derrota na luta pelo coração de Lara, Afonso decidiu que sua vingança seria ainda mais implacável e assim sequestrou a princesa e a levou para um castelo distante em que a aprisionou para que ela fosse sua para sempre. Juan que ficara atordoado com o sumiço da princesa decidiu ir atrás dela, pois no fundo, ele sabia que a única pessoa que seria capaz de sequestrar Lara era Afonso. Logo a achou em um castelo no meio da floresta. Juan entrou no castelo gritando por sua amada e logo avistou Afonso surgindo da parte mais escura do castelo. Furiosamente, perguntou onde estava Lara e Afonso respondeu cinicamente que ela estava trancada no quarto pensando em todo mal que fez, mas Juan não entendera o que Afonso queria dizer com aquilo, pois ele sabia que Lara não era capaz de fazer mal algum e também não entendia como Afonso dizia que o amor era um sentimento desprezível, o que na verdade, não era o amor era um sentimento bom. E ele também dizia que ela o desprezava, mas isso também não era verdade, ela somente o via com olhos de amiga. Naquele momento, Afonso tinha um olhar maquiavélico e parecia disposto a tudo para separar Lara de Juan. O que os três não imaginavam era que isso realmente iria acontecer uma hora ou outra. Juan subiu furiosamente as escadas para tentar achar Lara que estava em algum dos tantos quartos que havia naquele grandioso castelo, até que a achou em um dos quartos com as mãos e os pés amarrados e a boca amordaçada. Ele ficou arrasado quando a viu de novo, não parecia à princesa pela qual ele se apaixonou, ela estava debilitada e muito pálida, além de parecer que não era alimentada há vários dias. Pobre Lara! Pensava Juan. Como alguém era capaz de fazer isso com a pobre princesa Lara, que era tão boa e sequer fazia mal a algum ser humano ou animal que cruzasse seu caminho. Afonso era o tipo de pessoa que causava arrepios na espinha só de ouvir seu nome, mas a única pessoa que nunca sentira nada desse tipo em relação a ele era Lara, que sempre o viu como uma pessoa boa, o que ele não era realmente. Juan, depois de ver Lara nessa situação, se prontificou imediatamente a desamarrar as cordas que deixavam a pele alva da princesa roxa de tão forte que estavam apertando seu pulso que já apresentava as veias saltadas e de uma coloração verde-escura por causa do frio que estava naquele quarto, e logo a pegou em seus braços e a tirou de lá. Desceu as escadas rapidamente até chegar ao hall de entrada do castelo aonde encontraram um Afonso cheio de ódio e armagura no olhar que estava portando uma espada em uma das mãos enquanto os observava atentamente esperando que Juan deixasse a princesa em algum lugar e fosse partir para o ataque para ver quem ganharia o coração da princesa. Começaram a duelar, quando de repente Afonso que estava prestes a dar um basta na vida de seu rival Juan foi interrompido por uma Lara que faria de tudo para salvar a vida de seu amado, mesmo estando debilitada, e que tomou uma difícil decisão. Antes de fazer o que pretendia, Lara desculpou Afonso por todo o mal que ele causou-lhe, assim como se despediu de Juan, que a implorava para não fazer isso e que dizia que a amava com toda a sua alma e sempre a amaria até que a morte os separasse. Tomada pelo amor que sentia por Juan, ela estava realmente disposta a tirar sua própria vida para em vão acabar com a discórdia que causou involuntariamente entre dois homens que um dia foram amigos e que hoje tornaram-se rivais por seu amor e foi assim que em meio aos gritos de protesto de Juan, ela pegou a espada de Afonso e a cravou profundamente em seu próprio ventre caindo logo em seguida no chão. Aos berros, Juan tentou acordar a princesa que estava caída ao lado de uma poça que se formava com seu próprio sangue. Afonso desesperou-se completamente ao ver que foi sua espada a causadora da morte de sua amada e juntou-se a Juan na esperança de que Lara não teria sido capaz de acabar com própria vida em troca de uma amizade que nunca mais voltaria a viver.

Depois de alguns meses da morte de Lara, Juan não se recuperou completamente da morte de sua amada e Afonso nunca mais foi visto pelos habitantes de Kária, e o Rei ficou inconsolável com a morte de sua única filha. Kária nunca mais teria a presença graciosa de Lara. Fim”.

Acabei de contar a história, e logo reparei que Stephanie já estava adormecida, levantei-me da poltrona e inclinei-me para depositar um beijo em sua testa e assim sai do quarto.

*Flashback - OFF*

Ultimamente eu tenho estado tão nostálgico, que acabo me relembrando de momentos muito felizes ao lado de Stephanie. Depois dessa nostalgia toda, com a caixa em mãos e tomando cuidado para não ser descoberto por alguém, saí do sótão e fui em direção ao jardim para encontrar Isa. Chegando lá, encontro uma Isa impaciente e aparentemente curiosa. Parece que a curiosidade é um mal de família.

— Até que enfim! Não aguentava mais esperar você – Isa estava resmungando e com as duas mãos na cintura em sinal de impaciência.

— Se eu fosse você, eu sentaria – digo indo em sua direção e indicando a cadeira que estava do seu lado.

— Ok! – disse ela.

— Tudo começou no ano de 1495, em uma das reuniões do conselho...

— Conselho? – perguntou Isa – De vampiros? – continuou.

— É um conselho de vampiros e bruxas, na verdade – respondi.

— Agora só falta você me dizer que também existem fadas e lobisomens. Espera aí... Eles existem? – ela parecia que ainda não acreditava naquilo tudo sobre vampiros, bruxas, fadas e lobisomens.

— Sim, Isa! Eles existem – afirmei.

— Então tá, Armando, mas continua contando a história porque agora eu fiquei curiosa e você sabe que a minha curiosidade é mal de família – disse ela entre risos.

— Continuando... Nós estávamos em uma reunião do conselho do qual eu fazia parte junto a outras pessoas, e inclusive uma antepassada sua, aonde estávamos tentando escolher uma esposa para o príncipe herdeiro do trono vampírico e assim ele poder suceder seu pai no comando do reino dos vampiros. Conseguimos encontrar a esposa que o Rei considerava que era perfeita para ascender ao trono junto com Miguel, o príncipe em questão. – Estranhamente, eu me sentia mais leve ao contar essa história para alguém mais, além de Francisca.

— Mas e aí? O que acontece depois? Acontece alguma coisa né, Armando? – questionou.

— E aí, o que aconteceu foi que ele se recusou a casar com a tal prometida, e depois de uma investigação que o conselho exigiu, descobrimos que na verdade ele estava interessado em Lara, que era filha da sua antepassada que era membro do conselho, Alina. – relatei.

— Nossa! E qual era problema dele ter se interessado por ela? – perguntou Isa.

— O problema era que, digamos assim, ele não era uma pessoa muito querida pela mãe de Lara e muito menos por outros membros do conselho. – expliquei. – Ele era uma pessoa maquiavélica, egoísta e sádica. Sendo assim, achávamos que Lara não merecia ser amada por ele, tampouco, passar a eternidade com ele. Lara era uma menina boa, doce e gentil.

— Então, me deixa adivinhar, vocês armaram um plano para afastar ele da Lara, certo? – perguntou.

— Exatamente. – confirmei. – Me mandaram proteger ela e eu fui, só que acabaram acontecendo coisas que não estavam nos planos do conselho... – só de lembrar, aparecia a imagem de Lara em seus pensamentos; Tão bonita e tão jovem.

— O que aconteceu que não estava nos planos do conselho, Armando?

— Eu me apaixonei perdidamente pela Lara e ela por mim, Isa.