Estações escrita por Emma


Capítulo 6
Feridas Antigas


Notas iniciais do capítulo

Gente, mil desculpas por não ter postado capítulo novo ontem... Estava resolvendo umas coisas muito importantes em um lugar um pouco afastado da cidade... Então, para compensá-los, postarei dois capítulos hoje... Apreciem, logo mais teremos um novo romance no ar...



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“De joelhos, eu pedirei uma última chance, por que com você eu resistiria todo inferno, apenas segurando sua mão. Eu daria tudo por você, por nós... Dou qualquer coisa, mas não desistirei, pois você sabe que eu te amo e te amei o tempo todo.”

Sete meses se passaram e as coisas seguiam bem, obras do condomínio a todo vapor, já haviam chegado à parte de supervisionar as instalações e corrigir alguns detalhes, mais alguns poucos meses e tudo estaria pronto. Helena e Heitor viviam em uma plena lua de mel, eram do tipo que brigavam e logo faziam as pazes, na verdade eles até gostavam de alfinetar um ao outro por causa da hora da “reconciliação”... Mesmo não se expondo na frente de ninguém todos já sabiam abertamente que eles namoravam, até por que as revistas e sites de entretenimento assim que souberam, há alguns meses atrás, estamparam suas capas com fotos deles... Helena tinha se tornado muito próxima de Alexandre, eles três sempre estavam juntos, então os dois procuraram se conhecer melhor.

Uma tarde, Helena tinha ido almoçar com o pai, pois ele passaria um mês em Soriano, na Itália, resolvendo assuntos comerciais. Heitor saiu com Alexandre, foram a um restaurante e o engenheiro lhe confidenciou algo:

– Alê, estou pensando em pedir Helena em casamento amanhã a noite...

Alexandre bebia uma taça com água e quase se engasgou com a declaração do amigo, após se recompor disse:

– Sério?!

– Sim! Por quê? Você acha uma má ideia?

– Claro que não meu amigo, pelo contrário, acho maravilhosa... – Alexandre abriu um sorriso imenso – Vocês se amam, por que não começar uma família?!

– Eu não tenho dúvida quanto ao que sinto por ela, sei que a gente adora uma discussão – ele ri – mas eu a amo demais, e isso é o que a faz a mulher da minha vida! Quando amanheço sem ela sinto um vazio enorme... Eu quero ter filhos Alê, já tenho 27 anos e preciso de uma família, de herdeiros...

– Está certíssimo! Já que encontrou a mulher da sua vida, se case, forme uma família e seja feliz! Quando eu encontrar a minha, não demorarei também... Como e onde você pretende fazer o pedido?

– Estava pensando em uma viagem, Kancún, talvez Europa... Mas a Helena prefere algo mais simples, mais autêntico sabe?! Jóias, viagens, grifes, nada disso realmente a encanta, por isso eu pensei em fazer algo no meu apartamento mesmo, jantar a luz de velas, um vinho que nós tomamos mês passado e que fez a noite ser a melhor que eu já tive com ela nesses oito meses, sério, sem exagero, eu amei Helena aquele dia como nunca tinha feito! Poderão acontecer melhores, mais nenhuma vai ser igual aquela noite – suspirou ao lembrar.

– Quero o nome desse vinho depois – Alê e Heitor riram – Acho ótimo, apesar de achar que você poderia levá-la em um lugar que fosse especial para vocês dois, um que tivesse ficado marcado...

– Tipo o chalé?!

– Seria uma boa ideia! Mas, creio que você conheça melhor que eu um lugar que seja apenas de vocês dois...

Heitor sorriu e pensou nas palavras do amigo, “um lugar que fosse apenas deles...” Lembrou-se do local perfeito e começou a imaginar como ia fazer para preparar tudo lá sem que ela soubesse...

– Eu sei do local perfeito Alê!

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Terminaram de almoçar e Heitor ligou para o gerente da fazenda de Helena, explicou o que queria fazer e pediu que o ajudasse, este não hesitou e preparou o local para que ficasse incrível!

Foi até a fazenda de helicóptero e deixou o comando de como queria que o local ficasse, conseguiu arranhar o pescoço ao passar perto de uma tábua com farpas. Ao sair de lá passou na joalheria para escolher o anel da nova coleção de noivas da Tiffany que tinha acabado de chegar de Paris... Helena estranhou o sumiço de Heitor, perguntava e ninguém sabia dizer onde ele estava, começou a ficar com receio... A noite ele foi até o apartamento dela, Helena o abordou sobre onde ele passara a tarde, ele tentou mudar de assunto, mas ela não deixou...

– Vamos Heitor, me diga onde passou à tarde? – perguntou já se chateando pela enrolação dele. Seu humor estava péssimo hoje.

– Eu estava tratando de uns assuntos, que por sinal são do seu interesse também – se aproximou para beijá-la com um lindo sorriso.

Ela se afastou, evitando o abraço e o beijo dele:

– Por que não atendeu o telefone então?

– Helena, por favor, pare com isso! Você não confia em mim?

– Só estou achando muito estranho tudo isso, se é do meu interesse eu devia saber onde você estava...

– Não acredito que está desconfiando de mim? Você acha mesmo que eu estava com outra mulher?! – perguntou se chateando...

– Eu não acho nada Heitor, nada! Quem está falando isso é você! Apenas estranhei seu sumiço e queria que me esclarecesse onde estava...

Ele se sentou no sofá da sala, abaixou a cabeça e respirou fundo para se acalmar e não perder a paciência com ela ou estragar a surpresa... E quando ele ia responder Helena notou o arranhão em seu pescoço e se aproximou para ver:

– Amor... – ele foi interrompido.

– Como conseguiu esse arranhão em seu pescoço Heitor? – perguntou desconfiada.

– Não é nada, foi uma farpa! – ela esticou sua mão para tocar.

– Uma farpa? No pescoço? Onde você conseguiu se machucar assim se nem na obra foi hoje? Eu estive ali a tarde inteira e você não pisou lá... Heitor, me conte a verdade...

– Helena pare com essa desconfiança! Droga! – disse um pouco alterado – Se não confia em mim, acho melhor eu ir embora de sua casa – levantou-se para sair.

Helena virou-se e apenas disse:

– Eu só gostaria de saber onde você estava! Como você quer que eu acredite que não estava fazendo nada demais, se você me aparece com um arranhão no pescoço e se altera quando pergunto onde esteve?!

– Não basta eu dizer para você confiar em mim e esperar?! A minha palavra não vale nada para você Helena?! – Parou na frente da porta esperando pela resposta...

– É claro que vale, eu só acho tudo isso muito... Ah Heitor, quer saber?! Volte para os seus “afazeres” e me deixe em paz!

Heitor abriu a porta na intenção de sair, mas resolveu respondê-la:

– Sabe qual seu problema Helena? Você é muito mimada, está acostumada com todos te obedecendo e fazendo suas vontades, tudo no momento em que você quer... Mas eu já lhe disse outra vez, eu não sou nenhum de seus vassalos! Não deixarei que me domine...

– Como ousa? Você com certeza não é a pessoa mais indicada para falar sobre mimos não?! Um filhinho de papai que sempre teve tudo o que quis, sua mãe até hoje te trata como um garoto...

– Pelo menos eu tenho uma mãe que se importa comigo! – Heitor estava no ápice da raiva e falou sem pensar, mas se arrependeu instantaneamente.

Aquilo doeu no âmago de Helena! Como uma punhalada. Seu semblante mudou na hora, exalava frieza e disse depois de alguns instantes:

– Vá embora da minha casa! Agora! E nunca, nunca mais, me procure!

Heitor tentou falar algo para desfazer a besteira que havia dito:

– Helena, espe... – ela o interrompeu

– Não dirija a palavra a mim novamente! Apenas saia da minha casa!

Ele hesitou, permaneceu parado por uns segundos olhando-a:

– Agora Heitor! – ela falou alterada.

Helena fechou a porta e ainda não acreditava que Heitor teve a coragem de dizer-lhe aquilo, ela já havia contado a ele a história dela com a mãe, o quanto aquilo a magoava... “Como ele teve coragem de me dizer isso! Que estúpido! Quanto infantilidade, brincar com minhas emoções assim! Me decepcionei demais com você Heitor... Nunca o perdoarei por isso”.

Deitou na cama e chorou muito, por Heitor, pelo que ele falou, por que apesar de amá-lo ele tinha ferido-a de uma das piores formas, foi insensível, infantil, por que agora sabia que teria que esquecê-lo... Por se lembrar daquela infeliz tarde há treze anos...

Ela e Isabel, sua irmã caçula com apenas dois anos de diferença, estavam brincando no bosque da fazenda em Soriano, no final do caminho tinha um rio fundo, com correnteza forte e uma ponte que ligava os dois lados, a mãe delas não estava por perto... Isabel era uma menina linda e doce de oito anos, se parecia externamente com o pai, cabelos dourados e lisos, pele alva, olhos verdes, era encantadora, diferente de Helena tinha uma personalidade maleável, terna e sensível, era a princesa da casa. Elizabeth, a mãe, era muito ligada a ela e Inácio a amava muito, mas o fato de Helena se parecer com ele interiormente e com a mãe por fora, faziam com que fosse dela sua maior afeição. Para as meninas isso não importava, por que ele adorava as duas, porém sua esposa sentia, lá no fundo, ciúmes da própria filha.

Ele era louco para ter um filho, durante a gravidez de Helena jurou que teria um varão, todavia quando a criança nasceu e ele soube que era uma menina, sentiu-se um pouco triste, mas bastou fitar os olhos na pequena Helena que se apaixonou por ela... E assim foi por todos os anos seguintes. Eram felizes, Inácio daria o mundo para Elizabeth caso ela pedisse, tinha uma delicadeza e doçura que contrastava com seus traços escuros... Era a mulher da sua vida e tinha lhe dado duas filhas, e esperava que logo mais, um menino nascesse...

Tudo foi destruído aquela tarde, os sonhos e projetos foram dolorosamente mudados, quando por acidente Isabel caiu da ponte e Helena pulou para tentar salvá-la, segurou a irmã, porém ela não conseguiu nadar para a margem de novo, as duas estavam se afogando quando um menino de uns treze ou quatorze anos, pulou na água e puxou Helena, ela segurou na mão de Isabel e a trouxe junto, Isabel estava muito nervosa e se movimentando muito, o que levou os três a emergirem, os pés de Isabel ficaram presos em raízes no fundo do rio, quando voltaram a superfície Helena mergulhou para puxá-la, mas o menino não deixou e a trouxe de volta para a margem, voltou para a água e tentou até que conseguiu desprender Isabel, porém já era tarde demais... Enquanto ele tentava reanimá-la, Helena correu no cavalo atrás de ajuda, encontrou seu pai no caminho que imediatamente a acompanhou, ao ver a filha deitada, inconsciente e provavelmente morta, ele entrou em desespero... Elizabeth chegou mais desesperada ainda, pegaram o helicóptero e voaram para o hospital numa inútil tentativa de salvar a menina que apesar de não quererem ver, já estava morta...

Helena tremia lembrando-se disso! Passou muitos anos tendo pesadelos com aquelas cenas, ver sua irmã morrer e não ter conseguido salvá-la... Como aquele dia foi horrível, o mês seguinte também... A fazenda parecia ter perdido o brilho, alegria, todos andavam tristes... Elizabeth se trancou em um quarto e quase nunca saía, Helena se sentia com medo, perdida e Inácio, mesmo arrasado pela dor, era quem ainda se dispunha a cuidar dela, tentando acalmá-la e dormir com ela...

Quando o primeiro mês se passou, Elizabeth tentou voltar ao convívio de todos, mas ela culpava Helena pelo que tinha acontecido, por não ter salvado a irmã, por talvez até, não ter morrido no lugar dela... Ela nunca teve a chance de dizer para mãe que essa era sua vontade, que teria morrido no lugar de Isabel, dizer coisas que estavam presas em sua garganta há muitos anos, porém não conseguiu, pois na semana seguinte ao primeiro mês da morte da irmã, a mãe foi embora de casa, alegando estar muito mal, que tudo lembrava Isabel e que não ia conseguir superar isso desse jeito... Já fazia treze anos que não via a mãe, entretanto nunca esqueceu o dia em que ela partiu. Inácio sofria calado, sempre foi muito reservado quanto aos seus sentimentos, nessa noite ele saiu do escritório e viu Elizabeth com malas na mão, perguntou aonde ela ia e ela revelou-lhe que precisava passar um tempo longe, dele, de Helena, de todos, se não morreria... Eles discutiram muito, e ela observava por trás da porta, então ele disse que se ela fosse embora nunca mais poderia voltar e nem ver Helena outra vez. Mesmo assim ela foi partiu, sem responder nada...

Desde esse dia Helena acreditou que a mãe não se importava com ela, e muito menos a amava. Nunca a procurou, sempre teve o pai à total disposição, talvez fosse por isso essa proteção e dedicação intensa com ela, tentando suprir a ausência de Elizabeth. Helena aprendeu a “odiá-la” e jurou que quando fosse mãe, nunca faria o mesmo com seu filho! Por isso quando ouviu as palavras de Heitor, aquilo a feriu profundamente, magoou-a no seu interior. Ele tocou na ferida mais antiga e dolorosa que ela possuía e aquilo ela nunca perdoaria.

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Heitor voltou para casa com vontade de se socar... “Estúpido, estúpido, estúpido! Como eu fui dizer aquilo para Helena! Realmente ela nunca mais me perdoará! Droga!”. Ligou para Alexandre e como sempre, ele desceu ao apartamento do amigo na tentativa de ajudá-lo... Ele lhe contou a discussão e:

– Heitor! Eu não tenho outra coisa a te dizer se não que você é um imbecil! Cara, o que deu em você?! Como foi dizer isso para ela? Até eu fiquei com raiva de ti... Dessa vez, você e apenas você, estragou tudo! – Alexandre esboçava uma expressão de inconformismo.

– Eu sei Alê e eu estou me odiando por isso! Eu fiquei tão chateado com as desconfianças de Helena, que quando vi estávamos brigando e eu soltei isso!

– Era melhor ter ficado calado e saído quando teve oportunidade, cara, como você foi fazer isso?! – não disse querendo uma resposta, apenas não acreditava na idiotice de Heitor...

Heitor abaixou a cabeça e disse:

– Dessa vez eu a perdi não é Alê? Helena nunca mais vai querer falar comigo... Se você visse a forma como me olhou, como me mandou embora de sua casa... Estava tão fria...

– Heitor eu não sei, não sei mesmo... Mas depois procurarei Helena e tentarei conversar com ela... E você também, não vá atrás dela agora, se fores, a tensão entre vocês só piorará, dê um tempo a ela, deixe-a pensar, organizar as ideias...

– Você está certo! Só não sei se conseguirei ficar longe dela, se Helena não me quiser, o que será da minha vida?! Eu a amo demais para perdê-la...

– Sei que você falou aquilo por causa da raiva, sua intenção não era machucá-la, mas feriu, e muito! Para ela essa dor é equivalente a dor que Bianca lhe causou – Heitor começou a refletir...

– Amigo, muito obrigado pelo apoio, mas preciso ficar sozinho agora...

Alexandre entendia o pedido de Heitor:

– Claro, boa noite e não se martirize muito!

– Impossível sabendo que posso ser o único culpado de perder a mulher que amo... Boa noite!

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Helena sentia uma náusea horrível, cada vez que se lembrava do que Heitor disse revivia a cena de treze anos atrás, sentia uma dor aguda dentro de si, aquilo magoava tanto, flashes de sua irmã afundando, morta, do pai chorando, da mãe entrando em crise, culpando-a e depois abandonando-os. Aquilo doía muito, pensou em Heitor, em como era possível amá-lo e agora sentir uma aversão, ódio por tê-la magoado dessa forma... Queria falar com o pai, mas não ia ligar, lá estava de madrugada, ele devia estar dormindo, não queria preocupá-lo, pois sabia que ele deixaria tudo e viria consolá-la...

A noite foi terrível para Heitor, dormiu muito pouco e sentindo uma dor imensa no peito, seu coração estava apertado... Pensou em como sua vida mudou depois de Helena, o quanto ela lhe fazia bem, desde quando ela apareceu e o encantou, depois quando ele foi se apaixonando ela lhe devolveu a esperança de ser feliz, de se casar, ter uma família... “Você foi a melhor coisa que me aconteceu, como fui jogá-la fora assim, com uma frase?! Idiota, idiota... Não a mereço Helena!”

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Na manhã seguinte, Heitor chegou na empresa destruído, não sabia se deveria ir falar com ela, se esperava... Não demorou muito e ele recebeu uma ligação da secretária, informando-o que a Srta. Helena havia ligado e pediu que ele checasse o email. Heitor temeroso, ligou o computador em sua mesa e verificou sua caixa de entrada:

“Sr. Herrera queria pedir minha dispensa de sua empresa, sei que temos um contrato, e aceito todas as punições pela quebra dele, agradeço por poder ter contribuído com a mesma, e por tudo que me acrescentou profissionalmente.

Depois ligarei para o RH para tratar da rescisão,

Helena Soriano”

Heitor levou um choque ao ler aquilo. “Sério, ela está se demitindo mesmo?!” Ele não podia deixá-la sair de lá, por causa dele, pelo condomínio, por tudo... “Eu nunca assinarei essa rescisão! Ela tem um contrato e eu não deixarei que rompa com ele...” Ligou, mas ela não atendeu. Deixou um recado na caixa postal:

– Helena, eu sei que fui um idiota ontem! Mereço seu desprezo, mas eu preciso de você, não apenas aqui na empresa, preciso em tudo e sempre. Você tem projetos importantes e inacabados aqui, seus clientes vão ficar irritados, seria prejudicial a sua carreira, e entendo não queira me ver e não a obrigarei a isso, porém preciso de você aqui! Se quiser faremos um acordo, prometo não falar com você, só quando for muito importante ou não puder ser intermediado por ninguém, também não lhe incomodarei no seu andar. Manterei distância, eu prometo!

Mais tarde ela retornou a ligação:

– Heitor, você tem razão, eu tenho um compromisso com os clientes e não posso desapontá-los. Permanecerei na empresa, mas só até o final das obras do condomínio, depois disso, eu não trabalho mais para Herrera Construções. E minha proposta para que isso aconteça é essa: Você não tentará nenhum tipo de aproximação, não entrará de forma alguma em minha sala e só falará diretamente comigo quando não houver outro jeito. Se não manter essa distância, eu irei embora sem hesitar! Ok?

– Sim, tudo bem!

Ela desligou o telefone, e só foi para a Construtora depois do almoço.

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Um mês se passou, Heitor não viu Helena desde então, mesmo estando no mesmo prédio. Ele prometeu manter distância e estava cumprindo, nunca pensou que seria tão difícil, tê-la por perto e não poder beijá-la, sentir seu cheiro...

Helena apesar de se fazer de durona, estava tão triste quanto ele, sentia muita magoa e cada palavra que ele tinha dito ainda doía! Mas não podia negar que sentia falta dele, dos beijos, carícias... Tê-lo por perto piorava tudo. Queria que os meses passassem rápido para poder sair dali de uma vez...

Inácio não estava perto de chegar, demorou mais que o esperado nessa viagem e ainda ficaria por lá uns dez ou quinze dias. Sentia falta do pai, ainda não tinha lhe contado sobre o rompimento, apesar dele saber que algo havia acontecido...

Ela começou a sentir umas sensações estranhas, náuseas constantes, muito sono e fome, sentia seu corpo diferente... E o que mais a preocupou foi o fato de sua menstruação não vir há dois meses... Seu fluxo nunca foi correto, sempre atrasava, mas já era bastante tempo. Estranhou e acreditou ser um dos problemas com a desregulagem hormonal e marcou uma consulta com a ginecologista para a manhã seguinte.

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Chegou no Villa Real as oito da manhã e logo foi encaminhada para sala de sua médica:

– Dra. Barbará, bom dia! – ela disse entrando na sala.

– Bom dia Helena! Tudo bem? – a médica apontou a cadeira.

– É o que eu quero saber – falou em tom amigável.

– O que você tem sentido?

– Náuseas, fome, sono, meu corpo está diferente, aparenta estar mais inchado sabe?! E minha menstruação esta atrasada ‘para variar’ – elas riram.

– Sua desregulagem hormonal pode ser a causa de todos esses efeitos, os sintomas são similares com os que eu falei que poderia acontecer contigo... Mas dois em especial, chamaram minha atenção... – ela sorri e Helena a olha intrigada.

– Quais?

– Sono e fome! Isso dificilmente acontece...

– E o que a senhora acha que pode ser? – Helena realmente parecia preocupada.

– Você realmente não faz ideia não é? – perguntou Bárbara sorrindo.

Helena ainda temendo algo ruim balançou a cabeça negativamente...

– Você já tomou café da manhã?

– Não!

– Ótimo! Venha até a sala de coleta comigo, vamos fazer um hemograma.

Helena a acompanhou e ela tirou o sangue para análise.

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– O resultado sai em uma hora no máximo, espere para que confirme minhas suspeitas?

– Doutora, a senhora está muito misteriosa e está me assustando!

– Não se preocupe Heleninha, acho que terá uma boa surpresa – sorriu (Bárbara era médica de Helena desde quando ela era adolescente, por isso tinha intimidade para chamá-la assim)

– Ok! Eu realmente estou faminta, vou comer alguma coisa e preciso pegar uma encomenda em uma loja bem próxima daqui, acredito que será o tempo necessário, então retornarei para ver o resultado, tudo bem?!

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De volta a sala da médica, a doutora a aguardava com um sorriso no rosto:

– E então, tudo certo? Ou tenho algo para me preocupar?!

– Depende...

– a senhora está realmente me deixando assustada, sério! O que eu tenho?

– Olhe você mesma, reconhece esse hormônio?

Helena olhou surpresa e assustada para Bárbara, ela sabia o que significava, mas não queria acreditar...

– Eu... Eu... Estou...Grávida?! – perguntou assustada, porém com uma alegria crescendo dentro dela...

– Sim, você está grávida Helena! – sorriu abraçando-a – Sei que Heitor ficará contente, desde que me contou e os vi nas revistas, achei vocês um casal lindo e... – Helena interrompeu-a tímida.

– Nós não estamos mais juntos! – o semblante da médica caiu.

– Como assim? Por quê? – os olhos de Helena se encheram de lágrimas – Oh minha querida, me desculpe...

– Tudo bem... Nós discutimos, acabamos falando coisas ruins um para o outro e eu não quis mais vê-lo desde então, tinha decidido esquecê-lo, mas agora isso... Não sei como agir – ela abaixou a cabeça e chorou.

– Helena, acalme-se, você não percebe que talvez isso seja um sinal de que vocês deveriam se acertar! Independente do que aconteceu e foi dito, existe alguém para mostrar que a história de vocês ainda não terminou... Um alguém que vai precisar muito dos dois, a não ser que você pense em... – a médica disse temerosa.

Helena a olhou com um olhar reprovador e disse:

– Não! Eu nunca teria coragem de fazer isso! – Bárbara respirou aliviada – Ainda que Heitor não queira nenhuma responsabilidade com esse bebê, eu vou criá-lo, tenho condições para isso... Eu só não sei como e se vou falar isso pra ele...

– Querida, ele precisa saber, não pode privá-lo disso! Até por que uma hora vai ficar evidente, e como fará para esconder de todos?! Converse com ele, se acertem e sejam felizes, é visível que ainda o ama...

– Sim, eu ainda o amo, mas estou magoada com ele... – ainda incrédula Helena perguntou – Mas você tem certeza mesmo, não existe nenhuma chance de erro?

– Não! Mas vamos marcar uma ultrassom para amanhã, para sabermos de quantas semanas você está, ai você vai ver seu bebê e ter certeza que ele está ai dentro... E outra coisa Helena, eu sou casada há 15 anos e tenho dois filhos como você sabe, e se tem algo que eu aprendi para conseguir manter meu casamento foi que o perdão é fundamental em uma relação, já teve momentos em que eu quis matar Pedro, mas perdoá-lo foi melhor para mim, para nós... Perdoe-o e liberte-se! – Helena sorriu e agradeceu pelo apoio.

– Amanhã eu virei no mesmo horário! Até mais e muito obrigada.

– Tome seu exame e por favor passe na recepção para marcar seu horário, ok?! Tchau querida!

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Helena encaminhou-se para a recepção, marcou com a atendente um horário e virou-se para sair quando esbarrou em um homem:

– Alexandre! – ela disse enquanto ele juntava os exames que por causa da trombada foram ao chão – Como vai?

– Helena, me desculpe! Estava distraído... Estou bem sim, mas e você, está tudo bem? – perguntou preocupado.

– Está sim, - disse meio nervosa e puxando os exames da mão dele – São apenas exames de rotina. Obrigada! – ela sorriu.

Ele ficou olhando-a por alguns instantes, parecia estar tomando coragem para falar algo:

– Faz um tempo que não a vejo, queria conversar contigo um pouco – ele olhou-a novamente, ela estava radiante por mais que quisesse esconder – Você teria um tempo para um café?

– Claro que sim, vamos!

Foram em direção a lanchonete, sentaram-se, Alexandre fez o pedido e começou a falar:

– E quanto a você e Heitor, isso vai ser mesmo o fim?

– Alexandre, eu não sei! Não sei mesmo... Heitor é tão maduro, responsável, dono de si, mas as vezes eu não o reconheço, ele me magoou profundamente com o que disse aquele dia, poderia ter me insultado de todas as formas que eu não me sentiria tão triste quanto ter falado sobre meu relacionamento, ou melhor, a falta dele, com minha “mãe”...

– Helena, o Heitor tem sofrido demais, todos os dias quando eu chego em casa dou uma passada no apartamento dele e ele só fica deitado, triste, não quer sair, fazer nada... Eu sei que ele te ama demais, muito mesmo! E aquele dia ele estava estressado e cansado, passou o dia fazendo uma... – percebeu que falou demais.

– Fazendo o que? – perguntou curiosa.

– Nada! Não sei se devo falar, cabe somente a ele um dia lhe revelar o que era... Mas ele estava preparando algo para você... Será que um dia poderá perdoá-lo?!

– Eu não sei Alê, não sei mesmo! Agora eu ainda estou magoada, preciso de um tempo...

– Não estou querendo ser “puxa saco” de Heitor não, até por que eu o repreendi severamente quando me disse a besteira que fez, mas independente do tempo que você precisar, ele vai estar esperando por ti, porque a ama!

– Obrigada! Obrigada mesmo, mas infelizmente eu preciso ir... – levantou e deu um beijo no rosto dele para sair.

– Tchau, foi bom conversar com você!

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Helena foi para casa, ainda eram dez horas, ligou para a Construtora e informou que não se sentia bem e mandaria as atualizações dos projetos por email, qualquer dúvida ou problema podiam ligar. Sua cabeça estava em outro lugar e por mais que não visse Heitor há um mês, não queria correr o risco de justo hoje cruzar com ele. Precisava por os pensamentos em ordem, acalmar sua emoções, por mais que estivesse morrendo de medo, não podia deixar de admitir para si mesma que aquilo era muito bom... Começou a se dar conta das mudanças, mesmo que pequenas em seu corpo, os seios avolumados, as bochechas mais coradas e o fato de em menos de duas horas já amar muito seu bebê... Respirou fundo e disse:

–Grávida... eu estou esperando um filho de Heitor!

Sentou na frente do notebook e começou seu trabalho, enviou dois até antes do almoço e deixou os outros para tarde. Não conseguia parar de pensar em seu filho, estava muito feliz, mas não ia contar para Heitor, não por enquanto... Estava ansiosa para contar para o pai, porém esperaria que ele chegasse e queria contar a Heitor primeiro, depois de sua reação, ela contaria para Inácio.

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O dia amanheceu e Helena foi a clínica, fez a ultrassom e a doutora lhe disse que ainda não dava para saber o sexo do bebê, mas que se ela estivesse com sorte no próximo mês conseguiria. Disse ainda que o feto estava sadio e sua gestação na décima semana. Ela se emocionou ao ver aquela figura distorcida e minúscula na tela, começou a pensar... “Queria que Heitor estivesse aqui vendo isso comigo!” Depois repreendeu os pensamentos e continuou a se deleitar com as imagens no monitor.

A doutora deu uma foto da ultrassom para Helena e disse:

– Isso ai, é para quando você for contar para o pai dele...

– Ok! - e sorriu.

– Já decidiu não é?! Vai contar...

– Ele precisa saber não é?! E, desde que descobri que vou ter um filho dele, aos poucos parece que já não sinto tanta raiva, a alegria dentro de mim é maior, quando busco algo para apoiar esse ódio que eu tinha, não encontro mais... Eu tenho medo da reação dele, não sei se Heitor quer um filho...

– Você só saberá quando contar a ele! Querida, nem todos são como aquele seu namorado estúpido!

– Tens razão! Não sei ainda quando nem como contarei, porém o farei antes do retorno do meu pai, semana que vem...

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Inácio ligou dizendo que estava com muita saudade de Helena e por isso chegaria mais cedo, amanhã por volta das doze horas pousaria na fazenda. Ela lhe comunicou que tinha uma surpresa e esperava que fosse boa para ele como foi para ela. O pai ficou pensativo quanto ao que seria, mas não passou pela sua cabeça a possibilidade de um neto.

Helena agora teria que tomar coragem e amanhã cedo ir a Construtora conversar com Heitor. Ela já estava se preparando para isso a dias, mas ainda sentia as pernas vacilarem. Era orgulhosa demais para admitir que sentia muita falta dele e que seu ressentimento foi se dissipando quando descobriu a gravidez. Queria ter contado no dia do exame, porém seu orgulho a impediu. Ela colocou em mente que só iria contar sobre o bebê e que não queria voltar com ele, entretanto o que ela mais esperava era que ele dissesse o quanto estava feliz e tentasse reatar o namoro.

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Já fazia uma semana que Helena não pisava na Construtora, Heitor estava preocupado, pois Alê disse que a vira no hospital, mas não podia ligar. Ela fez seus trabalhos em casa e enviava por email. Então, grande foi sua surpresa quando ele voltou de uma rápida reunião nas obras do condomínio e sua secretária disse que ela o aguardava em sua sala.

– Helena? Na minha sala me esperando? – disse surpreso.

– Sim senhor, ela chegou faz alguns minutos...

– Obrigado Ana! Não deixe ninguém nos interromper, entendeu? Nem que o presidente queira falar comigo, não me interessa, anote o recado! Tome – ele entregou o celular – fique com ele por favor e diga que estou em uma reunião e não posso ser incomodado. Ok?

– Tudo bem senhor, entendido! Ninguém passará por essa porta até que saiam daí – ela sorriu e continuou – Boa sorte! – todos perceberam que eles estavam brigados e torciam por uma reconciliação.

– Obrigado! – entrou na sala.

– Helena? – disse seguindo em direção ao lugar onde estava sentada.

– Oi – falou um pouco apreensiva.

Ele fixou o olhar nela, estava tão bonita, seus olhos cheios de vida, seu rosto radiante, como sentia saudades dela... Queria beijá-la, abraçá-la, ficar perto... Mas limitou-se a sentar no sofá a sua frente.

– Você queria falar comigo?! Fique a vontade...

– Heitor, não vou ficar enrolando, o que tenho para falar contigo é um assunto sério, eu não queria que você pensasse que vim aqui para cobrar ou exigir algo de ti, só queria mesmo que soubesse... – tentava parecer firme, mas tremia por dentro.

Heitor estava perdido, não conseguia criar uma conexão com o que ela falava, ele estava desesperado pelo perdão dela, então falou:

– Helena – fez uma pequena pausa e prosseguiu – eu sinto tanto pelo que falei aquela noite, se pudesse apagar aquilo... Fui um estúpido e por mais que eu não mereça, você poderia me perdoar? Não aguento tua indiferença, isso está acabando comigo, eu a amo demais e provavelmente sempre vou amar! Por favor me perdoe, não suporto mais viver sem ti...

Ela estendeu a mão lhe pedindo calma:

– Me deixe terminar primeiro, por favor, então você me diz o que tiver para dizer, ok?! – ele balançou a cabeça afirmativamente e pediu desculpas, ela respirou fundo como se estivesse tomando coragem e continuou – Heitor, eu estou grávida!

Heitor que estava com a cabeça baixa, levantou-a e em sua face ela via uma expressão de surpresa, olhos arregalados, sobrancelhas hasteadas e a boca uma pouco aberta, ele fitava-a incrédulo, não conseguiu dizer nada, tamanho o choque. Helena já estava ficando angustiada pela demora dele em dizer algo, mas ele apenas tentava digerir... Ele se levantou e caminhou de um lado para o outro, o que levou-a a falar:

– Como disse, não vim aqui para te cobrar nada Heitor, até porque nem estamos mais juntos, eu não programei isso, por Deus como fiquei tão surpresa quanto imagino que estás! Mas existe um bebê e eu achei que tinhas que saber! Eu melhor do que ninguém sei a importância de se ter um pai... – Heitor continuava andando a uma distância de mais ou menos 1 metro a sua frente – Não quero que pense que me deve algo, nós somos adultos... – ansiando por uma resposta, ela diz – Só, pelo amor de Deus, me diga alguma coisa...

Heitor fez um sinal de espera com o dedo indicador e caminhou para o outro lado do escritório onde ficava sua mesa, Helena sem entender calou-se e o observou, ele abriu uma gaveta, pegou algo, colocou no bolso e voltou. Parou diante dela, ajoelhou-se ficando com o rosto poucos centímetros mais alto, já que estava sentada, sorriu dizendo:

– Um filho?! Você está esperando um filho meu?! – encostou a cabeça em sua barriga não escondendo sua alegria...

Ela timidamente deixou, estava muito emocionada e debruçou-se por cima dele que já estava sobre suas pernas, disse baixinho em meio a sorrisos:

– É, eu estou!

Heitor, levantou-se e perguntou com os olhos marejados:

– Isso é sério mesmo Helena? Não existe chance de erro dessa vez?

Ela puxou da bolsa a ultrassom e mostrou a ele um pontinho:

– Esse aqui é o bebê, ainda é minúsculo, mas dessa vez é verdade...

Heitor não conseguia se conter, desviou os olhos da foto e fitou-a, ela percebeu e encarou-o, ele colocou a mão no bolso e puxou a “famosa” blue box:

– Helena, casa comigo?

– Eu não esqueci o que me disse e nem te pedi isso Heitor, eu só queria... – ele a interrompeu.

– Então, perdoe-me primeiro, e na verdade, sou eu quem está pedindo – sorriu...

– Eu não sei... – disse desviando o olhar...

– Meu amor – disse com medo de que ela o repreendesse – eu pensei que aquilo tinha sido nosso fim, mas agora você vem aqui e me dá essa notícia, ou melhor, esse presente... Vamos nos dar outra chance, não podemos ignorar essa prova de que o que temos é grande e verdadeiro, eu agi errado e me arrependo, mas quero criar esse bebê ao seu lado! E então, casa comigo?

Helena não podia negar que tudo o que mais queria era isso, que sentia saudades e que estava muito feliz com a reação dele, nem se lembrava do ódio que sentiu há um mês atrás...

–Não devia, mas aceito! – respondeu sorrindo, enquanto ele se aproximou para beijá-la.

– Eu não poderia estar mais feliz – passou a mão em seu cabelo – Um filho – dizia abobalhado – vou ter um filho com você Helena... Como eu a amo e vou amar cada dia mais! – finalmente beijou-a apaixonadamente.


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Notas finais do capítulo

E ai? Gostaram de um bebê H&H na história? Vem mais um ai gente... Obrigada a quem está acompanhando a história...



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